sábado, 7 de abril de 2012



Antonio Romeiro de Lima




IN MEMORIAM




Romeiro de Lima: prêmio da Academia Alagoana de Letras




Escritor de Santa Luzia do Norte é premiado pela AAL - 1994


O livro " Império dos Miseráveis", do escritor Antônio Romeiro de Lima, natural de Santa Luzia do Norte, recebeu, no último dia 14, o prêmio da Academia Alagoana de Letras. Inscrita no concurso da AAL na categoria ficção, a obra aborda a questão de corrupção no meio político de Vila Verde, imaginário país do escritor.

A solenidade de entrega dos prêmios aconteceu na última quarta-feira, no auditório da Academia Alagoana de Letras, cujos  trabalhos  inscritos no concurso foram selecionados por uma comissão formada por membros da AAL, entre eles as escritoras Anilda Leão e Theomirtes de Barros.

O livro "Império dos Miseráveis" é o primeiro trabalho literário de Romeiro de Lima, lançado no dia 17 de junho deste ano, e editado pela João Escortecci, com capa e ilustração de José Luiz da Silva. Trata-se de uma viagem pelo inconsciente do personagem .Edgar, cidadão vilaverdense, radicado no município de Santa Luzia do Norte.

"Ele é um sujeito bastante vivido, amadurecido e consciente dos direitos da cidadania, e, nessa condição, tem sua vida pautada na observação e análise dos fatos políticos e, enfim, do desenrolar das tramas sociais, como um todo, praticados pelos detentores do poder, em detrimento da comunidade", diz Romeiro.

O " Império dos Miseráveis" atenta, oportunamente, para a omissão da classe oprimida, para a falta de escrúpulo  dos políticos e para descrença no futuro melhor, enquanto não houver a tomada do poder. E eis que esse sonho acontece, numa trama de muito suspense,  prendendo o leitor até as últimas páginas do livro, que é escrito em português clássico e representa uma boa contribuição do autor para o pensamento moderno. Antônio Romeiro  anunciou para breve uma nova obra, desta vez de conteúdo histórico. 





Matriz de Santa Luzia - 1940-50



O tempo vai passando e a modernidade vai corroendo tudo o que ver pela frente. Começou nas cidades grandes e chegou ao interior trazendo consigo tudo de bom e de ruim também.

Outro dia desses aqui em Santa Luzia do Norte assaltaram a venda de seu Toinho, quer dizer tentaram assaltar.

Seu Toinho é morador antigo da cidade, apegado aos costumes e mais apegado ainda a sua naturalidade santaluziense. Seu Toinho bate no peito e grita para quem quiser ouvir que é filho natural da terra, e como se isso fosse pouco ele completa que também é filho de coração de Santa Luzia do Norte.

- Isso é um assalto!
- É o que?
- Num to brincando, passa a grana.
- Logo se ver que você é um forasteiro safado.
- Um filho da terra não faria um negocio desse.
- Os filhos dessa terra não são ladrões e não faltam com o respeito aos mais velhos.

O ladrão estava imóvel. Não acreditava no que estava ouvindo.

- E digo mais!
- Eu me recuso a ser assaltado por um forasteiro. De novo não!
- Já basta esses que estão a ocupar os cargos eletivos de nosso município.
- Enquanto eles usam a caneta para nos roubar, você me vem com esse revolver.
- Tudo igual, são ladrões do mesmo jeito, e o pior são forasteiros.
- Chegam aqui arrastando a cachorrinha, enganam o povo e enchem a burra de dinheiro.
- Quando acabar, vem tudo falando paulista, com a conversa bonita, falando de progresso.
- Progresso sem educação, sem policia, sem médico.
- E ainda por cima trazem de rebarba uns ladrõezinhos safados que nem você.

Seu Toinho empunhava sua peixeira e avançava contra o assaltante que não sabia o que fazer, estava tão confuso com a situação que resolvera fugir.

- Corra covarde!
- Nota-se logo que não é um santaluziense, pois nós não fugimos a luta.
- Meus antepassados foram capazes de enfrentar o exercito holandês, quanto mais um xibungo desses, corra forasteiro frouxo.

O povo vendo aquele alvoroço correu até a venda de seu Toinho, que mais parecendo um soldado em dia de batalha empunhava sua 12 polegadas como se fosse uma espada.

- Seu Toinho o que houve aqui?
- Um desses cabra safados de brinco na orelha tentou me roubar.
- Forasteiro sem vergonha, pois um descendente macho de santaluziense não usa brinco.
- Vixi. E o senhor reagiu? O senhor é doido?
- Não, sou macho, filho da terra, santaluziense de coração.
- Aqui num é lugar de cabra safado.
- Se vem pra cá, seja homem, honre as calças que veste.
- Vixi santíssima, o senhor vai aonde com essa faca na mão seu Toinho?
- Vou aproveitar a maré e riscar a ponta da faca na porta da câmara e na prefeitura pra ver se boto mais uns dez desses forasteiros safados pra correr.    


* Em homenagem a todos os verdadeiros filhos de Santa Luzia do Norte, sejam eles naturais ou de coração. Aos que amam ou amaram verdadeiramente essa terra, em especial: Amaro Romeiro, Otaviano Romeiro (Maestro Fon-Fon) Antonio Rodrigues de Lima, João Alves Pontes e Antonio Romeiro de Lima. 

D. Fernando





Em fase de acabamento - texto não revisado.




 




Dário Augusto

"Não tenho qualquer pretensão de, neste texto, seguir a  mesma trajetória da historiografia  já suficientemente estudada por muitos autores de nossa terra."




       O historiador é como um detetive do passado que tem uma busca incessante por pistas que o aproxime de uma resposta para suas indagações. Para isso o historiador deve ir atrás de fontes históricas que muitas vezes podem ser escritas ou pintadas e até mesmo esculpidas. Algumas dessas fontes muitas das vezes não tiveram sua origem para servir de testemunha do passado, mas não é por isso que se deve desconsiderá-las. Para Bloch O HISTORIADOR DEVE TOMAR CUIDADO COM AS VERDADES ABSOLUTAS, POIS O MESMO FATO  PODE SER INTERPRETADO DE VÁRIAS  MANEIRAS, DE ACORDO COM O INTERESSE DE QUEM MARROU TAL FORA OU ATÉ MESMO DE QUEM LEU. O conhecimento histórico se estrutura numa constante indagação a essas fontes.(BLOCH, 2001).

      As condições nas quais trabalha o historiador explicam ademais por que se tenha colocado e se ponha sempre o problema da objetividade do historiador. A tomada de consciência da construção do fato histórico, da não-inocência do documento, lançou uma luz reveladora sobre os processos de manipulação que se manifestam em todos os níveis da constituição do saber histórico. Mas esta constatação não deve desembocar num ceticismo de fundo a propósito da objetividade histórica e num abandono da noção de verdade em história; pelo contrário, os contínuos êxitos no desmascaramento e na denúncia das mistificações e das falsificações da história permitem um relativo otimismo a esse respeito. (Le Goff, Jacques, 1924História e memória / Jacques Le Goff; tradução Bernardo Leitão... [et al.] -- Campinas, SP Editora da UNICAMP, 1990, p.[?].)


  Todo documento, quando é produzido, tem suas finalidades especificas e entre essas não figura a de servir como testemunha histórica. O documento tem valor histórico quando este serve para satisfazer as perguntas de um objeto de pesquisa. Exemplo, um livro de registro de nascimento pode passar anos sem despertar o menor interesse, mas se for relevante para algum pesquisador comprovar o matrimônio de alguém ou mesmo se lhe for interessante saber quantos casamentos houveram em determinado mês, isso fará com que o mesmo livro outrora sem importância ganhe um valor imenso.


RESUMO: Este artigo leva em consideração alguns aspectos do patrimônio urbano:  de cidades históricas abandonadas,  quase  que em ruínas;  que sobreviveram pelo olvido no tempo, sendo redescobertas hoje; Santa Luzia do Norte, cidade histórica que sofreu com “arrastão da modernização” sem maiores cuidados na preservação suas raízes históricas.

Palavras-Chave: Santa Luzia do Norte, história, antigo burgo, teoria das cidades, desenvolvimento e patrimônio histórico.

Ninguém acende uma lâmpada e a põe em lugar oculto ou debaixo da amassadeira, mas sobre um candeeiro, para alumiar os que entram.”
Lucas, 11, 33
         
   Ninguém acende uma lâmpada para escondê-la atrás da porta. O objetivo da História é trazer mais luz à sua volta, abrir os olhos, mostrar as maravilhas ao redor.

  Um artigo sobre minha cidade natal é sempre uma alegria e deleite para leitura. Este trabalho é como  abrir uma janela e debruça-se sobre uma paisagem procurando seus segredos anseios e expectativas. A pesquisa é como um sonho, e sonhos são construídos por desejos e medos ainda que o fio condutor de seu discurso seja secreto a que as suas regras sejam absurdas, as suas perspectivas enganosas e que todas as coisas escondam uma outra coisa. O que assegura o meu interesse por essa pesquisa é a paixão que igualmente a meu pai (Romeiro de Lima) tenho por essa terra.

  Todas as vezes que saiu pelas ruas de Santa Luzia do Norte é um prazer, uma volta ao passado onde percebo que as mudanças são quase imperceptíveis  em comparação ao meu tempo de criança  até os dias de hoje. Passo em frente as casas de meus amigos – velhos conhecidos. Sento nos bancos das praças, rememorando histórias e ouço novas histórias como se o tempo nunca tivesse passado. Esses momentos assumem em minha alma um papel essencial da minha formação como cidadão. É a fixação da memória afetiva que surge através da “estória” e dos “causos” muitas vezes esquecidos ou adormecidos no baú da memória.

 As pessoas com quem convivo, ou de quem me lembro, os passeios de bike ou as loucas caminhadas com meus amigos...o mundo onde as crianças  tinham nas brincadeiras de rua, no esbravamento de fruteiras dos sítios sua vida social.

 Chego em casa, brinco com meu filho Diogo, e falo com minha mãe e esposa - lembro me de pai. A sensação estranha que vem de dentro é a certeza que não consigo me desliga do ambiente em que nasci.

 É bom lembrar que para se fazer uma análise  histórica de nossa cidade, necessitamos de dados seguros, sérios, concretos e esses dados não podem ser manipulados para afagar o ego de historiadores frustrados incrustados no lema de nossa historiografia. Como também, inúmeras são as pessoas que torcem o nariz e discordam veementemente quando se há uma nova maneira na observação de um fato. Uma nova abordagem que vai de encontro àquelas tradicionais - descritivas, o velho e bom blá-blá-blá...Logo, pode-se modernamente escrever uma História levando-se em conta alguns aspectos relevantes e sob uma ótica escolhida pelo estudioso. Sempre partindo do pressuposto da não existência de verdades absolutas no âmbito histórico, mas sim, a constante indagação das fontes.

 E agora, qual a posição a seguir? Repetir e aceitar o que já foi posto ou debater o fato, indagando as fontes constantemente? A resposta não precisa ser obrigatoriamente dada agora/aqui; e é bom que não a tenhamos de pronto. O melhor de tudo é a maturação, o amadurecimento das idéias para uma possível quebra de amarras que já andam a muito enchendo o s...


 Santa Luzia do Norte está localizada na mesoregião do Leste  alagoano, na micro região Geográfica de Maceió, limitando-se ao norte com Satuba; ao Sul com Coqueiro Seco; a leste com Maceió e a oeste com Marechal Deodoro. Situada a margem direita da laguna Mundaú, tem uma área de 29 km2  (IBGE 2005), distante a 27 km de Maceió, com altitude de 8 metros na planície fluvial lagunar e 100 metros no tabuleiro. Tem como principais vias as rodovias BR 316 E AL 401. Clima megatérmico sub-úmido com excesso hídrico no inverno e deficiência no verão com temperaturas entre 24º a 28° C ,segundo o último CENSO/ IBGE, a população já ultrapassa os 7000 habitantes. A religião é predominantemente católica com mais de 5500 fieis, o restante é divido entre evangélicos e outras religiões. vegetação mista,  predominantemente florestaa subperenifólia e subcaducifólia, além do cerrado.



 O burgo de tão grande importância comercial nos tempos remotos da colonização, importância que conservou por muitos anos, pela sua situação à margem da lagoa, naquela época a mais fácil via de comunicação com as outras povoações, para os centros agrícolas dos riquíssimos vales do Mundaú, do Paraíba e do Satuba. Açúcar, algodão, madeira, céreas, tudo passava pelo porto de Santa Luzia.

Durante a invasão holandesa Santa Luzia sofreu golpes amargos. Quando em 1633, os invasores, guiados por Calabar, incendiaram Alagoas e marcharam contra este povoado para destruí-lo , o bravo Antonio Lopes Filgueiras e D. Maria de Souza  enquadram uma tenaz resistência.

Depois  da restauração do lugarejo é que segundo a hipótese do historiador Craveiro Costa (1981, pp. 8-9), deve ter tido inicio o povoado de Maceió, pelo engenho de açúcar que ai  existiu no local, frisa Craveiro , que está hoje ocupado pela praça D. Pedro II.

Craveiro acrescenta: Alguém, certamente de Santa Luzia do Norte, desgarrou-se do burgo lacustre, com escravaria e gado, à aventura da industria do açúcar, e, à margem do riacho Maceyó, fundou um engenho. (...) Quem teria sido o proprietário dessa fabrica colonial?  Seu nome perdeu-se. Os mais laboriosos investigadores do passado, que se embrearam nos arquivos dos povoados ancestrais da comarca, não o encontraram para a consagração póstuma do patriarcado da cidade.

A povoação de Santa Luzia foi elevada a vila pelo decreto da Assembléia Legislativa de 10 dezembro de 1830 e ligada juridicamente a Alagoas. A Resolução número 230, de 9 de junho de 1853, desmembrou-a de Alagoas e anexou-a  a Maceió e ainda em 1872, a  Lei n. 624, de 16 de março, reuniu-a a Pilar. Somente em 1900, pela Lei número 282, de 18 de junho, foi a vila provida de  juiz de direito e promotor público.

        Como sucedeu com Pilar, a vila decaiu completamente com a estrada de ferro de União. Por fim, perde a sede  para Rio Largo, que se localizava a margem da estrada de ferro, além disso, lá, 
possuía duas fabricas de tecidos, caracterizando-o como sub-tentáculo econômico da região.

 A transferência da sede do município para Rio Largo se deu em virtude da Lei número 695, de 13 de julho de 1915. Pela mesma lei esta povoação foi elencada à categoria de cidade.

 Segundo o pesquisador Valter Pedrosa (2008-22), embasado na obra “VADE-MECUUM DO TURISTA EM ALAGOAS, 1937, p. 10, de Moreno Brandão nos diz que: Santa Luzia do Norte nas primeiras décadas do século XX possuía uma população de 36. 000 almas (pessoas) e uma superfície de 330 km2. Era dividida nos seguintes povoados: Santa Luzia do Norte (Vila), Apolonia, Bom Jardim, Curralinho (hoje Mun. de Messias), Gregórios, Marisco, Pau Amarelo, Pedreiras, Remédios, Siri, Tabuleiros da Matado Rolo e Satuba. A sede do município é recém formada cidade de Rio Largo, sustentáculo  econômico da região.

   O município não possui hoje um grau de desenvolvimento condizente com sua realidade natural. Seu âmbito agrícola está concentrado quase que totalmente na cana-de-açúcar, produzindo em pequena escala: mandioca, coco e banana. Quase que não possui desenvolvimento industrial, possui elencado em suas terras, apenas uma fabrica de adubos. O comércio é restrito voltado apenas para  atender sua população. Sua força (potência/potencialidade) está ligado no bojo atrelado a produção de alimentos industrializados, no que tange a pesca e a agricultura; no que se refere ao turismo, possui a Igreja Matriz, além da festa de Santa Luzia e a Paizão de Cristo; existe ainda a produção de flores tropicais.

PERFIL EDUCACIONAL DO ELEITORADO (2006)

OBS: dados não atualizados

2° GRAU: 688 (14 % )
SUPERIOR: 80 ( 2%)
SEM INSTRUÇÃO 2.020 (40%)
1º GRAU: 2.244 (44%)
PIB
2000
2001
2002
2003
STA LUZI N.
2.703
3.284
4.014
2.493
ALAGOAS
2.471
2.631
3.012
3.505
NORDESTE
3.014
3.255
3.694
4.306
BRASIL
6.473
6.954
7.631
8.694
FONTE: Enciclopédia dos Municípios de Alagoas. Maceió:  Instituto Arnon de Melo, 2009, p.37.

Origens



No reino português, a crise do feudalismo lançará as bases de profundas transformações no bojo das relações de produção, que desencadearão a Revolução de 1383, motor da expansão marítima-comercial portuguesa e que creio eu, tenha sido o pilar as conquistas  que as classes plebéias realizaram ao longo dos séculos XII e XIII. Essas conquistas alteraram fundamentalmente a estrutura  produtivas – avanços e novas relações sociais trarão o fortalecimento de formas de trabalho não-feudais, o que é destacado a coexistência do velho com o novo e onde o primeiro inicia sua subsunção com o segundo. – O comércio é bastante intenso.  A partir da segunda metade do século XIII, vemos intensa e diversificada movimentação comercial, com Andaluzia e Castela, França, Inglaterra etc.

Assim é que, no século XIV,  existia duas facetas em Portugal, entre o Douro e o Minho,  as relações feudais de produção ainda se mostravam fortes e aqui o movimento comunal conseguiu romper com muito custo os entraves (atravanques) feudais. A outra face lusa aparece basicamente fundamentada  nos núcleos urbanos e vilas, onde desencadeiam inúmeras lutas atrelado a terra e onde a força de trabalho,  já aparece assalariada. Elementos esses que estão vinculados e impulsionam as novas relações de produção  movimentando o comercio. Sendo assim, o trabalho servo é substituído pelo trabalho livre, portanto, permite o surgimento de um campesinato que impulsiona a produção agrícola e o assalariamento.

O quadro de avanço das forças que representam o capitalismo mercantil ascendente  serve como máquina motriz ao processo de aceleramento das contradições entre burguesia e nobreza. Com a morte de D. Fernando a burguesia lusa desencadeia a tomada ao poder, tendo como suporte do movimento não só uma proposta econômica, mas também um fundamento ideológico de cunho nacional. A Revolução 1383/1385, que coloca no trono Mestre Avis, liderada pela burguesia mercantil, dará bases a um Estado puramente mercantil, de tipologia moderna, pressuposto objetivo para a posterior expansão colônia.

Perry Anderson destaca que o Estado absolutista responder, ao mesmo tempo, às  ameaças dos levantes camponeses e às pressões do capital mercantil-manufatureiro sobre a estrutura de produção feudal. Dessa forma, os senhores feudais criam uma alternativa de poder para se manter-se nele.

No tocante à burguesa mercantil, Anderson entende que a nobreza foi adapta-se a ela, cooptando-a para as suas formas políticas, através da formulação de leis que respondiam às questões do comércio e da propriedade, porque o próprio mercantilismo, na concepção de Anderson, aparece como elemento primordial para o avanço econômico feudal.

Anderson coloca em discussão a concepção clássica de Engels e Marx no tocante ao caráter do Estado que nasce do ventre de um feudalismo que agoniza. Estes os considera como elemento fundamental da expansão do capitalismo ascendente, que  por si só, destrói a estrutura política e econômica feudal, e cria bases a sociedade capitalista. - Marx e Engels percebe  o desenvolvimento do capitalismo como um “ser social”. (Mazzeo, Antonio Carlos. Estado e burguesia no Brasil: origens da autocracia burguesa. São Paulo: Cortez ,1997)
                 
 O mercantilismo, o real determinante do Estado absoluto, foi uma atividade regulamentada pelo Estado e efetivada pelas ações de mercado da burguesia, realizando objetivamente a política econômica de uma era de acumulação primitiva. Então, o Estado português contem os caracteres históricos construtivos do Estado absolutista, o que mais lá na frente lhe dará condição de ser, também,  o pioneiro na expansão mercantil, o qual exerce um importante papel  transformador, todavia que mais tarde será superado por outros países.
                    
É nesse contexto, que  temos assim, uma expansão  mercantil buscando formas de ampliar sua produção. A partir do século XVI,o o grande centro produtor se instalará na América, onde os capitalistas europeus inverterão seus capitais acumulados, passando, efetivamente, da produção simples à produção ampliada de mercadoria. Sendo assim, o capital comercial sai, então, dos restritoslimites da distribuição, entrando definitivamente para o setor da produção – a burguesia implantará aqui, a grande empresa colonial.
                    
A colonização do Novo Mundo, a partir do século XVI, constitui-se num elemento integrante da expansão capitalista, que parte, agora, para reprodução ampliada do seu processo de auto-reposição.  Nessa nova rotulagem do capital, que abandona a mera esfera da circulação, entrando na produção ampliada de mercadorias, que, em essencia, explica de forma coesa o surgimento sistema colonial.
                    
Todavia, faz-se necessário salientar que entendemos ser o sistema colonial parte do conjunto de situações de reprodução, que o capitalismo concebe, a partir do século XVI. Dito por Marx como a “era do capital”.  
...Marx , a produção em geral (a que nasce com o capitalismo desde sua gênese) desdobra-se e articula-se em determinações distintas, porque a produção não é mais do que um ramo particular da propria produção e, portanto, não pode ser entendida fracionadamente. Pesar a produção em gral é pensar, nos moldes capitalistas da produção, nas leis gerais (que) o regulam. (Mazzeo, Antonio Carlos. Estado e burguesia no Brasil: origens da autocracia burguesa. São Paulo: Cortez ,1997,p. 74)

   A produção capitalistas, ao romper sua própria existência de forma continua, desintegra, reintegra ou cria novas realidade (particulares) para se auto-repor. Nesse sentido não podemos explicar as colônias americanas sem nos retermos ao próprio processo  de reposição ao capital, encarnado na expansão europeia do século XVI, entende-se assim essa expansão com momento crucial  nascente modo de produção capitalista encontra para ampliar suas condições de existência. continua...


É de fundamental importância frisar a situação histórica do trabalho, no século XVI. A disponibilidade de força de trabalho livre sintetiza-se a um acanhado número de regiões da Europa Ocidental, onde o procedimento  de subsunção do trabalho  ao capital já caminhara para ter forma e conteúdo capitalista. Esse quadro determinará então, a implementação do trabalho forçado nos lugares onde o capitalismo ainda se encontra incipiente.   Assim no caso da America Latina, este aspecto é mais crucial, e Portugal, como pioneiro na produção açucareira ampliada do Novo Mundo, não tem alternativa se não introduzir no Brasil o trabalho escravo.

A procura do ouro e da prata foi, tranquilamente, o elemento motriz da conquista, todavia  em sua segunda viagem Colombo trouxe das Ilhas Canárias as primeiras mudas da cana-de-açucar   - plantou em terras pertencentes hoje à Republica Dominicana. O produto, que era cultivado em menor escala na Silícia e nas ilhas Madeiras e Cabo Verde, e comprado por alto preço no Oriente, era um artigo de tão grande valia, que figurava nos enxovais das rainhas europeias. – Durante pouco menos de três séculos a partir do descobrimento do América não houve, para o comercio da Europa, gênero agrícola mais importante do que o açúcar cultivado nesses terras - no Caribe, Barbados, Jamaica, Haiti, Republica Dominicana, Guadalupe, Cuba  Porto Rico, Vera Cruz e no Nordeste do Brasil. (GALEANO, Eduardo H. As veias Abertas da América Latina/ tradução de Sergio Faraco – Porto Alegre, RS: L&PM, 2011.p91)

A cultura, que brota da demanda do açúcar no ultramar, era uma empresa movida pela labuta do lucro de seu dono e posta a serviço do mercado  que a Europa ia articulando internacionalmente. Por sua estrutura interna, no entanto, - e  considerando que,  em boa fatia, bastava-se a si mesmo, - alguns de seus traços dominantes eram feudais. Por outro lado, utilizava-se de mão de obra escrava. Sendo assim, eram três idades históricas diferentes: mercantilismo, feudalismo e escravatura, - ajuntavam-se em uma só realidade econômica e social, todavia era o mercado externo que estava como elemento determinante na constelação de poder que o sistema de plantações desde cedo integrou.


No que se refere  particularmente ao Brasil, esse caráter  capitalista específico tem seu inicio com a introdução das capitanias Hereditárias que,  que durante muito tempo foram consideradas “feudais”, basicamente por encontrar algumas leis reguladoras próximas as feudais. Ora, vimos que Portugal nunca viveu uma situação feudal “clássica” ma, por outro lado,elementos do feudalismo, quer a nível das formas de produção e trabalho, quer a nível de superestrutura, deixaram marcas profundas no reino e manifestaram-se,  durante a colonização, muito mais como “formas sobreviventes” do feudalismo europeu  do que elementos carregados de conteúdo de especificidade feudal. (Mazzeo, Antonio Carlos. Estado e burguesia no Brasil: origens da autocracia burguesa. São Paulo: Cortez ,1997,p. 87)
O moderno latifúndio capitalista introduzido no século XVI, deixou sua marca com profundidade  no desenvolvimento histórico social brasileiro. A        partir de 1532, a colonização portuguesa se caracterizou pelo predomínio  da família rural, com maneirismo aristocrático, todavia com suma sede de lucro burguesa. Os portugueses além do capital (originários de diversas nacionalidades),  trouxeram todo o arcabouço cultural existente na Europa naquele período.
Essa “adaptação” da sociedade portuguesa no Brasil, vista nesta perspectiva,é a nova “síntese” que, dialeticamente, também constrói, a partir do partículas especifico colonial, também uma superestrutura  especifica, isto é, uma sociedade conservadora, rígida, cuja “classe dominante” – os “aristocratas tupiniquins” -, pela sua própria origem histórica nasce subordinada, econômica e ideologicamente, aos centros avançados do capitalismo mundial. A sociedade colonial é o reflexo fiel de sua base material. Além da grande exploração rural, os donos de terras monopolizam também a riqueza e o poder político. Os poucos homens livres, na sociedade escravista brasileira, tinham suas vidas controladas pelo latifundiário; fossem eles da cidade ou do campo. Sendo que nestes últimos a pressão e a dominação pessoal do latifundiário era mais intensa.   (Mazzeo, Antonio Carlos. Estado e burguesia no Brasil: origens da autocracia burguesa. São Paulo: Cortez ,1997,pp.87-8)


Em fins do século XVI, havia no Brasil não menos 120 engenhos, que somavam um capital aproximado de dois milhões de libras, mas seus donos, que possuíram as melhores terras não cultivaram alimentos. Importavam-nos , assim, como importavam uma vasta gama de artigos de luxo, que chegavam a ultramar juntamente com os escravos e bolsas de sal. Como de costume, a abundancia e a prosperidade eram simétrica a maioria da população , que vivia em estado de cronica subnutrição. A pecuário foi empurrada para os desertos do interior, distantes da faixa úmida do litoral: o sertão que, com duas reses por quilometro quadrado, proporcionava (e ainda proporciona) uma carne dura e sem sabor, ainda escassa.(GALEANO, Eduardo H. As veias Abertas da América Latina/ tradução de Sergio Faraco – Porto Alegre, RS: L&PM, 2011.pp.95-6)  
  
Ao começar o século XVII a economia açucareira estava em plena prosperidade. Crescia o número de engenhos; aumentava a produção; o gênero exportava-se para a Europa, onde o consumo de açúcar era quase todo de procedência  brasileira. O engenho constituía não apenas a base econômica; então, o centro dessa importância econômica social; é igualmente a Bahia e seu recôncavo.

  A expansão política e territorial que, nos começos do século XVII, parte de Olinda em direção ao Norte encontra sempre, no plantio da cana e na ereção de engenhos, a base de ocupação humana, o esteio da permanência do elemento colonizador. Os expansionistas pernambucanos vão de Norte a sul, plantando cana e construindo engenhos. Nem sempre, é certo, as terras são propícias à cana, mas se planta; e o canavial começa a criar safra.

As lutas contra os holandeses seguem, as invasões se prolongam até 1636 - os batavos destroem o sistema econômico vigente. Entre 1637 a 1644, há como que restauração, ou tentativa de restauração, da economia açucareira, sem voltar, entretanto à posição que antes desfrutava

A essa altura, porém, quando o Nordeste procurou reconstruir sua economia, a produção de origem das Antinhas está invadindo os centros consumidores. Esta concorrência seria fatal à economia brasileira, e já nas últimas décadas do século XVII ela contribui para a crise que o açúcar brasileiro então sofre.

A mal saída do açúcar culminou em 1710, quando o mesmo encontra uma outra concorrência, o ouro. Contudo, crescente foi a prosperidade que o açúcar brasileiro desfrutou nas primeiras décadas do século do século XIX

A influência dos grandes engenhos  de açúcar no processo de formação da  histórica das Alagoas foi de vital importância. A história dos principais engenhos (Trapiches, bangüês) alagoanos, descrevem  o surgimento ou a decadência deles onde refletiu na evolução da cultura e da economia dos municípios do Estado. “A cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L. Família: Poaceae) já tomava conta de toda paisagem alagoana desde o inicio da colonização. Ao pretender fixar o homem à terra e consolidar o domínio português no Novo Mundo, o donatário Duarte Coelho decidiu construir engenhos e mais engenhos em seu território”. Não se esquecendo das figuras empreendedoras na expansão da agroindústria açucareira nos anos 1575-90, na região Boralis de Alagoas (Porto Calvo...), me refiro a Cristopher Linz e a Rodrigo de Barros Pimentel. E o sesmeiro Diogo Vieira dentre outros, no ato da doação das terras ao beneditinos, e posteriormente a Antonio Martins Ribeiro.



Com os bangüês, instalava-se em Santa Luzia do Norte o capitalismo (...) baseado na experiência lusa, posta em prática nas ilhas da Madeira e do Cabo Verde. Aliás, seria pura presunção tentar aquilatar o progresso de boa parte das sesmarias em território alagoano antes do surgimento dos engenhos bangüês. Disseminando-se  vertiginosamente na região Norte e no vale do Mundaú, os engenhos foram os responsáveis pelo desenvolvimento da Província das Alagoas. LIMA, Antonio Romeiro de. Santa Luzia do Norte: um pouco de sua história. Maceió: Esmal, 2008,p. 25.



O capitalismo aqui  enraizado, como no restante do país, era cativo de um ‘ethos’, abafava seu papel e peculiares básicos, o que mudava o seu próprio espírito. Todavia, essa perda não eliminou a racionalidade que lhe e inerente, enquanto expressão de uma sistemática mundial de produção. Caso se partisse do pressuposto de que as nações da America Latina fossem o centro irradiador das idéias capitalistas no campo mundial, os ideais vinculados ao sistema perderiam e/ou mudariam essa racionalidade integral para o restante das outras nações. Porém, aqui se instalou “um capitalismo-rural” que entrou em contradição com a racionalidade do sistema mundial, a qual é ou tende a ser – urbana daí as crises sucessivas tendentes a adaptar a expressão real de nosso capitalismo àquela escrita, de sua racionalidade.

O que caracteriza geograficamente Alagoas é a existência de uma rede potâmica que cobre toda a sua extensão, composta de 11 grandes vales que correm no sentido dos meridianos, os formados pelos rios Moxotô, Capiá, Ipanema, Traipú, Coruripe, São Miguel, Paraíba, Mundaú, Santa Antônio Grande, Camaragibe e o Manguaba. O restante se situa nos pars meridionales

Por ser  região do Vale do Mundaú possuidora de um solo fertilíssimo, igualando-se talvez, aos vales da Marituba e Boacica, na Bacia do São Francisco , os nossos colonizadores intensificaram o cultivo da cana-de-açúcar (...), objetivando a produção de cana em grande quantidade, e em menor escala aguardente, através da instalação dos bangüês às margens do Mundaú. LIMA, Antonio Romeiro de. Santa Luzia do Norte: um pouco de sua história. Maceió: Esmal, 2008,p. 25.

Segundo  Tenório (2010), foi o engenho de açúcar o suporte da expansão colonizadora e o responsável pela constituição dos primeiros núcleos povoadores que deram origem às cidades alagoanas. “A ocupação do antigo território caeté, a parte austral da capitania da Nova Lusitânia , foi feita a partir de três pólos de povoamento. O primeiro em Porto Calvo, o outro em torno de lagoas maiores, a do Norte e a do Sul, conhecidas pelos indígenas como Manguaba e Mundaú, que viram florescer os povoados de Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul e Santa Luzia do Norte. Finalmente, o terceiro, mais ao sul, tendo como centro Penedo. A irradiação desses três núcleos, fundamentados os dois primeiros em torno dos engenhos, e o terceiro, nos currais e na pecuária, deflagrou o processo de colonização”, afirma o historiador, mencionando que a capital, Maceió, teve formação tardia , no século XVII. 

(...)“Maceió nasceu espúria, no pátio de um engenho colonial”, assim como  Santa Luzia do Norte, Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul, Pilar, São Miguel dos Campos, Porto Calvo, Atalaia, Anadia e tantas outras. Poucas escaparam desse destino histórico. Penedo, que foi um arraial fortificado e núcleo de defesa na extremidade sul do território, desenvolveu a pecuária, daí o São Francisco ser chamado “rio dos currais”, mas mesmo assim vários engenhos surgiram em suas proximidades. TENÓRIO, Douglas Apratto e LUCIA, Cármen. Caminhos do Açúcar – Engenhos e Casas-Grandes das Alagoas. 2010.p.[?]



um partido de cana - Usina Leão
Santa Luzia do Norte




O terceiro pólo de colonização no extremo sul da antiga Pernambuco foi Santa Luzia-Alagoas de característica muito de discrepante (diferente) dos dois anteriores. O que primeiro chama atenção é a situação geográfica desse pólo: não é fluvial, como o penedense; não é mesopotanico como o porto-calvense. Todavia é lagunar. Localizado em duas lagunas: a Mundaú e a Manguaba, ambas lagunas ligadas por estreitos, e com uma única saída ao mar. Os mais velhos (história Oral) as denominavam como:  lagoa do Norte e lagoa do Sul. A que se localizava ao Norte, ou Mundaú, nome que lhe dá o rio, serviu de base, no caso a freguesia de Santa Luzia do Siracusa  para a colonização do Planalto e do vale do Mundaú. A laguna do Sul, ou Manguaba, servia de base para conquista e ocupação do vasto planalto interior, que leva aos férteis campos Inhauns e o vale do Paraíba. Santa Maria Madalena da Alagoa do Sul, com seus antigos convento se não me engano, barrocos, é aquela que codificou os costumes e hábitos de essa cultura lagunar.

A cultura é uma realidade que o homem produz por meio de ideações e práticas sociais, e que  se reflete em nível de sues referentes como uma composição especial de signos, símbolos, condutas e fazeres. (LINDOSO.2005, p.22.

O fato é que cultuara nos parece o elemento decisivo na configuração de um povo.  Revela o papel social como mediador entre a natureza e as ações humanas em sociedade. São os valores da cultura que definem, em termos simbólicos, as condições de estabilidade de relações sociais dominantes, traçam o perfil de identidade dos conglomerados populacionais definidos, configuram suas formas históricas, dotando-as de uma individualidade, indiscutível. Essa individualidade, que uma população adquire ao longo de sua vida histórica, se expressa como uma mascara, uma idiossincrasia, cuja percepção de seus valores simbólicos faz que a distingamos de outras populações, e possamos dizer, identificando individualidades culturais (LINDOSO. 2005).  Essa é uma gente de Santa Luzia – Esse é um povo brasileiro.

         Sabemos que não há povo sem cultura, e que uma cultura se compõe de signos sociais relativamente densos que surgem sobre as formas símbolos, costumes e usos. Cultura é o espaço social onde se exercitam as funções símbolos e das relações sociais. Não há cultura sem a representação dos valores sociais.

       Poucas ou abundantes, físicas ou psicológicas, as águas dominam a nossa paisagem, por conseguinte, a nossa cultura.


 Os  pólos supracitados, se localizavam  no extremo sul do antigo Pernambuco: o de Penedo (1570), de Porto Calvo (1590), Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul (1611) e o de Santa Luzia do Norte (1610). Apesar do leque  discrepante que existe em torno dessa última data, todavia, tem que se respeitar a data elencada pelo IHGAL. Quanto questão do Livro do Cartário dos escrivães Bernabé do Couto e  Manuel Rodrigues da Fonseca, das Alagoas (Mal. Deodoro) do ano de 1610 a 1664; afirmamos que cessão das terras  que integram hoje o município de Santa Luzia do Norte foi efetivada (oficializada) no dia 13 de abril de 1610. Sem se falar nas concessões (ato de conceder, permitir ou doar) feitas pelo sesmeiro Diogo Vieira aos frades beneditinos ,  de Olinda, . Sinceramente, já havia entrado em contato com este doc. (Ancianidade de Santa Luzia do Norte   - 1962- de Werther Brandão), por intermédio de meu pai (Romeiro de Lima), na década de 90, mais precisamente no ano de 1999, onde na ocasião, servir de digitador para confecção de seu livro, lançada em 2008. No que tange a data de 1608, creio que se refere a questão da formação do povoamento e exploração do local, talvez,  ligado a questão dos beneditinos. Tomo como base para essa afirmativa,  a visão de um dos grandes baluarte de nossa historiografia, Dirceu Lindoso (2000, 38), onde mesmo  faz referência a essa data, afirmando que: " Foram três os polos de colonização (...): o de Penedo (1570), o de Porto Calvo (1590) e o de Santa Luzia do Norte (1608)-Alagoas (1611) ..."  Talvez, o brilhante confrade , tenha tomado como data oficial o ano de  1608. Então, creio que o mesmo, tenha entrado em contato com o texto "Ancianidade de  Santa Luzia do Norte" de Werther Brandão, do clã Brandão de Viçosa, no que se refere principalmente ao" anexo" do doc. intitulado:DECLARAÇAM FEITA POR DIEGO VIEIRA SOBRE A TERRA DAS ALAGOAS. transcrito logo abaixo. 
             
          

Docs  e fontes sobre o assunto::

·                  

Romeiro de Lima.

"O Instituto Histórico de Pernambuco, em 1948, atendendo solicitação dos beneditinos, D. Pedro Bandeira de Melo e D. Bonifácio Jansen, publicou o Livro do Tombo do multissecular Mosteiro de São Banto de Olinda.
Entre alguns documentos de doação de terras ao Mosteiro, destaca-se uma declaração firmada por Diogo Vieira a Frei Cipriano, abade do Mosteiro de São Bento de Olinda – Pernambuco, constando que o filho de Miguel Gonçalves Vieira doara, em época anterior, por escritura pública, “huma légua de terra”, “na povoaçam de Nossa Senhora de Luz da vila nova de Santa Luzia”, em local que não era mais possível confirmar “por se acharem muitos moradores acomodados nas ditas terras”. Por tal motivo, acordavam as partes em substituir a primitiva concessão por uma outra, conforme documento que transcrevemos. (Romeiro de Lima, pp. 15-17)

DECLARAÇAM FEITA POR DIEGO VIEIRA SOBRE A TERRA DAS ALAGOAS.  Werther Brandão  (1962) -Ancianidade de  Santa Luzia do Norte - R. Arq. Públ. Alagoas Maceió n . 1 : 225-246 1962. In: Romeiro de Lima, pp. 15-17) 

Dizemos nós Diogo Vieira, e o Padre Frey Cipriano de Sam Bento, Abbade do Mosteiro de Sam Bento de Pernambuco, que nós estamos concertados por huma escritura pública, pela qual eu Diogo Vieira lhe dey huma legoa de terra, convém a saber, meya legoa de largo e duas de cumprido e por que ao prezente nam se lhe pode dar aonde a dita escriptura dis, por estarem muitos moradores accomodados nas ditas terras, lhe assigno a dita legoa de terra nas partes e na maneira seguinte a saber, meya legoa de largo, e huma da cumprida no Rio Poticatuba, que se começará a demarcar pelo rio Poticatuba, e correrá para o rio de agoa doce, que vay sair a praya e outro quarto de legoa, que sam mil, e duzentas braças em quadra na praya do mar entre Manoel Antonio, e huma Alagoa grande, que vay ao longe da Praya, e outras mil, e duzentas braças em quadra no Rio de Mendaug na Ilharga de Leonardo Pereira correndo ao Norte. E com isto ficam elles ditos Padres satisfeitos de sua legoa de terra, e assim mais tomaram para sitio e serea de casa, que terminam fazer nesta povoaçám a ilha que está ao longo do rio neste outeiro com toda redondeza da dita ilha rezervando a serventia de algum caminho público, que for necessário para serventia, e prol desta povoaçám, e com isto se deo o dito Padre Abbade Frey Cipriano de Sam Bento por satisfeito da dita terra em nome de seu convento e por verdade se assignam ambos hoje quinze de Dezembro de seis cento e oito annos nesta povoaçám de Nossa Senhora da Luz da Villa nova de Santa Luzia “Frey Cipriano de Sam Bento” “Diogo Gonçalves Vieira”. – nam se continha mais em dito

Documento que eu Fellipe Nery Correa Tabeliam do publijudicial e notas da cidade de Olinda VI do Recife e seus termos Capitania de Pernambuco p’s Magestade q’Ds gde etc fis trasladar o de proprio com o qual e com o official abaixo assignado este conferi e concertei, vei sem couza que duvida faça ao próprio me reporto que tornei e entregar ao R.P Pregador Geral q’ aqui assignou. Sobescrevi e assignei em publico e razo de meus signais seguintes aos quatro dias de mês de Janrº de mil e sete centos e secenta e seis annos.

Cdº p’ mim Tabeliam Fellipe Nery Correa – 

Em fé de verdade Fellipe Nery Correa.¹


' Tivemos o cuidado em preservar a grafia original desta declaração, a qual está inserida no livro do TOMBO, no Mosteiro de São Bento, na cidade de Olinda – Pernambuco.'

        Verifica-se, incontestavelmente, a existência do povoado em 1608, cuja denominação, “povoação de Nossa Senhora da Luz da villa nova de Santa Luzia”, não mais consta em documentos posteriores. A declaração do Livro do Tombo dos beneditinos de Olinda, evidencia que a criação da povoação, banhada pelo rio Mundaú, é anterior a 1610, desfazendo a crença admitida de ter sido Antônio Martins Ribeiro o fundador, conforme os termos da doação recebida por ele de Diogo Vieira.

        Se o sesmeiro (Diogo Vieira) não iniciou pessoalmente a desbravação e povoação da região, vê-se, porém, que com a doação aos beneditinos, preocupava-se em fixar moradores no seu vasto território. Repartindo sua gleba com pessoas honradas – os Padres Bentos -, Diogo Vieira obteve êxito em seu intento, constatando-se que no ano de 1608 já havia moradores na povoação.

       Sente-se a preocupação do sesmeiro em dar início ao povoamento. Não podendo localizar a área reservada aos padres na primeira doação, concede-lhes novos quinhões, inclusive destinados à exploração agrícola, presenteando-os, também, com um sítio para serventia da casa que os mesmos tinham acabado de construir. 

       Seguia assim, Diogo Vieira, a trilha dos bons capitães duartinos, atentos aos interesses dos habitantes, e, para tanto, resguardando a serventia dos caminhos públicos indispensáveis ao desenvolvimento e à vida da povoação. Sua vontade em priorizar o povoamento da região das lagoas destaca-se claramente através dos documentos de doação. Assim sendo, constatamos que antes de Antonio Martins Ribeiro, já havia o sesmeiro feito outras doações, consolidando a nossa posição de vila pioneira nas Alagoas. Atesta-se assim, por documento válido, oriundo do Livro do Tombo do Mosteiro de São Bento em Olinda, que Santa Luzia do Norte merece o título de vila pioneira, portanto, um dos mais antigos centros de povoamento das Alagoas.


S    



·  Werther Brandão  (1962) -Ancianidade de  Santa Luzia do Norte - R. Arq. Públ. Alagoas Maceió n . 1 : 225-246 1962  (pp. 233 - 42)

    p. 233

Santa Luzia do Norte: origens

Assentam as bases do povoamento alagoano nos três núcleos cujas as origens abordamos em ligeiros traços – Porto Calvo, Alagoas e Penedo -  e que, pelo rápido desenvolvimento e supremacia econômica, relegaram ao quase esquecimento um outro centro coevo de nossa formação, de pequena importância demográfica, mas de real valia como um dos primeiros  pontos de nossa expansão no alvorecer do século XVII.
Santa Luzia do Norte, decadente e pitoresco burgo da lagoa Mundaú ou do Norte, celebrando nos fastos da invasão holandesa, tem seus primórdios na primeira década do século XVII, como Penedo e Alagoas embora circule uma versão, considerada lendária por muitos autores, do
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R. Arq. Públ. Alagoas  Maceió  n. 1: 225-246  1962
Nota: Lembrando que a primeira década do século XVII, corresponde aos anos de 1601 a 1610 (lógica matemática) – não diz 1610.    

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nascimento do povoado na centúria. Se esta atribuição mais remota pode ser refutada, a anscianidade da povoação da lagoa do Norte é contudo incontestável e melhor que as suas irmãs da lagoa do Sul e do rio São Francisco.
            
            Deve-se à autoridade de Vernhagem a divulgação de ter sido o pequeno burgo lacustre fundado na última década so século XVI. Focalizando os povoamentos das Alagoas, reporta-se o mestre ao foral de Diogo de Melo Castro, de agôsto de 1591, e sentencia: “logo depois, começa a erigir-se em pequena enseada, no fundo da Alagoa do Norte, a vila  chamada nova de Santa Luzia, por devoção de seu fundador que era cego”. (16) Relacionando o aparecimento do povoado com a concessão das sesmaria  da lagoa do Sul a Melo e Castro, Rio Branco deduziu ter sido este o cego que fundara Santa Luzia. (17) houve equivoco do grande diplomata e historiador, motivado sem dúvida por um descuido de leitura, situada fora do sesmeiro quinhentista.
         
           A versão exposta pelo Visconde de Pôrto Seguro tem parecido lendária aos estudiosos alagoanos, pois o mestre dispensou no caso a citação das fontes, Melo Morais atribui a Gabriel Soares a paternidade da informação. (18) Ma não necessidade de maiores argumentos para chegarmos a conclusão de não ter Varnhagem colhido, na ogra que ele próprio  editara sobre o título de Tratado descriptivo do Brasil em 1587 – com a matéria  coligida possivelmente em 1584 – a notícia de ter sido Santa Luzia fundada em 1591 ou pouco depois.
           
           É possível admitir, todavia, a existência do cego referido pela tradição, confirmado pelo nome escolhido para o vilarejo nascente, que que indica claramente a devoção de quem a erigira. Ma a própria incapacidade física do presumível povoador não lhe permitiria maiores empreendimentos  e tudo indica ter sido êle  um desses obscuros moradores, que jamais procuraram firmar sua posse definitiva com pedido de sesmaria . Povoado-
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(16) PÔRTO SEGURO, Visconde de. História Geral do Brasil, 3ª. ed integral, S. Paulo, s. d., tomo 2º. P. 37.
(17) RIO BRANCO, Barão do. Efemérides brasileiras . Rio de Janeiro Ministério das Relações Exteriores, 1941, p. 262.
(18) MELLO MORAIS. A. J. de. Chronica geral do Brasil. Rio de Janeiro, 1886, p. 209.

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                "...E em Santa Luzia ela tem seu comêço com a doação passada a Miguel Gonçalves Viera - filho do cavaleiro da casa real e provedor das rendas reais de Pernambuco, Diogo Gonçalves Vieira, a quem sucedeu no cargo por alvará de 23 de agôsto de 1577,de uma grade data de terras de cinco léguas ao longo da costa, de Paripueira para o sul, e dez léguas para o sertão. Ignora-se a data precisa da doação. firmada por José de Albuquerque, e se o provedor  chegou a explorar sua vasta sesmaria. O mais antigo documento conhecido té bem pouco tempo sôbre as atividades dos senhores de Santa Luíza era o translado de escritura de doação se uma légua em quadros nas ribeiras do Mandaú, feita pelo filho do primitivo sesmeiro, Diogo Gonçalves Vieira, homônimo do avô, a Antonio Martins Ribeiro. Na escritura, datada    de 1610, se declara que" ora está fazenda villa e povoado a dita terra"(21) . A doação fôra feita sob condição do contemplado levantar um engenho de açúcar dentro do prazo de quatro anos, o que realmente se efetivou

          No mapa 14 do Livro da Razão do Estado do Brasil -1612, (22) Santa Luzia é a única localidade assinalada sob a designação de vila  - Vila Nova de Santa Luzia - e nas adjacências já surgem dois engenhos, identificados por Diégues Júnior  como o Nossa Senhora da Encarnação e o Nossa Senhora da Ajuda hoje Mundaú. (23) Hélio Viana, na Edição Crítica do mencionado Livro da Razão, que na legenda do mapa. 12 do códice existente na Biblioteca do Pôrto, referente ao território alagoano, há um aditivo: 'êstes são os lugares mais notáveis desta comarca, por sua grandeza'. Mas ao relacionar as seis vilas existentes na capitania de Pernambuco, o erudito comentarista...

    .......................
    (21) REVISTA  do Instituto Archeologico e Geographico Alagoano, Maceió. n. 1, dez. 1872, p. 25 <>.
      (22) MORENO, Diogo de Campos. Livro que dá razão ao Estado do Brasil. Recife, 1957, p. 92.
    (23) DIÉGUES JÚNIOR, Manuel. << O Livro que dá razão do Estado do Brasil>>. Revista do Instituto Histórico de Alagoas, Maceió, v.XXIV, 1945/46 [1947] P. 10. 

    Trechos do doc. na integra




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Substituiu Santa Luzia Por Alagoas. Senão era ainda vila, em pleno gozo de suas liberdades e insígnias, segundo o foro e costume do reino, o povoado afirmava-se como o de maior importância na região, pois de outro modo não figuraria no mapa, como ocorreu com Alagoas que, tenso sua construção iniciada em 1611, não foi registrada na obra de Diogo Campos Moreno. E o designativo não constituía uma apropriação indébita, mas apenas um uso comum na época, decorrentes das condições estipuladas pelo terceiro donatário ao conceder a primitiva sesmaria a Miguel Gonçalves Vieira, isto é,  repartir as terras e fazer vila, tarefa que coube a seu filho realizar. Os donatários podiam, pelo foral recebido por D. João III, elevar à categoria de vilas os centros mais importantes de suas jurisdições. E os povoados oriundos do compromisso e fundar vila, costumam usar desde berço a denominação honrosa, alternando-a freqüentemente com a de povoado ou povoação.

O que poderia parecer exagêro do Livro da Razão seria, não o título de vila,mas o simples registro do povoado cujo o aparecimento, pelos termos da carta de Martins Ribeiro,tudo indicava se originar em 1610, não merecendo, portanto, ser arrolada como o centro mais importante do território alagoano . Um documento, velho de mais de três séculos , mas só recentemente divulgado, faz recuar, contudo, a existência de Santa Luzia um milésimo um pouco anterior e nos ministrar elementos precisos sôbre o povoamento da região na primeira década do século XVII.
                                            
                                                     Um documento esclarecedor

Em 1948 publicava o benemérito Instituto Histórico de Pernambuco, graças   aos esforços de D. Pedro Bandeira de Melo e D. Bonifácio Jansen, o Livro do Tombo multissecular Mosteiro de S. Bento de Olinda. Da importância de tal publicação para o estado ad antiga capitania de Pernambuco , disse muito bem o prefaciador da obra, o saudoso historiógrafo Afonso de E. Taunay, ao ressaltar, dos  fastos locais. Para a história de Alagoas, especialmente, tão pobre em elementos anteriores ao período holandês , surgem dois documentos prestimosos, ca-  
R. Arq. Públi. Alagoas Maceió n. 1: 225-246  1962


Trecho do documento na integra


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CONTINUA...

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...talogados entre os "Títulos de Terras mais remotas" doada ao Mosteiro. Um dêles é de suma importância para o conhecimento de nosso passado e, por suas peculiaridades, até parece que o erudito autor da História Gera das Bandeiras Paulistas o tinha sobre a vista, quando no seu prefácio se referiu aos elementos arquivais que trouxeram " mais valiosa contribuição para o melhor esclarecimento os fatos imperfeitamente conhecidos e o ressuscitamento de fatos imperfeitamente conhecidos e o ressuscitamento de episódios consideráveis, caídos em olvido". (24)

        É êsse documento, datado de 15 de dezembro de 1608, s " Declaração feita por Diogo Vieira sobre as Terras das Alagoas", que se escreve de imediato como um dos mais antigos de nossa história. Precedendo-o apenas algumas meses, com desvantagem de não conhe, cer o original, a carta de doação passada por Cristóvão  Lins a Rodrigo de Barros Pimentel,, transcrita por Manuel Diégues Júnior em O bangues nas Alagoas, segundo publicação efetuada por A. L. (Aníbal Lima) - noCorreios da Tarde, de Maceió. (25) Em recente trabalho o historiador Moacir Medeiros de Sant'Ana  teve mérito a expor a raridade de códices alagoanos do século XVII e XVIII , salientando que do primeiro nos restam apena o Livro de Escrituras dos escrivães Barnabé do Couto e Manoel Rodrigues da Fonseca de 1610 a 1664  e o Segundo Livro de Vereaçõesda Câmara da vila de Santa MariaMagdalena da Alagoa do Sul, existente no Instituto Histórico de Alagoas. (26) Do primeiro códice, em bom estado de conservação  mas de leitura penosa, se não impossível, aos não iniciados,pelo uso de abreviaturas de interpretação  difícil estranha caligrafia da época, são amplamente conhecidos, porque  não sômente divulgados em livros, como em jornais e revistas, dois documento fundamentais para o estudo dos primórdios de nosso povoamento a que já tivemos ensejo de nos reportar - a doação de Digo Vieira a  Antonio Martins Ribeiroe a de Henrique Carvalho, na qualidade de procurador de Diogo Soares, a Manuel Antônio Duro, Ambas são contiudo, posteriores...



(24) LIVRO do Tombo do mosteiro de São Bento da cidade de Olinda. Recife, 1948. p. VI.
(25) DIÉGUES JÚNIOR, Manuel. O banguê nas Alagoas, Rio de Janeiro, 1949, p. 35.
(26) SANT'ANA, Moacir Medeiros de Os estudos historiográficos e os Arquivos em Alagoas. Maceió, 1962, p. 30 e 31.
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.R. Arq. Públi. Alagoas Maceió n. 1: 225-246  1962

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CONTINUA
Romeiro de Lima , na  22ª (vigésima segunda) página de seu livro, faz referencia a tão brilhante professor: "O professor  Werter Brandão, (...)destaca tal fato, afirmando ser a cidade de Santa Luzia do Norte 'a terceira em importância histórica das Alagoas' - e teria sido fundada em 1608 "


·           Manuel Diégues (1980) - (O Banguê nas Alagoas - 1610)
In: Romeiro de Lima...continua
·            
          Moreno Brandão (1936, pp. 23-24)- (Vade-Mecum do Turisra em Alagoas)
"Além de Penedo, Porto Calvo Alagoas (Mal. Deodoro), datam igualmente do século XVI, as fundações de Santa Luzia do Norte, São Miguel dos Campos.
·          
          Cícero Péricles (1982, p.38) - (Formação Histórica de Alagoas)
"Em 1610 já se estava  fazendo a vila e levantando-se o engenho de açúcar. A vila foi o "povoado" de Santa Luzia do Norte. já constituído em freguesia em  1654..."
·           Craveiro Costa (1981. 2ª ed. p.9) - ( Maceió - 1610)
"Santa Luzia do Norte, à margem da lagoa do Norte, é contemporânea dessa fase fase de formação geográfica e crescimento social e econômica do território alagoano. (...)A história, porem, firma a origem da povoação na doação de Diogo Gonçalves Vieira a Antonio Martins Ribeiro, em 1610..."

·          Dirceu Lindoso (2000, p. 38 ) - ( Formação de Alagoas Boreal - 1608)
" Foram três os polos de colonização no extremo sul do antigo pernambuco: o de Penedo (1570), o de Porto Calvo (1590) e o de Santa Luzia do Norte (1608)-Alagoas (1611) ..."

 Trecho retirado da Enciclopédia dos Municípios de Alagoas. Maceió:  Instituto Arnon de Melo, 2009.p.36.

" (...) O pitoresco burgo, hoje com ares  de decadencia, já teve seus dias de gloria. Disputa a antiguidade de sua formação com Penedo e Alagoas do Sul, embora haja versões que o povoado é anterior aos dois citados. O próprio Varnhagem, respeitado por seus escritos, defende essa posição, colocando os anos de 1584 ou 1587, mas há contestações. Há documento apontando, já em 1608, a 'povoação de Nossa Senhora da Luz da Vila Nova de Santa Luzia"




Santa Luzia do norte - Aspecto edifício da Usina Leão
                
 economista e político Cícero Péricles (1982 - 47), embasado no historiador  Manuel  Diegues Júnior, nos diz que: não se pode falar em História de Alagoas sem referir o açúcar, não se pode escrever o passado econômico ignorando a presença do açúcar, não se pode descrever a sociedade colonial ou imperial sem ligá-la ao domínio do açúcar, enfim,  não se pode ignorar,  na História de Alagoas, qualquer dimensão que a estude a interprete, esta presença imperial; soberanamente dominante, quase absorvente, como o próprio massapé da terra que alimentou os canaviais: a do açúcar desde a prática agrícola no que se refere a cana-de-açúcar, até a industrialização ou ao comercio, no que diz respeito ao açúcar.


  A indústria açucareira  esta ligada aos seguintes fatores:

   Utilização intensiva de mão-de-obra escravocrata;


  Existência de massapé (terra argilosa e escura, formada de uma mistura de gnaisse e calcário, própria para o cultivo da cana-de-açucar),


   Ajuda dos holandeses, por intermédio de capitais para melhorar o plantio e a montagem de ebgenhos.



  Surgiu com isso, uma aristocracia rural quando a cana-de-açúcar deu poder e dinheiro aos senhores de engenhos. A grade produção açucareira trouxe conseqüências, tais como :

   Formação de uma classe social diferente, a   aristocracia rural;


  Invasão dos holandeses, ou batavos, ao nosso país;

  Influencia da grande civilização negra nas tradições brasileiras;

  Miscigenação do negro, branco e índio, surgindo o mameluco, o cabloco, o mulato e o cafuso.

  Para melhor aquilatarmos o poderio que a indústria bangüê   exercia em nosso município, enumeramos os engenhos aqui instalados e seus respectivos proprietários




Água Clara

Firmino Leocádio Lima
Bom Lugar

Manoel Casado Lima
Cachoeirinha
Manoel Afonso de Mello Filho
Cachoeira de Baixo
Salvador de Sá Cavalcante
Cachoeira Imbury
Pedro Leite Rabello Quintella
Cachoeira do Regente
Cia. Alagoano de Fiação e Tecidos
Cafundó
Aureliano da Silva Cardoso
Campinas

Nicolau Rosalvo R. Motta
Currais

José Ferreira Machado
Coité Velho
Herdeiros de Hipólito Lopes Rodrigues
Coité Novo
Dr. José Antônio M. Netto
Conceição
Dr. Antônio Guedes Nogueira
Conduru
Cândido Pereira do N. Lins
Duas Bocas
Herdeiros de Manoel A. de Mello
Flor do Imbury

Pedro L. Rabelo Quintela
Garça Torta

João Lopes Ferreira
Gravatá
D. Juvência Cardoso Farias
Grigórios

João Lopes Rodrigues
João Dias
D. Juvência Cardoso Farias
Messias

Ventura Elias Ribeiro
Mundaú
Dr. Francisco Paulo L. Oiticica
Palmeira
D. Juvência Cardoso Farias
Pau Amarelo

Manoel Rodrigues C. Lins
Pedra Grande
Herdeiros de Galdino R. Calheiros
Pindoba
Demétrio M. da Rosa Calheiros
Primavera

Manoel Thomaz da Silva
Retiro
Manoel Ribeiro de A. Maranhão
Riachão Casado

Adriano de Oliveira Maia
Riachão de D. Maria

Joaquim Lopes Ferreira
Riachão do Pindoba
D. Francisca Oliveira R. Calheiros
Rocha
Herdeiro de Antônio Ventura R. Lima
São Salvador
Viúva Teixeira Aguiar & Mitchel
São Sebastião

José Lopes Rodrigues
São José

José Cunha Lima
Santo Antônio
Herdeiros de Antônio R. Leão Gejuíba
Satuba

Pedro de Araújo Lima
Serra d’ Água

Virgolina Calheiros
Várzea Grande

Antônio J. R. Braga
E inegável que até a segunda metade do século XIX grande parte da economia de Santa Luzia do Norte firmava-se nos engenhos de bangüês.

Fonte: ROMEIRO DE LIMA. pp. 50-1









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Escravos e Mucambos


O país conheceu, em sua história colonial e independente, um vasto leque de formas de escravidão, as quais se associaram à escravização de raças diferentes, com caracteres étnicos e normativos, culturas distintos e as formações socioecmônicas escravistas diversas. No período de quase quatro séculos, a escravidão se constituía e se refez em conexão com as determinações diretas e indiretas dos vários ciclos econômicos -s, não foi só a história que se alterou. Com ela se alteraram  simultaneamente as relações de produção, a estratificação da sociedade e a articulação das raças contidas nos vários pólos de dominação escravista



O propósito deste trecho do artigo não consiste em fazer um levantamento global sistemático de todas as diferenças ocorridas em modo simultâneo no espaço ou de modo sucessivo no tempo.



No cenário da América Latina, por exemplo, o Brasil é um caso quimérico para o estudo das amarrações conectivas  da escravidão com o desenvolvimento interno do capitalismo. Devido a importância e à universalidade da escravidão, ela alcançou uma influência construtiva homogeneizadora, que nem sempre possuiu em outras partes, e por ela tiveram de passar os momentos iniciais de constituição de um mercado interno não-colonial, ou melhor, ela se insere, com relativa rapidez, entre os pré-requisitos da eclosão capitalista modernizadora, quanto de uma formação, consolidação e diferenciação do capitalismo comercial. No últimos momentos da produção escravista colonial, dela brota também a negação do regime escravocrata e senhorial, se não através do desempenho revolucionaria das massas escravas, que não chegou a ocorrer como fator tópico das transformações históricas, pelas cisões, rupturas que converteram o abolicionismo  numa revolução de branco para branco.



Tudo isso tem sido negligenciado, por uma razão bem simples. Ao contrário do que houve nos Estados Unidos, aqui se poderia opor regiões contrastantes em termos  de formas de estruturas sociais ou de poder- e, de outro lado, os ritmos evolutivos foram descontínuos e muitos lentos. Perdeu-se de vista, assim, o que a escravidão, que aparecia de modo visível como o principal esteio de perpetuação de tudo que era colonial e senhorial, representava para emergência, a fixação e irradiação do que do que era denominado de capitalismo moderno. O que se pode descobrir, fazendo paralelo entre os dois estilos de vidas coexistentes nos Estados Unidos,  e o caso brasileiro só se percebe com nitidez estabelecendo-se uma freqüência de ritmos oscilantes, com um sentindo muito dual.Todavia, nem  por isso a realidade é muito imperativa.  O desenvolvimento tardio da escravidão acaba por concerte-la em um dos fatores da acumulação originária na cena histórica brasileira. Não é, e nunca foi encerrado com a crise do regime escravocrata e senhorial. Ela alimentou essa crise, inclusive no plano construtivo, já que sem a persistência da escravidão  e a transferência do excedente econômico que ela gerava para as cidade (creio que, seguindo ritmos históricos bem lentos) a história ocorrida seria inesquecível. Não tenho a intenção de advogar que com isso se ponha a imigração e outros fatores em um segundo ou terceiro plano. Entretanto apenas, que a historiografia que permeia  nos meios escolares por exemplo, ainda estão embutidos determinados peculiares errôneos – “e que não se conte  a história tão depressa e tão por cima a ponto de deixar-se na penumbra a verdadeira camada primária desse mundo moderno de raízes tão arcaicas”. HOLANDA,  ( 1971. p. 88)

As dificuldades para a implantação de uma sociedade de mucambos aldeados, de modelo quilombo , eram enormes e de várias ordens, umas internas e outras extremas. Em primeiro lugar, os mucambos aldeados formavam uma sociedade diversificada e bastante isolada (social) , que produzia para si, e tinha como única opção de comércio., o escambo. Assim, não produzia uma economia voltada para produção de mercadorias. Em meio a uma economia mercantilista (açúcar), os mucambos eram economicamente fechados.

Era uma sociedade extremamente complexa, com um alto grau de desenvolvimento. Tinham na América um regresso atípico as aldeias africanas. As aldeias de mucambos segundo Dirceu Lindoso (2 000 - 49), eram produtos de várias etnias africanas, aqui trazidas compulsoriamente como cativas, e que, frisa Lindoso, não possuía sua carga cultural completa.

O cativeiro de  guerra africano não era da mesma natureza da escravidão açucareira. da plantation no Brasil. A redução dos prisioneiros africanos da situação de cativos à condição de escravos era uma redução mercantilista. O comércio de escravos, era com Havana, Cuba,e, no Brasil, com Salvador, Recife e Alagoas, anteriormente.

empreendimento negroide de Xaxá I (comerciante baiano de nome Francisco Félix de Sousa, grande e rico negreiro, que se estabeleceu na costa de Benin, onde fundou uma dinastia de mulatos ricos e  influentes na região), funcionava como uma verdadeira empresa: compra de prisioneiros cativos nas fontes de abastecimento africanas; estocagem de negros nos grandes armazéns do porto de Uidá, e vendas de negros mercadorias para o mercado do Brasil e de Cuba.

dialética do ser negro se pode descrever como uma passagem da liberdade tribal africana para uma condição de servidão como cativo de guerra. Essa servidão de cativos de guerra serve de passagem, através de meios compulsórios, para o estado de escravidão mercantil na plantation do Novo Mundo Mas o ser negro aí cria sua própria condição de se transformar  em escravo não-escravo por meio da fuga. Nesse caso ele se transforma na negação mucambeira. O que possibilita essa transformação do não-escravo, creio eu, repousa, na existência regional de vários mucambos aldeados a distância das plantações açucareiras, possibilitando ao negro fujão, mas livre, por meio de uma sociedade primitiva de etnia mista (negros, mamelucos, índios sem aldeias e brancos paupérrimos) o acesso ao uso da liberdade e sobrevivência fora do trabalho escravo.

Segundo Dirceu Lindoso (2000 - 51), o regressismo da sociedade mucambeira, tal como foi criada na serra da Barriga, e a  baixa rentabilidade social de uma economia de tipo primitivo, ainda a falta de homogeneidade étnica, que é um fator importante nas sociedaes primitivas, e a formação guerreia dessas sociedades para o enfrentamento com forças superiores da sociedade açucareira que as cercava - tornaram inviáveis essas sociedades mungubeiras na formação de uma sociedade nacional. Lindoso complementa, para isso era preciso, como aconteceu no Haiti, que os negros subjugassem a sociedade senhorial branca. Aqui não ocorreu a mesma coisa. Os brancos as vésperas da abolição tinham quase destruído todos os mucambos e aldeados. Palmares foi, de fato, uma confederação de aldeados com cerca de 30. 000 negros fugidos. Todavia não aguentaram os ataques. Mesmo com a morte de Zumbi ainda havia mucambos por destruir. Sendo necessário salientar que: em Alagoas e Pernambuco, concentravam-se a maior população negra do Brasil no século XVII.

A crítica histórica não pode se omitir diante da imagem do negro como um ser escravo. A visão tradicional que o negro, mesmo em África, já nascia com o destino a escravo.

Em Santa Luzia do Norte foi inegável e de suma importunância o uso da mão-se-obra escrava. O sistema escravista aqui  implantado, como todo sistema de escravidão, era incapaz de  expandir a produção através de uma mudança qualitativa na produtividade nas unidades existentes. A expansão da produção assumia a forma de uma combinação de escravos e terra –  mais terras e mais escravos. Ou seja, sempre que se queria aumentar a produção, era necessário fundar um novo engenho mais ou menos, distante do preexistente. Assim ocorreu em toda região do Vale do Mundaú.

A maior parte dos escravos vindos da África era fornecidos por chefes políticos ou mercadores, os portugueses trocavam algum produto pelos negros capturados. A proveniência dos escravos percorria toda a costa oeste da África, passando por Cabo Verde, Congo, Quíloa e Zimbábue. Dividiam-se em três grupos: sudaneses, guinenos-sudaneses muçulmanos  e bantus. Cada um desses grupos representava determinada região do continente e tinha um destino característico no desenrolar do comércio. Era grande o movimento de compra e venda de escravos em Santa Luzia do Norte

O Segundo Romeiro de Lima (2008-35), Na localidade da Mata do Rolo, hoje pertencente  Rio Largo, os escravos organizaram um pequeno Quilombo.  Outra lugar/reduto que abrigava os negros fujões localiza-se no bairro do Quilombo (aqui em Santa Luzia do Norte)cujo a tradição lhe conserva a rotulagem. 

 Visitante Ilustre

Em 31 dezembro de 1859, S. Majestade D. Pedro II, visitou vários lugarejos da Província das Alagoas. O  Imperador deslocou-se de Maceió abordo do vapor  Pirajá, dirigindo-se  para  Vila do Norte e aos povoados de Coqueiro Seco e Fernão Velho. Segundo os historiadores Thomaz Espíndola (Geografia Alagoana, ed. 1871, p. 68) e Félix Lima Júnior (Navegação Lacustre in Dragagem, ed. 1962).

Pela importância que a Vila do Norte representava no contexto estadual, o Imperador resolveu visitá-la ,  (...) a bordo do vapor Pirajá, singrando as águas da lagoa Mundaú. Por volta das treze horas e quinze minutos do dia 9 de janeiro de 1860, desembarcava S. Majestade, o Imperador, em solo de Santa Luzia do Norte.  (Romeiro de Lima. Santa Luzia do Norte: um pouco de sua história. Maceió: 2008 p. 35)

Segundo o pesquisador Romeiro de Lima(2008, p. 35), "os preparativos para a recepção ao Imperador e sua esposa Dona Tereza Christina, transformaram sucintamente os hábitos da população da capital e de alguns centros tidos como importantes – social, política e economicamente. Santa Luzia do Norte se fez representar às “homenagens prestadas ao casal de monarcas” enviando as Maceió componentes da Guarda Nacional, que no dia 31 de dezembro de 1859, juntamente com batalhões de São Miguel dos Campos, Alagoas (Mal. Deodoro) e Atalaia, formaram o Paço Imperial."

A visita do de D. Pedro II À Santa Luzia do Norte proporcionou-lhe uma viagem fascinante ao atravessa a lagoa Mundaú. Objetivando  beneficiar Maceió, a Vila do Norte, as povoações de Coqueiro Seco e Fernão Velho, Pedro II determinou a criação de  uma companhia de navegação. Sem recursos, o projeto não logrou êxito.  
           
     No que tange a visita do Imperador à povoação de Coqueiro Seco, nos relata o historiador Aberlado Duarte: “ No povoado de Coqueiro Seco permaneceu D. Pedro II mais de uma hora a  fio. Tempo demasiado talvez para pobreza do lugarejo. Mas havia uma igreja. Claro que a igera despertou a atenção do soberano, a julgar mesmo pelas anotações deixadas acerca da colocação de imagens vindas da Bahia, bem trabalhadas, especialmente de uma serrada em secção vertical que dele obteve um registro à parte ( Dom Pedro II e Dona Thereza Cristina nas Alagoas, ed. 1975, pp. 137 -8).      



 O açúcar no inicio da República 
  
O federalismo garantiu o predomínio dos interesses regionais, o açúcar, principal produto brasileiro, e o carro chefe da economia alagoana, perdeu seu posto de principal mercadoria de exportação no âmbito nacional desde segunda metade do XIX. Devido ascensão do café (toma-lhe o posto de principal produto), como também, a concorrência do açúcar cubano e europeu (feito de beterraba), todavia, o mesmo ainda se encontrava no “rol” dos gêneros mais exportados do país, mesmo com a baia de preços. Sendo necessário frisar que nos primeiros anos do período republicano a indústria do açúcar se encontrava bem, dentro do cenário nacional, mas, a partir da crise de 1903, o caldo desanda.

                EXPORTAÇÃO DE MACEIÓ DE 1892 a 1902

1892-1893
524.112 sacos
36.905 ton.
1893-1894
860.785 sacos
55.250 ton.
1894-1895
760.785 sacos
54.858 ton.
1895-1896
640.120 sacos
46.929 ton.
1896-1897
388.618 sacos
28. 705 ton.
1897-1898
648.366 sacos
44.890 ton.
1898-1899
511.660 sacos
32.436 ton.
1899-1900
492.079 sacos
34.013 ton
1900-1901
836.597 sacos
62. 216 ton.
1902-1903
714.691 sacos
53. 194 ton.

Fonte: TENÓRIO (1997, 42)

É nesta posição dual, que o principal produto do Estado, tentava se sustentar no mercado nacional e internacional. Outro fator que piorou ainda a situação alagoana foi sua total mudez (não possuía voz ativa) dentro da unidade federativa, no entanto, isto não a impediu de tentar escoar seu produto e lutar por sua valorização. Prosseguiu desenvolvendo a produção sem acompanhar na mesma dimensão a produtividade.

 O CICLO DE ASCENSÃO E QUEDA DO PRODUTO DURANTE TODA A                        PRIMEIRA REPÚBLICA
1890-1900
Elevação
1901-1914
Queda
1915-1920
Elevação
1921-1923
Queda
19241927
pequena elevação
1928-1930
Queda
                  
 Fonte: TENÓRIO (1997, 42)

            Os Estados do Nordeste como Alagoas e Pernambuco, juntamente com os fluminenses eram os maiores pólos açucareiros de abastecimento do mercado interno brasileiro por muito tempo, tendo como principal comprador o Estado de São Paulo. Mas com as sucessivas crises da cultura cafeeira, começava os primeiros investimentos no bojo paulistano sobre cultura açucareira, fato este, que marcou os primeiros passos da empreitada paulista na produção do açúcar em âmbito nacional (hoje ocupa 70%). A entrada dos paulistanos como consumidores e produtores diretos abalava mais ainda estrutura açucareira, que já vinha sofrendo desde a mudança de mercado externo para interno.
           
            Com a criação, em 1901, da Sociedade de Agricultura, por parte da elite agrária de Alagoas, começou um incentivo na busca do melhoramento tecnológico, com o intuito de fornecer subsídios para manutenção da agra-indústria açucareira alagoana. A Sociedade lançou a Revista Agrícola, com intuito de informar os produtores sobre os novos métodos de produção, tendo como prisma maior, a entrada de Alagoas na concorrência direta com o sul do país e com os novos adversários internacionais.

Com a forte crise, foi criado o Sindicato Agrícola do Estado, dando maior organicidade à produção, e posteriormente, foram criadas estações agronômicas, para dar maior auxilio as Usinas. Citando aqui a estação de Satuba, hoje Escola Agrotécnica Federal de Satuba.

Uma associação que marcou sua passagem com várias iniciativas, foi a Sociedade de Agricultura Alagoana, fundada em 8 de maio de 1901. Coube-lhe editar uma revista: a Revista Agrícola. CARVALHO (1982, 274)

 Com a instauração do regime republicano, Alagoas ainda continuava essencialmente agrícola. Destacando-se a cultura do açúcar, algodão e milho.
Em 1901, no inicio do governo maltino realizou-se o primeiro Congresso Agrícola. Lembrando que neste período a agroindústria açucareira alagoana se encontrava em uma das suas maiores crises.


            Caminhos do Cólera em Alagoas - Santa Luzia do Norte



Rio São Francisco-passagem do vibrião

Quando se deu a invasão do vibrião nos finais de 1855, Sá e Albuquerque era quem presidia a Província das Alagoas. É neste exato momento, que o poder central se encontrava ciente de tão mal agouro que se alastrava pela Europa, o Cólera. Foi nesse momento que o Império na pessoa de D. Pedro II, chegou a recomendar providencias no que tange a proteção das Províncias Litorâneas. Era de vital importância o resguardamento dos portos para evitar a entrada do COISA RUIM.No entanto, o dito cujo, chegara pelo Porto do Pará, como uma névoa sombria que se alastrou e cobriu a Bahia, logo foi para Sergipe para ingressar nas Alagoas.

O presidente da Província, em correspondência endereçado ao Ministro do Império, afirma que:  cada  povoação foi dividida em distritos e possuía um médico. E até aquele exato momento (1854), ele não sabia da ocorrência de nenhum caso da doença em terras alagoanas. Todavia, foram criadas "Comissões de Socorro público" para cada localidade. O maior medo naquele momento, repousava no tocante a geografia de  Maceió, pois a mesma, se encontrava nas vizinhanças de pântanos e mangues, facilitando mais ainda ,a propagação do vibrião. Foram feitas algumas obras ( o Cemitério e  Hospital da Caridade, por exemplo) de reestruturação da cidade. 

As experiencias da Bahia e de Sergipe já eram suficientes para demonstrar que o vibrião era andejo. A fronteira sul da Província alagoana se transformou em um verdadeiro campo de guerra. O governo angariou recursos humanos e matérias , mas Alagoas já se encontrava com o Cólera que já havia passado por Sergipe e Bahia. Foi para Bahia que Sá e Albuquerque nos fins do ano de 1855, pedia padres para o bispo, no sentido de dar maior conforto espiritual a  população.

A entrada pelo sul da província, corresponde ao que vai ocorrer pelo norte em 1862. O Cólera havia-se desenvolvido na Freguesia (paróquia)  Cruangi, Comarca de Goiana (Pernambuco) e a feição adquirida pelo vibrião era monstruosa/assustadora. Sá e Albuquerque pede ajuda ao Ministério do Império, no que se refere a vinda de mais 14 facultativos.

O Cólera só vai chegar à Alagoas em novembro de 1855. Sá e Albuquerque refere que tudo estava em paz e menciona apenas algumas mortes lá pros lados de SANTA LUZIA DO NORTE, local onde esteve reinando intermitentes perniciosas. As cautelas de cunho administrativo estavam sendo tomadas. A Vice-Presidência entende que não se teria a construção de um novo cemitério na velocidade necessária e determina  então a construção de um provisório. É de se notar o drama de uma população, vendo o local das covas sendo abertas, numa espera do se viveria. É como, se creio eu, a morte estivesse rondando como  urubú na carniça, ceifeiros ou shirigamis estivessem fazendo hora extra naquele mormento.

Obs: CEIFEIROS: O ceifeiro ou ceifador também conhecido como anjo do mau, é o único que pode dar e tirar vida de uma pessoa.
   
  SHINIGAMIS: Deus da Morte; semelhante ao Ceifador (Sinistro em português) é uma entidade presente na cultura japonesa.
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. Os dois pontos chaves no desenvolver do Cólera estavam sendo Piassabuçu e Penedo. O presidente da Província realmente encaminhou uma série de recursos para Penedo; entendia a necessidade de fortalecê-la e conter a epidemia. A epidemia ataca os que estavam empenhados contra ela. De novembro a dezembro de 1855 o mal já havia feito grande progressos por toda parte.

No Penedo, os estragos eram grandes. Facultativos, acadêmicos, farmacêuticos, membros das comissões, autoridades civis e militares, sacerdotes, ricos e pobres, homens, mulheres e crianças, todos iam sendo acometidos As vilas do Porto da Falha, e do Pão de Açúcar as povoações de São Braz, Colégio Piranhas dentre outros, estavam todas infectadas.

Alagoas estava mobilizando 22 médicos, 14 acadêmicos, 3 cirurgiões e 5 farmacêuticos. O mau planejamento logístico dificultou o combate ao vibrião. O mal continuava ceifando pelo Rio Francisco. Estima-se para Piassabuçu um total de  600  almas (pessoas), falava-se em 200 mortos e 300 pessoas acometidas.

Penedo  contava  com 1 000 (mil) cadáveres lançados em seu cemitério provisório e o calculo das vítimas, chegando na conta a cidade e os arredores, estimava-se cerca de 2 000 (mil) mortos. Em Piassabuçu cerca de 75% da população havia sido atingida. Em Palmeiras tinha-se notícia de mais de 500 vítimas. Já em Marechal Deodoro, o número era de 31 mortos; temia-se a migração para Maceió devido a sua geografia, como também as péssimas condições no tocante a higiene. A região estava definitivamente assolada.

Sabe-se que  o flagelo havia perdido sua força em Cururipe. Por volta de janeiro de 1856, o Cólera marchava parra os lados de Barras de São Miguel, passando antes pelo Roteiro. Nos fins de janeiro de 1856 sabia-se 30 pessoas afetadas e 2 mortas; em dezembro, embora não se possa precisar que a estatística se refira explicitamente ao Roteiro , sabia-se de 35 mortes e 320 afetados com a moléstia. O Cólera já estava a beira da lagoa em Pilar e fazendo vítimas. Anadias sofreu com o coisa ruim, o Vale do Mundaú e do Paraíba estavam enfestados pela praga

Santa Luzia do Norte também foi atingida em 1856 e 1862.  Há um comunicado lacônico do delegado Francisco Hidelfonso Ribeiro de Menezes, datado de julho de 1863: o Cólera havia aparecido no dia 10 e 11 já havia morrido 3 pessoas. Os cadavéreos já vão consumido as sepulturas abertas.Nos anos de 1862-63 o Cólera se encontra praticamente  extinto.


Maceió - Rua do Comércio (1900-1920)
Os primeiros anos da República


 Nos primeiros decanos do século XX, a cidade de Santa Luzia do Norte não tinha mais tanta influência em âmbito estadual; nesse momento ela já se entrava no rol das antigas cidades mortas (aquelas que não possuíam mais grande influencia socioeconômica e política no Estado).   
  
O modelo que serviu para a construção da vida urbana de Maceió foi burgues-mercantil, e não o modelo colonial de implantação da cultura urbana. Há uma diferença fundamental entre a criação de Santa Luzia do Norte, que ilustra o modelo colonial de fixação da cultura urbana, e a criação de Maceió,produto de um modelo burgues-mercantil de estabelecimento da vida urbana, e que se opõe social e politicamente ao modelo urbano-rural que Santa Luzia representa. A fixação, em Maceió, de um modelo urbano burgues-mercantil ocorreu em condições históricas definidas, configurando a especificidade de época e espaço.

A criação colonial de Santa Luzia do Norte não tem os requisitos socioeconômicos, e mesmo naturais, da criação de Maceió no período imperial. Santa Luzia do Norte é produto das condições iniciais da colonização no Brasil, enquanto Maceió resultou, como implantação da cultura urbana, do processo social de urbanização e fixação do espaço social nas condições econômicas politicas e sociais do século XIX. Por fim, há uma razão de colonização na criação de Santa Luzia do Norte, e há uma nítida razão mercantil-urabana na criação de Maceió.


Cidades que brotaram no meio de uma sociedade agrária de forte estruturação social, e de um agro escravocrata, dependentes de uma economia de exportação: o açúcar. (...) esses  (...) modelos de colonização que vão confluir no período de três séculos para que o pólo de colonização Santa Luzia-Alagoas se desenvolva autonomamente num modelo de alta concentração mercantil urbana: Maceió. É o surgimento de Maceió, sua vitória politica de ser a capital da província, que vai amaciar as contradições sociais e econômicas dos dois modelos de colonização, e, ao tempo esgotará economicamente os dois modelos, fazendo cidades como Penedo e Porto Calvo entrarem decadência.  Maceió hoje concentra toda riqueza produzida em Alagoas, e toda produção cultural e toda a produção intelectual. O preço da modernidade do seu urbanismo é a decadência de quase todas as cidades de Alagoas. (LINDOSO.2000, p. 44)



A cultura urbana maceioense surgiu, nas condições específicas como resultado da acumulação de capital mercantil, advindo do comércio marítimo e da agiotagem dos mascates. Essa condição de urbanização que Maceió oferecia, acrescidas a excelência de seu porto natural, favoreceu o avanço do capital mercantil urbano sobre propriedades e imóveis rurais. Os senhores de engenho endividados na agiotagem maceioense entregavam em garantia aos agiotas seus engenhos, suas filhas (casamentos com os mascates gananciosos/agiotas), suas terras de cultura, suas matas,  dentre outras coisas.

Os mascates  se apropriavam dos  engenhos de açúcar,  pelo  casamento, entravam a fazer parte da sociedade tutelar. A pouco e pouco, nobres engenhos de açúcar (...) os  bangüês (...) passaram da mão dos orgulhosos proprietários, mas falidos, para as mãos sem nobreza, mas ricas, doa comerciantes e agiotas de Maceió. (...) Foi o caso do engenho Mundaú, em Rio Largo; e de outros. LINDOSO (2005 p, 80)


Já Moreno Brandão delineia em sua obra História de Alagoas a dúplice psicologia social atrelado a sociedade alagoana. Segundo ele, o alagoano do norte e o do sul possuem em seu bojo formativo, uma discrepância psico-étnica. O alagoano do sul foi fruto do pastoreio são-franciscano, onde rareavam (estar em pequeno número/quase escasso) a mão-de-obra escrava e os engenhos. Rotulava-o, o historiador do clã Brandão de Viçosa, pela serenidade de ânimo, uma certa apatia, a ausência de grandes surtos de iniciativo individual, e grande aferro às tradições do passado – parecido assim, ao português reinol (pessoa natural do reino).  O alagoano do norte, para Brandão, é característico de um espírito aristocrático/fidalgo, tendo a indústria açucareira criado nos senhores de engenho uma tipologia que se aproxima ao senhor feudal, dotado dom do comando imperioso por seu constante trato com os escravos.  Esse caráter imperioso do alagoano do norte na visão sociopolítica de Moreno Brandão, estar atrelado à liderança política dos negócios públicos, o que não significava, do ponto de vista social, uma situação econômica saudável; por sua vez, o alagoano do sul no ponto de vista social, mostrava uma situação econômica mais proveitosa no que tange as suas atividades pastoris. A afirmação do historiador de Viçosa revela, em sua defesa das atividades econômicas do pastoreio são-franciscano, que o sistema de plantation que servia de base à colonização do norte provincial demonstrava, ao longo do tempo histórico, ser suscetível ao comportamento dos preços dos açucares no mercado mundial. Fato que não ocorria na economia de pastoreio são-franciscano, que não passava de uma extensão do pastoreio sergipano e baiano colônias, assim sendo, uma economia de cunho autárquico (autônomo), pouco desenvolvida como técnica de criação e resultante das contingências locais vinculadas a reprodução dos rebanhos bovinos. Contudo era essa estabilidade por meio da rotina, sem qualquer interferência do mercado mundial (açucareiro), que se afigurava a Moreno Brandão uma situação saudável.

É nesse contexto do pastoreio, que a sociedade alagoana sul adquiria adornos – diz Brandão – certo cunho de nomadismo e certos peculiares camponês de igualitarismo social, sem a nítida linha de diferença de diferença de classes que a sociedade aristocratizante do norte da província revelava. A tipologia na formação psico-étinica do homem alagoano se devia, no dizer de Moreno Brandão, - ao papel que o inconsciente  da história, desempenha na nossa cultura provincial. Essa alegação creio eu, ao inconsciente da história  feita pela psicologia social de elaboração moreniana, sugere, nas condições de nossa cultura, a peculiaridade de caráter do nosso homem provincial, apresentando o  alagoano – tanto do norte (agrícula) quanto o do sul (pastoril) – como um “SER SOCIAL” taciturno (silencioso/calado), algo desconfiado.

Todavia, será essa realmente a melhor característica do “SER SOCIAL ALAGOANO”?

O pesquisador Thomaz do Bom-Fim Espíndola (1871)  nos mostra que o espaço alagoano como uma realidade social, política e econômica concentrada em torno do pólo urbano de Maceió, e onde dominam, ao lado das tradicionais práticas sociais rurais, as novas praticas sociais urbanas e as novas praticas sociais mercantis. Maceió alcançou o título de capital das Alagoas no ano de 1839, destituindo Marechal Deodoro. Assim sendo, a cultura urbana burguês–mercantil se originou nas condições especificas de Maceió (cidade portuária/ Jaraguá ) resultado da acumulação de capital mercantil.


A capital alagoana passava por grandes transformações, e sua reestruturação deu-se através da implantação das redes técnicas  que eram utilizadas como um meio de modernização. A cidade deveria tornar-se um espaço habitável, além de ser capaz de absorver todas as inovações técnicas disponíbeis em outros países. A construção, a destruição e a reconstrução do espaço urbano na cidade atendiam aos desejos da burguesia e das elites locais, capazes de consumir todas as modernidades existentes.

A Belle Époque perdurou com seus ares de novidade, no país e em Alagoas, até consolidar o período de “mudança”. As segunda, terceira e quarta décadas do século XX reservavam horizontes diferentes, mas não menos mutantes. Novos moldes para a política mundial e local se aproximavam. E, consequentemente, novas époques.

"Maceió cresce e deixa para trás cidades “aristocráticas” como Penedo, Santa Luzia do Norte e Marechal Deodoro. E foi no meio desse clima de urbanização que Alagoas se encontrou com a República. "TENÓRIO (2000, 3).


Os primeiros anos da república foram agitados em Alagoas. Após cogitações e tentativas republicanas de se colocar um republicano no governo, Marechal Deodoro nomeou seu irmão, Pedro Paulino da Fonseca, coronel. Eis o primeiro governador republicano de Alagoas. Sua estadia no poder foi marcada por uma série de atitudes, vinda dos demais políticos, com finalidades forçadamente definidas (por parte dos outros): O adesismo, a intensa disputa entre os políticos, cada um mais fervorosamente republicano que o outro, procurando influir na administração (...) em meio a um quadro de intensa turbulência na política nacional (...) TENÓRIO (2000, 5).

 Ficou durante pouco tempo no poder. Sua saúde frágil e pouca aptidão para lidar com aquela situação inédita o fizeram perder o posto. A isso soma-se também a saída de seu irmão do governo da república. Uma junta governativa assume, e passa o poder para o Barão de Traipú.

No país, outro alagoano assume o poder: Floriano Peixoto, que recebeu o apoio de outra ala crescente no Brasil da época: a burguesia, se distanciando, assim, das antigas “amarras” políticas ligadas a Monarquia, recebendo também a alcunha de “Consolidador da República”.

Correspondente a este período, assumia em Alagoas Gabino Besouro, tendo como vice o velho Barão de Traipú. À sua sombra, o velho Pedro Paulino como seu opositor, representando as forças monarquistas, ainda tão fortes no estado. Traçou metas bem definidas para seu governo:

Normatizar o sérico público, estruturar o setor fazendário, alojar as repartições em locais condignos, fortalecer o sistema de segurança (...) estimular o teatro como diversão (...) coibir o contrabando, definir uma política integrada de transportes.
TENÓRIO, (2000,  6)

Acabou rompendo com seu vice, e posteriormente, com o próprio Floriano Peixoto. Essa insatisfação generalizada o fez sofrer represálias. O palácio do governo foi cercado e houve uma intervenção e também estado de sítio durante este período. Uma junta governativa declarou vago o cargo e elegeu o Barão de Traipú como governador. Isso demonstrava o quanto era fraca a força (real) do movimento republicano no estado depondo um e colocando em seu lugar um ferrenho apoiador da Monarquia.

Após estes problemas, e com a intervenção do presidente, o governador retorna ao cargo para concluir seu mandato. Depois desse período, entrou em ação novamente uma junta e escolheram o Dr. José Manoel Dantas (provedor da Santa Casa de Misericórdia) como governador, e Santos Pacheco (coronel), como vice.

Inicia-se aí uma nova configuração na política nacional: a “política dos governadores”. Na política local, a mistura entre o tradicional e as “forças adventícias” - vem com força. Descobriram os políticos alagoanos que, para conseguir lograr “êxito” com a república, era necessário mesclar os novos representantes dos novos interesses locais com as velhas potências nostálgicas, porém neutralizadas pela modernidade. Sai o militarismo, entra as forças oligárquicas civis, em especial o setor açucareiro.

E é com esse “jogo” de tradicional com a modernidade que a república se consolida em Alagoas, sendo perpetuado em seguida pelo genro do Barão de Traipú, Euclides Malta, numa rede “perfeita” que os governantes que o antecederam teceram.




Comércio e transporte

O comércio santaluziense era constituído, em sua maior fatia, por armarinhos e mercearias, tendo como foco maior, a venda no varejo. - Secos e molhados, estivas, padarias  e botequins. A maioria destes estabelecimentos era administrado, ao longo de todo o dia, pelos próprios donos, - alguns estrangeiros (Cristãos Novos:Oliveira,Rosa,Costa, Pinto, Rocha, Rego, Melloo, Alves, dentre outros ).

  Havia os vendedores, além dos mascates, - trabalho com mais status e menos marginal. Para estes últimos, era preciso ter o mínimo de escolaridade: ler, escrever, fazer contas. Isso fez com que os índices de analfabetismo diminuíssem.

                        INDICES DE ANALFABETISMO EM ALAGOAS (1872 - 1920)
    Ano
   Alfabetizado
  Analfabetos
% de analfabetismo
Sobre a população total
    1872
  41. 913
  306.096
   88, 0
    1890
  70.115
  441.325
   86, 5
    1900
  129.563
  519.710
   80, 0
    1920
  144.535
  834.213
   85, 2

Fonte: BATISTA, (2004, 40)

Os números registrados, na dezena dos 80% de analfabetos, para o conjunto da população estão dentro da média do Nordeste para o período. Esta média alta era um indício da situação relativa ao conhecimento formal e ao acesso à escolaridade existente entre os nordestinos.
  
Estabelecimentos

Citá-los-emos, seperando-os por ramo de atividade e seus respectivos proprietários

Lojas de Tecidos

Padarias                                 
Secos e Molhados
Aprígio Vieira da Rocha

Adrião Barretos
Abílio José da Costa
Jonas de Oliveira

Antônio Fernandes Fausto
Adrião Barretos
José Vieira da Rocha

José Vieira da Rocha
Affonso Peixoto de Mello
Luiz Rodrigues de Carvalho

José Carvalho Pedrosa
Agapito Soares Pinto
Maria Carolina da Silva Costa

Luiz Carvalho de Barros Accioly
Agostinho José da Silva
Maria Viana
Maria Carolina da Silva Costa

Américo Antônio Messias
Martiniano José dos Santos

Ananias José de Carvalho



Antônio Alves da Silva



Antônio Fernandes Fausto



Antônio José de Carvalho



Antônio Conrado da Cunha



Antônio Felix de Lima



Antônio Cavalcante Záu



Antônio Ferreira Guimarães



Antônio José Feitosa



Aprígio Vieira Rocha



Bernardino de Senna Correia



Caetano Gomes de Almeida



Clarêncio Feliciano de Lima



Fernandes Fontes Fontan



Francisco de Barros Rego



Joaquim Soares Cotinguiba



Jonas de Oliveira



João Martins da Costa



João Affonso da Graça



João José Francisco dos Santos



João Leodegário de Oliveira



João Barbosa de Gouvêa



João Lopes



José da Silva Pontes



José da Rocha Lins



José da Cunha Oliveira



José Teixeira da Silva



José Lopes Pontes



José Salustiano da Silva



José Vieira da Rocha



José Francisco de C. Pedrosa



José de Carvalho Pedrosa



José Rogério Domingos Ramos



Luiz Cavalcante de Barros Accioly



Luiz França Teixeira Pinto



Luiz José Tavares



Manoel Antônio da Costa



Manoel Correia de Almeida Braga



Manoel Joaquim Ferreira



Manoel Tenório de A. Rocha



Manoel José Rodrigues



Martiniano José dos Santos



Maria Carolina da Silva Costa



Maria Viana



Miguel Alves Pontes



Nicoláo Fernandes Correia



Olavo Pire Barbosa



Pedro Alcântara Monteiro e Albuquerque



Pedro Nunes das Virgens



Rosa de Almeida Lima



Rosa de Oliveira



Ursulino Adriano Cunegundes



Valeriano de Almeida Braga



Viúva Ulisses do Rego Rangel



Viúva de Manoel Alves de Mello



Fonte: ROMEIRO DE LIMA (2008, pp. 52-54)


Haviam ainda, cinco estabelecimentos destinados à fabricação de móveis de madeira,vime e ferro funcionavam regulamente 

Inúmeras olarias de tijolos instalaram-se a ribeira do Mundaú empregando métodos artesanais na produção de tijolos, telhas e manilhas - algumas fabriquetas (sem muita importância) atrelada as residencias, produzindo panelas e moringas, usando o barro como matéria prima.


A tecnologia de transporte da sociedade formativa (Santa Luzia do Norte, Marechal Deodoro, Penedo, Porto Calvo dentre outras) se limitava ao uso do transporte humano com a carga portada à cabeça com o benefício de uma roda ou rodinha e a condução da carga a cavalo, a burro e jumento com o uso de garajáus e de cangalha de cambitos ou ganchos e o transporte a carros-de-bois. Os cavalos (magros) de cangalhas eram providos ainda, para o transporte, de caçuás. Os cambitos serviam para carregar lenha, cana ou capim. Os garajáus são certos de formas mais alongadas, cumpridos, feitos de cipó trançado, e produzidos de aselhas, que ainda servia para o transporte de aves ou caça. Os caçuás são cestos oblongos, feitos de cipó ou de fasquias de bambu, dotados de aselhas que os prende à cangalha e usados no transporte de gêneros alimárias. Os garajáus também são cestos de formas oblongas feitos de cipó traçado, e providos de aselhas, que comumente serve para o transporte de aves. Os caçuás são maiores e mais profundo que os garajáus. Os carros-de-bois são de modelo romano, e que vieram da Península Hispânica, e são puxados por juntas de bois com cangas.

O transporte era mantido por burros, jumentos e cavalos de tiro, se tratava de transporte feito com o uso de cavalgaduras ou bestas. No caso dos carros-de-bois, em geral o modelo era romano-ibérico, com idêntico sistema de ajoujo e tração, as juntas prendidas as cangas com tiras de couro que lhes iam até aos chifres providos de furos, e as juntas entre si prendidas por peias.  Tradicionalmente os bois que são usados nos carros possuem chifres ou cornos (são apêndices da cabeça de alguns mamíferos) aspeados, com as pontas vasadas, e o sistema de cangas substituía o uso de cabestros. Nos carros-de-bois o comum eram as juntas de quatro ou seis bois emparelhados de dois a dois. A junta da frente era formada de bois como menos peso, pois eram delegados a eles a direção e velocidade do carro; as duas juntas de trás (ou uma junta) eram formadas por bois mais robustos que serviam de retrancas ao peso a ser puxado, suportando o excesso de peso e dando sustentação ao tiro de junta da frente. O vaqueiro condutor é chamado de carreiro. Ele conduz o carro a pé por meio de um aguilhão ao ombro, ou nos trechos melhores do caminho sentado no recovém do carro, e quase sempre com cocões (cada um dos quatro paus verticais, que se prediam ao eixo e ao estrado do carro-de-boigritando. Ouvindo-se os gritos monótonos dos cocões dos eixos das rodas sabe-se ao longe que vem pela estrado o carro-de-boi (LINDOSO 2000.p.195)

A sociedade rural formativa possuía, conforme a função, vários tipos de transporte: transporte de mercadorias (carroças puxadas por animais de tiro, animais de tiros conduzidos por almocreves, carros-de-bois, canoas a remo, canoas e balsas a varejão e à vela, barcaças); o transporte de pessoas (redes, carros-de-bois, animais de sela, animais de cangalha, em geral sem caçuás e sem garajáus, canoas de tolda; transporte de portagem ou à portage (cargas à cabeça apoiadas em rodilhas, balaios pendurados à vara ao modo de balanço e portados ao ombro para o transporte de verduras e hortaliças) - dentre outro meios de transporte.

Sendo necessário frisar que em Santa Luzia do Norte, o  carro-de-boi servia principalmente para transporte do açúcar, vindo da Utinga para ser armazenado (armazéns próximo a igreja matriz de Santa Luzia) na sede do município, e daqui, saiam diretamente (via Porto do Peixe)  para Levada (Maceió), por viés de canoas, e de lá, seguiam para o Porto de Jaraguá para ser exportado.O Porto do Peixe perde sua eficácia devido à instalação da linha ferroviária. O Açúcar passou a ser transportado por via férreo,- não mais lagunar. – Fica delegado a ele, apenas a entrada de mercadorias para o abastecimento do comércio interno (armarinhos, botequins, padarias dentre outros). - Os tijolos e telhas (Olarias) passam a ser o principal produto de venda (saída).


No Porto do Peixe – local da primeira feira livre semanal da então emergente Vila do Norte – construiu-se um embarcadouro, presumindo-se que naquele porto desembarcara o Imperador D. Pedro II, quando de sua visita a Santa Luiza do Norte. ROMEIRO DE LIMA (2008, p. 94)

Por ser uma cidade interiorana/formadora, Santa Luzia do Norte ainda possui uma forte  influência dessa sociedade raiz – dentro de uma visão, por que não dizer, romântica, carros e carroceiros convivem rodando prá lá e prá cá, pelos arruados. 

Os caminhões rodando, as carroças rodando, rápidos as ruas..., rumor surdo e rouco, estrépitos, estalidos... (ANDRADE, 1922. p.115)

Nesse trecho do poema de Mario de Andrade, podemos conjeturar a maneira pelo qual a cidade se devolve. De modo que o antigo (as carroças) convive com o novo (os caminhões). 


Santa Luzia do Norte (sede), não recebeu as beneficies da estrada de ferro (as ferrovias), devido à falta de empenho dos políticos e comerciantes que aqui viviam no momento da implantação de tão grande invento na região. (História Oral).

 “(...) a evidência oral pode conseguir algo mais penetrante e mais fundamental para a história. Enquanto os historiadores estudam os atores da história à distância, a caracterização que fazem de suas vidas, opiniões e ações sempre estará sujeita a ser descrições defeituosas, projeções da experiência e da imaginação do próprio historiador: uma forma erudita de ficção. A evidência oral, transformando os objetos de estudo em sujeitos, contribui para uma história que não só é mais viva e mais comovente, mas também mais verdadeira”. (THOMPSON: 1992, p.137).


Tanto as cidades, quanto as estradas de ferro foram o símbolo da industrialização no século XIX, sendo reflexo de profundas e impactantes mudanças no processo produtivo. Com a indústria veio à modernidade, a urbanização e a tecnologia. As ferrovias foram o fruto, ou melhor, “o invento” que modificaria as indústrias de bens de capital.

A estrada de ferro, arrastando sua enorme serpente emplumada de fumaça, à velocidade do vento, através de países e continentes, com suas obras de engenharia, estações e pontes formando um conjunto de construções que fazia as pirâmides do Egito e os aquedutos romanos e até mesmo a Grande Muralha da China empalidecerem de provincianismo, era o próprio símbolo do triunfo do homem pela tecnologia. HOBSBAWN, Eric j. A era das Revoluções.  23ª ed. São Paulo .Paz e Terra, 2007. p 72.
           
No Brasil, o primeiro estalo para possuir esse meio de transporte, ocorreu nos anos de 1835, devido ao intercâmbio com os ingleses. Esse empreendimento se manifestou através da Lei nº 101, de 31 de outubro. A estrada de ferro ligaria o Rio de Janeiro a Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Bahia. Todavia, essa legislação não atraiu muitos adeptos interessados em investir nesse empreendimento. Mas, se essa legislação oriunda do período regencial não vingou, é notório que por meio dela, abriram-se novos caminhos no que se referia aos meios de transporte em âmbito nacional.
O decreto nº 101 surgiu para dar respaldo e maior representatividade às atividades diplomáticas do emissário do Império. O ano de 1852 marcou o ponta pé inicial da viação férrea no país, logo após a criação da lei nº 641. Foram criadas as estradas de Ferro de Petrópolis (Mauá), Recife – São Francisco, a de Santos-Jundiai, Bahia-São Francisco dentre outras. A febre na construção de ferrovias continuou na década de 60 do século XIX.
         
   No Nordeste, a implantação das estradas não foi diferente a do restante do Brasil.

A anta rompia trilhas na matas, o índio em seu encalço abria a picada, o português, com seus cargueiros, alargava-a; de raro em raro, um carro de boi seguia o colono e abria com suas rodas constantes dois sulcos paralelos a que chamavam de caminhos; mais tarde, no século XIX, o progresso estendeu suas fitas de aço ao longo dos principais caminhos. TENÓRIO (1996, 55)

            O que se predominava aqui (Nordeste), até a segunda metade do século XIX, era uma grande discrepância, entre o transporte fluvial e o terrestre, sendo o primeiro feito em maior quantidade.  Isto elucida a hegemonia, por exemplo, de alguns Portos, como o de São Luiz, na Ilha do Maranhão, o do Recife e o Jaraguá em Maceió.

O dia 02 de julho de 1864 foi considerado o prisma da história ferroviária em terras alagoanas, pois foi através da lei nº 428 aprovada pelo então Vice presidente,  Roberto Calheiros de Melo, aprovada neste dia, que ocorreram os estudos para construção da linha férrea que ligaria o porto de Jaraguá ao centro da província, bem como garantiu a companhia, que organizou a implantação um quarto do juro que lhe foi garantindo pela assembléia legislativa. Dois dias depois, era assinado a lei 439, que garantiu o respaldo financeiro para a construção das ferrovias.
            
    Com o monopólio das ferrovias pelos ingleses, se instituiu em terras alagoanas “The Alagoas Railway Company Limited”, conectando a capital alagoana a cidade de União dos Palmares, percorrendo o vale do Mundaú e do Paraíba.  Evento que ocorreu nas últimas duas décadas do século XIX, com a passagem da The Alagoas Railway Limited para mãos federais (na República), em seguida, locada a The Westem of Brazil Railway.

Averiguou-se um tímido avanço no sistema ferroviário, dando inicio assim, a linha Maceió-Recife, com isso, o desenvolvimento comercial de cada povoado. Os acrescimentos incidiram com a implantação das ferrovias.


A partir da segunda metade do século XIX, até o inicio do  XX, Alagoas possuía elencada em suas terras cinco fábricas de tecidos. "União Mercantil no povoado de Fernão Velho; Progresso Alagoana no Rio Largo e Alagoana na Cachoeira, localidades do município de Santa Luzia do Norte; Penedense em Penedo e Pilarense em Pilar. Essas fábricas empregavam juntas, cerca de 2500 pessoas". (OSVALDO ACIOLY, 2007. p.51).

Fábrica
Local  
União Mercantil
Fernão Velho
Progresso Alagoano
Rio Largo
Alagoana
Cachoeira
Pilarense
Pilar
Penedense
Penedo


Total de operários: 2500

Fonte: CARVALHO (1982, pp. 276=277) 


A primeira fábrica constituída no Estado foi a União Mercantil de Fernão Velho.

No ramo têxtil, Santa Luzia do Norte assumia posição nas Alagoas, portanto invejável, com a instalação em Fernão Velho - então povoado de Santa Luzia do Norte – da fábrica União Mercantil (...). Por iniciativa  
do Comendador José Antônio de Mendonça, Barão de Jaraguá (...) em reunião de 21 março de 1857. (...). Contudo veio a funcionar em 1865 (...) (ROMEIRO DE LIMA, 2008. p, 57).


Situa-se no município de Santa Luzia do Norte, povoado de Fernão Velho - a margem da via-férrea Alagoas Railwaym. Pertencente  a uma sociedade anônima com capital de 300 contos, todavia , pretendia ser elevado a 650 contos. A empresa era prospera, pretendendo futuramente alcançar na razão 53%.  Possui maquinários e prédios bem conservados, além de 30 casas e 11 quartos no edifício da fundação destinados aos funcionários. Em 1901 trabalhou cerca de 190 dias e produziu um montante de 26.179 peças na média de 231 artefatos diários   (OSVALDO ACIOLY, 2007. p.55).

Em Fernão Velho, havia uma situação em particular - a criação de toda uma estrutura para os funcionários da fábrica, como casas, escolas, clubes. Uma espécie de “isolamento” da região. Tudo calculado para “prender” os funcionários o maior tempo possível, distanciando-os de contato com ideologias que pudessem comprometer o bom andamento da produção.
               
                       NÚMERO DE RESIDÊNCIAS OPERÁRIAS POR FÁBRICA

FÁBRICAS
Nº DE
    ANO
CASAS
QUARTOS
MEIA-ÁGUAS
União Mercantil
     22
       19
       2
    1897*
     30
       11
  
    1902
Cia Alagoana
     300


    1902
Cia. Pilarense
     25


    1902
Progresso Alagoana
+ de 100


    1902

Fonte: IZIDORO, Francisco. “Industria” In: Indicador Geral do Estado de Alagoas. Op. Cit.
Dados retirados do Gutenberg, 9 de março de 1898, p.2/3. In: BATISTA, Osvaldo Acioly Maciel. Filhos do Trabalho, Apóstolos do Socialismo:     os tipógrafos e a construção de uma identidade de classe em Maceió (1895/1905)..  Recife, 2004. p.61.

            Grande parte das casas não era de tijolos, as residências foram edificadas pelos próprios trabalhadores nos dias de descanso. 


À margem da estrada de ferro  de União a Maceió – a Progresso Alagoana (Rio Largo/ Santa Luzia do Norte),- fundada no mês nove do ano 1892 com o capital de 650 contos e posteriormente elevado à 850 contos, onde emitiu 450 contos de debêntures, dos quais resgatou mais de 190 contos. Seu fundo de reserva girava em torno de 15% dos anuais eleva-se a 97.236$000 rs. (OSVALDO ACIOLY, 2007. p.55).

É uma das melhores estruturas, onde se acomodam os seus aperfeiçoados maquinismos e tinha uma bela vila operária com mais de 100 casas, alguns chalets, residência dos operários, gerente e mais empregados. Detém cento e vinte teares, maquinário para fiação, tintura e acabamento.  Seus produtos são de altíssima qualidade – procurado em toda a União. (OSVALDO ACIOLY,2007. p.56)

Em outubro de 1888, instalou-se em Rio Largo, - então distrito de Santa Luzia do Norte -, a Companhia Alagoana de Fiação e Tecidos -, e, em setembro de 1892, surgia a Companhia a Companhia Progresso Alagoana pertencentes à família Guedes Paiva. (ROMEIRO DE LIMA, 2008. p, 57).

Com capital inicial de  300 (trezentos) contos de réis,  foi fundado no ano de 1888 no município de Santa Luzia do Norte (hoje Rio Largo), a fábrica  Alagoana de Fiação e Tecidos (algodão crus e branco).Foi situada no lugar designado Cachoeira a margens do Mundaú e servida pela via-férrea Alagoas Railwaym.

Sua estrutura possuía grandes edifícios que comportam 260 teares e todas as máquinas de fiação e acabamento, com cerca de 300 casas de tijolos para residência de operários. Sua situação financeira é lisonjeira; retira 15% dos lucros anuais para fundo de reserva(OSVALDO ACIOLY,2007. p.56). Tem um motor a vapor e outro hidráulico para qualquer situação crítica.

Seus produtos tinha muita saída em todos os Estados da Republica. Possui mais de 600 operários entre homens, mulheres e crianças (OSVALDO ACIOLY, p.57).

Com o advento da necessidade de se exportar tecidos, graças às grandes guerras, as fábricas têxteis cresceram. 

Alagoas recebia o progresso industrial, um exemplo disso eram as várias Fabricas de Tecido.Em Maceió, algumas cresceram consideravelmente, dentre elas, a Cia. Alagoana de Fiação e Tecidos, Cia. União Mercantil, Cia. Pilarense de Fiação e Tecidos, Cia. Progresso Alagoano. 





Ano
Local
Fabrica
1888
Santa Luzia do Norte (hoje Rio Largo)
Fábrica Cachoeira
1892
Santa Luzia do Norte (hoje Rio Largo)
Fábrica Progresso
1892
Pilar
Companhia Pilarense de Fiação e Tecidos
1898
Penedo
Companhia - Industrial Penedense
1909
Pilar
Fabrica de Rendas e Bordados
1911
Maceió
Fábrica Alexandria
1913
São Miguel dos Campos
Companhia de Fiação e Tecidos São Miguel
1914
Maceió
Santa Margarida
1925
São Miguel dos Campos
Fábrica Vera e Cruz, do Cotonifício Nogueira S/A.
___
Maceió
Fábrica Norte de Alagoas

Fonte: CARVALHO (1982, 276/277)

O corpo de trabalhadores destas micro-fabricas, basicamente, eram de artesões e um punhado de ajudantes, quando a estrutura era boa, ou melhor, os negócios iam de vento em polpa. Mas era inegável que de acordo com o novo regime implantado, não se dava brecha naquele momento, a ascensão ou melhoria da classe trabalhadora. A  necessidade de se exportar tecidos, foi devido às grandes guerras, as fábricas têxteis cresceram.


Freguesia e Patrimônio histórico


O clero sempre foi no Brasil uma grande força. Esteio do regime colonial, seu prestígio passou dos donatários às capitanias e destas às províncias, estabelecendo-se e dominando, fora do orbita espiritual,  à esfera temporal no governo, na sociedade, na política.  E compreende-se essa supremacia. Nação eminentemente fundamentalmente católica, com reis que chegaram ao auge do fanatismo e uma sociedade que suportou fanaticamente os horrores da Santa Inquisição, o governo português sempre encontrou na Igreja  um aliado solicito, dedicado,  e, por vezes, poderoso, pela influência que exercia sobre o espírito religioso da nação.

Desse aliado a Metrópole valeu-se no Brasil, na África e na Índia. No Brasil colonial para ser mais objetivo, a submissão do colono  era algo foro do comum; No Brasil civilizado para implantação e consolidação da formula política que se traçara. E, com ela à frente,  lançou os fundamentos dos primeiros povoados, onde se abriu os primeiro trilhos à penetração sertaneja, solidificou  seu domínio pelo litoral, pacificou o índio (processo de aculturamento de forma ativa/ violenta: psicológico, moral e físico),  fez a sementeira da civilização a base da soberania lusitana na América meridional. Um joguete de manutenção do poder."O poder não é uma coisa, uma propriedade que pertence a alguém ou alguma classe; não existem, de um lado, aqueles que detêm o poder (dominantes) e, de outro, aqueles que a ele estão submetidos (dominados). Na realidade, “o Poder” não existe, existe sim, práticas ou relações de poder. Logo, o poder é algo que se exerce, que se efetua, que funciona em rede e que, portanto, deve ser entendido antes como uma tática, manobra ou estratégia do que como uma coisa, um objeto ou bem. "   ( FOUCAULT, Michel. Confession of the Flesh).

É desse opressão que mais a frente surge o misticismo religioso, como uma  outra saída da miséria. As condições matérias e culturais das populações miseráveis levaram a criação de seitas religiosas que justificavam a luta pela salvação. Creio que nesse sentido a religiosidade popular opera contra a oficial.

 “O ambiente de religiosidade e misticismo favorecia o surgimento de beatos e messias, cujas ações reais, modeladas por uma ética de provação, tendiam a chocar-se contra a estrutura de classes da sociedade, tal como aconteceu com Thomas Münzer, que tentou -organizar, na Alemanha do século XVI, uma completa comunidade de bens e igualdade total, a antecipar sobre a terra o reino de Deus.Por volta de 1877, ano da grande seca no Nordeste,    -  Antônio  - Vicente Mendes Maciel, que como Antônio Conselheiro se      notabilizaria, já peregrinava pelos sertões, a fazer e a arrastar fiéis por onde passava”. O sentido social e o contexto político da guerra de canudos. p.2. Disponível em http://www.fundaj.gov.br/geral/observanordeste/Moniz_05.pdf . Retirado as 09 hs 00 do dia 20 fevereiro de 2012.


Quando se firmava o interesse da administração por um local, o eregia  em vila, para maiores franquias do governo, da justiça, da política e do fisco, o padre, até então forasteiro, aparecendo de quando em quando para as consolações espirituais da  desobriga, fixava-se no povoado. Crava-se a freguesia. E muitas vezes  a freguesia  antecedia as prerrogativas de vila

No ano de 1654, Santa Luzia do Norte se encontrava como freguesia. É interessante frisar, que por mais de um século, a atual capital das Alagoas (Maceió), permaneceu atrelada eclesiasticamente a supracitada paróquia. “ Apesar de detentora de tais prerrogativas e privilégios em decorrência de seu exuberante crescimento, ressentia-se a freguesia por não possuir um templo católico (...). A iniciativa para a construção de nossa igreja matriz deu-se em 04 de março de 1672, (...)a atuação da igreja católica era tão marcante na vida de nosso município, que os Vigários, além de suas atribuições religiosas, prestavam detalhadas informações, dignas de um instituto Estatístico.” A data de edificação  da matriz (...) se deu nos anos de 1786. (LIMA, pp. 36-43). 


Antes mesmo da ascensão  do povoado à categoria de vila, a população maceioense  já aspirava à emancipação eclesiástica.

Maceió pertencia à freguesia de Santa Luzia do Norte, como já foi dito, regida pelo cônego Antônio Alves de Miranda, o mesmo que, em março de 1817, convidava a Câmara da Vila, recentemente fundada, a acompanhá-lo, “para maior desafio dos povos”, num Te-Deum  na capela dos Prazeres, na presença de Nosso Senhor Sacramentado em ação de graças pela salvação de tantas almas qur escaparam da mão da tirania e felicidade que o céu nos tem concedido pelo governo provisório”. CRAVEIRO COSTA. (1981, 2ª ed. p. 95)

As pessoas por esse tempo, não estavam satisfeitas com o pastor. O clérigo não cumpria bem os seus deveres espirituais , e contra ele se leva,taram acusações e se faziam constantes queixas ao bispo da diocese, que o tinha na conta de insensato e extravagante.

De modo que, cada dia, mais se fazia sentir a precisão da separação da vila de Maceió da jurisdição eclesiástica de Santa Luzia do Norte.

Por duas vezes a comunidade foi à presença do rei (D. João VI) requerer a criação da freguesia de Nossa Senhora dos Prazeres. Da primeira, a petição foi indeferida, em visto das razões apresentadas pelo prelado de Olinda. O povo de Maceió, contudo, não se deu por vencido.

Em fins de 1818 voltou à presença de D. João VI com fito da velha aspiração.  

A criação de uma  freguesia era burocraticamente cansativo, moroso e a papelada imane  (volumosa), que ia do rei para o bispo do prelado para a Mesa da Consciência e Ordem, deste para o Desembargador do Paço, e finalmente, tudo minuciosamente examinado e relado, voltava às mãos do soberano para o bendito despacho.   

A 10 de março o processo recebeu o parecer do Procurador Gera da Mesa da Consciência e Ordem, e a 24 o Procurador da Coroa e Fazenda emitia sua opinião. Ambos forma favoráveis ao deferimento. Depois a papelada foi ao Desembargador do Paço, que, a 30 de abril, concordava com a pretensão dos habitantes de Maceió, respeitados os limites traçados pelo bispo de Olinda. Assinaram a consulta – Visconde de Vila Nova da Rainha, Bernardo José da Costa G. e Vasconcelos, Antônio Rodrigues Veloso de Oliveira, Antônio Soares de Andrade Brederode sendo voto vencido o do deputado Monsenhor Miranda (...) O processo, enfim, subiu à decisão real, e D.   João VI deu o seu assentimento à pretensão, sendo então expedido o Alvará de 9 de julho de 1819, criando a freguesia de Nossa Senhora dos Prazeres, com sede em Maceió.CRAVEIRO COSTA. (1981, 2ª ed. p.98)




A representação movida pelo povo de Maceió teve de passar por todos esses transmites da formalística de cunho oficial recomendada nesses casos. Do rei foi ao bispado de Olinda. O prelado da diocese D. Frei Antônio de S. José Bastos, informou que, como da vez anterior a sua singela opinião era que a freguesia de Santa Luiza, por sua pequena área, gera uma insuficiência atrelada às rendas, não podia ser dividida, achando mesmo que o motivo principal da pretensão havia desaparecido com a província , já dada, da conservação do Santíssimo Sacramento na igreja dos Prazeres e um administrador permanente.Contudo os moradores tinham razão no que se refere as queixas formuladas contra o vigário. Todavia, se S. M. tivesse a mínima pretensão de atender ao requerimento, a nova freguesia poderia ter as seguintes demarcações: “a linha que corre para costa desde o pontal da barra das Alagoas até o Rio de Jacarassica que serve de termo a freguesia de Pioca, com as Ilhas que intermedeão da boca da Caixa para o Norte e todo o terreno desde Jaraguá até o Riacho Fernão Velho, e daqui correndo para ao Norte até as nascenças do Rio Jacarassica inclusivamente com os moradores, que ai existem no lugar chamado Messias, ficando desta maneira dividido ´o antigo total do terreno em duas porções,  real ou aproximadamente iguais” (*) Baseava-se o bispo o seu parecer nas informações do vigário das Alagoas. CRAVEIRO COSTA. (1981, 2ª ed. pp.96-7)
________
(*) “Senhor- Já tive a honra de informar em outro tempo a V. M., que a Freguesia de Santa Luzia do Norte da Comarca, digo, da Capitania das Alagoas não me parece susptivel de divisão, attendida a sua pouca extensão, e diminutos reditos, e actualmente se acha de mais onerada a esta Freguesia de hum Parocho Encomendado, ou Coadjuctor pela grade huma ophtalmia, e cahindo em cegueira total em ambos os olhos me consta ter assim requerido aos Ver. Governadores do Bispado. O principal motivo que pretextão os Requerentes da nova Divisão, parece-me estar já sanado  com o expediente de haver, e de se conservar sempre na Capella da Povoação de Massaió o Santíssimo Sacramento com hum administrador fixo, que  acuda as precizoens espirituaes dos Fieis que, nos seos fregueses. Se comtudoparecer justo a S. M. que se faça a divisão da mencionada Parochia, aponto aponto como justa linha da demarcação da nova Parochia, a que a que corre pela costa desde o pontal da barra das Alagoas athé o Rio Jacarassica que serve de termo a freguezia da Pioca, com Ilhas que internedeão da boca da Caixa para o Norte e todo o terreno desde Jaraguá athé o Riacho Fernão Velho, e daqui correndo ao Norte athé as nascenças do Ri Jacarassica inclusivimente com os moradores, que ahi existem no  lugar chamado Messias, ficando desta maneira o antigo total do terreno em duas porçoens, real ou approximadamente iguaes na conformidade das informações, a que tenha procedido, e me forão em outro tempo communicadas pelo Parocho da Freguezia limitrophe das Alagoas, que he justamente o Foraneo do Districto, e pelo R. M. Escola da Cathedral de Olinda, que foi vizitador daquella repartição os quaes ambos por isso mesmo são inteligentes da Topographia daquelle Territorio cujas informações originaes forão incluzas na minha antecedente informação. Eis o que posso informar a S. M. etc Corte do Rio de Janeiro e, 26 de Fevereiro de 189 –Fr. Antonio de S. José Bastos.” In: CRAVEIRO COSTA. (1981, 2ª ed. pp.97-8)


Os maceioenses receberam com atraso a noticia da criação da freguesia. – Os limites traçados à nova freguesia não agradaram aos habitantes. Os mesmos teceram um vasto leque de acusações contra o vigário das Alagoas, Antônio Gomes Coelho, e, por isso, foi formulado uma nova representação endereçada a D. João VI. A reclamação possuía novas informações, isso fez demorar a instalação da freguesia.
Queixavam-se de que o vigário, “querendo fazer favores com os incômodos  dos suplicantes”, deixava à freguesia de Santa Luzia do Norte a  capela da Divina Pastora, que ficava além do Mundaú, da parte de Maceió,  e as “ ilhas inclusive da Barra do Pontal das Alagoas para o Norte, entrando pelo canal do Cadoz em linha reta até o rio Mundaú, e por ele acima” até os limites da freguesia. Tudo isso vigário, em suas informações ao prelado de Olinda, omitira em proveito de Santa Luzia do Norte e para favorecer o seu colega, os moradores de Maceió procuravam reinvidicar. CRAVEIRO COSTA. (1981, 2ª ed. p.98)


O governo provincial foi ouvido, e, por conseguinte, quis revolver o assunto. Abriu-se um inquérito, onde foram ouvidos várias pessoas que figuravam entre os signatários da reclamação. Assim, foram ouvidos: José Elias Pereira (sargento mor), Antonio Maria de Aguiar, Pedro Antonio Seabra, Reginaldo Martins Pimentel, Félix da Costa Morais, 1.º tenente Francisco Pereira Guedes e José Soares dos Prazeres. Estes se mostraram surpresos, pois não haviam assinado coisa alguma.  Ou se retratavam, para evitar confusões  com o vigário das Alagoas, ou haviam sido verdadeiramente vitimas de algum abuso de confiança .Declaram-se, pois, inteiramente estranhos a tal movimento.

Segundo Craveiro Costa, o resumo do inquérito feito pelo Desembargador do Paço, “estavam eles sumamente satisfeitos com a divisão pronunciada no Alvará de 5  de julho 1819 que a criara e desmembrara da Freguesia de Santa Luzia do Norte a que dantes estava atrelada, e por isso nada mais desejavam do que ter uma Pároco, pois o que havia sido designado não tinha até aquele momento chegado para tomar posse, e por  conseguinte, estimavam que não houvesse alteração nos limites sendo de toda a evidencia que não tinham requerido até agora, relativamente a este objeto, pois como exuberantemente se mostrava a face do sumario, que vinha junto a suplica copiada no reverso da Provisão, fora fabricado sem audiência e assinatura dos indivíduos, que na mesma se diziam assinados, e se declaravam como seus autores, não tendo eles de modo algum concorrido para sobredito fim”.CRAVEIRO COSTA. (1981, 2ª ed. p.100)


Diante de todo esse imbróglio,  o Desembargador do Paço  opinou pela permanência dos limites e o príncipe regente lançou, em 21 de fevereiro de 1822, o seu despacho – como parece, referendado por José Bonifácio.

A freguesia de Maceió ficou, pois, os limites já acordado no Alvará de cinco de julho de hum mil oitocentos e dezenove. Correspondente a esses limites ficavam elencados 1.932 habitantes e 4.734 almas. Além de Fernão Velho, ficava Santa Luiza do Norte, de fundação antiguíssima e já em começo de decadência, com muitas igrejas, capelas e nichos dependentes do curato e uma crescida população . Além de Jacaressica, ficava a freguesia de Pioca, hoje anexada a de Jaraguá, com 12 capelas sufragêneas, uma matriz que se motabilizara pela riquesa de seus ornamentos e esplendor do culto, e da qual era vigário o venerado padre Francisco de Assis Barbosa. Para a paróquia de Maceió foi designado o Padre Antônio José de Caldas pela a resolução de 3 de março de 1820. Todavia, em janeiro de 1822 ainda elle não havia habilitado a exercer o cargo, tirando a tirando a competente carta de apresentação. CRAVEIRO COSTA. (1981, 2ª ed. pp.100-1

Hoje, a Igreja Matriz de Santa Luzia do Norte se encontra totalmente descaracterizada.

"A igreja de Santa Luzia do Norte mantém intacta a caixa a arquitetônica de gramática setecentista com forte sotaque popula que lhe avalia os contornos. Sobre a parte da fachada a data 1786 registra o final da construção. Das trés janelas avarandadas do coro, a do meio é elevada e encimada por um óculo sobre o qual se encurva a cimalha. O frontal é sublinhado por volutos e flores de delicado feitio rococó arrementando ema fachada que, no conjunto dos componentes, denota a mestria de quem a concebeu. Acostada à parede da nave, uma pequena torre guarnece o sino original, precedente das oficinas de Coruripe. (...) O interior da igreja foi desfigurado devido a perda de altar-mor, mas conserva outros elementos básico, definidores de épocas, como o arco cruzeiro, sanefas, altares colaterais e capela do Santíssimo Sacramento, com grade de madeira recortada. Mantém a imagem da padroeira, Santa Luzia, protetora da visão, suja data é celebrada no dia 13 de dezembro. A proximidade  da festa com o Natal faz com que o largo do templo, durante todo o mês de dezembro, se transforme em palco para os brincantes que reafirmam a herança portuguesa do folguedo. Ainda hoje devotos ávidos por proteção e pagamento de promessas chegam em romaria mantendo viva a tradição catolica da cidade." (Alagoas Memorável - Patrimônio Arquitetônico.   Maceió:  Instituto Arnon de Melo, 2011. p.154).

O termo patrimônio traz com sigo um conjunto de  significados ou caracteres, uma relação estreita com a idéia de herança. Algo a ser deixado para as futuras gerações. O patrimônio cultural é visto, portanto, como um legado de um povo ou conjunto de bens e valores representativos de uma nação. Dentro de uma visão atrelada ao Capital, o patrimônio que deveria ser conservado para guardar a memória do local, hoje, passou a ser mais lucrativo na esfera do turismo. Sendo assim, o crescimento da importância dada ao patrimônio fundamenta-se não apenas no reconhecimento de seu valor cultural, mas especialmente em seu potencial como mercadoria de consumo atrelado ao capitalismo cultural.

O tombamento, segundo Rodrigues (2001, p.21), “continua a ser a forma mais eficiente resulta em uma valorização dos bens edificados, e contribui para a determinação de paisagens, as quais edificarão a cultura e o lugar que se quer instituir e preservar. Gerando assim, recursos para o local.

Fonte: LIMA, Antonio Romeiro de. 2012, 3 gravura,
 serigraf, preto  e branco. Coleção particular.
ATENTADO AO PARTRIMÔNIO: 
Uma prova evidente de que o nosso patrimônio vem sendo desprestigiado, foi a demolição da centenária Igreja de Santa Luzia do Norte (foto) a mais antiga daquela cidade e uma das mais conhecidas do Estado pelos singelos traços arquitetônico que ostentava. Dona de um passado que data do apogeu holandês no Brasil e em Alagoas, ninguém o motivo que levou as autoridades municipais a destruir aquele templo religioso-historico.Dados transcritos fielmente da reportagem original da época (entremeios dos anos de 1960 a 70).

 Santa Luzia foi elevada categoria de Vila em 1830, (mas ainda atrelado a Comarcas), só ganha forus de município autônomo, em 1900 (no então governo d Euclides Malta). Em 23 de agosto de 1962 foi criado o município.


Doenças

No nascer da Republica, as  doenças e enfermidades não eram só exclusividade de Maceió, elas se alastravam pelas vilas dos interiores alagoano. Moléstias como a febre amarela, gripes virulentas, sarampo, cólera (A obra Alagoas nos tempos do Cólera do Professor Luiz Sávio de Almeida, é uma ótima analise sobre esta enfermidade em terras alagoanas) dentre outras. No ano de 1908, a varíola fez inúmeras vitimas em Santa Luzia do Norte, Coqueiro Seco, Atalaia, Maceió, União e Colônia de Leopoldina.

 A Roça e a Casa de Farinha

 A roça é o setor de subsistência baseando-se numa agricultura de técnica rudimentar, sendo mínima densidade econômica. Embora a terra fosse o fator mais abundante, sua propriedade estava altamente concentrada. O sistema de sesmaria aqui (Santa Luzia) implantado, como em outros locais, concorria para que a propriedade da terra, antes monopólio real passasse às mãos do número limitado de indivíduos que tinham acesso aos favores reais. Entretanto, não era este o aspecto fundamental do problema, pois sendo a terra abundante não se pagava propriamente renda pela mesma.Dentro da economia de subsistência cada individuo de uma unidade familiar deveria encarregar-se de produzir alimentos para si mesmo. A "roça" era a base da economia de subintendência . Todavia, não se limita a viver de sua roça o homem da economia de subintendência. Ele esta ligado a um grupo econômico maior, quase sempre pecuário, cujo o chefe é o proprietário da terra onde tem sua roça.
  
  Historicamente a mandioca é alimento básico na dieta do campesinato formativo. A relação era a seguinte: o engenho de açúcar estava para a aristocracia rural, a pesca e a Casa de Farinha, ou melhor, a farinha, estava para o povo.  O nome mandioca é oriundo de uma particularidade curiosa, batizada pelos índios, sua etimologia vem de Mandi (o nome da criança) e oca  (casa  do índio).

  Até hoje a fabricação da farinha se faz pelos mesmos moldes da época colonial. Enquanto a fabricação do açúcar desde do engenho de bois até as grande usinas que moem anualmente milhares de toneladas de sacas de açúcar a casa de farinha continua muitas das vezes a ser movidas a força humana. Apesar de sua importância foi uma cultura relegada a um pano secundário sempre desprovida e proteção e cuidado.

  No século XIX a crise na farinha documentam a deficiência da produção Rio de Janeiro e da Bahia.  Essa carência chegou ao ponto do governo ser obrigado a comprar farinha de mandioca para ser vendida para o povo. Em relatório de 1904, o Dr Messias de Gusmão, lembrava que até farinha de mandioca, Alagoas importava do Paraguai, para ser vendida nos interiores alagoano

   Segundo Cícero Péricles (1981 - 254), nos anos de 1930 havia mais de 4. 000 casas de farinha, pequenas fabricas de sistema colonial, onde opera a transformação das raízes em farinha..

     A casa de farinha é o lugar onde se faz farinha. É o espaço onde o homem exercita sua habilidade técnica, quotidiamente desenvolvida através dos anos de convívio-aprendiz com a natureza. Das raízes brutas que faz emergir da terra, realiza o prodígio do pó, no modelo da equivalência dos grãos. Nas casas de farinha realizam os homens um ritual de transmudação. Mudam da casa do repouso e da alimentação para a casa do trabalho. Estendem-se para as casas de farinha. Todos da mesma família, em família com outros da comunidade
           
  É como dizem os mais velhos: a farinha dá “sustança”; é dela que vêm os mingaus, pirões (mexidos, seco, escaldado) e farofas de água e sal, farofas de condimentadas com picadinho de cebola e charque, de ovo com alho, coentro e pimentão. A farinha de mandioca na palma da mão, jogada na boca, hábito dos povoados interioranos. Ela vai bem com carne de sol, peixe seco, sururu (ensopada ou capote) ,com camarão ou siri, caranguejo ou feijão tropeiro, que maravilha.

      As casas de farinha nos tempos das farinhadas, era o centro onde se reunião  os vizinhos, sendo este , um dos raros momentos de companheirismo e solidariedade camponesa. As farinhadas são o centro da vida rural. É a casa onde se fabrica o alimento universal  do povo. É nela que se realiza o mutirão da farinha e do beiju.A casa de farinha mesmo que rústica, é  o  único modelo tecnológico  de produção proto-artesanal do campesinato.

     O descasque das raízes de mandioca se faz manualmente a faca. Contudo a ralação se faz ao caititu, onde a raiz vira uma  massa leitosa, que é recolhida ao cocho do espremedor ou prensa. O espremedor ou prensa é um sistema de extração da manipueira, que contem a goma ou amido e uma substancia tóxica volátil ao fogo. A prensa é formada por traves transversais, em cujo a parte inferior se situa no cocho. A trave superior é movida verticalmente por meio de um pau torneado em espiral que lhe serve de torno. Entre a trave superior e o cocho onde se acha depositado a massa ralada da mandioca é colocado pau, que vai fazer pressão sobre a tampa do cocho, fazendo escoa num outro cocho inferior manipueira. Neste segundo cocho a manipueira "dorme" para assentamento da goma, que endurece à propoção que escore por um furo  a água venenosa da manipueira (...)O formo para farinhada é redondo, com mais de tres metros de diâmetro. A farinha produzida é guardada em cubas de madeira e wm sacos de algodão de trama esteira (LINDOSO, p.199)

As históricas Casas de farinha em Santa Luzia do Norte:

  • Fazenda Babau - antes pertencente a Luiz Acioly (1930 - 50) . Desativada na década 1990 do séc. passado - não possui a estrutura;
  • Fazenda José Lobo Ferreira. Desativada - não possui a estrutura;
  • Casa de farinha que se localizava ao lada da casa dos exs- prefeitos: João Lopes e Iolanda Romeiro. Desativada - talvez  entre as décs. de 1930-40 - não possui a estrutura;
  • Casa de farinha que se localizava  em frente a casa de João Perreira. Desativada  entre as décs. 1960-1970 - não possui a estrutura - proprietário: o ex- prefeito Valdir Mascarenhas;
  • Pagão - a que ficava dentro da comunidade . Desativada entre as décs. de 1980-90 - proprietário : Valdir M.;
  • Sentido Coqueiro Seco. Caminho lagunar - desativa  na década de 1990 - não possui a estrutura. 

  • Pagão - Próximo à CASAL - em funcionamento. 

Obs; as informações podem ser mudadas há qualquer momento.

     Cordel: a velha casa de farinha (Armando Morais)

    1-Peço a Deus inspiração
    Para meu passado narrar
    Da velha casa de farinha
    Onde eu pude me criar.
    Deus me der consentimento
    Levarei meu pensamento
    Agora naquele lugar.

    2-Ainda com oito anos
    Com papai eu já andava
    Ele com seu caminhão
    Pra todo canto me levava.
    Quando foi certo dia
    Que ainda não sabia
    Nessa casa eu chegava.

    3-Achei meio estranho
    E não quis perguntar
    Varias mulheres no chão
    Com a mandioca a raspar.
    Um forno com farinha assando
    E outra ali já peneirando
    Para poder ensacar.

    4-Depois do saco cheio
    Papai vinha costurar
    Com uma agulha enorme
    Para no saco pontear.
    Eu ali observando
    E papai me chamando
    Para eu lhe ajudar.

    5-Quando tudo já pronto
    No caminhão agente botava
    O carro ia carregado
    Que quase não agüentava.
    Na feira já estava esperando
    O comerciante comprando
    E papai ali negociava.

    6-Quando não tinha mandioca
    Papai saia comigo procurando
    Viajando pelo o interior
    Onde tinha, ele ia comprando.
    Contratava trabalhador
    Cada um pedia seu valor
    E já ia trabalhando.

    7-Quando foi certo dia
    Eu vinha com papai viajando
    Ele passou no lamaçal
    E o carro foi atolando.
    Quanto mais ele acelerava
    O caminhão se atolava
    E papai se irritando.

    8-Quando viu que não tinha jeito
    O carro, papai irritado desligou.
    Andamos quase quatro quilometro
    E uma casa ele encontrou.
    Um cidadão já acostumado
    De tirar carro atolado
    E pra lá ele caminhou.

    9-O carro cheio de mandioca
    Papai muito preocupado
    E ainda estava chovendo
    Era água pra todo lado.
    Duas horas de esforço
    Tiramos o carro do poço
    Onde estava atolado.

    10-Nós voltamos bem rápido
    Já que papai estava atrasado
    As mulheres todas esperando
    E noticias agente não tinha dado.
    Foi o caminhão descarregando
    E cada mulher se preparando
    E o forno já tinha esquentado.

    11-Foi uma noite de agonia
    A mulher a mandioca raspava
    Uma botava na prensa
    A outra logo já apertava.
    Outra danada peneirando
    E o forno esquentado
    E pela massa esperava.

    12-Para aproveitar a noite

    Papai dizia:- Não sou idiota
    Vou preparar aqui a goma
    Pra fazer uma tapioca.
    Beiju também ele aprontava
    Cuscuz de massa preparava
    Da massa da mandioca.


    13-Hoje voltei a aquele chão
    Onde minha infância passei
    Procurei a velha casa de farinha
    E nada mais ali eu encontrei.
    Os tijolos no chão enterrado
    Fiquei nele triste assentado
    Confesso aqui que chorei.

    14-Termino aqui esse cordel
    Porque não consigo mais narrar
    Ao pensar na minha infância
    Sinto vontade de chorar.
    Infância limpa e sadia
    Há meu Deus como queria
    Se pudesse um dia voltar.


    A Visita de L. Lavenère (polígrafo)

    • Descrição do documento (foto cópia)

    1. Documento: o doc. possui 4 (quatro) páginas retiradas de um livro/revista (consta na parte superior esquerda a numeração das páginas que vão desde, 363 até 366;
    2. Estado do documento: regular (os dois primeiros parágrafos estão ilegíveis, o restante em bom estado);
    3. Título: Santa Luzia (No Estado de Alagoas, [?] do Brasil;
    4. Ano: 1900 - 1910 (o vestuário nos remete a este período); 
    5. Autor: L. Lavenère;
    6. Finalidade do doc.: o documento narra a passagem do poligrafo por Santa Luzia do Norte, nas primeiras décadas do século passado (XX). Onde o mesmo constata, a grande potencialidade do município,  sendo esta, não aproveitada. Faz também uma critica suave no que se refere a falta de politicas de cunho socioeconômico, no que tange a melhoria de vida dos munícipes, dentre outras coisas.
     Lavenère  (1900 - 10): " Eis aqui uma cidade em decadência que seria certamente um grande centro de riqueza..."


    obs: as palavras ilegíveis (que não consiga ler), serão grafadas com duas barras e entre elas , o ponto de interrogação.

    Matriz de Santa Luzia do Norte (1900-1910)


    Tivemos o cuidado em preservar a grafia original ...

    [?] ... depois passava deante de Fernão velho, onde se acha uma excellente fabrica de tecidos da Companhia União mercantil.
    Pouco além desemboca o rio Mundahú, que passa por um valle fertilíssimo, formado por pequenas cascatas, produzindo a força necessária para pór em actividade as duas maiores fabricas do Estado - Progresso e Alagoanaambas de fiação e tecidos.

    Ao entrar na bacia em que está a cidade de Santa Luzia, avita-se a pittoresca propriedade de meu amigo Major Alencastre, velho empregado público aposentado: denomina-se Sitio nova Aurora.

    Um espetáculo digno de attenção attrahe as vistas do viajante.

    As margens da bacia do Norte, bordadas, bella planta aquáticas, e de mangues verdejantes, esvoaçam grandes garças brancas, aves de várias espécies, de várias cores, umas negras como pequeninos corvos [?] outras vermelhas e amarellas; corre bandos de aratus, caranguejos rosados, de um sabor delicioso, saltam peixes que por um pouco não caem aos pés do canoeiro.

    A abundancia de fructas na cidade; de peixe, camarões , sururús, de aves, nas margens da lagôa, faz daquella terra um pequeno paraíso de indolencia.

    Que necessidade de trabalhar para ganhar o pão - com o suor do rosto, se, ali, ao alcance das mãos, está o alimento diario, sem fadiga, nem cuidados?


    Alguns minutos depois do descanço tomado na chacara Nova Aurora fui visitar a archeologica cidade, construída sobre a encosta da montanha.

    Uma rua principal, muito velha, lembrando o antigo gosto portuguez pela architectura singelas de suas casas, outra rua, a do Commercio, partindo pelo lado direito da Matrz, são as duas mais importantes.

    A Matriz ostenta em sua fachada a indicação de que foi ali posta em 1786.

    Era dia de festa.

    A frente da entrada principal estava uma bateria de bombas, ao lado, uma girandola de foguetes 

    Do mastro ornado de folhas pendia a bandeira parochial.

    Na rua do Commercio existe ainda um representante da raça portugueza, um negociante rico, o marinheiro, como é chanhecido.

    Seu filho, o juiz de casamentos, Luiz de Carvalho, é talvez o mais popular dos habitantes de Santa Luzia.

    Chefe de numerosa família, muito bemquisto, tem duas filhas mu amaveis e realmente bonitas.

    Conserva bem a tradição portugueza da hospitalidade fraternal, e assim me receberam como eu fosse um parente recemchegado.


    Sítio Aurora (1900 - 1910)



    Não conheço povo em que a virtude da hospitalidade seja melhor cultivada do que no povo portuguez.

    Em companhia desse estimavel cidadão fui visitar a Sociedade Philarmonica Nortense.

    Attendendo a pobreza da cidade, a distancia da capital, a banda de musica dessa philarmonica é merecedora de apreço.

    Seu regente, um velho extremamente sympathico. Manuel da Silva Wanderley, decendente de portuguezes e hollandezes, como indica seu nome, é um modesto e habilissimo cultor de carte musical.

    O presidente da sociedade é meu collega de studos primarios, dr. Antonio Calvalcanti promotor publico da comarca. 

    As outras ruas da cidade são do typo de S. Vicente, cuja  photographia vêem aqui.

    Rua São Vicente/ alto do Cemitério (1900 - 1910)


    Nessas casinhas de palha de coqueiro não entra a fome: todos pescam e em poucas horas obteem o necessário para viver por uma semana.

    Subindo a ladeira que vai até o cimo da montanha, vê-se o cemitério da cidade.

    Dessa elevação avista-se a capital do Estado, e grande porção da lagoa do Norte.

    É lastimavel que a industria não tenha penetrado ainda nesses logares tão  ferteis do Estado das Alagoas 

    Em Santa Luzia cultura do tereno limita-se apenas a plantação de araruta, mandioca, coqueiros, etc., em pequena escala.

    A maior parte da terra nunca foi lavrada pelo homem!

    O comercio é deminuto, quasi nullo.

    Ali ninguem aproveita as fructas que dão vinhos excelentes, como os cajús, ananazes, genipapos; ou compotas mui apreciadas, como as mangas, laranjas, goyabas, etc.

    Existe alguma plantação de cafeseiros que  servem apenas para o consumo local.

    A apicultura, que seria rendosissima, pois o mel das abelhas, em Santa Luzia, é especialmente aromatico, é limitada em extremo e muito rotineira.

    Eis ahi uma cidade em decadência que seria certamente um grande centro de riqueza...





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    Luiz Lavenère (1868-1966) foi um polígrafo, ligado à imprensa como colaborador, redator, diretor e fundador de jornais, sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico desde 1885 e secretário perpétuo dessa instituição (1932 a 1944). Disponível em :
    http://www.revista.akademie-brasil-europa.org/CM09-04.htm - retirado as 13hs:10 minutos do dia 19 de fevereiro.

    Mulheres à frente do seu tempo

    O perfil que estava atrelado às mulheres que habitavam o Brasil colônia manteve-se vinculado, por muitas décadas, por um leque de imagens, parte deles verdadeiros, outra estereotipada. Entre os inúmeros autores que delas falaram, o que melhor  tenha se aproximado, foi Gilberto Freyre.  Em Casa-grande e Senzala ele destaca as mulheres submissas e aterrorizadas com os castigos masculino - até a mulher de fogo quente, sempre pronta para dar prazer aos machos, a dengosa pelos arruados da colônia, a seduzir com sua doçura nos caminhos.

    As  mulheres brancas, em pequeno número no acanhado litoral do século XVI, teriam vivido em completa submissão, primeiro aos pais, os poderosos senhores de engenho, e logo em seguida, aos maridos.
               
    Mas essas são boa parte, imagens idealizadas. Inúmeros são os estudos, que demonstram outras facetas das  mulheres que nada tinham haver com os estereótipos consagrados pelo senso comum ou pelo intelecto tradicional. Descobre-se, então, as mulheres de carne e osso, ganhado a vida como vendedoras de quitutes nas ruas. Mulheres  que souberam construir uma identidade e amansar os homens.
             
     Em Alagoas, mais precisamente em Santa Luzia do Norte, podemos acompanhar o percurso dessas mulheres que, ao romper normas e desafiar preconceitos estavam à frente de seu tempo. Elas deixaram sua marca em nossa História.
                  
    Com a invasão dos batavos (1633) em nosso território, Antônio Lopes Figueiras como já dissemos, comandou a resistência e recebeu apoio de seus cunhados Antônio, Estevão Gonçalo, Gil e Luis, filhos de D. Maria de Souza e de Gonçalo o Velho, todos empenhados na luta. Todavia, ao chegarem em  “(...) Santa Luzia do Norte, (...) os holandeses depararam-se com uma organizada resistência. Cada casa foi transformada numa fortaleza e tanto homens quanto mulheres participaram heroicamente do confronto. Maria de Souza, ao lado de seus filhos, o capitão de milícias Antônio Lopes Filgueiras, seu genro, comandaram a defesa do povoado. As mulheres usaram os mais diversos instrumentos para contra-atacar o inimigo, como água e azeite fervendo, tochas de fogo e pedras. Numa batalha acirrada a população de Santa Luzia do Norte conseguiu impedir que os invasores incendiassem a cidade, como era costume.As tradicionais famílias da região sentiram na pele, com a perda de pessoas próximas, as conseqüências da invasão holandesa. Dos cinco filhos de Maria de Souza e Gonçalo Velho, três foram mortos nos combates, além dos cinco irmãos da família Viana. Entre outros gravemente atingidos estavam os Marinho Falcão, Lins, Acioli, Vasconcelos. Embora a coragem e liderança de Maria de Souza sejam lembradas por alguns autores e autoras, seu nome deveria ser inscrito com mais destaque na historiografia brasileira”(Schuma, 20)
                               

    (...) Destaca-se, também, a participação marcante  e indômita de D. Maria de Souza, sogra de Antônio Figueiras, grande incentivadora e participante da resistência. A participação de Santa Luzia do Norte nos diversos episódios que marcaram a invasão holandesa ao Brasil teve lances de certa importância, (...). (ROMEIRO DE LIMA. p 31)

    Na primeira década do século XX, quase um quarto da força de trabalho nos países industrializados era de mulheres. As mulheres da classe operária sempre trabalhavam, parando somente algumas semanas  para dar à luz  Na década de 1880 cria-se a expressão “nova mulher” para descrever os membros de uma nova geração de mentalidade mais enérgica, auto-suficiente e independente – embora não a ponto de alarmar a população masculina. Nas primeiras décadas do século XX assistiu à ascensão de mulheres a posição de maior proeminência.
                
    Os direitos das mulheres logo se tornaram uma questão arrebatadora: as mulheres principalmente a de classe média, precisavam por em um tratamento igualitário com relação aos homens nas questões de propriedade, salário, acesso a educação, dentre outras coisas. Não aceitavam de maneira alguma a restrição dos horizontes femininos.

    Após a Primeira Guerra Mundial, as mulheres lançam as bases  de um movimento geral do século, pelo qual elas começaram a se libertar das limitações de um mundo definido pelos homens. Uma das precursoras do movimento feminista no Brasil foi Berta Luiz, filha do cientista Adolfo Luiz.

    Inegáveis também são as conquistas das últimas décadas no âmbito dos poderes executivo, legislativo e judiciário, que, embora de forma tímida, tornam-se emblemáticas para a tão almejada igualdade de direitos, constitucionalmente assegurada a todas as pessoas.

    Uma das muitas lições que a sociedade aprendeu com a Segunda Guerra foi a de que as mulheres são capazes do trabalhar tanto e tão bem quanto os homens nos Estados Unidos por exemplo, Rosie, a “ Rebitadora”, tornou-se um símbolo nacional. Todavia, que fez soar o “toque de reunir para as mulheres a intelectual francesa Simone de Beauvoir- companheiro do filósofo existencialista Jean Paul Sartre- ao publicar ”Le Deuxiéme Sexo” (o segundo sexo), em 1949.

    A partir dos anos 1990 do século passado, à medida que a revolução sexual era solvida à vida cotidiana, as bandeirolas feministas sofriam com a gradual acomodação da militância. Em tempos de globalização, em que os saberes instituídos parecem ter a textura da areia movediça, feministas continuam assimilando novidades trazidas do exterior, subdivididas em interesses fragmentados das comunidades acadêmicas,e permitem que o feminismo saia dos holofotes.Há quem defenda, inclusive, que estes seriam tempos ‘pós-feministas’,pois as reivindicações estariam atendidas e ninguém mais ousa negar a presença das mulheres na construção social dos novos tempos.


    Figuras de destaque (em aberto)

    ·         D. Maria de Souza (encabeça a resistência contra os holandeses)
    ·         Mestra Anézia Maria da Conceição(rezadeira e parteira);
    ·         Iolanda Romeiro (educadora e ex-prefeita);
    ·         Lindinalva Romeiro (educadora);
    ·         Rita Pedrosa (forte presença no âmbito religioso); 
    ·         Maria Quirino (educadora);
    ·         Maria Ramires (educadora);
    ·         Iracema Pereira (advogada e ex-prefeita)...


    A mudança da sede da Paróquia

    Tivemos o cuidado em preservar a grafia original.

    obs: as palavras ilegíveis (que não consiga ler), serão grafadas com duas barras e entre elas , um ponto de interrogação ou  espaço..

    ·                     Descrição do documento (foto cópia)

    1.           Documento: O doc. possui 7 (sete) páginas e faz parte do arquivo particular da família Pedrosa de Santa Luzia do Norte;
    2.           Estado do documento: Em bom estado de conservação;
    3.           Ano: 26 de abril 1936;
    4.           Autora: Rita Pedrosa (D. ritinha)
    5.         Finalidade do doc.: O documento foi endereçado ao Arcebispo de Maceió, D. Santino da Silva Coutinho. Em suma, narra  o desabafo de Dona Rita Pedrosa (e de toda comunidade) no que se refere à mudança da sede  da Paróquia, em Santa Luzia do Norte, para Rio Largo. O doc. possui dados quantitativos no que tange a porcentagem de pessoas que frequentavam as missas, faziam o Chrisma e se casavam ilicitamente, tanto em Santa luzia do Norte, quanto em Rio Largo.
    O documento nos dá um dado bastante importante,  no tocante a data de intensificação (chega com /força-cria raiz)    do movimento protestante - lá pelos entremeios das  décadas (1920 - 30)do século XX.  


    Santa Luzia do Norte, 26 de abril de 1936 - I

    Exmo Sr. D. Santino da Silva Coutinho
    M. D.  Arcebispo de Maceio

    Beijamos respeitosamente a mão de V. Excia

    Confrangeu-nos o coração [?]Exmo Sr. Arcebispo, a notícia chegada a nosso conhecimento, da mudança  da sede parochial desta Villa para Rio Largo.
    Parece incrível, Exmo Sr., que o nosso pobre Norte soffresse mais esse aggravo a seu direito.
    Não podemos compreender, por mais que procuremos fazê-lo, a razão de sermos tratados tão injustamente. Sofremos a mudança da sede do município da comarca para Rio Largo, o que muito nos prejudicou, mas essa foi  obra dos  homens, representantes do poder temporal, a quais sempre injustas nas suas deliberações e nos seus actos. Agora tiram-nos a sede da Parochia, deixando-nos a mais desoladora desilusão.
     Feriu-nos maguou-nos a resolução que a nosso respeito tomaram os representantes do poder temporal, mas a que acaba de ser tomada por V. Excia, alem de nos ferir e magoar, sempre acabrunhou-nos sobremodo. E que estamos acostumados com as injustiças dos homens, mas sempre confiamos nos representantes de Deus, em quem a nossa educação católica não nos permite ser executores de actos injustos.  Doe-nos Sr. Arcebispo, o abandono que vamos ficar entregues, despojados de tudo e desprezados de todos. Qual terá sido o nosso crime? Que culpa tão grande commetemos para sermos assim castigados?  A Religião era, até logo, o nosso único conforto, a nossa consolação no meio de tantas decepções. Pensavamos assim, soffrendo o desprezo, a injustiça, a ingratidão de todos, mas ainda nos resta a Religião para mitigar as nossas mágoas; todos podem abandonar-nos, mas não nos abandonarão jamais os ministros dessa religião dessa Religião que foi fundada para socorro aos pequenos, aos pobres, aos desprotegidos.

    Santa Luzia do Norte formou a sua história em fonte, catholica e a conservou até os nossos dias embebida nas tradições gloriosas da nossa santa Religião.

    Sempre tivemos ao nosso lado ora um Padre, ora um Frade, para nos guia numa trajetoria que abrange um periodo de mais de um século.  V. Excia não ignora certamente, a história religiosa que nasceu cresceu e viveu sempre embalada pela Religião, ouvindo a voz do sacerdote e delle recebendo o balsamo,  suavizado de todas as amarguras.

    V. Excia, Arcebispo brasileiro, Pastor duma Arquidiocese brasileira, não quererá ser o algoz duma porção do rebanho confiado a sua guarda. Quando experimen___veis uma  revez, quando sofriamos um choque,era o Padre que recorremos e delle recebíamos conselhos, estimulo e conforto. Não esperávamos que dos ministros dessa Religião de amor e de perdão, dessa Religião que primeiro se espalhou entre os pobres tivessemos de receber um tratamento  para qual não nos deram razão por que assim somos julgados. Inventou-se  que aqui não havia gente, mas contra esse conceito nós podemos apresentar o testemunho de V. Excia que aqui esteve[?] ser tratado com a consideração merecida e com o conforto que nossa pobreza permittiu, observou o movimento religioso que então reinavão entre nós. Contra essa apreciação , falam ao nosso favor Sr. Francisco Sr Agustinho que saíram daqui tecendo-nos grandes elogios, elogios que talvez estivessem acima de nossos méritos  [?] entretanto, não temos o direito de desrespeitar [?]. Deponha a nosso favor o Sr. [?]asanova que pregando entre nos uma santa missão ficou deveras satisfeito com o espetáculo de fé que aqui presenciou. Pergunte-se ao Conego Candido Machado o que foi que elle quando aqui esteve, a convite do Padre Armando, para auxiliar  na santa missão. Depois de falarem todos estes, que são, alias, pessoas sensatas e insuspeitas, que nenhuma prevenção podem ter contra Rio Largo, fale então com Padre Armando, nosso estimado ex vigário, que tão bem nos soube compreender  [?]. Foi elle que nos melhor nos serviu nos últimos tempos, pois era um grande e esforçado trabalhador pela causa da Religião em nossa querida terra  . Com elle vimos despertar sentimento religioso há tanto tempo adormecido como extincto . O Padre Armando vivia sempre a dizer não ter jeito para vigario, tinha de tal forma trabalhado em favor do Norte, que parece incrível o que elle conseguiu: fez que o povo voltasse a procurar a Religião e impediu o avanço da propaganda protestante em campo indefeso, como estava o Norte Soube sem al__de__, sem estardalhaço, sem se queixar da falta de remuneração e sempre em dias com as suas obrigações. O que há de mais interessante é que aquelle ex Vigario atendia muito satisfatoriamente ao Norte sem prejudicar Rio Largo, porque,  por mais duma vez, ouvimos as mais lisonjeira referencia do povo daquella cidade a sua actuação a qual ainda se extendia, com verdadeiro contentamento, ao Apredizado de Satuba, onde havia uma missa por mez em cada terceiro domingo. Dissemos sem prejudicar Rio Largo e o dissemos concientimente, porque  elle nunca deixou de comparecer aos domingos em  Rio Largo [?]com excepção do primeiro domingo de junho dum domingo  de Dezembro   ,  [?] elle fazia, no primeiro, a festa da primeira comunhão aqui, no Norte [?] que é tradicional fazer-se com o enceramento  do mez de Maio  [?] no segundo domingo, a festa de Santa Luzia que era  [?] deste anno, Padroeira da Parochia.  Dissemos sem prejudicar  Rio Largo, porque ao que nos  [?] , o povo de Rio Largo não tinha recriminações a fazer contra a sua actuação e desejava que elle continuasse, ao que elle não quis [?] ceder. Somos [?] em falar em missa  nos domingos, fazendo assim ressaltar o critério do domingo, porque só nos domingos é que se pode ter o povo reunido e foi nos domingos que a igreja poz a obrigação de se ouvir missa.
    O atual vigario desta parochia , Rev.mo Padre Joaquim Antonio dos Reis, entende doutra maneira e quer que nos contentamos com uma missa de dois em dois meszes ou mesmo com espaço ainda maior e em dia de semana. Somos educados por Padres e mestres caholicos que sempre nos ensinaram que a obrigação de ouvir missa é nos domingos e dias santos de guarda e cremos que o catholicismo ainda está em vigor neste ponto; mas se está, então o vigariode Rio Largo poderia satisfazer ao povo de Rio Largo, que não é exigente, com qualquer misssa em dia de semana reservando-nos um ou dois domingos por mez.

    Se a missa em dia de semana, tem a mesma finalidade da de domingo, pois satisfaça o Padre o Padre Reis ao povo povo de C, mas falamos sentidos como catholicos que nos prezxamos achoeira com qualquer das missas que elle la celebra em dia de semana e nos dê alguum domingo que e o dia que nos covem. Não temos pretenção contra o povo de Rio Largo e menos ainda contra o de Cachoeira mas falamos sentidos como catholicos que nos prezamos de ser e queremos satisfazer as nossas consciencias e ter nossas cosolações espirituais , sem precisar de qum qur que seja

    Pensamos que por sermos pobres não merecemos o desprezo dos ministros de Christo que fez mais para os pobres do que para os ricos que tem direito ao conforto da Religião. Dizer-se que não vale apenas ocupa-se do Norte, porque não ha gente é atirar-nos uma injuria  que não consentimos passe sem o nosso protesto.

    Sabemos que a porcentagem dos que ouvirmos em Rio Largo é, relativamente a população menor do que a de Santa Luzia do Norte. O mesmo pode  dizer se de Cachoeira.
    Rio Largo com uma população calculada em quinze mil habitantes é dez vezes maior do que Santa Luzia do Norte que só tem mil e quinhentos habitantes, entretanto,enquanto aqui  vem mais de cincoenta pessôas as missas dos domingos, la não comparecem trezentas.
    Argumentamos até com a santa missa que tendo conseguido  entre nós seiscentos e tantas communões em Rio Largo só conseguiu duas mil e quatrocentas e vez de seis mil, como era lógico esperar. Os Chrismas foram quasi da mesma proporção. So numa coisa Rio Largo nos excede: foi no casamento de pessoas illicitamente unidas, pois aqui houve apenas doze, lá, rntre elles, noventa.  Assim nos informou o Padre Armando.
    Essa vantagem não nos causa inveja e pensamos que não é lisongeiro=a ao povo de Rio Largo. Falamos acima da prpaganda protestante e queremo chamar a attenção de V. Excia para esse ponto: ha uns dez annos não se houvia falar aqui, no Norte, em protestantismo, porque era ceita que não existia;  foi bastante o Padre __rres voltar nos ao abandono, como somos lançados agora , para que apparecessem os primeiros pregadores.


    E quando chamamos a atenção delle para o caso, elle  com certo desdém, muito semelhante ao com que somos hoje tratados, respondeu-nos que o carnaval estava perto e se encarregaria de liquidar o protestantismo argumento singular do que elle poderia ter  lançado mão pra extingui-o  em Rio Largo e não o fez. Pois bem Exmo . Sr arcebispo, o carnaval passou e o protestantismo ficou, aumentando cada vez mais,  só tento soffrido combate por parte do Padre Armando que conseguiu barrar-lhe    o avanço. Convem notar que o aparecimento do protestantismo no Norte data do abandono, do desprezo a que foi elle atirado pelo Padre Jo__ que, justiça se lhe faça, nunca teve para com nosco  o desdém que tem o actual Vigario, e mesmo, mais tarde se arrependeu de nos ter abandonado, pois quando morreu já estava reconciliado com o Norte, do qual sem razão já havia se afastado.

    Só depois que o Padre Armando começou a frequentar assiduamente o Norte, foi que os protestantes desanimaram, pois elle não perdia ocasião de os combater e os ensinamentos que elle dava calavam fundo nas almas dos ouvintes e todos os escutavam com atenção.

    Esse nosso ex. Vigario  fazia por nós o que entendemos deve fazer um bom pastor, sem prejuízo das outras porções de seu rebanho:  sem deixar de celebrar aos domingos em Rio Largo, elle celebrava no Norte no 2º e 4 º domingo e quando o mez tinha cinco domingos elle ainda celebrava no 5º, alem de celebrar nos dias santos. Em todos esses dias, raríssimas excepções , tínhamos a noite a benção do S. Sacramento,  sempre seguido duma pratica em que era explanado um ponto de doutrina, geralmente de refutação ao protestantismo que tendia a anniquilar-se. Em compensação ele podia não levar daqui, dinheiro mas tinha a satisfação de ver o florescimento da Religião, que elle conseguiu renascer em muitos corações.

    Agora, com a saída desse ex. Vigario, nunca mais tivemos a consolação duma benção so S. Sacramento, nem o prazer duma pratica.  A ultima benção foi no 1º de janeiro deste anno. Será que Deus só abençoa aos ricos? Para que se criou ao calor da Religião, experimentando as suas consolações, ouvindo as harmonias de seus hinnos , não acha V. Excia. que seja contriotadora a frieza em hoge vivemos.

    Se fossemos conquistados pelos huguenotes2 e pelos calvinistas a scena de desolação pintada pelo Padre Antonio Vieira tavez não fosse maior.

    Sabemos que sofremos uma dolosa  e lamentavel dinimuição de nosso direito , mas ainda somos dirigidos por Pastores catholicos que devem saber o valor das coisas moraes.

    A duas quaresmas que o Padre Armando  passou nesta parochia que antigamente era de Santa Luzia e hoje não sabemos de que Santo é, foram das mais felizes que temos passado nos últimos tempos, elle introduziu umas pratricas quaresmas a noite, ora duas, ora, três por ...cont...
    _
    Semana,  era edificante o espectaculo que então se observava, quasi todo Norte corria a ouvil-o e ficava satisfeito com as lições que recebia. Parecia que tinham voltados os tempos antigos em que o povo acudia a vez do pastor e a Religião era o enlevo deste mesmo povo que então não era desprezado como hoje.
    Faça o actual Vigario o mesmo o mesmo e veja se ha, ou não, gente no Norte.

    A fé, Sr. Arcebispo, V. Ex.cia  sabe melhor do nós, não pode manter-se sem a presença do sacerdote, sem a palavra e a acção do ministro que tem o dever de Velar pela preservação do povo  que lhe foi confiado. Assim dizem a razão e a experiencia.

    Não é outro o espírito da Egreja que vai  espalhando as missões, desenvolvendo as obras de acção catholica e formentando  por todos os meios a formação de novos sacerdotes para a evangelização dos povos. Só por milagre poderia um povo conservar a sua fé sem o estimulo, o conforto, a orientação do sacerdote. Não queremos monopolizar o Vigario, não somos egoístas, mau grado todos os defeitos que nos atribuem,  mas queremos ser contemplados com um pouco de conforto a que temos direito, Egreja , que não acreditamos seja madrasta para nós, pelo facto de sermos pobres. Sabemos que em Rio Largo existe uma prevenção contra nós,  prevenção que não só encontrou apoio no Padre Armando que sempre se orientou por um espírito de justiça que só podemos louvar. Nenhum mal  fizemos a Rio Largo e não adivinhamos a razão que elles nos quer. Não lhe invejamos a riqueza e apenas desejamos  não ser espoliado do patrimônio  espiritual que por graça de Deus nos coube compartilha.

    A prevenção de Rio Largo contra Santa Luzia do Norte é tal chegaram a inventar que o Padre Torres quase morreu afogado em uma de suas viagens a caluniada Terra, quando o facto se deu na travessia de Maceió para Coqueiro Seco. Lá, sim, existe realmente perigo, mas o Conego Oliveira  faz frequentemente essa travessia e graças a Deus nada lhe aconteceu até hoje. Queremos entretanto, frisar que foi em Rio Largo e não no Norte, que o Padre Torres morreu afogado.

    Não comprehendemos religião espalhando a  {?}zania o espírito de facção, o odio entre irmãos.

    Já é lamentavel que assim faça política. Religião, entendeamol-a , é caridade, é harmonia e paz

    Porque, então, esse espirito de facção pode  encontrar guarda no coração dos ministros do altar? Exageram-se as difficuldades da viagem para o Norte com o intuito de se desculpar do descaso a que elle é voltado.
    Mas onde está o espirito de justiça? Onde a caridade? Com o Padre Armando tinha-mos o bastante para noMas onde está o espirito de justiça? Onde a caridade? Com o Padre Armando tinha-mos o bastante para nos satisfazer, sem prejuízo de Rio Largo, prova de que não somos exigentes. Agora nada temos e Rio Largo quer ficar com tudo. Será justo? V. Ex.cia    reflicta e seja se na temo razão...

    ______
    2 - seguidor do protestantismo, esp. aquele de orientação calvinista, que foi assim denominado pelos católicos franceses durante os séculos XVI e XVII.

    obs: existe uma confusão (da autora) no tocante a porcentagem de habitantes  ...Santa Luzia e Rio Largo

    Anexo I

    Relação dos objetos que fôram entregues ao Padre Pedro Cavalcante de Oliveira no dia 22 de julho de 1933 na Matriz de Santa Luzia do Norte, para serem levados para a Secretaria do Bispado.
    Motivo: A  igreja não possuía a segurança necessária.

    (Objetos de ouro)

    Pertencente  a N. S. das Dôres

    1 Larço           
    9 aneis                    
    1 Cordão              
    1 Coração         
    1 Collar           
    2 Crucifixos    
    Pertencente  São Miguel
    1 Bandeira
    __________________________________________
    (Objetos de prata)


     1 Lampada de nossa S. das Dôres
    1 Lampada de S. Miguel
    3 Calices sendo 2 grandes e 1 pequeno
    1 [?]ibulo
    1Navête
    2 Colheres
    1 Bacia ou Salda
    1 Jarro de lava pé
    1 Vara de Juiz da Irmandade
    1 Coroa,  (ignoro o dono)
    1 Resplandor (ignoro o dono)
    1 Deposito de Santos óleos

    É de Rita Rodrigues de Lima, 22 de Fevereiro de 1937.
    Santa Luzia do Norte
                                      (Ritinha)

    No dia 6 de outubro, de 1936, roubaram a ex Matriz de Santa Luzia do Norte, levando o diadema de N. S. das Dôres, o resplendor de São Benedito e os brincos de Sta. Luzia
    R. R.       de Lima

    Morreu Zuly no dia 29 de agosto de 1936.

    Anexo II
    SANTA LUZIA DO NORTE
    Santa Luzia do Norte, velha relíquia do passado, quão desprezada te vejo neste abandono triste das causas inúteis...
    E’s hoje um escombro de ruinarias; casas carcomidas, telhados abatidos e a mattaria invadindo os teus solares avoengos...
    Tiram-te o poder civil,  arrancaram a cruz de Christo que sustinhas ás  mãos de longos annos, mas continuam, mal a teu grado, tirando ainda dos parcos haveres dos teus filhos pra queimarem o incenso aos pés de outra cidade porque é nova e rica.
    Deixaram ainda, porque não ih’a puderam roubar, a velha Lagôa  do Norte para banhar-te, os pés e prantear-te no soluçar monótono de suas águas, as glorias de um passado longe, de um passado de glorias inesquecidas.
    Os velhos viviam das illusões passadas;  vives pois, assim, ruminando estas illusões e que são, em verdade,  bem dignas, de serem acalentadas.
    Foi teu sólo theatro de scenas que passaram á história assim religiosa como civil:  foi teu solo um dos primeiros a ser santificado  com o symbolo da religião de Chisto  quando capuchinhos, êmulos de frei Eusébio e frei Luiz da Goya, em 1705, puzeram nelle as primeiras pedras da casa do senhor.
    Foi ahi que Rozas y Borja encontrou refugio para se refazer de combates e seguir logo em luta accesa deixando Bagnulo em tua guarda com 700 homens (1636) antes sustentada pelo heroísmo de Antonio Lopez Filgueiras morto heroicamente em tua defeza (1632).
    Factos outro, de não menos relevos, poderíamos lembrar se o nosso intento fosse este que não o de fazer-te lembrada aos poderes competentes afim de minorar o desprezo em que vives.
    Dêem-lhe, ao menos por caridade, uma limpeza nas rus; batam-lhes o matagal intenso que as invade transformando-as em verdadeiros bosques; dêem  ao seu grande e gestoso templo um pouco de alegria e vida, porque elle sobre ser uma fulgarante paginsda hitoria, religiosa é, ainda e sempre, a casa de Deus.
    (OLAVO DE CAMPOS)
      
       

    CONTINUA...
    Filhos Ilustres:




    Maestro Fon-Fon 



    Fon - Fon e sua orquestra

    Instrumentista, autor de sambas, choros e arranjos para interpretes famosos, Otaviano Assis Romeiro, vulgo maestro Fon-Fon, foi uma das principais personalidades da música popular brasileira. O apelido famoso “foi lhe dado pelo clarinetista Dedé, seu estimado colega de Regimento, no tocante a falta de clareza dos agudos emitidos  pelo saxofone, que faziam lembrar as buzinas dos automóveis (ROMEIRO DE LIMA. p. 83)

    Desde molecote (criança) Fon-Fon se dedicou a música – “filho de Amaro Romeiro e Luzia de Assis, - (...)  aos oito anos de idade, em sua cidade natal, tocava zabumba na banda de pífanos pertencente a família Mugumba, que residia no emblemático  povoado do Quilombo (Gazeta, 2010).

    A primeira gravação foi em 1923, interpretando ao saxofone o  choro “Cláudio” de Paulino de Oliveira Santo, com acompanhamento de um conjunto regional (Gazeta, 2010). Por essa época, começou a tocar em "dancings". Numa festa em que Dedé faltou, substituiu-o na clarineta, interpretando, com muito sucesso, You Are Meantfor Me. Em 1935, Fon-Fon formou  sua próprio orquestra – tentativa que não logrou êxito.

    Nesse mesmo período o país passava por diversas transformações, entre elas o aumento das rádiosdifusoras (a primeira foi implantada em 1922). O Brasil já possuía em 1931 elencando em seu território, 29 emissoras de rádio.  Já no ano seguinte, durante o governo de Getúlio Vargas, o Decreto nº 21. 111 de 01/03/1932 autorizou a publicidade no rádio, desde que não ultrapassasse 10% de sua programação. Em 1935, o país assinou com Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai um tratado de cooperação técnica em radiodifusão e, no mesmo ano, Assis Chateaubrinand inaugurou a PRG-3, Rádio Tupi do Rio de Janeiro. Esse acordo foi de grande valia, no que tange ao melhoramento das rádios, e, por conseguinte, a divulgação e o maior reconhecimento dos artistas naquele período – ajudando assim, ao fortalecimento do denominado capitalismo cultural.

    Em 1936 foi fundado a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, líder de audiência por mais de vinte anos. Quatro anos depois de sua inauguração, a Rádio Nacional foi incorporada ao patrimônio a União. A chamada época de ouro do Rádio no Brasil iniciou-se na década de 1940 com a popularização dos receptores, da programação e com a primeira rádionovela. O rádio invade os lares na década de 1940.  

    É nesse contexto favorável de massificação da radiodifusão, que Fon-Fon forma outra orquestra – “ com alguns alagoanos nela integrados – passou a atuar no Cassino em Copacabana, Rio de Janeiro, com arranjos especiais do maestro Rodomés Gnatalli (ROMEIRO DE LIMA. p. 83). Pioneirismo em âmbito nacional, Fon-Fon foi o primeiro maestro a utilizar naipes  de saxofones e metais, obtendo, uma acústica especial.

    Com o mesmo estilo das orquestras de danças norte-americanas que faziam grande sucesso na época, como as de Benny Goodman, Tommy Dorsey e Artie Shaw, a Orquestra de Fon-Fon alcançou muito êxito entre a elite carioca, freqüentadora do cassino.(CIFRANTIGA - FON – FON)

    Em 1941, voltou a Buenos Aires (deixou o Exército em 1930, quando passou a atuar em  conjuntos – com um deles foi a Buenos Aires), - entre os anos 1942-47, fez inúmeras gravações para a Odeon, “acompanhou Atualfo Alves e sua academia na gravação do clássico samba ‘Ai que saudade da Amélia’, de Atualfo Alves e Mário Lago. Em 1944, gravou a pouca “Rato, rato”, de Caseniro Rocha e Cláudio Manuel da Costa, e o choro ‘Deixa por minha conta’, de Orlando Costa, o Cipó. No mesmo ano, a cantora Odete Amaral, gravou seu choro, ‘Murmurando’, com letra de Mario Rossi e interpretado por Odete Amaral, que se tornou um clássico do choro cantado” (Gazeta, 2010)

    (...) Jacob e sua Época de Ouro nos oferecem o clássico “Murmurando”, do maestro Fon-Fon, que curiosamente foi gravado pela primeira vez não por sua orquestra, mas pela Copacabana, do maestro palestino Simon Bountman, em 1944, merecendo logo em seguida letra de Mário Rossi, interpretada por Odete Amaral, e só depois o próprio Fon-Fon o gravou com sua orquestra. (Bau De Long Playing:Elizeth Cardoso – Zimbo Trio – Jacob do Bandolim – Conjunto Época de Ouro – Ao Vivo No Teatro João Caetano – Vol. 1 (1968). 


    Ainda na Odeon, Fon-Fon e sua orquestra acompanharam, entre outros, Francisco Alves, Gilberto Alves,   Atualfo Alves, Odete Amaral, Jararaca e Ratinho, Dercilha Batista, Moreira da Silva, Joel e Gaúcho, Almirante, Emilhinha Borba, Raul Torres e Serrinha e Aracy de Almeida (Gazeta, 2010). - “Para o (...) disco de estréia de Moraes Neto - feito em dezembro de 1941 – Ary Barbosa lhe deu duas músicas: a marcha "Chula-Ô" e "Isto aqui o que É", ambas para o carnaval de 42. A segunda se tornaria um grande sucesso, merecendo, anos depois, gravações de Gilberto Gil e João Gilberto. Mesmo não sendo uma música propriamente carnavalesca, "Isto aqui o que É" (mais um samba-exaltação ao Rio de Janeiro), ganhou muito com o arranjo marcante do maestro “Fon-Fon”. (CIFRANTIGA – Moreas Neto)

    Posteriormente ele dirigiu Dalva de Oliveira, Herivelto Martins, Orlando Silva e Carmem Miranda.


    Fon Fon, gravou muito e de tudo. Observando os selos dos discos vemos que o maestro tanto gravou com sua orquestra, como com a orquestra Odeon sob sua direção.Otaviano também orquestrou várias músicas de fundo patriótico, dentre elas a “ Canção do Expedicionário Brasileiro “. O Brasil nessa época viva um momento muito ufânico, nossos soldadoss estavam em combate nos campos da Itália contra o nazi-facismo.(GAZETA DE ALAGOAS, 2010)



    Pela etiqueta London, gravou seu único Lp, - não editado no Brasil. Em 1947, recebeu um convite do Club Champs Elysées – indo em seguida para Paris. “Permaneceu na Europa, excursionando por diversos países. Inclusive  a Grécia, onde morreu. Bem sugestiva é o título da matéria de Fernando Lobo em A Cigarra: ‘Fon-Fon toca e a Europa samba’. Nasceu em Santa Luzia do Norte, em 31 de janeiro de 1908, Faleceu em Atenas, capital da Grécia, em 10 agosto de 1951. (...) Foi sepultado no cemitério de São João Batista no Rio de Janeiro. Citado na Enciclopédia da Música Brasileira Erudita, Folclórica e Popular (ROMEIRO DE LIMA. p. 83)

    Com o mesmo estilo das orquestras de danças norte-americanas que faziam grande sucesso na época, como as de Benny Goodman, Tommy Dorsey e Artie Shaw, a Orquestra de Fon-Fon alcançou muito êxito entre a elite carioca, freqüentadora do cassino.(CIFRANTIGA - FON – FON)



    Fon Fon e seus músicos em Roma – Praça de São Pedro - Itália
    Fonte: Blog Maestro Fon-Fon - Por: Chico de Assis
    Otaviano Romeiro foi um reflexo/produto de uma herança social de Santa Luzia do Norte – cidade celeiro de grandes musicista. Segundo o historiador e antropólogo alagoano Dirceu Lindoso, a cultura é uma realidade que o homem produz por meio de ideações e de  práticas sociais, e que refletem a nível de seus referentes. Como uma composição de signos, símbolos, condutas e fazeres. E também frisa Lindoso, há um estabelecimento  num continuum histórico,de práticas que estabelecem a criação do espaço onde se localizam os produtos dessas práticas, isto é, o espaço social idealizado como um valor. Tem-se então o espaço cultural, que é o meio criado pelas ações dos homens na sociedade, e onde se localizam, num continuum espaço-histórico, os signos valores e condutas produzidas pelas práticas sociais . Por meio da percepção das práticas culturais, percebemos uma identidade de representatividades simbólicas, de que somos portadores como indivíduos e como coletividades. São condutas e valores que introjetamos de um modo consciente na vida social,  e que fazem que naturalmente sejamos-lhes detentores. E descobrimos um fato novo: uma cultura não se reduz aos produtos que elaboramos em nível material, mas se constitui, do mesmo modo, de um tipo específico  de produtos que substituem a materialidade das práticas por uma constelação de signos e símbolos. A cultura se apresenta pois, como um produto do trabalho social e um produto idealizado desse trabalho.  O que permeia o trabalho social de sua ideação é a criatividade, que se exerce socialmente em dois planos o do indivíduo e da coletividade. A criatividade coletiva é um processo de estruturação dos produtos matérias  e dos produtos idealizados ao longo de um continuum histórico-espacial, Ou seja, sem uma herança social e sem um trabalho social antecedente seria quase impossível a criatividade e o desenvolvimento individual.(LINDOSO.2005. PP. 22-23)



    Cartas enviadas para família (Gazeta, 2010)


                                         Fonte: Blog Maestro Fon-Fon - Por: Chico de Assis




    Meu pai.

    Não podia deixar de lhe comunicar a minha última parada. No momento encontro-me na Grécia, onde todos os costumes são diversos de toda Europa.
    Deixei de lhe escrever estes meses, porque não me demorei em nenhum país. Mais um mês, de modo que espero demorar no mínimo três meses neste belo país.

    Pretendo seguir depois para o Brasil. Já me encontro cansado de todos os dias a mesma luta e sem esperança de mais nada. Conheço toda Europa, elevei a música de nosso país. Fiz a música brasileira ser conhecida, embora monetariamente não me tenho dado resultado. Porém estou contente com o que Deus me deu.
     Aqui deixo o meu abraço a todos da nossa família, desejando um ano cheio de felicidades e próspero (1951). Minha benção e que Deus os guarde.

    Essa carta foi enviada ao seu pai Amaro Romeiro em dezembro de 1950 após o natal – A mesma chegou a Santa Luzia do Norte onde Amaro residia no mês de janeiro de 1951. Fon-Fon veio a falecer em Atenas (Grécia), em 10 agosto de 1951.


    Trecho a carta para a irmã Vicentina Romeiro 

    Trecho a carta para a irmã Vicentina Romeiro: “Centina, primeiro que tudo espero encontrá-la bem se saúde. Hoje tive uma emoção sem igual. No show aqui em Madri tocamos a música Tourada em Madri do Braguinha. Foi lindo, os espanhóis adoraram. Só não encontrei uma espanhola natural da Catalunha. Estou morrendo de saudades de vocês e de comer um sururu de capote aí em Santa Luzia.

    Um beijo, minha irmã querida”.
     TRECHOS DA ENTREVISTA AO "O GLOBO"
    "O meu amigo pernambucano Nelson Ferreira, fez um frevo - canção chamado de 'Bem-te-vi' que é uma jóia.Toca esse frevo por onde passa e é um sucesso."

    Trechos da entrevista concedida " Le Monde La music".

    "Constantemente recebo carta do Brasil em várias delas perguntam como estou na Europa do pós-guerra. Respondo: 'Vim para à Europa à convite do Club Champs Elysées. A França é um lindo país e recebeu-nos de braços abertos. Sinto-me em casa. Sei que a Europa passa por um momento delicado. Pois vê-se no rosto do seu povo marcas de profundo sofrimento provocado pela catástrofe da guerra.

    Brasil orquestrei muitas músicas de cunho patriótico, nossos soldados vieram lutar aqui na Europa, fazendo parte das forças aliadas.

    O presidente Getúlio Vargas pediu para que fizesse-mos apresentações nas ruas e rádios, falando da bravura de nossos soldados. Fiz várias apresentações com cantor Francisco Alves. Imagino, que tenho uma missão aqui. Uma delas é divulgar a música brasileira pelo velho continente e outra e talvez e a mais nobre delas seja levar alegria a esse povo.

    A França é mais que um sonho ...Como gosto desse país.

    Tocamos a marselhesa, sempre quando iniciamos e encerramos as apresentações da orquestra e fazemos com imenso respeito e alegria, pois um belo hino e o patriotismo do povo francês é contagiante.

    Perguntaram-me se o nosso chorinho era o jazz brasileiro, respondi:
    - 'O jazz é o jazz e o chorinho é o chorinho' ". 

    Fon-Fon e Capa do LP London 
                                             Fonte: Blog Maestro Fon-Fon - Por: Chico de Assis



    Murmurando (Maestro Fon-Fon - Mario Rossi) -Conjunto época de Ouro. (youtube)

    SOBRE A MÚSICA BRASILEIRA



    “ Tenho plena consciência da importância da música Brasileira no mundo.”

    “Nosso jeito de ser é diferente e isso interfere em nosso sonoridade musical, sem falar da nossa mistura de raça. O nazismo nunca daria certo em meu País, o Brasil. Nossa orquestra executava músicas de vários países, mas quando tocávamos as música brasileira: samba, chorinho, frevo, o público daqui fica encantado...’Aquarela do Brasil, do Ary Barbosa, é uma das mais tocadas.

    “ O Brasil é um país muito querido e ficamos felizes por isso”;

    SOBRE SUA VIDA

    “Minha memória leva-me sempre à cidade em que nasci, Santa Luzia do Norte, Alagoas no Nordeste do Brasil.

    Lá no povoado do Quilombo, tinha uma banda de ‘pífanos’, que tocavam nas ruas de Santa Luzia.

    Pífano é um instrumento de sopro, artesanal; feito de madeira e que tem um som muito bonito, dá um agudo que não se consegue tirar em outro instrumento.

    Essa banda de pífanos, pertencia a uma família chamada ‘Mucumba’. Eu ficava admirando olhando eles tocarem. De tanto acompanhar a banda, um dia deram um pífano para eu tirar uma música. Daí pra frente, não parei nunca mais. Não fosse aquele gesto, eu não estaria  hoje aqui na Europa


    Testemunho do adeus

    Nós estávamos fazendo uma apresentação em noite de gala em Atenas na Grécia. “O maestros Fon-Fon regia a orquestra, emocionado como sempre fazia. Por instantes, observei que ele estava ofegante e seus movimentos diminuindo.

    Seu braço não conseguia subir a batuta para a regência. Ele fez um gesto para que me aproximasse.

    Cheguei próximo a ele a ele e falei:

    - Pois não, mestre!

    O mestre falou-me quase sem voz:

    -“Bizuca, diga ao pessoal que vou sair um pouco, mas já volto”.

    Nesse momento abraçou-me e pediu-me para levá-lo ao camarim. 

    Lá já estava sua esposa, D. Helena, que massageava seu peito e falava; “Otaviano, Otaviano!”

    O mestre Fon-Fon, ofegante pediu para que dissesse aos músicos que não parassem de tocar.

    -“Bizuca, diga para não pararem, fale para continuarem tocando...”

    Eu disse que estavam todos apreensivos. Mesmo assim ele insistiu;

    -“Diga a eles que eu estou bem e que a orquestra deve continuar. Vá e faça a regência, toque música brasileira alegre”.

    - Votei para o palco para reger a orquestra e quando retornei a ambulância já o havia levado para o hospital de Atenas.

    Soube depois que ele havia falecido a caminho do hospital em Atenas.

    Ficamos na Europa bastante tempo até o embarque do corpo do mestre Fon-Fon para o Brasil que foi feito por um navio.

    A orquestra continuou fazendo suas apresentações.

    A comunicação da morte do Maestro Fon-Fon, a Santa Luzia do Norte, através de um telegrama enviado a sua irmã, Vicentina Romeiro, pelo Diplomata e homem Paschoal Carlos Magno.

    Seu corpo chegou ao Brasil no navio enviado pelo presidente Getúlio Vargas.

    Fon-Fon foi sepultado no cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro. (GAZETA DE ALAGOAS, 2010)


    Anúncio do Jornal O GLOBO
    Fonte: Blog Maestro Fon-Fon - Por: Chico de Assis



    José Zumba, ou simplesmente Zumba



    Banda de pífano
      


    Segundo o pesquisador Antônio Romeiro de Lima (2008), Zumba era um artista plástico brilhante, descendente de africanos, nasceu em Santa Luzia do Norte,  no dia 30 maio de 1920. Com a morte de sua mãe, aos dez anos, fora levado a Pernambuco, aos doze anos, já se encontrava na Escola de Belas Artes, sob a  orientação do professor Edson Figueredo, dava os primeiros passos na aprendizagem das artes. Retornou a Alagoas para servir o Exercito.

     A maioria de suas pinturas retrata as figuras de negros velhos, escravos, cenas de trabalho, belas negras, dentre outras gravuras. Foi agraciado com o diploma de Cidadão de Maceió, da Ordem de Mérito dos Palmares, diploma da Escola de Belas Artes, Comenda Desembargador Mário de Gusmão.

    Zumba chegava a afirmar que o Brasil é um país anticultural. ’Não vendo os meus quadros. Troco-os por dinheiro para não morrer de fome’ (LIMA, 85-6). É com certa magoa, por ser negro, por ser de “Cor”, mesmo diplomado com todos os méritos não recebeu os louros da sociedade alagoana, mas sim,  foi quase esquecido com sua genialidade.

    Este alagoano de Santa Luzia do Norte foi um grande batalhador. Sustentou esposa e filhos com sua arte, pintando diariamente e saindo para vender as telas pelas ruas da cidade, repartições públicas e casas de colecionadores. (Gazeta de Alagoas)

    O sociólogo e político Floretan Fernandes, coloca essa questão de “preconceito de cor”, como um elemento categórico de pensamento.  Para ele, essa categoria foi criada para assinalar, vários tipos de elementos, no que se refere, por exemplo, as questões emocionais e cognitivamente a todo o modelo tradicional de relação racial. Assim sendo, quando se fala de “preconceito de cor”, tanto mulatos quanto negros, não se fazia qualquer distinção entre ambos no momento de preconceito, ou melhor, não distinguiam o preconceito propriamente dito da descriminação. Tanto um quanto outro estão elencados em um mesmo bojo conceitual. Todavia, estas apreciações forjadas pelos negros possuíam integral consciência, no tocante, ao contexto sócio-histórico pátrio. O preconceito sempre ofereceu um leque de alegações emocionais, como também morais e racionais, para o processo de distinção e formação de camadas sociais hierarquizadas. No entanto, a partir da ocasião em que o negro começou a se compreender, conseguiu explicar a situação posta, sendo esta conseqüência ou reflexo deste “preconceito de cor”.Eles começam a se notar como sujeitos históricos iguais aos demais. E entenderam que todas as discrepâncias socioeconômicas e políticas não eram frutos de questões psicológicas ou biológicas, mas sim, por conjunturas exteriores, produzidas pela atuação coletivista dos homens. Esta categoria de preconceito, no caso brasileiro, devia ser encarada como fator da desigualdade racial e devia ser combatida ferrenhamente.  (IANNI, 44-5)

    Em entrevista dada ao escritor Tancredo Moraes, pelos entremeios dos anos de 1940-60, Zumba falou de sua vida sofrida na década de 1930, quando na ocasião perdera seu pai. Relembrou os estudos em Garanhuns e Gravatá e da consideração ao arquiteto Edson Figueiredo que  sempre acreditou em seu talento. De sua terrinha natal (Santa Luzia do Norte, Alagoas), solveu a secular  tradição das festas populares, e a cultura lagunar – as margens da lagoas Mundaú.
    O arruado, a vegetação nativa e exótica, a igreja, a história, as pessoas e as águas do Mundaú serviram de inspiração a esse artista que nasceu vocacionado para as artes e que fez da pintura a sua principal profissão. (Gazeta de Alagoas, 2011)

    No dia 30 de outrobro de 1996, veio a falecer levando para a eternidade à tristeza e a frustração por não ver seus projetos realizados.




     A Paixão de Cristo


    crucificação e morte

    No Brasil, como em outras sociedades, há uma classificação dos eventos sociais segundo sua ocorrência. Os eventos que fazem parte da rotina do cotidiano chamado em nosso país de “dia-a-dia” ou simplesmente “vida”, e os eventos que estão situados fora desse dia-a-dia repetitivo e rotineiro: as festas, os cerimônias, as solenidades, os bailes, reuniões, encontros etc., onde se chama atenção para seu caráter aglutinador de pessoas, grupos e categorias sociais, sendo por isso mesmo acontecimentos que escapam da rotina da vida diária. ( DAMATTA, Roberto. 1997, pp. 47 - 48)

    A Paixão de Cristo pode ser elencada como um evento formal, acima citado, onde tem um sujeito ou um centro (para que se faz a festa) e uma assistência. Daí o termo  “ Paixão”, que vem do grego pathos, que significa sofrimento - relembrar  agonia de Jesus – Cristo  sofreu pela humanidade para remir os pecados do mundo.

    Do sagrado ao profano – a Paixão de Cristo é uma reafirmação mental do imaginário católico que se manifesta não só no bojo (recinto) do sagrado, contudo, também, nos espaços profanos (ruas).

    O evento por estar elencado no calendário turístico de nosso Estado faz parte ou inclui-se, no denominado capitalismo cultural – gerando renda.

    Há mais de duas décadas (22 anos) Santa Luzia do Norte vem apresentando o espetáculo da Paixão de Cristo - inicialmente nos arruados da cidade, usando como cenários os prédios públicos (...o posto de saúde e a prefeitura municipal, por exemplo) - hoje é realizado em um teatro ao ar livre - espaço cedido pela prefeitura. O corpo de pessoas que participam do espetáculo, dentre atores, técnicos e figurantes, giram em torno de cento e oitenta pessoas aproximadamente.

    Pioneirisma nas Alagoas  no que tange a este tipo encenação, a Paixão de Cristo  santaluziense desperta no âmago do público uma nova emoção a cada ano. Por essa razão, mesmo quem já assistiu ao espetáculo volta ao Norte com a certeza de reviver esta emoção, mas que a cada ano ganha uma moral diferente, e por conseguinte, uma nova roupagem.

    Cenários

    1 Sermão;
    2 Templo de Jerusalém;
    3 Cenáculo;
    4 Horto (Jardim das Oliveiras;
    5 Palácio de Herodes;
    6 Fórum Romano;
    7 Via dolosa;
    8 Calvário,
    9 Sepulcro

    Paixão cena a cena

    Prólogo – À caminho de Belém (o nascimento de Jesus);
    Batismo no Jordão;
    Tentação no Deserto;
    Sermão da montanha;
    Entrada em Jerusalém (domingo de ramos);
    Discussões no Templo – o sinédrio;
    A última ceia;
    Agonia do Horto;
    A Traição;
    A prisão de Jesus;
    O bacanal de Herodes;
    Jesus perante Herodes;
    Jesus perante Pôncio Pilatos (gury);
    A flagelação de Jesus ;
    A condenação de Jesus;
    O encontro com Maria;
    O cirineu;
    Crucificação e morte;
    A descida da cruz;
    Marte dolorosa;
    Sepultamento;
    O desespero de Judas;
    Ressurreição;
    As três Marias,
    Ascensão


    Notas esparsas

    O município de Santa Luzia do Norte, o exercício de 1921 foi calculado co modo que segue;

    RECEITA
    Decima urbana
    4:200$000
    Dizima de pescado
        400$000
    Carnes e verde
    4:500$000
    Imposto de volume (Imp.)
    2:700$000
    Licenças commerciais
    3:680$000
    Impostos de feiras
    1:080$000
    Impostos sobre fabricas tecidos
    1:500$000
    Outros impostos
    1540$000
    Cemitérios
      150$000
    Medidas de feiras
      450$000
    Passagens dos rios
      300$000
    Aferiçao de pesos e medidas
    1:000$000
    Total
    21:500$000
    DESPESA
    Subsídio ao Intendente
    2:400$000
    Funccionalismo
    4:980$000




    Ilustrações fotográficas

     Antiga praça Getúlio Vargas
             (1940-50) - hoje: José Lobo 
    Ferreira

        Antiga praça Getúlio Vargas
               (1940-50) - hoje: José Lobo 
    Ferreira

                 Casa que pertenceu Estevam P.   
                     de Brito e D. Dilán  


        Capela de Nª. Sª da Conceição 

        Câmara Municipal   


           Soc. Musical Prof. Vanderlei 

              Antigo prédio da prefeitura municipal    
         
     

               Capela de Santo Antonio- 
                        povoado Guadianos

             Associação Musical Independente 
                 

                 Capela de Sâo Pedro - 
                     povoado do Porto so Sururu
              
       Matriz de Santa Luzia -  1900-10    

      Rua São Vicente/ alto do  
                                                                                            Cemitério - 1900-10  

    Cont...

    Referências bibliográficas

    Alagoas Memorável - Patrimônio Arquitetônico.   Maceió:  Instituto Arnon de Melo, 2011.

    ALMEIDA, Sávio de. Alagoas nos tempos do Cólera. São Paulo: Escrituras, 1996.

    ANDRADE, Mário (1922). Paulicéia Desvairada. São Paulo, Casa Mayença

    BLOCH, Marc. Apologia da história ou o ofício de historiador. Rio de Janeiro :Zahar , 2001.
    MORENO BRANDÃO (Vade-Mecum do Turista em Alagoas, - (mil novecentos e trinta e seis) - 1936 – pp. 23 e 24.

    BRANDÃO, Octávio. Agrarismo e Industrialismo. ed 2. São Pulo: A. Garibaldi, 2006.

    CARVALHO, Cícero Péricles de. Formação histórica de Alagoas.  Maceió: Grafitex, 1982.

    DAMMATTA, Roberto Carnavais, malandros e heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro. 6ª ed. Rio de Janeiro : Rocco, 1997. 

    DIÉGUES JÚNIOR, Manuel, 1912-1991. O engenho de açúcar no Nordeste. EDUFAL, 2006.

    Enciclopédia dos Municípios de Alagoas. Maceió:  Instituto Arnon de Melo, 2009.

    Gazeta de Alagoas. Quem quer conhecer o maestro Fon-Fon?. ASSIS, Chico de. 2010.

    História das mulheres no Brasil/  Mary Del Priore (org); Carla Bassanezi (cood. De texto. 8. Ed. – São Paulo: Contexto, 2006.


    HOBSBAWN, Eric j. A era das Revoluções.  23ª ed. São Paulo .Paz e Terra, 2007.

    HOLANDA, Sergio Buarque de.  Raízes do Brasil. 6ª ed. Rio de Janeiro, José Olympio, 1971.

    IANNI, Octavio (org) Florestam Fernandes. In: col. Sociologia Grandes Cientistas Sociais. 2ª ed. São Paulo Ática, 2008. 

    Le Goff, Jacques, 1924História e memória / Jacques Le Goff; tradução Bernardo Leitão... [et al.] -- Campinas, SP Editora da UNICAMP, 1990, p.[?].

    LIMA, Antonio Romeiro de. Santa Luzia do Norte: um pouco de sua história. Maceió: Esmal, 2008.

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    LINDOSO, Dirceu. Interpretação da Província: estudo da cultura alagoana. Maceió: EDUFAL, 2005.


    LAVENERE, Luiz. Santa Luzia: -  o estado de alagoas, [?] do Brasil. [?], 1932-33


    Operários em movimentos: documentos para a história da classe trabalhadora em Alagoas )1870 - 1960) / 

    Osvaldo Batista Acioly Maciel  - Maceió, 2007.


    PEDROSA, Valter. A História de Santa Luzia do Norte. Brasília: Roteiro Editorial LTDA, 2008.

    Rádio Nacional: o Brasil em sintonia / Luiz Carlos. 3.ed. Saroldi e Sonia Virginia Moreira – 3. ed. [amp]. E atualizada] – Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. 

    RODRIGUES, M. Imagens do Passado. A Instituição do Patrimônio em São Paulo. São Paulo:Unesp; Imesp; Condephaat, 2001

    SAMPAIO, Maria Ferras. História do rádio e da televisão no Brasil e no mundo (1984).

    Schumaher, Schuma. Gogó de Emas: a participação das mulheres na história do Estado do Alagoas. Rio de Janeiro:REDEH, 2004. 
    TENÓRIO, Douglas Apratto e LUCIA, Cármen. Caminhos do Açúcar – Engenhos e Casas-Grandes das Alagoas. 2010.

    TENÓRIO, Douglas Apratto. In: O Jornal: Alagoas 500 Maceió 2 de abril, de 2000

    Referências eletrônicas

    Bau De Long Playing:Elizeth Cardoso – Zimbo Trio – Jacob do Bandolim – Conjunto Época de Ouro – Ao Vivo No Teatro João Caetano – Vol. 1 (1968). Postado em 22/10/2011. Disponível - em: http://www.baudelongplaying.com/archives/3732. Retirado as 11 horas do dia 12  de março de 2012. 

    CIFRANTIGA - FON – FON)- Disponível em: - http://cifrantiga2.blogspot.com/2006/09/fon-fon.html#ixzz1pCAMBfbg. Retirado as 15 horas do dia 12 de março.) 




    (CIFRANTIGA – Moreas Neto – Disponível em: http://cifrantiga2.blogspot.com/2010/11/moraes-neto.html#ixzz1pCArE4gd. Retirado as 12 hs: 12 min. Do dia 13 março de 2012.) 



    Gazeta de Alagoas. José Zumba: o homem que marcou a história das artes plásticas em Alagoas. VIEGAS, Osvaldo, 2011. Disponível em: http://www.interjornal.com.br/noticia.kmf?cod?=12755562


    http://www.revista.akademie-brasil-europa.org/CM09-04.htm - retirado as 13hs:10 minutos do dia 19 de fevereiro.


    Maestro Fon-Fon. Org. ASSIS, Chico. Disponível em:http://maestrofonfon.blogspot.com.br/2010/12/otaviano-de-assis-romeiro-maestro-fon.htm. Retirado as 13 horas do dia 12 de março de 2012.


    MORAIS, Armando. Cordel: a velha casa de farinha. Disponível em: http://poetaarmandomorais.blogspot.com/2011/06/cordel-velha-casa-da-farinha.html. Retirado as 17 hs: 05 min. do dia 12 de fevereiro de 2012.

    O sentido social e o contexto político da guerra de canudos. p.2. Disponível em http://www.fundaj.gov.br/geral/observanordeste/Moniz_05.pdf . Retirado as 09 hs 00 do dia 20 fevereiro de 2012.