O artigo foi elaborado com base em meu tcc.
Maceió (1920-1940) |
ALAGOAS NOS PRIMEIROS MOMENTOS DA
REPÚBLICA À ERA MALTINA
RESUMO: O objetivo principal deste trabalho é estudar Alagoas nos primeiros momentos da República (1900 a 1912), tentando, com isso, mostrar a capacidade de sobrevivência das elites agrárias que resistiram à passagem do regime monárquico para o republicano, salientando, com tudo, alguns ajustes e adaptações feitas para a realização desta passagem. O contexto do novo regime foi moldado e regado pelos donos do poder que perduraram como verdadeiros parasitas do sistema, que em seu primeiro momento não existiu, no tocante as práticas democráticas atreladas a Cidadania, essência primordial deste regime.
Palavras - Chaves: República, federalismo, política, militares, oligarquias, direitos do Cidadão, Malta, salvacionismo e Quebra - quebra.
Trata-se
[...] de captar o poder em suas extremidades, lá onde ele se torna capilar;
captar o poder nas suas formas e instituições mais regionais e locais
principalmente no ponto em que, ultrapassando as regras de direito que o
organizam e delimitam, ele se prolonga, penetra em instituições, corporifica-se
em técnicas e se mune de instrumentos de intervenção material, eventualmente
violentos.
( FOUCAULT, Michel. Confession of the Flesh).
A Primeira República, também conhecida como República Velha, teve dois
períodos distintos: a República da Espada (1891-1894) e a República Oligárquica
(1894-1930), onde o poder ficou centralizado e dirigido pelas oligarquias
cafeeiras de São Paulo e Minas
Gerais. -O
movimento federalista e liberal, desconfiadamente irmanado às promessas
igualitárias que a plebe urbana cultivou, preparou a ideologia republicana, mas
não fez a República nem venceu no dia 15 de novembro. Sobre esta concepção
edifica-se a força política dos coronéis no nível municipal
e das oligarquias nos níveis estadual e federal. O papel central emprestado aos direitos individuais, deixando de
lado a preocupação com o bem público, ou
seja, a virtude pública ou cívica que estava no cerne da ideia de República.
E é com “jogo” de
tradicional com a modernidade que a república se consolida em Alagoas, sendo
perpetuado em seguida pelo genro do Barão de Traipú, Euclides Malta, numa rede
“perfeita” que os governantes que o antecederam teceram.
Euclides Malta, natural
de Mata Grande, pertencia a uma família com posses, mas sem tanto prestígio.
Formou-se “Bacharel” (praga do bacharelismo) em Direito e trabalhou como
promotor em Atalaia, conselheiro municipal, intendente de Penedo, Senador.
Chegou ao poder graças à ajuda de seu sogro, o Barão de Traipú, num período de
grandes transformações socioeconômicas no país, onde o mundo rural ainda se
sobrepunha ao urbano, em que o liberalismo ainda com ares de oligarquia era o
retrato da política feita no Brasil, com a Proclamação da República.
Foi deputado
constituinte estadual e federal e governador três vezes. O primeiro mandato de Euclides Malta vai de 1900 a 1903, constituindo-se
no início de uma longa caminhada de predomínio da oligarquia maltina no poder executivo do
Estado. Euclides seria sucedido pelo seu irmão, Joaquim Paulo Vieira Malta
(1903-1906), e retornaria para exercer mais dois mandatos seguidos (1906-
1909, e 1909-1912). O predomínio dos Malta só
chegou ao fim, no início de 1912 com a famosa quebra dos
terreiros.
Como espaço de produção simbólica, a nomenclatura “Bacharel” compreendia
em seu seio, naquele período, dentro do imaginário popular, adornos de poder. A elevação dos bacharéis se fazia velozmente, em
âmbito político, em especial, no âmbito no social.
O reinado de D. Pedro II foi o
indicador, de alterações na fisionomia brasileira, começou o “romantismo jurídico” no
Brasil, que até então mais era governado
pelo bom senso dos velhos do que pelo senso jurídico dos moços.
Todavia os bacharéis não surgiram no Brasil com D. Pedro II, mas sim nos
séculos XVII e XVIII, graças ao empenho dos padres aos cursos de latim, em
Salvador, mais precisamente nos pátios da Companhia. Já se encontravam notáveis
bacharéis, como Gregório de Matos e seu irmão Euzébio, no entanto, o bem
conceituado titulo de bacharel e doutor veio se moldando e tomando corpo em
meios urbanos, mesmo nos rústicos, desde o começo do Império.
Na República já se tinha uma nova geração de bacharel, cuja essência
estava vinculada ao período abolicionista e anteriormente a Independência. Este
novo gênese não era mais aquele moldado e atrelado a Casa-grande, não pelo
filho doutor nem mesmo pelo genro de origem humilde, mas sim, pelo bacharel
estranho que se impunha contrario as praticas pré-estabelecidas, entrava em
atritos com a sociedade patriarcal rural e com os fidalgos burgueses dos
sobrados.
Contudo, Euclides Malta foi uma
das poucas exceções dessa nova roupagem de bacharéis, apesar de possuir alguns
caracteres destes, Malta foi um produto genuíno da Casa-grande (apesar de sua
família não ter tanto prestígio), uma erva daninha que subiu ao poder por
intermédio de Traipú. O seu amor
bizantino aos livros pareceu, muitas vezes, através do penhor da sabedoria e
indício de superioridade mental, assim como, o anel de grau ou a carta de
bacharel. É digno de nota, o valor exagerado que é
dado a esses símbolos concretos. As organizações, além de elaboradoras de bens e serviços, eram também, e
principalmente, produtoras e reprodutoras de significado na vida em sociedade.
No meio social, a caça por títulos se assemelhava a um predador faminto
em busca de sua presa, e ela era estimulada pela manutenção de um status quo ou
pela busca de ascensão social, por viés político. Então, o titulo de bacharel,
dentro desse contexto social, era um atestado para o exercício do poder. O
poder não é uma coisa, uma propriedade que pertence a alguém ou alguma classe;
não existem, de um lado, aqueles que detêm o poder (dominantes) e, de outro,
aqueles que a ele estão submetidos (dominados). Na realidade, “o Poder” não
existe, existe sim, práticas ou relações de poder.
Logo, o poder é algo que se exerce, que se efetua, que funciona em rede e que,
portanto, deve ser entendido antes como uma tática, manobra ou estratégia do
que como uma coisa, um objeto ou bem.
Os versos simplórios de
Patativa do Assaré, bem exemplifica esta questão de status, atrelado a um
diploma.
“Seu dotô que é
da cidade
Tem
diproma e posição
E estudou derne
minino
Sem perde uma
lição.” ASSARÉ
(2007, 21)
Ao chegar ao governo
estadual, em 1900, Malta construiu um aparato administrativo, seguindo a
ideologia de seu sogro, este o segurou no poder por 12 anos. Euclides
era a imagem apurada de um verdadeiro líder oligárquico, o qual controlava os
coronéis, e se mantinha no poder através de favores que prestava a seus
agrupados.
O período maltino se apresentava como uma ruptura à estrutura
administrativa no Estado, no que se referia à instabilidade provocada pela
República, como também, em âmbito regional. Alagoas, de 1889 até 1900, passou
por 17 (dezessete) mandatos, sendo que, 3 (três) deles por integrantes de
juntas governamentais, no entanto, no geral, estes mandatos não iam além de
poucos dias e alguns meses, pouquíssimos passaram de um ano.
O impacto
da industrialização, no que se referia ao processo de urbanização, gerou
algumas modificações estruturais no tocante ao papel de cada ambiente interno
nas cidades. Cada categoria de desenvolvimento, de formas de produção social,
era claramente a manifestação “condicionada” por viés da ampliação das forças
produtivas sob o capitalismo monopolista. Assim sendo, deste ponto de vista,
estamos nos referindo ao ambiente como concretização/materialização do modo de
produção vigente, no caso o capitalista, e a cidade como uma amostra desta
concretização. Lembrando que os espaços em sua totalidade, não eram só urbes,
havia uma articulação entre campo e a cidade, visto que o capitalismo abrangia
tanto os espaços urbanos, como também o campestre. Todavia as cidades
desempenhavam um papel de vital importância, no processo de divisão social do
trabalho, pois, ela possuía tanto a quantitativamente, quanto qualitativamente,
condições necessárias para isso.
Nesta
visão, a cidade deixou de ser o local onde se agrupava toda produção agrícola
produzida no âmbito rural, tornando-se o ambiente no qual havia a concentração
de toda a produção agrícola, e posteriormente, a industrialização e a
comercialização.
O ambiente
urbano se diferenciava e se consolidava em espaços residências distintos, as
habitações eram padronizadas, por exemplo, de acordo com cada período, padrão
(estilo arquitetônico) e/ou elite. No caso de Maceió, segundo o historiador
Diceu Lindoso, “(...) o desenvolvimento das condições sociais de vida urbana
estruturada (...) se deu em decorrência da criação de uma burguesia (...),
enriquecida na prática do comércio de exportação de açúcar
e de madeiras de construção
naval, e na importação de bens manufaturados estrangeiros, a que se somavam
atividades de agiotagens altamente compensadoras, que preenchiam a nível de uma
província a carência de capitais de investimento.”
LINDOSO
(2005, 78)
Em sua tese de
Mestrado, o Professor da Ufal e historiador Osvaldo Acioly, nos deu várias visões
sobre o processo de urbanização e mudança ocorridas em terras alagoanas no
decorrer do século XIX. Ele citou Theodry Barros de Augusto, no tocante a área
portuária do Jaraguá, assinalada por boa parte da historiografia de nosso
Estado, como sendo identificador central para o entendimento da modificação da
capital, ainda na primeira metade do XIX (1839), como também, seu espaço foi o
foco do desenvolvimento urbano maceioense no decorrer do século XIX.
A modificação da
Tesouraria da Fazenda Geral, da então cidade de Alagoas, hoje Marechal Deodoro,
para a atual capital, nos deu base para verificarmos e ajuizarmos os benefícios
e as mais perfeitas e qualificadas dependências, no que se refere às condições
de embarque, desembarque e armazenamento dos gêneros importados e exportados
naquele período, levando o Jaraguá, a tomar a posição de principal área
portuária de Alagoas, destituindo à área praieira do Francês. “Acioly”
acrescenta mais a frente no mesmo parágrafo, desde então, alguns historiadores
vêm discutindo sobre seu desenvolvimento: Douglas Apratto Tenório indicava como
momento inicial de modernização da cidade e, por extensão, do Estado, a segunda
metade do século XIX, com a chegada das ferrovias, o aumento dos jornais e dos
divertimentos sociais. Craveiro Costa, por sua vez, opina que foi com o advento
da República, que a cidade começou a tomar vulto e sair do marasmo de ‘uma
ladeia crescida ao abandono do poder publico’. Tudo isso, porque com o novo
regime, os municípios ganhavam certa autonomia administrativa e financeira.
Para Manuel Diegues Júnior, em seu ensaio sobre a Maceió republicana, e Félix
Lima Júnior, em suas crônicas memorialísticas, ambos acompanham, com um tom de
saudosismo da velha cidade que se esvaia, a interpretação de Craveiro Costa.” BATISTA
(2004, 32)
A verba
federal implantada no saneamento estadual teve evidentes reflexos, no aumento
da taxa de pobreza, devido às altas taxas de preços, acentuada com as constantes
secas e o cortejo de endemias em
Alagoas. No entanto, as elites agrárias ou os velhos mandões,
que possuíam em suas mãos o destino do âmbito político no espaço fechado do
Partido Republicano, tinham uma visão que não se assemelhava; eles eram
harmoniosos com a nova realidade e se contentavam simplesmente em vê a velha província
como uma imitação simplória dos padrões progressistas europeus.
O programa de governo
de Malta voltou-se para melhorar Maceió, embelezando-a e modernizando-a,
transformando o ambiente rameiro da capital num contagiante clima de progresso.
Ele construiu e reformou diversos espaços culturais, sociais e de utilidade
pública: Teatro Deodoro, Palácio do Governo, Tribunal de Justiça, hospitais,
cais do Rio São Francisco, em Penedo, entre outras obras. Essas construções
deixaram Maceió com cara de imitação cabocla de sociedade européia. Todavia, só se tornaram visíveis as
beneficias no tocante a urbanização da capital alagoana, no final da década de
20 do século passado.
Houve, também, melhoras nas praças que cercavam esta área, melhorias nas ruas e calçamentos
e em outros edifícios públicos. Após estas reformas e construções, um novo
ordenamento surge no espaço urbano do centro de Maceió: as camadas mais pobres
são inibidas (e se inibem) de passar e freqüentar as novas
áreas. O coração da cidade de
Maceió, resume-se em dois bairros:
Jaraguá e o Centro. As
festividades de inauguração não ocultavam o intuito de promoção política.
“Maceió,
estuário dos sonhos de grande parte da população alagoana, não oferece a todos
suas benesses. O mundo dos despossuídos não estava nos belos sobrados, nem
entre os elegantes senhores de fraque, nos costumes refinados importados dos
salões europeus. - Para maioria da população, a casa de
tijolo e alvenaria era algo inacessível”. Enciclopédia dos Municípios de
Alagoas. Maceió: Instituto Arnon de Melo, 2009. p.372.
Apesar de todas estas
discrepâncias vinculadas aos novos espaços, no tocante a camada mais pobre,
nota-se que ao se descobrir a rua e a praça como local de lazer ocorreu uma
maior conectividade entre homens e mulheres para troca de idéias, paqueras ou
amostra de melhores vestimentas e novidades trazidas pelo vapor do Jaraguá,
isto por si só, já demonstrava o status
quo de cada individuo.
Segundo o Doutor em
História pela UFPE, Douglas Apratto Tenório, no texto confeccionado (trechos
também encontrados no livro: a metamorfose das Oligarquias) para ser agregada a
Enciclopédia dos municípios alagoanos de 2009, relata que: “o alargamento das
ruas, o surgimento das praças onde se reuniram os munícipes, deixando a reclusão
de suas casas, bem como a construção do Palácio Floriano Peixoto, do Teatro
Deodoro e do Tribunal de Justiça marcaram o ingresso de Maceió na chamada
“Belle Époque” tropical, enfim, aos tempos urbanos por excelência.” TENÓRIO
(2009, [?])
A urbanização de Maceió tornou-se algo
palpável, no início do século XX, com as modernidades trazidas por Euclides
Malta. A cidade foi tomada por novos ares, novas pessoas vindas de outros
lugares, as quais foram atraídas pelo espírito urbano, pelas novas oportunidades.
Naquela época, Maceió tinha 4 bairros: Maceió, Jaraguá, Levada e o Alto do
Jacutinga. Tinha uma população ínfima, se comparada a outras capitais do
nordeste, como por exemplo, Recife e Salvador, demonstrando um crescimento
nosso em relação a essas outras cidades.
Usando novamente a tese
de Mestrado do professor Osvaldo Acioly, com relação a dados angariados sobre a
população de Maceió, o mesmo fez um comparativo evolucionista entre as cidades
de Salvador, Recife e Maceió, no intervalo de tempo que se compreendeu entre 1872 a 1920 do século passado.
Ano
|
Salvador
|
Recife
|
Maceió
|
1872
|
129. 109
|
116. 671
|
27. 703
|
1880
|
174. 412
|
111. 556
|
-
|
1890
|
-
|
-
|
31, 498
|
1900
|
205 . 813
|
113. 106
|
36. 427
|
1910
|
-
|
-
|
45. 000
|
1920
|
283. 422
|
238. 843
|
74, 166
|
Fontes: FIBGE – Anuário Estatístico do Brasil apud GAREIS, Maria da Guia
Santos. Industrialização no Nordeste.
Rio de Janeiro: Notrya, 1994; SINGER, Paul. Desenvolvimento econômico e evolução urbana: análise da evolução econômica de São
Paulo, Blumenau, Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife. 2ed. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1977; e LIMA,
Lúcia Maria Cunha Alves de. Industrialização
organização do espaço urbano: o caso de Maceió. Recife, Dissertação de
Mestrado em Geografia, 1982, (mimeo); Maceió [verbete] In: Encyclopedia e Dicionario
Internacional, Vol II. W. M. Jackson Editor, s/l, s/d, p. 6816. Alguns autores,
em especial Craveiro Costa ,
irão criticar tais dados reclamando das metodologias empregadas nos censos, e chegando a apontar números diversos
para o censo de 1900. Estes números, no entanto, não alteram substancialmente o quadro apresentado
acima. Cf. COSTA, Craveiro. Maceió.
Maceió: DAC, 1981, pp. 191-4; e JOBIM,
Hugo. Geographia. In: Indicador
Geral do Estado de Alagoas. Op. cit., pp. 30-1. Apesar das diversas reservas indicadas, até onde
conhecemos, estes censos são a fonte mais segura para se conseguir informações mínimas acerca da população de Maceió
e de seu crescimento no período estudado. Não conseguimos dados para os espaços em branco. In : BATISTA,
Osvaldo Acioly Maciel. Filhos do Trabalho, Apóstolos do Socialismo: os tipógrafos e a construção de uma
identidade de classe em Maceió (1895/1905). Recife, 2004. p. 33.
Baseado na analise do quadro acima descrito, nota-se que apesar de
existir uma grande discrepância entre as cidades supracitadas, no entremeio de 1872 a 1920 do século
passado, observa-se que na cidade de Maceió, houve um crescimento mesmo que
tímido, todavia, que se assemelhava as outras duas capitais. “Aproximadamente,
em 1872 a
população de Maceió correspondia a quase 1/5 da população soteropolitana e a
cerca de 1/4 da população recifense. Até 1920, esta proporção chegaria a
aproximadamente menos de 1/4, em relação à primeira, e 1/3 em relação à
segunda. No que se refere às taxas de crescimento muito lento numa primeira
fase (1872 – 1900), enquanto que numa segunda fase (1900 – 1920) tal evolução
se acentuava, principalmente, para os casos de Maceió e Recife”. BATISTA
(2004, 34)
No âmbito estadual, as
cidades eram distribuídas na esfera populacional. Maceió ocupava a primeira
posição, acompanhado por Viçosa e em seguida vinham as cidades de União dos
Palmares e Porto Calvo, seguidas por Penedo. Essa duas últimas, juntamente com
Viçosa, faziam parte das “cidades mortas”, contando ainda, com Anadias,
Marechal Deodoro, Atalaia, Santa Luzia do Norte, dentre outras. As cidades
mortas tinham um grande peso social, político e econômico, antes mesmo de
Maceió torna-se capital (1839) da antiga Província de Alagoas.
Por fim, Maceió se
encontrava em um estágio transitório de transformações simplórias, mesmo com o
capitalismo latente, baseado na monocultura, não industrial, que circulava no
contexto nacional da época. Não se via quase que totalmente em Maceió o estranhamento
do homem com a cidade, do individuo com o trabalho, pois, o - mundo trabalhava
dentro da racionalidade do capital, ainda era estranho ao meio, ou melhor, ao
ambiente vivenciado por cada criatura que ali povoava. Na sociedade
eminentemente rural que conservava, no seu interior, resistências a
transformações, o dia-a-dia, vai-se processando como sempre se conheceu. Mas a
roda do tempo é a dinâmica e Maceió ia se transformando e aceitando as
novidades.
Porto -
circulavam os estivadores. Uma cidade comercial e portuária “reflete bem a condição primeira de
Maceió, como a de praticamente todas as principais
cidades do país, a de ser uma cidade comercial ligada ao Atlântico, ao comércio pelo
mar”. O bairro
de Jaraguá teve grande benefício, além do desembarque de mercadorias, havia
também o contato com o externo, o “desembarque da modernidade na cidade”. Morar
perto do porto passou a ser estratégia dos trabalhadores para conseguir
empregos melhores e posições mais altas.
Carroceiros e Condutores -
havia
muitos carroceiros, segundo Feliz Lima Junior, mais de 100 (cem), que pagavam
impostos ao município. Para trabalhar na área, era exigido que o homem tivesse
“nome na praça e honestidade”. Os
condutores possuíam maior status,
pois era preciso para o trabalho, que estivessem alinhados e recebiam salário
fixo, apesar de ter de lidar com todo o tipo de gente nos bondes, de humildes a
arrogantes, bem como soldados e outras ‘autoridades’, que nem sempre aceitavam
ser cobrados por um simples trabalhador.
Vendedores e Iluminação -
estavam
por todas as partes, nos principais pontos dos trajetos dos bondes. Pela manhã,
vendedores de peixes e sururus, de frutas, legumes e verduras, galinhas, leite
e mel de abelha, amoladores de tesoura, funileiros, dentre outros, e no período
vespertino, surgiam outros tipos, como negras da costa, vendedoras de vatapá,
caruru, arroz de coco, siris, camarões ensopados.
. O comércio maceioense
era constituído, em sua maior fatia, por armarinhos e mercearias, tendo como
foco maior, a venda no varejo. Secos e
molhados, estivas, armarinhos, lojas de calçados e chapéus, de fazendas, drogarias e farmácias, cafés,
padarias e confeitarias,
alguns hotéis e restaurantes, joalherias e perfumarias, livrarias e papelarias,
lojas
de ferragens e miudezas, e, claro, dezenas de
tavernas e botequins. A maioria destes estabelecimentos era administrada, ao longo de todo
o dia, pelos próprios donos, que na sua maioria era de estrangeiros.
Havia os vendedores,
além dos mascates, que em sua maioria eram italianos, sendo depois substituídos
por nacionais e caixeiros, trabalho com mais status e menos marginal. Para estes últimos, era preciso ter o
mínimo de escolaridade: ler, escrever, fazer contas. Isso fez com que os
índices de analfabetismo diminuíssem, mesmo que sutilmente, em
Maceió. Os
comerciantes conseguiram uma vitória: o fechamento do comércio às 18h.
INDICES DE ANALFABETISMO EM ALAGOAS (1872 - 1920)
|
|||
Ano
|
Alfabetizado
|
Analfabetos
|
% de analfabetismo
Sobre a população total
|
1872
|
41. 913
|
306.096
|
88, 0
|
1890
|
70.115
|
441.325
|
86, 5
|
1900
|
129.563
|
519.710
|
80, 0
|
1920
|
144.535
|
834.213
|
85, 2
|
Fonte: BATISTA, (2004, 40)
Os números registrados, na dezena dos 80% de analfabetos, para o
conjunto da população
estão dentro da média do Nordeste para o período. Esta média alta era um
indício da situação relativa ao conhecimento formal e ao acesso à escolaridade
existente entre os nordestinos. Para Maceió, era de se imaginar, esta taxa deveria ser
um pouco menor.
Com a nova decisão de fechar o comércio às 18h, foi
preciso outra modificação, ou seja, a luz elétrica que chegou a cidade.
Obviamente, esse processo se deu gradualmente, começando pelos bairros mais
importantes. A eletricidade, no
conjunto da política de iluminação pública implementada na cidade, serviu como
instrumento de avanço, tanto no ordenamento social do espaço, como no tempo.
Talvez a longo prazo fosse possível dizer que o projeto de “domesticação” da noite,
de enquadramento das práticas
realizadas durante esta outra metade do dia, em atividades e ocupações, favoreciam o bom ordenamento da sociedade.
O discurso dos jornais da época, acerca desta questão, a grosso modo,
queria fazer correspondência entre estes dois estados físicos, de iluminação e
escuridão, duas representações distintas acerca da população de Maceió,
respectivamente, os ricos e os pobres; o bem e o mal; o trabalhador e o vadio;
o cidadão e o marginal.
O primeiro sistema de iluminação dos arruados maceioense, na década de
quarenta do século XIX (1842), foi idealizado pelo poder Legislativo, que
comprou 14 lampiões no valor de 1.507$680 (um conto, quinhentos e sete mil,
seiscentos e oitenta reis) tendo como matéria- prima, o azeite da baleia e de
carrapato. No final dos anos quarenta do século XIX, informa Craveiro Costa,
que existiam 18 lampiões a querosene, que tinham como administrador de serviço,
Guilherme José da Graça, contratado pelo valor de 1.298$000 (um conto e
duzentos e noventa e oito mil réis), que eram pagos diretamente pelo cofre da
província. Todavia, o projeto inicial nesse período, era a iluminação a gás,
tinha-se como pretensão maior, deixar os arruados maceioense parecidos com as
ruas da Corte no Rio de Janeiro. No entanto, isso ficou apenas em meras
pretensões. LIMA JÚNIOR (2001, 41)
É interessante salientar que, Maceió foi à primeira cidade do eixo
Norte-Nordeste nos anos de 1880,
a ser quase que por total iluminada por querosene. Em 17
de abril de 1887, Argemiro Augusto da Silva realizou a experiência de
iluminação à luz elétrica, com magnífico resultado, em sua residência
localizada na Rua do Comercio, nº. 299, na qual
funcionou a Fox Presentes.
Por fim, a capital alagoana foi à primeira cidade no âmbito nacional a
ter eletricidade. Não esquecendo a
cidade de Campos, no Estado do Rio de Janeiro, contudo, a mesma não possuía
tanta importância, pois dentro daquela unidade federativa quem exercia papel de
capital era Niterói.
Marginalização e operários (Tecelões e Processo
de trabalho)
- à
noite na cidade era tomada por aqueles que estavam à margem desse processo. Os
marginalizados encontravam-se, principalmente, nos arredores dos grandes
bairros. Dizia-se que os maiores responsáveis por isso eram os “forasteiros”,
pessoas vindas de outros lugares e/ou do interior para Maceió.Taxados como
ladrões, larápios, dentre outras coisas, levando-se em consideração toda
estrutura elitista vigente no período.
Várias micro-fábricas
existiam em Maceió, bem como pequenos negócios nos diversos setores: fábricas
de velas, vinagres, óleos, gelo, cera, sabão, cigarro. Além dessas existiam
também as fábricas de tecidos. Não se esquecendo da condição feminina no
trabalho, já que não havia muitos registros sobre esta, bem como o trabalho infantil.
Sabe-se apenas que eles estavam presentes na produção.
“Não é possível e sequer necessário examinar aqui o
pleno alcance das variações geográficas, ideológicas, nacionais, regionais,
reais ou potenciais, referentes ao tema da formação das classes operárias de
1870-1914 como grupos sociais conscientes e organizados. Evidentemente, este
ainda não era o caso para aquela parte da humanidade, cuja pele era da matriz
diferente (como Índia e Japão), mesmo quando seu desenvolvimento industrial já
era inegável. Esse avanço da organização das classes não era cronologicamente
uniforme.” HOBSBAWM, Eric J. A era dos Impérios
(1975-1914).12ª ed..Paz e Terra, 2008. p.187.
Em âmbito nacional, a
partir de 1907 iniciam-se greves e manifestações operárias em São Paulo pela jornada
de oito horas. É aprovada a Lei Adolpho Gordo, ou Lei Celerada, que permite a
expulsão de lideres operários estrangeiros ou a deportação de brasileiros para
áreas remotas do interior do país.
Com o aumento da
população pobre, o mundo dos barracos se espalhava e com isso, alastravam-se um
variado leque de doenças, em virtude da falta de estrutura e planejamento
urbano nestas áreas, fazendo com que Euclides ampliasse a obra do Hospital e de
atenção exclusiva a esse setor ao longo de sua administração. As doenças e
enfermidades não eram só exclusividade de Maceió, elas se alastravam pelas
vilas dos interiores alagoano. Moléstias como a febre amarela, gripes
virulentas, sarampo, cólera (A obra Alagoas nos tempos do Cólera do Professor
Luiz Sávio de Almeida, é uma ótima analise sobre esta enfermidade em terras
alagoanas) dentre outras.
Já no litoral e no
sertão, havia males como o reumatismo, hepatite, bouba, sífilis, pneumonia
etc., e muitas delas poderiam ser evitadas se houvesse o mínimo de cuidado no
tocante a habitação e a higiene. No ano de 1908, a varíola fez
inúmeras vitimas em
Coqueiro Seco , Atalaia, Maceió, União e Colônia de
Leopoldina.
No tocante ao fornecimento de água potável,
via-se que o serviço não atendia a parcela mínima de pessoas, como também, era
de péssima qualidade, pois, não havia, naquele momento, meios para a capitação
de capitais, que poderiam ampliar e melhorar os serviços.CATU - trilhos urbanos -
(Companhia Alagoana de Trilhos Urbanos) foi fundada em 14 de junho de 1890, com
verba, exclusivamente, alagoana de 300,000$000 (trezentos contos de reis), com
um contrato de 50 anos com
exclusividade neste setor. Sua sede se encontrava na Praça Sinimbu,
outros prédios da empresa se localizavam em Bebedouro, Trapiche da Barra,
Farol, Jaraguá e Baixinha, próximo ao Bom Parto.
Os veículos tinham como
força motriz dois burros, com oito acentos e iluminado por viés de carboneto.
Em 1895, a
Catu passava seu escritório central para a Rua Sá de Alburqueque.
Segundo Felix Lima os preços eram os abaixo descritos nos anos de 1891 e
1900. LIMA JÚNIOR (2001, 31/33)
Passagem (1891):
De Jaraguá à Praça do Liceu (atual Praça Sinimbu)....$100 rs (cem réis)
Da praça do Liceu a Praça dos Martírios (e vice-versa) ....$100rs (cem
réis)
De Jaraguá a Maceió ou Bebedouro (e vice-versa) ...$200 rs. (duzentos
réis)
Serviços
fúnebres (1891) - Em Maceió não existia automóveis na
época, assim sendo não havia carros
fúnebres.
De
Jaraguá ao cemitério (e volta incluída) ... 9$000 (nove mil réis)
De
Maceió ao cemitério ( e volta incluída).... 10$000(dez mil réis)
Preços da passagem no ano de 1900:
De Jaraguá a Praça da
Libertadora ....$100. rs (cem réis)
Da Praça da Libertadora
à Praças dos Martírios $100rs (cem
réis)
Da Praças dos Martírios a Bebedouro
$200rs (duzentos réis)
De Jaraguá a
Bebedouro $200rs (duzentos réis)
Fora
do horário para qualquer ponto $300rs (duzentos réis)
Bondes expressos (1900):
De Jaraguá a Maceió (e vice-versa) 8$000 (oito mil réis)
De Jaraguá (ou Maceió) a Bebedouro
(e vice-versa) 10$000 (dez mil réis)
De Jaraguá (ou
Maceió) ao Trapiche da Barra (ou vice-versa) 10$000 (dez mil réis)
Os veículos da Catu serviram em dois momentos distintos, como transporte
oficial. Primeiro, com a visita, do então eleito Presidente da Republica a
Maceió, Dr. Afonso Pena, em 1906. E nos anos de 1910, era carro oficial do Dr.
Euclides Malta, Governador de Alagoas
Com a queda de Euclides, e a ascensão de Clodoaldo da Fonseca, em 1912,
começou a pressão sobre a Catu, o governador exigiu que a mesma cumprisse com o
acordo feito em 1893 a
Gabino Besouro, governador do período, no que se referia à criação de linhas
que ligassem o Pontal da Barra, Fernão Velho e Jacarecica.
Nada fora feito até um momento. O corpo de diretores da empresa
salientou que só poderia atender a este pedido, quando houvesse a mudança de
tração animal para elétrica. Isto ocorreu no ano seguinte.
Na primeira República, a economia brasileira desenvolveu-se
basicamente graças ao acúmulo de capitais oriundos do setor cafeeiro, associado
aos investimentos estrangeiros. Esse período, notoriamente foi acompanhado por inúmeros
episódios atrelados aos processos de produção e de negociação do produto. O
pacto entre as oligarquias, denominada política dos governadores, deixava
nítida a dominação dos Estados mais fortes, São Paulo e Minas (política do café
com leite); aquela realidade condizia aos negócios dos fundiários e unia, cada
qual com seus interesses, os dois pólos acima citados no topo da cadeia
socioeconômica e política do Brasil. Assim sendo, o café era o menino de ouro
dos grandes latifundiários.
CATU - trilhos urbanos -
(Companhia Alagoana de Trilhos Urbanos) foi fundada em 14 de junho de 1890, com
verba, exclusivamente, alagoana de 300,000$000 (trezentos contos de reis), com
um contrato de 50 anos com
exclusividade neste setor. Sua sede se encontrava na Praça Sinimbu,
outros prédios da empresa se localizavam em Bebedouro, Trapiche da Barra,
Farol, Jaraguá e Baixinha, próximo ao Bom Parto.
Os veículos tinham como
força motriz dois burros, com oito acentos e iluminado por viés de carboneto.
Em 1895, a
Catu passava seu escritório central para a Rua Sá de Alburqueque.
Segundo Felix Lima os preços eram os abaixo descritos nos anos de 1891 e
1900. LIMA JÚNIOR (2001, 31/33)
Passagem (1891):
De Jaraguá à Praça do Liceu (atual Praça Sinimbu)....$100 rs (cem réis)
Da praça do Liceu a Praça dos Martírios (e vice-versa) ....$100rs (cem
réis)
De Jaraguá a Maceió ou Bebedouro (e vice-versa) ...$200 rs. (duzentos
réis)
Serviços
fúnebres (1891) - Em Maceió não existia automóveis na
época, assim sendo não havia carros
fúnebres.
De
Jaraguá ao cemitério (e volta incluída) ... 9$000 (nove mil réis)
De
Maceió ao cemitério ( e volta incluída).... 10$000(dez mil réis)
Preços da passagem no ano de 1900:
De Jaraguá a Praça da
Libertadora ....$100. rs (cem réis)
Da Praça da Libertadora
à Praças dos Martírios $100rs (cem
réis)
Da Praças dos Martírios a Bebedouro
$200rs (duzentos réis)
De Jaraguá a
Bebedouro $200rs (duzentos réis)
Fora
do horário para qualquer ponto $300rs (duzentos réis)
Bondes expressos (1900):
De Jaraguá a Maceió (e vice-versa) 8$000 (oito mil réis)
De Jaraguá (ou Maceió) a Bebedouro
(e vice-versa) 10$000 (dez mil réis)
De Jaraguá (ou
Maceió) ao Trapiche da Barra (ou vice-versa) 10$000 (dez mil réis)
Os veículos da Catu serviram em dois momentos distintos, como transporte
oficial. Primeiro, com a visita, do então eleito Presidente da Republica a
Maceió, Dr. Afonso Pena, em 1906. E nos anos de 1910, era carro oficial do Dr.
Euclides Malta, Governador de Alagoas
Com a queda de Euclides, e a ascensão de Clodoaldo da Fonseca, em 1912,
começou a pressão sobre a Catu, o governador exigiu que a mesma cumprisse com o
acordo feito em 1893 a
Gabino Besouro, governador do período, no que se referia à criação de linhas
que ligassem o Pontal da Barra, Fernão Velho e Jacarecica.
Nada fora feito até um momento. O corpo de diretores da empresa
salientou que só poderia atender a este pedido, quando houvesse a mudança de
tração animal para elétrica. Isto ocorreu no ano seguinte.
Na primeira República, a economia brasileira desenvolveu-se
basicamente graças ao acúmulo de capitais oriundos do setor cafeeiro, associado
aos investimentos estrangeiros. Esse período, notoriamente foi acompanhado por inúmeros
episódios atrelados aos processos de produção e de negociação do produto. O
pacto entre as oligarquias, denominada política dos governadores, deixava
nítida a dominação dos Estados mais fortes, São Paulo e Minas (política do café
com leite); aquela realidade condizia aos negócios dos fundiários e unia, cada
qual com seus interesses, os dois pólos acima citados no topo da cadeia
socioeconômica e política do Brasil. Assim sendo, o café era o menino de ouro
dos grandes latifundiários.
O federalismo garantiu o predomínio dos interesses regionais, o açúcar,
principal produto brasileiro, e o carro chefe da economia alagoana, perdeu seu
posto de principal mercadoria de exportação no âmbito nacional desde segunda
metade do XIX.
Chegando o momento da
reeleição, Euclides Malta surpreendeu seu grupo político ao anunciar seu irmão
como seu sucessor. Provocou uma crise que levou ao rompimento com seu sogro
(tentou um levante político, sem grande êxito).
Pouco tempo depois, a aliança entre sogro e genro renasceu, e o Barão de
Traipú foi parar no senado.
Euclides repetiu sua
aliança com os representantes do seguimento açucareiro, preenchendo as inúmeras
lacunas governamentais, moldado nas práticas corruptas vinculadas à sujeira da
política dos governadores.
Euclides manteve sua decisão, ou seja, Joaquim
Paulo Vieira Malta governou de 1903
a 1906, através de uma espécie de “golpe”, considerando
que a constituição poderia ser reformada, mediante iniciativa da Câmara dos
Deputados. Conseguiu, na eleição seguinte, fazer a permuta de poder, ficando no
lugar de seu irmão. E parecia que os Malta jamais sairiam do poder.
Esse “bem-estar”
provocado pelo novo estilo de vida apresentado pelas ações de Malta
neutralizaram a oposição ao seu governo, que não teve outra alternativa a não
ser ficar quase que inerte (fraca oposição) esperando até o momento em que poderia
se manifestar. Os desafetos políticos que atacavam sua ingratidão para com
aquele que garantira sua ascensão política e social. Na sessão do Senado da
República em 1° de agosto de 1904, o senador
Bernardo de Mendonça
Sobrinho, que apoiou a
oligarquia maltina em sua primeira gestão, ressalta a ingratidão de Euclides para com
seu sogro o Barão de Traipú, no seguinte tom acusatório:
‘Quem
não sabe que se o Sr. Dr. Euclides Malta tem hoje o prestígio que o assoalha,
se é feliz, rico, cheio de todos estes requisitos invejáveis por todos os que
não se acham na posição de S. Exª deve-os ao Exm° Barão de Traipú. Quem seria
S. Exª se não tivesse tido a mão benfeitora do meu honrado amigo e chefe, o
Exm° Sr. Barão de Traipú (...) Qual seria a situação de S. Exª se não tivesse
esposado a filha do Sr. Barão de Traipú?’. NEVES
(2004, 73)
Por conseguinte
Euclides respondeu a essas alusões, com o tom irônico, também em sessão
do Senado:
‘Pois bem,
Sr. Presidente, sou um
obscuro, não tenho
linguagem nobre como o honrado
Senador que foi buscar sua origem genealógica em Portugal, na mais remota época
da história da metrópole (...) Sou pobre, sou filho dos sertões do Norte,
caboclo, si o quiserem, pois não faço questão dessas branquidades... NEVES (2004, 73)
Essas acusações
dilatavam o branqueio de
reclamações nas tribunas e nos periódicos da época, os quais exigiam uma
posição da esfera federal, no tocante ao verdadeiro clima anárquico que se
instaurou no Estado, no que se referiu à usurpação dos direitos políticos.
Ficaram mais latentes estes acusatórios sobre Euclides, quando através
de uma manobra política bem arquitetada, Euclides se afastou por seis meses
antes do termino de seu mandato, aproveitando-se de uma brecha aberta por ele
mesmo na Constituição revisada, transferindo o cargo para o Presidente do
Senado Estadual, Coronel José Miguel de Vaconcellos, este assumiu, já que o
então vice-governador, Coronel Miguel Nunes da Silva Teixeires, amigo de Traipú
(na época afastado de Malta), alegando que estava doente e não aceitando assim
assumir o Governo.
Os opositores ao poder maltino, tentaram, em vão, ir de encontro à
política opressiva de seu governo; Euclides, que passou a ser chamado de “O
Corvo da Republica,” (Política
pacificadora) os repelia de todas as maneiras. Vários grupos minoritários remanentes de
épocas antecedentes, deodoristas, florianistas, paulinistas, besouristas,
duartistas, tentaram-se unir em uma frente dilatada com o Barão de Traipú
(ainda afastado de Malta), atraindo assim, o núcleo mais expressivo da
oposição, que tinha como líder a figura de Fernandes Lima. Todavia, com
reconciliação de Traipu com Euclides e com a posterior ida do Barão para o
Senado, gerou uma apatia e a desagregação dos grupos opositores, ficando cada um
em seu lugar, cada qual tecendo criticas particulares ao Governo, e pedindo uma
intervenção Federal no Estado.
A
violência estava ocorrendo e gerando vitimas. A crise mais marcante foi o
cerrado tiroteio ocorrido em 1º de maio de 1906, entre a força pública e um
grupo armado, liderado pelo bacharel Miguel Omena que tinha, como todos os
proprietários, seu exercito particular. Esse tiroteio ocorreu no centro de
Maceió e o Comandante da Policia, Coronel Salustiano Sarmento, saiu gravemente
ferido e vários alferes e soldados do destacamento também.
A campanha civilista tendo como líder Rui Barbosa, balançou o país
inteiro, instigou as oposições eternamente vencidas a persistirem em sua luta
brutal anti-governamental em
cada Estado. O domínio de Euclides sobre o Estado era algo
inegável, ele se reelegeu continuadamente.
Os opositores se valendo das
novas condições abertas no governo de Hermes da Fonseca, viram a necessidade de
apresentar um candidato. O Partido elencou, para isso, o Coronel Clodoaldo da
Fonseca, primo de Hermes. Clodoaldo trazia consigo adornos simbólicos, por ser
parente do presidente da República, sendo isto um trunfo importante, como
também, sua patente de Militar traria o apoio do Exercito. Entretanto, ele só aceitaria, decididamente,
a candidatura no dia 25 de dezembro no momento estratégico, no qual a oposição
se organizava e lutava contra as forças governamentais.
Euclides Malta ainda confiante recusou-se a enxergar o desgaste da
política dos governadores. E, por conseguinte não admitiu perde o poder naquele
momento. Mesmo com o visível desgaste de seu governo e aos novos ares advindo
do Rio de Janeiro que sacudiu toda região Norte/Nordeste (referindo-se aqui a
política das salvações).
O processo de separação das oligarquias regionais havia afiançado o
fortalecimento e dado base ao sistema federativo, contudo, naquele momento,
essa sedimentação era a principal culpada de sua fraqueza, não permitindo,
diferentemente do período monárquico (D. Pedro II), que os grupos oligárquicos
fizessem uma política de rotação no poder. Este era o principal ponto que
estourou no governo de Hermes da Fonseca, ou seja, em cada Estado da
Federação aumentava o coro dos descontentes.
Por iniciativa de Pinheiro Machado, tentava-se criar, apressadamente, o Partido
Republicano Conservador, tendo como prisma principal, a aliança da então
dissolvida força governamental bem-sucedida no pleito presidencial, todavia que
padecia de governabilidade. No entanto, esta união não gerou frutos. Na
verdade, as antigas alianças de Minas Gerais e São Paulo a Malta, só fizeram,
no momento propicio, o qual lhes interessavam, não se importando, em seguida,
as próprias oligarquias de menor porte, que reagiram sem muito ânimo a chamada
de Pinheiro Machado.
No ano de 1911, exatamente em 17 de dezembro, foi montada a Liga dos
Republicanos Combatentes que se assemelhavam, a um grupo paramilitar, tendo
como líder, o militar reformado do Exercito, Manuel Luis da Paz. Seus lemas
eram: “Liberdade, não pede, conquista-se” e “a força é uma lei, um direito,
quando há união”. Inspirado nestes lemas, dias apos a criação da Liga, alguns
de seus membros invadiram, com armas a tira colo, a residência do intendente da
capital Luis Mascarenhas, o qual fugiu com sua esposa pulando o muro do quintal,
este fato foi algo que se repercutiu muito nos periódico da época.
Com reforço da guarda estadual governamental, tentava-se evitar a
invasão das casas dos adeptos da força oligárquica local. Alguns integrantes da
Liga se retiraram para o interior, outros, continuavam provocando e instigando
o clima de insurreição urbana. O que se notou naquela ocasião foi um verdadeiro
estado de insurreição popular, novos focos de oposição começaram a surgir nos
bairros. Acendeu-se neste momento a força dos jornalistas, estudantes,
bacharéis, artistas e de discursadores de comício. O Jornal Conservador
Gutenberg apontou um espírito nessas manifestações atrelado ao cunho
revolucionário, doentio que invadiam a grande maioria dos indivíduos que
participavam das mesmas. Essas manifestações tinham adornos e caracteres
parecidos à dos sans-culottes de 1789.
O fato é que Euclides, em sua vida política frente ao governo, jamais
permitiu qualquer ato contrário ao seu poder. Furioso no calor do momento
mandou as forças policias dar fim aos comícios da oposição. Esta que tinha
agora em seu corpo partidário e candidato ao Governo, Clodoaldo da Fonseca, que
respondeu a ofensiva de Euclides Malta. Os comícios se tomaram verdadeiras
lutas armadas, as forças euclidianas eram escorraçadas, passando a ser o foco
da contra-ofensiva o palácio do Governo.
Enquanto se prosseguiu a pequena guerrilha, o inspetor do 6º batalhão,
General Fábio Fernandes, exigiu de Euclides que aceitasse a troca do
policiamento pelo Exercito. Esta exigência tinha como principal temor, que a
força policial, mais a frente, não aceitasse mais as ordens de acometimento
sobre a população. A força militar
incumbida de guardar o Palácio foi desarmada e
Euclides fugiu para a cidade do
Recife com o intuito de recompor seus contatos ali e no Rio de Janeiro.
O clima de vitória da oposição foi visível dentro daquela contexto,
porque desabou sobre o governo maltino, um leque distinto e invariável de pressões, tanto em âmbito
interno como externo. Declarando o resultado das lutas, o presidente Hermes da
Fonseca propôs que seu primo, Clodoaldo, se retirasse do pleito eleitoral,
que respondeu com avidez não estar
“disposto a pactuar com políticas sem moralidade que envergonham a República”.
Assim sendo, por sua vez, Pinheiro
Machado conseguiu o afastamento de dois deputados do Partido Democrático,
obtendo a maioria na Câmara Federal.
O povo exigiu a saída de Euclides e este não tendo mais o que fazer,
pediu intervenção Federal. O Governador rumou para o Rio de janeiro, onde voltou
acompanhado com o então recém empossado inspetor da 6ª Região Militar, Olimpio
da Fonseca, que não aceitasse o apoio da força policial.
Em sua essência, muito distinto do que deveria ser o movimento
salvinista, que tinha como prisma maior de sua luta as práticas já roídas das
oligarquias, assumiu conjecturas incalculáveis, dando uma brecha para novos
focos de oposição. A primeira oligarquia
a cair foi a Rosa e Silva em Pernambuco. Pinheiro
Machado tentou deter o salvacionismo, mas não teve êxito. Com
o movimento da Salvação, os nomes de Clodoaldo para o governo e Fernandes de
Lima para vice ganharam mais força. Foram ativados os Centros Cívicos
Pro-Clodoaldo e Fernandes de Lima e com isso o seu fortalecimento. O Coronel
Delmiro Gouveia ajudou na surdina este movimento.
Lembrando que o movimento de oposição ao governo de Malta ganhou mais
alguns adeptos, ou melhor, adeptas. Faziam parte desta frente oposicionista “as
cornélias alagoanas”.
O jornal foi uma fonte
e uma memória viva da sociedade, embora se diga, comumente, que o jornalismo
lida com o perecível, este registra fatos e acontecimentos do cotidiano que
estavam presentes na vida do povo. O fenômeno da comunicação verbal e impressa
se realizou através da palavra escrita, que adquiriu um sentido mais universal
na forma impressa desde a venturosa inversão da prensa gutemberguiana.
O que se pode observar
no conteúdo das notas que circulavam nos aparelhos midiáticos, no período
maltino, além de criticarem Euclides ou elogiá-lo, se referindo ao processo de
urbanização em Maceió, também pode se notar as várias reivindicações da classe
operária no início do século, e a “presença dos negros hás três esferas:
desenvolvimento de praticas mágico-religiosas, nas páginas policiais e no
carnaval.
Colocar o irmão no
poder, desrespeitando a Constituição, parecia um jogo complicado, mas Malta
soube sobreviver a ele, pois, conseguiu conduzir a imprensa a seu favor,
fazendo uma colaboração ao jornal A
Tribuna, trazendo para junto de si a opinião de quase todos os veículos de
imprensa. Controlou assim a opinião pública, quase que por total, e
conseqüentemente, a ação da oposição.
Contudo, existiu em Maceió, periódicos que mesmo sofrendo as duras penas
a perseguição do governo de Euclides, conseguiram imprimir em certo ponto,
razoável oposição aquele Governo, cada qual, com seus objetivos e valores. Cito
aqui a imprensa operária de inicio do século, por exemplo, O Trocista apareceu em 7 de setembro
de 1898 e continuou a viver como um exemplar semanário, saindo quase sempre aos
domingos, no período de 5 anos, tendo seu fim
possivelmente no início de 1903.
O Proletário apareceu em 17 de janeiro de 1902, quem sabe tenha sido o Jornal de
maior cunho socialista daquele momento e tinha como principal finalidade a
divulgação do Centro Proletário Alagoano. Circulava também na capital alagoana,
periódicos de outros Estados. O “Aurora
Social” possuía grande influencia nos meios dos trabalhadores ativos de
Maceió. Surgiu também em 11 de novembro de 1905, os “Martires de Chicago”, que
tinha como principal lema: “Não há deveres sem direito, nem direito sem deveres
Proletários de todos os países uní-vos”.
Cito aqui alguns dos vários periódicos que circulavam e surgiram da
classe operário de nosso Estado, todos preocupados com a melhoria das condições
de trabalho e melhores salários dentre outras coisas. Sendo necessário
salientar que a grande maioria desses periódicos eram confeccionados em
pequenas oficinas, com poucos funcionários.
Fundado pelo jornalista Luiz Magalhães da Silveira, com o apoio do seu
irmão, o também jornalista José Magalhães da Silveira, o Jornal de Alagoas se
caracterizou desde aquele momento como um periódico oposicionista que,
circulando juntamente com o Correio da Tarde, onde os mesmos faziam frente no
combate às oligarquias dominantes da época.
A violência era tanta naquele período, que o criador e diretor do “O
Jornal de Alagoas”, sofreu um atentado, sendo o mesmo crivado de balas dentro
do bonde que rumava para o Bebedouro, na companhia de sua mulher, sua filha e
uma sobrinha. As meninas eram menores de idade. O autor dos disparos, por
incrível que pareça, foi um Juiz de Direito.
Nessa época, o “Espantalho das Oligarquias”, designação de Luiz
Silveira, ficou conhecido – ele estava afastado da direção do jornal por ter
assumido a Secretaria da Fazenda do Estado. A reação veio em seguida, uma nota
na primeira página do Jornal.
Outro Jornal que combatia os desmandos nos primeiros anos da
administração de Euclides era o “Jornal de Debates”, que, com o passar do tempo,
foi perdendo espaço e importância, em virtude da criação do Correio de Alagoas,
sendo mais tarde criados o Correio da Tarde e o Jornal de Alagoas.
É público e notório, o
empenho das bases de sustentação das estruturas, em nosso país, tanto na Colônia
quanto no Império, referindo-se aqui aos poderes político e religioso, ambos
moldados nas concepções ideológicas do catolicismo, em manter sua dominação em
volta da criação de aparelhos organizacionais católicos específicos de homens
de Cor (pardos e pretos). Esses aparelhos solviam alguns elementos da cultura
”afro”, como por exemplo, os cortejos e os autos do coração de reis e rainhas
de Angola e do Congo. Como também, elegiam representantes cativos ou forros,
para servirem como lideranças naqueles meios; isso tudo com o objetivo de
manter a ordem pública e a dura repressão
Com termino do regime
escravocrata, esses elementos quase perderam sua utilidade com a nova
realidade, contudo, tais rudimentos foram de grande importância na edificação
da cultura afro (danças, arte, etc.), no âmbito festivo do país, no cotidiano e
no imaginário social. O Carnaval de Rua do Recife e Salvador foi um dos grandes
exemplos dessa anexação.
Na
Capital alagoana tínhamos os maracatus, em larga escala, no período maltino. Os maracatus abundavam no início do século passado
e
talvez ainda tenhamos que aguardar o
desenvolvimento de futuras pesquisas históricas para melhor a avaliação das
razões do seu futuro desaparecimento, após os acontecimentos traumáticos
envolvendo as comunidades negras religiosas da cidade, e mesmo do Estado,
por ocasião da deposição do então governador de
Alagoas Euclides Malta, em 1912.
O
fato é que teríamos o desaparecimento progressivo
dos antigos maracatus na festa do carnaval da cidade, e nem mesmo outras formas
derivadas de participação do que poderíamos denominar de o carnaval negro
maceioense. Por “carnaval negro” estamos entendendo a presença afirmativa do elemento étnico
na aparição festiva dos grupos sociais afro-descendentes.
A população de Maceió
crescia muito timidamente (ver o quadro populacional na página 59 desta
Monografia) se compararmos a do Recife e de
Salvador.
As duas últimas tiveram
um bom crescimento demográfico naquele período e sentiram mais rapidamente o
efeito da urbanização (febre da época), do que a Capital alagoana, como também,
em Maceió não houve a absolvição dos recém libertos (escravos), em sua
população urbana, diferentemente das outras duas cidades supracitadas.
Acarretando assim a não aceitação de amostras africanizadas no âmbito
populacional, ou seja, a não legitimação da cultura afro no tocante a sua
essência étnica. No caso
maceioense, a festa de momo continuaria formatando uma modalidade de carnaval
que não integraria as formas marcadamente negras de aparição festiva.
Sendo necessário dizer
que o líder de um dos blocos (Ciganas Filhas ou Filhas da Cigana)
que desfilava no primeiro decano do século XX, era Manoel Inglês, negro, bom
cozinheiro, tinha residência fixa na Ladeira do Brito e o principal possuía um
Terreiro bastante visitado pela sociedade maceioense da época. O mesmo era
possuidor de certo prestigio no meio organizacional no que se referiu aos
clubes de carnaval, folguedos populares e participação no Xangô.
Manoel Inglês fazia parte do grupo que foi com
Euclides Malta para a Capital do Brasil (Rio de Janeiro), com o intuito de se
tomar Senador Federal. Fazia parte também desta comitiva, a sua estimada
família e mais 2 (dois) funcionários pertencentes ao corpo de funcionários do
Estado. A presença de Manuel na comitiva provocou muito alvoroço da imprensa
opositora.
As noticias nos jornais
ridicularizavam a religião negra no Estado, no período em que Euclides Malta
governava com mão de ferro, isso foi reflexo do contexto em que vivia o país no
período, saindo a pouco da abolição, como também, a imagem do pensamento
(dominante), doentio, vinculado a “Cor” que ainda estava em vigor na época. E
que perdura até hoje, além disso, a oposição (jogada política) se valeu da
aproximação de Euclides a esta “religião”, atacava-a, para derrubá-lo.
Ulisses Rafael em sua Tese de doutorado nos
diz que boa parte das noticias atreladas à questão da religião negra
(principalmente Xangô) nas páginas dos periódicos alagoanos do período; boa
parte delas estão ligadas a chacota, como também, ao recolhimento dos
envolvidos as Casas de Prisões, pois os mesmos,
praticavam uma religião que esta fora do padrão social (uma espécie de
modismo ditatorial de dominação religiosa/doutrinaria que era vigente dentro do
contexto universal naquele período), ou seja, se não é católica não serve.
Outras doutrinas sofreram e sofrem com isso, por exemplo, o espiritismo
bastante perseguido, pois não segue os padrões estabelecidos pela nata que move
o âmbito religioso mundial/unânime.. NEVES (2004, 185)
Segundo o pesquisador Antonio Daniel, esses tipos de noticias estavam
quase que entranhada (como uma traça) dentro das folhas amareladas do Jornal “A
Tribuna” no decorrer do ano de 1911. DANIEL (s/d, 4)
Daniel observa que em boa parte dessas notas tinham um cunho conectado à
mensagem do “Circulo Esotérico da Comunhão do Pensamento”. No entanto, segundo
ele, não se pode assegurar a existência de uma conexão entre essas notas e a
prática do Xangô. Por conseguinte, também, não é sabido à existência de amarrações
entre este tipo de anúncios e a doutrina do Kadecismo. Todavia, com esse tipo
de notas, ficou bem mais claro a afeição por parte do governo para outras
tipologias religiosas que não seja só o catolicismo. DANIEL (s/d, 4)
A roda da História não
pára, acontecimentos novos surgiam na terra como se renovavam as nuvens no céu
ou mudavam as formações de areia com as marés.
Como todo império tem
seu fim, a hora do império Malta, no governo de Alagoas, estava chegando. O
desgaste estava acontecendo, o modelo “maltino” estava perdendo forças. E essas
forças contrárias vinham de fora do Estado, ou seja, do Rio de Janeiro, mais
precisamente. As mudanças na República estavam acontecendo, os grupos
oligárquicos de outrora estavam perdendo força.
Malta perdeu o apoio de
muita gente Brasil afora. O movimento “salvacionista” “viria salvar” as
instituições republicanas carcomidas pelas oligarquias. A população também
começava a fervilhar do caudilho indignado com aqueles que “consideravam
tiranos e exploradores”. O movimento também se alastrava pelo interior.
Naqueles dias, os tambores tocavam para homenagear Oxum, a deusa das
águas,
devendo suas comemorações prosseguirem nos dias
seguintes, com a festa de Santa Bárbara ou Iansã, orixá dos ventos e das tempestades.
Quando ressoou o berro de batalha, “Quebra!”. -
Num golpe de mestre, a oposição
conservadora simbolicamente representada pela Liga dos Combatentes, jogou com
os valores de Malta.
Era um homem católico,
sendo ele um grande afeiçoado a implantação do Bispado na capital alagoana,
porém freqüentador de terreiros de candomblé. O que era muito bem camuflado, e
moralmente condenável. Descobrindo isso, a oposição lançou aos quatro ventos a
notícia de que Euclides mantinha essas práticas, levantando a ira da Igreja, que
possuía poderosa opinião, como também da população, que invadiu as casas e
terreiros, quebrando tudo, aconteceu o histórico “Quebra de 1912” , foi
inquestionavelmente um ardiloso plano político.
O terreiro de Tia Marcelina era um dos mais velhos da capital alagoana,
e um dos mais visitados pelo governador, no auge da campanha de perseguição,
que contra ele apontou seus oposicionistas. Era exatamente o terreiro de Tia
Marcelina que trabalhava noite e dia
para fecha seu corpo para livrá-lo dos oponentes que almejavam tirá-lo do poder. Também foi precisamente nesse
terreiro que um santo teria surgido na cabeça de Tia Marcelina informando que
Clodoaldo da Fonseca seria seu adversário.
Nos anos de 1910 a 1911, ao anoitecer de
todos os sábados, não se podia cair no sono serenamente, os batuques ecoavam em
algumas ruas de Maceió, esse som ritmado, característica principal dos batuques
africanos, vinham de vários terreiros; frisando que em Maceió e no interior
(Santa Luzia do Norte, Atalaia, dentre outras) existiam cerca de 50 Casas Afro.
As batidas dos tambores dos terreiros que
ecoavam por toda a Maceió, do Farol a Bebedouro, passando pela Pajuçara e
Levada, pareciam mais uma afronta à religião oficial, como também, toavam como
uma provocação ritualista que parecia fortalecer mais ainda o poder
oligárquico. Alguns pesquisadores atestam que Euclides freqüentava os Terreiros
de Xangô para fechar seu Corpo. Daí pode-se ver o misticismo ou até a dualidade
euclidiana, onde o mesmo como católico rezava para todos os santos, como também
pedia proteção aos “orixás”, no entanto, toda esta questão mística, estava
vinculada a manutenção do seu domínio.
Euclides Malta, figura carimbada no que se
referia a não deixar brechas que pudessem colocar o seu governo em xeque; ao freqüentar
tanto a Igreja como os Terreiros, quis agradar a gregos e troianos. No âmbito
católico rezava para os santos, exaltava o catolicismo e, com isso agradava uma
parte da tradicional sociedade alagoana; ao ir aos terreiros, mostrava a sua
simpatia à religião afro-brasileira, pedia proteção aos orixás e afagava a
parte marginalizada da sociedade, em suma, um joguete político-mistico de
manutenção do poder.
As casas de Xangô eram
marginalizadas pela grande maioria da população. O país que saiu a pouco do
processo de abolição ainda se mostrava fechado no reconhecimento da participação
negra dentro do processo de formação socioeconômica e cultural do país.
“É
imperdoável falar da composição racial e da cultura maceioense e esquecer
presença negra. Apesar da vocação portuária comercial, Maceió teve o papel
vanguardista de agente da urbanização tardia de Alagoas e esteve plenamente
inserida na formação da chamada civilização senhorial em função dos engenhos
que obrigava em
território. Em conseqüência, o elemento africano aqui estava
no coração da cidade, nos distritos, nas fazendas. Na região Norte, em Ipioca,
e mesmo na região laguna, algumas unidades de fabricar açúcar faziam parte de
uma economia. Eram engenhos como Garça - Torta, dos familiares de Floriano
Peixoto, e Boca da Caixa. (...) Era tão forte que o numero de escravos excedia,
na metade do século XIX, em mais de 12 % da população livre.” Enciclopédia dos
Municípios de Alagoas.. Instituto Arnon de Melo, 2009. p. 370.
O povo que via como
maléfica/satânica a influência dessas Casas, as adjetivavam com rotulações
impróprias como: antro de demônios e prostitutas, feiticeiros (as) e bruxos (as) dentre outras
coisas. Estas rotulagens nos mostram a falta de conhecimento e respeito aos
rituais que ali eram praticados. Estes locais como já foi dito, foram atacados
e destruídos, tudo quebrado, as mães e pais de santo presos como se fossem
animais em nome de uma dita tranqüilidade. Atrevo-me a rotular este episódio,
como a fina flor do racismo, de tão grande ato de intolerância e incapacidade
mental, moldado pelo oportunismo oposicionista, que a muito tentava chegar ao
poder e quando se via tão perto do mesmo, não poupava esforços e sobrepunha a
tudo e a todos que estivessem em seu caminho.
O Quebra-quebra marcava
o termino de avelhantadas tradições das casas de culto maceioenses e cidades
interioranas. Tornava institucional o terrorismo político-religioso nos moldes
de uma verdadeira caça às bruxas, uma inquisição em tempos modernos. Uma
ditadura nos vieses dos anos de 1964
a 1985, com prisões, torturas, delações, interrogatórios
ardilosos de uma força policial que já dava como certo a queda de Euclides
Malta.
A conservação de poucas
peças e a destruição da maioria dos objetos de culto, sendo os mesmos,
queimados em via pública, marcava mais um episódio infeliz nas velhas páginas
amareladas ou até avermelhadas (de sangue), a qual foi moldada nossa história.
O “Xangô rezado de baixo”, ou seja, sem barulho de seus atabaques foi a única
saída para não atrair mais a atenção daqueles que os perseguiam em 1912.
Para selar
definitivamente a saída de Euclides Malta do poder, ocorreu o episódio da morte
do jovem advogado Bráulio Cavalcante, o mesmo foi morto por estar discursando
em praça publica contra o governo, o Tenente Brayner manda-o parar, mas Bráulio
sem dar trela à ordem continuava a discursando, o militar enlouquecido por ver
que sua autoridade estava sendo colocada em prova, mandou o pelotão abrir fogo
contra os oradores. Gritos, vários feridos e Bráulio estendido ainda agonizando
cravado de balas, enquanto a multidão recompunha-se e atacava novamente o
Palácio do Governo.
Após a deposição de
Malta, subia ao poder Clodoaldo da Fonseca e Fernandes Lima, dando continuidade
à cadeia oligárquica no poder. Mas agora com um novo rosto e um novo formato.
Pois Clodoaldo significava um ponto entre as oligarquias que saiam e as outras
que subiam ao poder, onde tinham como mentor, a figura de Fernandes Lima. E
novamente o povo era deixado de lado. Daí
se podia observar, com maior exatidão, que não houve após a queda de Euclides
Malta a política no sentido de “Rancière”, ou seja, é a reclamação da parte dos
que não têm parte, e, por isso, constitui-se em dissenso. Então
por esse contexto, aqueles que vivem e praticam a política se distinguem por
regular outros movimentos, contrários, impondo a esses determinados
questionamentos, o qual vai a partir dessas questões, desenvolver o conflito.
Impor esses questionamentos não expressa ter êxito, ser o vencedor; antes,
significa criar um campo especifico, o qual o adversário é obrigado a mover-se.
É obvio que o adversário, em sua movimentação, vai tentar se livrar dos
argumentos postos a ele. Nesse intercambio, desigual, estrutura-se o próprio
conflito, ou o jogo sacana da política. Por conseguinte, por essa concepção
abre-se uma brecha para sua permanente reinvenção, no que se refere ao sentido
que toda proposta, e sua resposta, consigam sair do campo anteriormente
demandado, criando um novo campo, em si mesmo, uma nova qualidade dos atores
políticos e históricos. RANCIÉRE (1996, [?])
Conclusão
Segundo o
historiador Douglas Apratto Tenório, a metamorfose das oligarquias, acontecida
quando da passagem do período imperial para o período republicano, continuava a
se repetir quando na emergência das “salvações”, da queda dos Malta, da também
longa era de Fernandes Lima e de seus sucessores rebeldes, Costa Rego e Álvaro
Paes, galhos de um mesmo tronco. Há uma variável comum em situações políticas
diferentes, com famílias proeminentes incrustadas no leme do poder, mesmo no
movimento salvacionista que produziu a queda dos Malta. Há conflitos internos,
disputa de interesses pessoais ou de grupos, rompimentos, alianças, uniões,
paradoxos. Os Maltas passaram, erroneamente, a simbolizar a única oligarquia da
História alagoana. Na estrutura de poder, estavam os mesmos grupos, as mesmas
famílias continuavam a ter o domínio das decisões governamentais e acesso
privilegiado aos eventuais detentores do poder. Estes eram consultados e
atendidos nas questões fundamentais. O patriciado Rural, sobretudo, o ligado ao
açúcar, detinha o controle do processo político. Assim sendo, o fenômeno
oligárquico em Alagoas é bem mais complexo; não se reduz apenas na observância
de indivíduos ou grupos familiares que governaram indiferentemente o Estado, tem-se
que analisar as distintas alterações ocorridas no âmbito social que saiu de um
sistema agrário isolado para um bem acanhado urbano industrial. Todavia,
fazia-se de vital importância apreciar e analisar mais vastamente o processo de
formação histórico-social de Alagoas. TENÓRIO (1997, 130/31).
Vê-se, então, com profundo desanimo e grande
tristeza, que a política, ou melhor, a politicagem em nosso país e, visando o
objeto deste trabalho, mais especificamente, em nosso estado vem de longe. De
uma cultura corrompida, baseada no favorecimento dos detentores do poder, bem
como dos que tinham acesso a estes. Infelizmente, tudo isso, em detrimento dos mais pobres, que suportavam
e ainda suportam
todas as cargas
decorrentes dos -desmandos e da incompetência dos
gestores públicos. - Talvez seja por isso, que não é necessário em nosso país
continental a existência de catástrofe naturais, pois, os gestores públicos e
seus fieis seguidores fazem este papel.
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Rezado Baixo: Um Estado da perseguição aos Terreiros de Alagoas em 1912. Rio de
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Visitado durante os meses de abril a maio de 2011.
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