sábado, 18 de fevereiro de 2012

Artigo - Dário Augusto- 100 anos do Quebra em Alagoas.


O artigo foi elaborado com base em meu tcc.
Maceió (1920-1940)






ALAGOAS NOS PRIMEIROS MOMENTOS DA REPÚBLICA À ERA MALTINA


RESUMO: O objetivo principal deste trabalho é estudar Alagoas nos primeiros momentos da República (1900 a 1912), tentando, com isso, mostrar a capacidade de sobrevivência das elites agrárias que resistiram à passagem do regime monárquico para o republicano, salientando, com tudo, alguns ajustes e adaptações feitas para a realização desta passagem. O contexto do novo regime foi moldado e regado pelos donos do poder que perduraram como verdadeiros parasitas do sistema, que em seu primeiro momento não existiu, no tocante as práticas democráticas atreladas a Cidadania, essência primordial deste regime.

Palavras - Chaves: República, federalismo, política, militares, oligarquias, direitos do Cidadão, Malta, salvacionismo e Quebra - quebra. 



Trata-se [...] de captar o poder em suas extremidades, lá onde ele se torna capilar; captar o poder nas suas formas e instituições mais regionais e locais principalmente no ponto em que, ultrapassando as regras de direito que o organizam e delimitam, ele se prolonga, penetra em instituições, corporifica-se em técnicas e se mune de instrumentos de intervenção material, eventualmente violentos.
( FOUCAULT, Michel. Confession of the Flesh).



A Primeira República, também conhecida como República Velha, teve dois períodos distintos: a República da Espada (1891-1894) e a República Oligárquica (1894-1930), onde o poder ficou centralizado e dirigido pelas oligarquias cafeeiras de São Paulo e Minas Gerais. -O movimento federalista e liberal, desconfiadamente irmanado às promessas igualitárias que a plebe urbana cultivou, preparou a ideologia republicana, mas não fez a República nem venceu no dia 15 de novembro. Sobre esta concepção edifica-se a força política dos coronéis no nível municipal e das oligarquias nos níveis estadual e federal. O papel central emprestado aos direitos individuais, deixando de lado a preocupação com o bem público, ou seja, a virtude pública ou cívica que estava no cerne da ideia de República.

E é com “jogo” de tradicional com a modernidade que a república se consolida em Alagoas, sendo perpetuado em seguida pelo genro do Barão de Traipú, Euclides Malta, numa rede “perfeita” que os governantes que o antecederam teceram.
Euclides Malta, natural de Mata Grande, pertencia a uma família com posses, mas sem tanto prestígio. Formou-se “Bacharel” (praga do bacharelismo) em Direito e trabalhou como promotor em Atalaia, conselheiro municipal, intendente de Penedo, Senador. Chegou ao poder graças à ajuda de seu sogro, o Barão de Traipú, num período de grandes transformações socioeconômicas no país, onde o mundo rural ainda se sobrepunha ao urbano, em que o liberalismo ainda com ares de oligarquia era o retrato da política feita no Brasil, com a Proclamação da República.
Foi deputado constituinte estadual e federal e governador três vezes. O primeiro mandato de Euclides Malta vai de 1900 a 1903, constituindo-se no início de uma longa caminhada de predomínio da oligarquia maltina no poder executivo do Estado. Euclides seria sucedido pelo seu irmão, Joaquim Paulo Vieira Malta (1903-1906), e retornaria para exercer mais dois mandatos seguidos (1906- 1909, e 1909-1912). O predomínio dos Malta só chegou ao fim, no início de 1912 com a famosa quebra dos terreiros.
Como espaço de produção simbólica, a nomenclatura “Bacharel” compreendia em seu seio, naquele período, dentro do imaginário popular, adornos de poder. A elevação dos bacharéis se fazia velozmente, em âmbito político, em especial, no âmbito no social.
 O reinado de D. Pedro II foi o indicador, de alterações na fisionomia brasileira,  começou o “romantismo jurídico” no Brasil,  que até então mais era governado pelo bom senso dos velhos do que pelo senso jurídico dos moços.
Todavia os bacharéis não surgiram no Brasil com D. Pedro II, mas sim nos séculos XVII e XVIII, graças ao empenho dos padres aos cursos de latim, em Salvador, mais precisamente nos pátios da Companhia. Já se encontravam notáveis bacharéis, como Gregório de Matos e seu irmão Euzébio, no entanto, o bem conceituado titulo de bacharel e doutor veio se moldando e tomando corpo em meios urbanos, mesmo nos rústicos, desde o começo do Império.
Na República já se tinha uma nova geração de bacharel, cuja essência estava vinculada ao período abolicionista e anteriormente a Independência. Este novo gênese não era mais aquele moldado e atrelado a Casa-grande, não pelo filho doutor nem mesmo pelo genro de origem humilde, mas sim, pelo bacharel estranho que se impunha contrario as praticas pré-estabelecidas, entrava em atritos com a sociedade patriarcal rural e com os fidalgos burgueses dos sobrados.
 Contudo, Euclides Malta foi uma das poucas exceções dessa nova roupagem de bacharéis, apesar de possuir alguns caracteres destes, Malta foi um produto genuíno da Casa-grande (apesar de sua família não ter tanto prestígio), uma erva daninha que subiu ao poder por intermédio de Traipú. O seu amor bizantino aos livros pareceu, muitas vezes, através do penhor da sabedoria e indício de superioridade mental, assim como, o anel de grau ou a carta de bacharel. É digno de nota, o valor exagerado que é dado a esses símbolos concretos. As organizações, além de elaboradoras de bens e serviços, eram também, e principalmente, produtoras e reprodutoras de significado na vida em sociedade.
No meio social, a caça por títulos se assemelhava a um predador faminto em busca de sua presa, e ela era estimulada pela manutenção de um status quo ou pela busca de ascensão social, por viés político. Então, o titulo de bacharel, dentro desse contexto social, era um atestado para o exercício do poder. O poder não é uma coisa, uma propriedade que pertence a alguém ou alguma classe; não existem, de um lado, aqueles que detêm o poder (dominantes) e, de outro, aqueles que a ele estão submetidos (dominados). Na realidade, “o Poder” não existe, existe sim, práticas ou relações de poder. Logo, o poder é algo que se exerce, que se efetua, que funciona em rede e que, portanto, deve ser entendido antes como uma tática, manobra ou estratégia do que como uma coisa, um objeto ou bem.
Os versos simplórios de Patativa do Assaré, bem exemplifica esta questão de status, atrelado a um diploma.
“Seu dotô que é da cidade
Tem diproma e posição
E estudou derne minino
Sem perde uma lição.”   ASSARÉ (2007, 21)

Ao chegar ao governo estadual, em 1900, Malta construiu um aparato administrativo, seguindo a ideologia de seu sogro, este o segurou no poder por 12 anos. Euclides era a imagem apurada de um verdadeiro líder oligárquico, o qual controlava os coronéis, e se mantinha no poder através de favores que prestava a seus agrupados.
O período maltino se apresentava como uma ruptura à estrutura administrativa no Estado, no que se referia à instabilidade provocada pela República, como também, em âmbito regional. Alagoas, de 1889 até 1900, passou por 17 (dezessete) mandatos, sendo que, 3 (três) deles por integrantes de juntas governamentais, no entanto, no geral, estes mandatos não iam além de poucos dias e alguns meses, pouquíssimos passaram de um ano. 
O impacto da industrialização, no que se referia ao processo de urbanização, gerou algumas modificações estruturais no tocante ao papel de cada ambiente interno nas cidades. Cada categoria de desenvolvimento, de formas de produção social, era claramente a manifestação “condicionada” por viés da ampliação das forças produtivas sob o capitalismo monopolista. Assim sendo, deste ponto de vista, estamos nos referindo ao ambiente como concretização/materialização do modo de produção vigente, no caso o capitalista, e a cidade como uma amostra desta concretização. Lembrando que os espaços em sua totalidade, não eram só urbes, havia uma articulação entre campo e a cidade, visto que o capitalismo abrangia tanto os espaços urbanos, como também o campestre. Todavia as cidades desempenhavam um papel de vital importância, no processo de divisão social do trabalho, pois, ela possuía tanto a quantitativamente, quanto qualitativamente, condições necessárias para isso.
Nesta visão, a cidade deixou de ser o local onde se agrupava toda produção agrícola produzida no âmbito rural, tornando-se o ambiente no qual havia a concentração de toda a produção agrícola, e posteriormente, a industrialização e a comercialização.
O ambiente urbano se diferenciava e se consolidava em espaços residências distintos, as habitações eram padronizadas, por exemplo, de acordo com cada período, padrão (estilo arquitetônico) e/ou elite. No caso de Maceió, segundo o historiador Diceu Lindoso, “(...) o desenvolvimento das condições sociais de vida urbana estruturada (...) se deu em decorrência da criação de uma burguesia (...), enriquecida na prática do comércio de exportação de açúcar
e de madeiras de construção naval, e na importação de bens manufaturados estrangeiros, a que se somavam atividades de agiotagens altamente compensadoras, que preenchiam a nível de uma província a carência de capitais de investimento.” LINDOSO (2005, 78)
Em sua tese de Mestrado, o Professor da Ufal e historiador Osvaldo Acioly, nos deu várias visões sobre o processo de urbanização e mudança ocorridas em terras alagoanas no decorrer do século XIX. Ele citou Theodry Barros de Augusto, no tocante a área portuária do Jaraguá, assinalada por boa parte da historiografia de nosso Estado, como sendo identificador central para o entendimento da modificação da capital, ainda na primeira metade do XIX (1839), como também, seu espaço foi o foco do desenvolvimento urbano maceioense no decorrer do século XIX.
A modificação da Tesouraria da Fazenda Geral, da então cidade de Alagoas, hoje Marechal Deodoro, para a atual capital, nos deu base para verificarmos e ajuizarmos os benefícios e as mais perfeitas e qualificadas dependências, no que se refere às condições de embarque, desembarque e armazenamento dos gêneros importados e exportados naquele período, levando o Jaraguá, a tomar a posição de principal área portuária de Alagoas, destituindo à área praieira do Francês. “Acioly” acrescenta mais a frente no mesmo parágrafo, desde então, alguns historiadores vêm discutindo sobre seu desenvolvimento: Douglas Apratto Tenório indicava como momento inicial de modernização da cidade e, por extensão, do Estado, a segunda metade do século XIX, com a chegada das ferrovias, o aumento dos jornais e dos divertimentos sociais. Craveiro Costa, por sua vez, opina que foi com o advento da República, que a cidade começou a tomar vulto e sair do marasmo de ‘uma ladeia crescida ao abandono do poder publico’. Tudo isso, porque com o novo regime, os municípios ganhavam certa autonomia administrativa e financeira. Para Manuel Diegues Júnior, em seu ensaio sobre a Maceió republicana, e Félix Lima Júnior, em suas crônicas memorialísticas, ambos acompanham, com um tom de saudosismo da velha cidade que se esvaia, a interpretação de Craveiro Costa.” BATISTA (2004, 32)
A verba federal implantada no saneamento estadual teve evidentes reflexos, no aumento da taxa de pobreza, devido às altas taxas de preços, acentuada com as constantes secas e o cortejo de endemias em Alagoas. No entanto, as elites agrárias ou os velhos mandões, que possuíam em suas mãos o destino do âmbito político no espaço fechado do Partido Republicano, tinham uma visão que não se assemelhava; eles eram harmoniosos com a nova realidade e se contentavam simplesmente em vê a velha província como uma imitação simplória dos padrões progressistas europeus.
O programa de governo de Malta voltou-se para melhorar Maceió, embelezando-a e modernizando-a, transformando o ambiente rameiro da capital num contagiante clima de progresso. Ele construiu e reformou diversos espaços culturais, sociais e de utilidade pública: Teatro Deodoro, Palácio do Governo, Tribunal de Justiça, hospitais, cais do Rio São Francisco, em Penedo, entre outras obras. Essas construções deixaram Maceió com cara de imitação cabocla de sociedade européia.  Todavia, só se tornaram visíveis as beneficias no tocante a urbanização da capital alagoana, no final da década de 20 do século passado.
Houve, também, melhoras nas praças que cercavam esta área, melhorias nas ruas e calçamentos e em outros edifícios públicos. Após estas reformas e construções, um novo ordenamento surge no espaço urbano do centro de Maceió: as camadas mais pobres são inibidas (e se inibem) de passar e freqüentar as novas áreas. O coração da cidade de Maceió, resume-se  em dois bairros: Jaraguá e o Centro. As festividades de inauguração não ocultavam o intuito de promoção política.

“Maceió, estuário dos sonhos de grande parte da população alagoana, não oferece a todos suas benesses. O mundo dos despossuídos não estava nos belos sobrados, nem entre os elegantes senhores de fraque, nos costumes refinados importados dos salões europeus.             -        Para maioria da população, a casa de tijolo e alvenaria era algo inacessível”. Enciclopédia dos Municípios de Alagoas. Maceió: Instituto Arnon de Melo, 2009. p.372.

Apesar de todas estas discrepâncias vinculadas aos novos espaços, no tocante a camada mais pobre, nota-se que ao se descobrir a rua e a praça como local de lazer ocorreu uma maior conectividade entre homens e mulheres para troca de idéias, paqueras ou amostra de melhores vestimentas e novidades trazidas pelo vapor do Jaraguá, isto por si só, já demonstrava o status quo de cada individuo.
Segundo o Doutor em História pela UFPE, Douglas Apratto Tenório, no texto confeccionado (trechos também encontrados no livro: a metamorfose das Oligarquias) para ser agregada a Enciclopédia dos municípios alagoanos de 2009, relata que: “o alargamento das ruas, o surgimento das praças onde se reuniram os munícipes, deixando a reclusão de suas casas, bem como a construção do Palácio Floriano Peixoto, do Teatro Deodoro e do Tribunal de Justiça marcaram o ingresso de Maceió na chamada “Belle Époque” tropical, enfim, aos tempos urbanos por excelência.” TENÓRIO (2009, [?])
 A urbanização de Maceió tornou-se algo palpável, no início do século XX, com as modernidades trazidas por Euclides Malta. A cidade foi tomada por novos ares, novas pessoas vindas de outros lugares, as quais foram atraídas pelo espírito urbano, pelas novas oportunidades. Naquela época, Maceió tinha 4 bairros: Maceió, Jaraguá, Levada e o Alto do Jacutinga. Tinha uma população ínfima, se comparada a outras capitais do nordeste, como por exemplo, Recife e Salvador, demonstrando um crescimento nosso em relação a essas outras cidades.
Usando novamente a tese de Mestrado do professor Osvaldo Acioly, com relação a dados angariados sobre a população de Maceió, o mesmo fez um comparativo evolucionista entre as cidades de Salvador, Recife e Maceió, no intervalo de tempo que se compreendeu entre 1872 a  1920 do século passado.

Ano
Salvador
Recife
Maceió
1872
129. 109
116. 671
27. 703
1880
174. 412
111. 556
    -
1890
      -
      -
31, 498
1900
205 . 813
113. 106
36. 427
1910
     -
      -
45. 000
1920
283. 422
238. 843
74, 166





Fontes: FIBGE – Anuário Estatístico do Brasil apud GAREIS, Maria da Guia Santos. Industrialização no Nordeste. Rio de Janeiro: Notrya, 1994; SINGER, Paul. Desenvolvimento econômico e evolução urbana: análise da evolução econômica de São Paulo, Blumenau, Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife. 2ed. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1977; e LIMA, Lúcia Maria Cunha Alves de. Industrialização organização do espaço urbano: o caso de Maceió. Recife, Dissertação de Mestrado em Geografia, 1982, (mimeo); Maceió [verbete] In: Encyclopedia e Dicionario Internacional, Vol II. W. M. Jackson Editor, s/l, s/d, p. 6816. Alguns autores, em especial Craveiro Costa, irão criticar tais dados reclamando das metodologias empregadas nos censos, e chegando a apontar números diversos para o censo de 1900. Estes números, no entanto, não alteram substancialmente o quadro apresentado acima. Cf. COSTA, Craveiro. Maceió. Maceió: DAC, 1981, pp. 191-4; e JOBIM, Hugo. Geographia. In: Indicador Geral do Estado de Alagoas. Op. cit., pp. 30-1. Apesar das diversas reservas indicadas, até onde conhecemos, estes censos são a fonte mais segura para se conseguir informações mínimas acerca da população de Maceió e de seu crescimento no período estudado. Não conseguimos dados para os espaços em branco. In: BATISTA, Osvaldo Acioly Maciel. Filhos do Trabalho, Apóstolos do Socialismo:     os tipógrafos e a construção de uma identidade de classe em Maceió (1895/1905). Recife, 2004. p. 33. 

Baseado na analise do quadro acima descrito, nota-se que apesar de existir uma grande discrepância entre as cidades supracitadas, no entremeio de 1872 a 1920 do século passado, observa-se que na cidade de Maceió, houve um crescimento mesmo que tímido, todavia, que se assemelhava as outras duas capitais. “Aproximadamente, em 1872 a população de Maceió correspondia a quase 1/5 da população soteropolitana e a cerca de 1/4 da população recifense. Até 1920, esta proporção chegaria a aproximadamente menos de 1/4, em relação à primeira, e 1/3 em relação à segunda. No que se refere às taxas de crescimento muito lento numa primeira fase (1872 – 1900), enquanto que numa segunda fase (1900 – 1920) tal evolução se acentuava, principalmente, para os casos de Maceió e Recife”. BATISTA (2004, 34)
No âmbito estadual, as cidades eram distribuídas na esfera populacional. Maceió ocupava a primeira posição, acompanhado por Viçosa e em seguida vinham as cidades de União dos Palmares e Porto Calvo, seguidas por Penedo. Essa duas últimas, juntamente com Viçosa, faziam parte das “cidades mortas”, contando ainda, com Anadias, Marechal Deodoro, Atalaia, Santa Luzia do Norte, dentre outras. As cidades mortas tinham um grande peso social, político e econômico, antes mesmo de Maceió torna-se capital (1839) da antiga Província de Alagoas.
Por fim, Maceió se encontrava em um estágio transitório de transformações simplórias, mesmo com o capitalismo latente, baseado na monocultura, não industrial, que circulava no contexto nacional da época. Não se via quase que totalmente em Maceió o estranhamento do homem com a cidade, do individuo com o trabalho, pois, o - mundo trabalhava dentro da racionalidade do capital, ainda era estranho ao meio, ou melhor, ao ambiente vivenciado por cada criatura que ali povoava. Na sociedade eminentemente rural que conservava, no seu interior, resistências a transformações, o dia-a-dia, vai-se processando como sempre se conheceu. Mas a roda do tempo é a dinâmica e Maceió ia se transformando e aceitando as novidades.
 Porto - circulavam os estivadores. Uma cidade comercial e portuária “reflete bem a condição primeira de Maceió, como a de praticamente todas as principais cidades do país, a de ser uma cidade comercial ligada ao Atlântico, ao comércio pelo mar”. O bairro de Jaraguá teve grande benefício, além do desembarque de mercadorias, havia também o contato com o externo, o “desembarque da modernidade na cidade”. Morar perto do porto passou a ser estratégia dos trabalhadores para conseguir empregos melhores e posições mais altas.
Carroceiros e Condutores - havia muitos carroceiros, segundo Feliz Lima Junior, mais de 100 (cem), que pagavam impostos ao município. Para trabalhar na área, era exigido que o homem tivesse “nome na praça e honestidade”.  Os condutores possuíam maior status, pois era preciso para o trabalho, que estivessem alinhados e recebiam salário fixo, apesar de ter de lidar com todo o tipo de gente nos bondes, de humildes a arrogantes, bem como soldados e outras ‘autoridades’, que nem sempre aceitavam ser cobrados por um simples trabalhador.
Vendedores e Iluminação - estavam por todas as partes, nos principais pontos dos trajetos dos bondes. Pela manhã, vendedores de peixes e sururus, de frutas, legumes e verduras, galinhas, leite e mel de abelha, amoladores de tesoura, funileiros, dentre outros, e no período vespertino, surgiam outros tipos, como negras da costa, vendedoras de vatapá, caruru, arroz de coco, siris, camarões ensopados.
. O comércio maceioense era constituído, em sua maior fatia, por armarinhos e mercearias, tendo como foco maior, a venda no varejo. Secos e molhados, estivas, armarinhos, lojas de calçados e chapéus, de fazendas, drogarias e farmácias, cafés, padarias e confeitarias, alguns hotéis e restaurantes, joalherias e perfumarias, livrarias e papelarias, lojas de ferragens e miudezas, e, claro, dezenas de tavernas e botequins. A maioria destes estabelecimentos era administrada, ao longo de todo o dia, pelos próprios donos, que na sua maioria era de estrangeiros.
Havia os vendedores, além dos mascates, que em sua maioria eram italianos, sendo depois substituídos por nacionais e caixeiros, trabalho com mais status e menos marginal. Para estes últimos, era preciso ter o mínimo de escolaridade: ler, escrever, fazer contas. Isso fez com que os índices de analfabetismo diminuíssem, mesmo que sutilmente, em Maceió.                               Os comerciantes conseguiram uma vitória: o fechamento do comércio às 18h.

                        INDICES DE ANALFABETISMO EM ALAGOAS (1872 - 1920)
    Ano
   Alfabetizado
  Analfabetos
% de analfabetismo
Sobre a população total
    1872
  41. 913
  306.096
   88, 0
    1890
  70.115
  441.325
   86, 5
    1900
  129.563
  519.710
   80, 0
    1920
  144.535
  834.213
   85, 2

Fonte: BATISTA, (2004, 40)

Os números registrados, na dezena dos 80% de analfabetos, para o conjunto da população estão dentro da média do Nordeste para o período. Esta média alta era um indício da situação relativa ao conhecimento formal e ao acesso à escolaridade existente entre os nordestinos. Para Maceió, era de se imaginar, esta taxa deveria ser um pouco menor.
Com a nova decisão de fechar o comércio às 18h, foi preciso outra modificação, ou seja, a luz elétrica que chegou a cidade. Obviamente, esse processo se deu gradualmente, começando pelos bairros mais importantes. A eletricidade, no conjunto da política de iluminação pública implementada na cidade, serviu como instrumento de avanço, tanto no ordenamento social do espaço, como no tempo. Talvez a longo prazo fosse possível dizer que o projeto de “domesticação” da noite, de enquadramento das   práticas realizadas durante esta outra metade do dia, em atividades e ocupações,  favoreciam o bom ordenamento da sociedade.
O discurso dos jornais da época, acerca desta questão, a grosso modo, queria fazer correspondência entre estes dois estados físicos, de iluminação e escuridão, duas representações distintas acerca da população de Maceió, respectivamente, os ricos e os pobres; o bem e o mal; o trabalhador e o vadio; o cidadão e o marginal.
O primeiro sistema de iluminação dos arruados maceioense, na década de quarenta do século XIX (1842), foi idealizado pelo poder Legislativo, que comprou 14 lampiões no valor de 1.507$680 (um conto, quinhentos e sete mil, seiscentos e oitenta reis) tendo como matéria- prima, o azeite da baleia e de carrapato. No final dos anos quarenta do século XIX, informa Craveiro Costa, que existiam 18 lampiões a querosene, que tinham como administrador de serviço, Guilherme José da Graça, contratado pelo valor de 1.298$000 (um conto e duzentos e noventa e oito mil réis), que eram pagos diretamente pelo cofre da província. Todavia, o projeto inicial nesse período, era a iluminação a gás, tinha-se como pretensão maior, deixar os arruados maceioense parecidos com as ruas da Corte no Rio de Janeiro. No entanto, isso ficou apenas em meras pretensões. LIMA JÚNIOR (2001, 41)
É interessante salientar que, Maceió foi à primeira cidade do eixo Norte-Nordeste nos anos de 1880, a ser quase que por total iluminada por querosene. Em 17 de abril de 1887, Argemiro Augusto da Silva realizou a experiência de iluminação à luz elétrica, com magnífico resultado, em sua residência localizada na Rua do Comercio, nº. 299, na qual  funcionou a Fox Presentes.
Por fim, a capital alagoana foi à primeira cidade no âmbito nacional a ter eletricidade.  Não esquecendo a cidade de Campos, no Estado do Rio de Janeiro, contudo, a mesma não possuía tanta importância, pois dentro daquela unidade federativa quem exercia papel de capital era Niterói.
 Marginalização e operários (Tecelões e Processo de trabalho) - à noite na cidade era tomada por aqueles que estavam à margem desse processo. Os marginalizados encontravam-se, principalmente, nos arredores dos grandes bairros. Dizia-se que os maiores responsáveis por isso eram os “forasteiros”, pessoas vindas de outros lugares e/ou do interior para Maceió.Taxados como ladrões, larápios, dentre outras coisas, levando-se em consideração toda estrutura elitista vigente no período.
Várias micro-fábricas existiam em Maceió, bem como pequenos negócios nos diversos setores: fábricas de velas, vinagres, óleos, gelo, cera, sabão, cigarro. Além dessas existiam também as fábricas de tecidos. Não se esquecendo da condição feminina no trabalho, já que não havia muitos registros sobre esta, bem como o trabalho infantil. Sabe-se apenas que eles estavam presentes na produção.


“Não é possível e sequer necessário examinar aqui o pleno alcance das variações geográficas, ideológicas, nacionais, regionais, reais ou potenciais, referentes ao tema da formação das classes operárias de 1870-1914 como grupos sociais conscientes e organizados. Evidentemente, este ainda não era o caso para aquela parte da humanidade, cuja pele era da matriz diferente (como Índia e Japão), mesmo quando seu desenvolvimento industrial já era inegável. Esse avanço da organização das classes não era cronologicamente uniforme.” HOBSBAWM, Eric J. A era dos Impérios (1975-1914).12ª ed..Paz e Terra, 2008. p.187.

Em âmbito nacional, a partir de 1907 iniciam-se greves e manifestações operárias em São Paulo pela jornada de oito horas. É aprovada a Lei Adolpho Gordo, ou Lei Celerada, que permite a expulsão de lideres operários estrangeiros ou a deportação de brasileiros para áreas remotas do interior do país.   


 Higiene, Saúde, abastecimento e moradia - as condições de vida eram precárias, embora a estrutura da cidade fosse “boa”. Com os feitos de Euclides Malta e com o fervor da Bella époque em âmbito universal; a urbanização centrada no núcleo político da cidade, com suas obras monumentais, de grandiosidade que embelezava as praças da Capital, entretanto não ocultava a imundice dos cantos das valas, de poças estagnadas, de sedimentos expostas ao nascer do sol. Nas adjacências próximas aos espaços de maior movimentação, como o Trapiche ou os eixos comerciais de Jaraguá ou do centro, se encontravam os cortiços, onde as famílias viviam subordinadas aos senhorios, onde mesmos cobravam altas taxas de alugueis. Seus habitantes eram serventes, biscateiros, vendedores etc.
Com o aumento da população pobre, o mundo dos barracos se espalhava e com isso, alastravam-se um variado leque de doenças, em virtude da falta de estrutura e planejamento urbano nestas áreas, fazendo com que Euclides ampliasse a obra do Hospital e de atenção exclusiva a esse setor ao longo de sua administração. As doenças e enfermidades não eram só exclusividade de Maceió, elas se alastravam pelas vilas dos interiores alagoano. Moléstias como a febre amarela, gripes virulentas, sarampo, cólera (A obra Alagoas nos tempos do Cólera do Professor Luiz Sávio de Almeida, é uma ótima analise sobre esta enfermidade em terras alagoanas) dentre outras.
Já no litoral e no sertão, havia males como o reumatismo, hepatite, bouba, sífilis, pneumonia etc., e muitas delas poderiam ser evitadas se houvesse o mínimo de cuidado no tocante a habitação e a higiene. No ano de 1908, a varíola fez inúmeras vitimas em Coqueiro Seco, Atalaia, Maceió, União e Colônia de Leopoldina.
No tocante ao fornecimento de água potável, via-se que o serviço não atendia a parcela mínima de pessoas, como também, era de péssima qualidade, pois, não havia, naquele momento, meios para a capitação de capitais, que poderiam ampliar e melhorar os serviços.CATU - trilhos urbanos - (Companhia Alagoana de Trilhos Urbanos) foi fundada em 14 de junho de 1890, com verba, exclusivamente, alagoana de 300,000$000 (trezentos contos de reis), com um  contrato de 50 anos com exclusividade  neste setor.  Sua sede se encontrava na Praça Sinimbu, outros prédios da empresa se localizavam em Bebedouro, Trapiche da Barra, Farol, Jaraguá e Baixinha, próximo ao Bom Parto.
Os veículos tinham como força motriz dois burros, com oito acentos e iluminado por viés de carboneto. Em 1895, a Catu passava seu escritório central para a Rua Sá de Alburqueque.

Segundo Felix Lima os preços eram os abaixo descritos nos anos de 1891 e 1900. LIMA JÚNIOR (2001, 31/33)
Passagem (1891):
De Jaraguá à Praça do Liceu (atual Praça Sinimbu)....$100 rs (cem réis)
Da praça do Liceu a Praça dos Martírios (e vice-versa) ....$100rs (cem réis)
De Jaraguá a Maceió ou Bebedouro (e vice-versa) ...$200 rs. (duzentos réis)
Serviços fúnebres (1891) - Em Maceió não existia automóveis na época,   assim sendo não havia carros fúnebres.
            De Jaraguá ao cemitério (e volta incluída) ... 9$000 (nove mil réis)
            De Maceió ao cemitério ( e volta incluída).... 10$000(dez mil réis)
 Preços da passagem no ano de 1900:
 De Jaraguá a Praça da Libertadora ....$100. rs (cem réis)
Da Praça da Libertadora à Praças dos Martírios $100rs (cem réis)
            Da Praças dos Martírios a Bebedouro $200rs (duzentos réis)
            De Jaraguá a Bebedouro $200rs (duzentos réis)
            Fora do horário para qualquer ponto $300rs (duzentos réis)
            Bondes expressos (1900):
            De Jaraguá a Maceió (e vice-versa) 8$000 (oito mil réis)
De Jaraguá (ou  Maceió) a Bebedouro (e vice-versa) 10$000 (dez mil réis)           
De Jaraguá (ou  Maceió) ao Trapiche da Barra (ou vice-versa) 10$000 (dez mil réis)
           
Os veículos da Catu serviram em dois momentos distintos, como transporte oficial. Primeiro, com a visita, do então eleito Presidente da Republica a Maceió, Dr. Afonso Pena, em 1906. E nos anos de 1910, era carro oficial do Dr. Euclides Malta, Governador de Alagoas
Com a queda de Euclides, e a ascensão de Clodoaldo da Fonseca, em 1912, começou a pressão sobre a Catu, o governador exigiu que a mesma cumprisse com o acordo feito em 1893 a Gabino Besouro, governador do período, no que se referia à criação de linhas que ligassem o Pontal da Barra, Fernão Velho e Jacarecica.
Nada fora feito até um momento. O corpo de diretores da empresa salientou que só poderia atender a este pedido, quando houvesse a mudança de tração animal para elétrica. Isto ocorreu no ano seguinte.
Na primeira República, a economia brasileira desenvolveu-se basicamente graças ao acúmulo de capitais oriundos do setor cafeeiro, associado aos investimentos estrangeiros. Esse período, notoriamente foi acompanhado por inúmeros episódios atrelados aos processos de produção e de negociação do produto. O pacto entre as oligarquias, denominada política dos governadores, deixava nítida a dominação dos Estados mais fortes, São Paulo e Minas (política do café com leite); aquela realidade condizia aos negócios dos fundiários e unia, cada qual com seus interesses, os dois pólos acima citados no topo da cadeia socioeconômica e política do Brasil. Assim sendo, o café era o menino de ouro dos grandes latifundiários.
CATU - trilhos urbanos - (Companhia Alagoana de Trilhos Urbanos) foi fundada em 14 de junho de 1890, com verba, exclusivamente, alagoana de 300,000$000 (trezentos contos de reis), com um  contrato de 50 anos com exclusividade  neste setor.  Sua sede se encontrava na Praça Sinimbu, outros prédios da empresa se localizavam em Bebedouro, Trapiche da Barra, Farol, Jaraguá e Baixinha, próximo ao Bom Parto.
Os veículos tinham como força motriz dois burros, com oito acentos e iluminado por viés de carboneto. Em 1895, a Catu passava seu escritório central para a Rua Sá de Alburqueque.

Segundo Felix Lima os preços eram os abaixo descritos nos anos de 1891 e 1900. LIMA JÚNIOR (2001, 31/33)
Passagem (1891):
De Jaraguá à Praça do Liceu (atual Praça Sinimbu)....$100 rs (cem réis)
Da praça do Liceu a Praça dos Martírios (e vice-versa) ....$100rs (cem réis)
De Jaraguá a Maceió ou Bebedouro (e vice-versa) ...$200 rs. (duzentos réis)
Serviços fúnebres (1891) - Em Maceió não existia automóveis na época,   assim sendo não havia carros fúnebres.
            De Jaraguá ao cemitério (e volta incluída) ... 9$000 (nove mil réis)
            De Maceió ao cemitério ( e volta incluída).... 10$000(dez mil réis)
 Preços da passagem no ano de 1900:
 De Jaraguá a Praça da Libertadora ....$100. rs (cem réis)
Da Praça da Libertadora à Praças dos Martírios $100rs (cem réis)
            Da Praças dos Martírios a Bebedouro $200rs (duzentos réis)
            De Jaraguá a Bebedouro $200rs (duzentos réis)
            Fora do horário para qualquer ponto $300rs (duzentos réis)
            Bondes expressos (1900):
            De Jaraguá a Maceió (e vice-versa) 8$000 (oito mil réis)
De Jaraguá (ou  Maceió) a Bebedouro (e vice-versa) 10$000 (dez mil réis)           
De Jaraguá (ou  Maceió) ao Trapiche da Barra (ou vice-versa) 10$000 (dez mil réis)
           
Os veículos da Catu serviram em dois momentos distintos, como transporte oficial. Primeiro, com a visita, do então eleito Presidente da Republica a Maceió, Dr. Afonso Pena, em 1906. E nos anos de 1910, era carro oficial do Dr. Euclides Malta, Governador de Alagoas
Com a queda de Euclides, e a ascensão de Clodoaldo da Fonseca, em 1912, começou a pressão sobre a Catu, o governador exigiu que a mesma cumprisse com o acordo feito em 1893 a Gabino Besouro, governador do período, no que se referia à criação de linhas que ligassem o Pontal da Barra, Fernão Velho e Jacarecica.
Nada fora feito até um momento. O corpo de diretores da empresa salientou que só poderia atender a este pedido, quando houvesse a mudança de tração animal para elétrica. Isto ocorreu no ano seguinte.
Na primeira República, a economia brasileira desenvolveu-se basicamente graças ao acúmulo de capitais oriundos do setor cafeeiro, associado aos investimentos estrangeiros. Esse período, notoriamente foi acompanhado por inúmeros episódios atrelados aos processos de produção e de negociação do produto. O pacto entre as oligarquias, denominada política dos governadores, deixava nítida a dominação dos Estados mais fortes, São Paulo e Minas (política do café com leite); aquela realidade condizia aos negócios dos fundiários e unia, cada qual com seus interesses, os dois pólos acima citados no topo da cadeia socioeconômica e política do Brasil. Assim sendo, o café era o menino de ouro dos grandes latifundiários.
O federalismo garantiu o predomínio dos interesses regionais, o açúcar, principal produto brasileiro, e o carro chefe da economia alagoana, perdeu seu posto de principal mercadoria de exportação no âmbito nacional desde segunda metade do XIX.
 Chegando o momento da reeleição, Euclides Malta surpreendeu seu grupo político ao anunciar seu irmão como seu sucessor. Provocou uma crise que levou ao rompimento com seu sogro (tentou um levante político, sem grande êxito).  Pouco tempo depois, a aliança entre sogro e genro renasceu, e o Barão de Traipú foi parar no senado.
Euclides repetiu sua aliança com os representantes do seguimento açucareiro, preenchendo as inúmeras lacunas governamentais, moldado nas práticas corruptas vinculadas à sujeira da política dos governadores.
 Euclides manteve sua decisão, ou seja, Joaquim Paulo Vieira Malta governou de 1903 a 1906, através de uma espécie de “golpe”, considerando que a constituição poderia ser reformada, mediante iniciativa da Câmara dos Deputados. Conseguiu, na eleição seguinte, fazer a permuta de poder, ficando no lugar de seu irmão. E parecia que os Malta jamais sairiam do poder.
Esse “bem-estar” provocado pelo novo estilo de vida apresentado pelas ações de Malta neutralizaram a oposição ao seu governo, que não teve outra alternativa a não ser ficar quase que inerte (fraca oposição) esperando até o momento em que poderia se manifestar. Os desafetos políticos que atacavam sua ingratidão para com aquele que garantira sua ascensão política e social. Na sessão do Senado da República em 1° de agosto de 1904, o senador  Bernardo  de  Mendonça  Sobrinho,  que apoiou  a  oligarquia  maltina em  sua primeira gestão,  ressalta a ingratidão de Euclides para com seu sogro o Barão de Traipú, no seguinte tom acusatório:
‘Quem não sabe que se o Sr. Dr. Euclides Malta tem hoje o prestígio que o assoalha, se é feliz, rico, cheio de todos estes requisitos invejáveis por todos os que não se acham na posição de S. Exª deve-os ao Exm° Barão de Traipú. Quem seria S. Exª se não tivesse tido a mão benfeitora do meu honrado amigo e chefe, o Exm° Sr. Barão de Traipú (...) Qual seria a situação de S. Exª se não tivesse esposado a filha do Sr. Barão de Traipú?’.  NEVES (2004, 73)
Por conseguinte Euclides respondeu a essas alusões, com o tom irônico, também em  sessão  do  Senado:
Pois  bem,  Sr.  Presidente,  sou um  obscuro,  não  tenho  linguagem  nobre como o honrado Senador que foi buscar sua origem genealógica em Portugal, na mais remota época da história da metrópole (...) Sou pobre, sou filho dos sertões do Norte, caboclo, si o quiserem, pois não faço questão dessas branquidades... NEVES (2004, 73)

Essas acusações dilatavam o branqueio de reclamações nas tribunas e nos periódicos da época, os quais exigiam uma posição da esfera federal, no tocante ao verdadeiro clima anárquico que se instaurou no Estado, no que se referiu à usurpação dos direitos políticos.
Ficaram mais latentes estes acusatórios sobre Euclides, quando através de uma manobra política bem arquitetada, Euclides se afastou por seis meses antes do termino de seu mandato, aproveitando-se de uma brecha aberta por ele mesmo na Constituição revisada, transferindo o cargo para o Presidente do Senado Estadual, Coronel José Miguel de Vaconcellos, este assumiu, já que o então vice-governador, Coronel Miguel Nunes da Silva Teixeires, amigo de Traipú (na época afastado de Malta), alegando que estava doente e não aceitando assim assumir o Governo.
Os opositores ao poder maltino, tentaram, em vão, ir de encontro à política opressiva de seu governo; Euclides, que passou a ser chamado de “O Corvo da Republica,” (Política pacificadora) os repelia de todas as maneiras.  Vários grupos minoritários remanentes de épocas antecedentes, deodoristas, florianistas, paulinistas, besouristas, duartistas, tentaram-se unir em uma frente dilatada com o Barão de Traipú (ainda afastado de Malta), atraindo assim, o núcleo mais expressivo da oposição, que tinha como líder a figura de Fernandes Lima. Todavia, com reconciliação de Traipu com Euclides e com a posterior ida do Barão para o Senado, gerou uma apatia e a desagregação dos grupos opositores, ficando cada um em seu lugar, cada qual tecendo criticas particulares ao Governo, e pedindo uma intervenção Federal no Estado. 
            A violência estava ocorrendo e gerando vitimas. A crise mais marcante foi o cerrado tiroteio ocorrido em 1º de maio de 1906, entre a força pública e um grupo armado, liderado pelo bacharel Miguel Omena que tinha, como todos os proprietários, seu exercito particular. Esse tiroteio ocorreu no centro de Maceió e o Comandante da Policia, Coronel Salustiano Sarmento, saiu gravemente ferido e vários alferes e soldados do destacamento também.
A campanha civilista tendo como líder Rui Barbosa, balançou o país inteiro, instigou as oposições eternamente vencidas a persistirem em sua luta brutal anti-governamental em cada Estado. O domínio de Euclides sobre o Estado era algo inegável, ele se reelegeu continuadamente.
 Os opositores se valendo das novas condições abertas no governo de Hermes da Fonseca, viram a necessidade de apresentar um candidato. O Partido elencou, para isso, o Coronel Clodoaldo da Fonseca, primo de Hermes. Clodoaldo trazia consigo adornos simbólicos, por ser parente do presidente da República, sendo isto um trunfo importante, como também, sua patente de Militar traria o apoio do Exercito.   Entretanto, ele só aceitaria, decididamente, a candidatura no dia 25 de dezembro no momento estratégico, no qual a oposição se organizava e lutava contra as forças governamentais.
Euclides Malta ainda confiante recusou-se a enxergar o desgaste da política dos governadores. E, por conseguinte não admitiu perde o poder naquele momento. Mesmo com o visível desgaste de seu governo e aos novos ares advindo do Rio de Janeiro que sacudiu toda região Norte/Nordeste (referindo-se aqui a política das salvações).
O processo de separação das oligarquias regionais havia afiançado o fortalecimento e dado base ao sistema federativo, contudo, naquele momento, essa sedimentação era a principal culpada de sua fraqueza, não permitindo, diferentemente do período monárquico (D. Pedro II), que os grupos oligárquicos fizessem uma política de rotação no poder. Este era o principal ponto que estourou no governo de Hermes da Fonseca, ou seja, em cada Estado da Federação aumentava o coro dos descontentes.  
Por iniciativa de Pinheiro Machado, tentava-se criar, apressadamente, o Partido Republicano Conservador, tendo como prisma principal, a aliança da então dissolvida força governamental bem-sucedida no pleito presidencial, todavia que padecia de governabilidade. No entanto, esta união não gerou frutos. Na verdade, as antigas alianças de Minas Gerais e São Paulo a Malta, só fizeram, no momento propicio, o qual lhes interessavam, não se importando, em seguida, as próprias oligarquias de menor porte, que reagiram sem muito ânimo a chamada de Pinheiro Machado.     
No ano de 1911, exatamente em 17 de dezembro, foi montada a Liga dos Republicanos Combatentes que se assemelhavam, a um grupo paramilitar, tendo como líder, o militar reformado do Exercito, Manuel Luis da Paz. Seus lemas eram: “Liberdade, não pede, conquista-se” e “a força é uma lei, um direito, quando há união”. Inspirado nestes lemas, dias apos a criação da Liga, alguns de seus membros invadiram, com armas a tira colo, a residência do intendente da capital Luis Mascarenhas, o qual fugiu com sua esposa pulando o muro do quintal, este fato foi algo que se repercutiu muito nos periódico da época.
Com reforço da guarda estadual governamental, tentava-se evitar a invasão das casas dos adeptos da força oligárquica local. Alguns integrantes da Liga se retiraram para o interior, outros, continuavam provocando e instigando o clima de insurreição urbana. O que se notou naquela ocasião foi um verdadeiro estado de insurreição popular, novos focos de oposição começaram a surgir nos bairros. Acendeu-se neste momento a força dos jornalistas, estudantes, bacharéis, artistas e de discursadores de comício. O Jornal Conservador Gutenberg apontou um espírito nessas manifestações atrelado ao cunho revolucionário, doentio que invadiam a grande maioria dos indivíduos que participavam das mesmas. Essas manifestações tinham adornos e caracteres parecidos à dos sans-culottes de 1789.
O fato é que Euclides, em sua vida política frente ao governo, jamais permitiu qualquer ato contrário ao seu poder. Furioso no calor do momento mandou as forças policias dar fim aos comícios da oposição. Esta que tinha agora em seu corpo partidário e candidato ao Governo, Clodoaldo da Fonseca, que respondeu a ofensiva de Euclides Malta. Os comícios se tomaram verdadeiras lutas armadas, as forças euclidianas eram escorraçadas, passando a ser o foco da contra-ofensiva o palácio do Governo.
Enquanto se prosseguiu a pequena guerrilha, o inspetor do 6º batalhão, General Fábio Fernandes, exigiu de Euclides que aceitasse a troca do policiamento pelo Exercito. Esta exigência tinha como principal temor, que a força policial, mais a frente, não aceitasse mais as ordens de acometimento sobre a população. A força militar incumbida de guardar o Palácio foi desarmada e  Euclides fugiu  para a cidade do Recife com o intuito de recompor seus contatos ali e no Rio de Janeiro.
O clima de vitória da oposição foi visível dentro daquela contexto, porque desabou sobre o governo maltino, um leque distinto e  invariável de pressões, tanto em âmbito interno como externo. Declarando o resultado das lutas, o presidente Hermes da Fonseca propôs que seu primo, Clodoaldo, se retirasse do pleito eleitoral, que  respondeu com avidez não estar “disposto a pactuar com políticas sem moralidade que envergonham a República”. Assim sendo, por sua vez,  Pinheiro Machado conseguiu o afastamento de dois deputados do Partido Democrático, obtendo a maioria na Câmara Federal.
O povo exigiu a saída de Euclides e este não tendo mais o que fazer, pediu intervenção Federal. O Governador rumou para o Rio de janeiro, onde voltou acompanhado com o então recém empossado inspetor da 6ª Região Militar, Olimpio da Fonseca, que não aceitasse o apoio da força policial.  
Em sua essência, muito distinto do que deveria ser o movimento salvinista, que tinha como prisma maior de sua luta as práticas já roídas das oligarquias, assumiu conjecturas incalculáveis, dando uma brecha para novos focos de oposição.  A primeira oligarquia a cair foi a Rosa e Silva em Pernambuco. Pinheiro Machado tentou deter o salvacionismo, mas não teve êxito. Com o movimento da Salvação, os nomes de Clodoaldo para o governo e Fernandes de Lima para vice ganharam mais força. Foram ativados os Centros Cívicos Pro-Clodoaldo e Fernandes de Lima e com isso o seu fortalecimento. O Coronel Delmiro Gouveia ajudou na surdina este movimento.
Lembrando que o movimento de oposição ao governo de Malta ganhou mais alguns adeptos, ou melhor, adeptas. Faziam parte desta frente oposicionista “as cornélias alagoanas”.
O jornal foi uma fonte e uma memória viva da sociedade, embora se diga, comumente, que o jornalismo lida com o perecível, este registra fatos e acontecimentos do cotidiano que estavam presentes na vida do povo. O fenômeno da comunicação verbal e impressa se realizou através da palavra escrita, que adquiriu um sentido mais universal na forma impressa desde a venturosa inversão da prensa gutemberguiana.
O que se pode observar no conteúdo das notas que circulavam nos aparelhos midiáticos, no período maltino, além de criticarem Euclides ou elogiá-lo, se referindo ao processo de urbanização em Maceió, também pode se notar as várias reivindicações da classe operária no início do século, e a “presença dos negros hás três esferas: desenvolvimento de praticas mágico-religiosas, nas páginas policiais e no carnaval.
Colocar o irmão no poder, desrespeitando a Constituição, parecia um jogo complicado, mas Malta soube sobreviver a ele, pois, conseguiu conduzir a imprensa a seu favor, fazendo uma colaboração ao jornal A Tribuna, trazendo para junto de si a opinião de quase todos os veículos de imprensa. Controlou assim a opinião pública, quase que por total, e conseqüentemente, a ação da oposição. 
Contudo, existiu em Maceió, periódicos que mesmo sofrendo as duras penas a perseguição do governo de Euclides, conseguiram imprimir em certo ponto, razoável oposição aquele Governo, cada qual, com seus objetivos e valores. Cito aqui a imprensa operária de inicio do século, por exemplo, O Trocista apareceu em 7 de setembro de 1898 e continuou a viver como um exemplar semanário, saindo quase sempre aos domingos, no período de 5 anos, tendo seu fim  possivelmente no início de 1903.
O Proletário apareceu em 17 de janeiro de 1902, quem sabe tenha sido o Jornal de maior cunho socialista daquele momento e tinha como principal finalidade a divulgação do Centro Proletário Alagoano. Circulava também na capital alagoana, periódicos de outros Estados. O “Aurora Social” possuía grande influencia nos meios dos trabalhadores ativos de Maceió. Surgiu também em 11 de novembro de 1905, os “Martires de Chicago”, que tinha como principal lema: “Não há deveres sem direito, nem direito sem deveres Proletários de todos os países uní-vos”.
Cito aqui alguns dos vários periódicos que circulavam e surgiram da classe operário de nosso Estado, todos preocupados com a melhoria das condições de trabalho e melhores salários dentre outras coisas. Sendo necessário salientar que a grande maioria desses periódicos eram confeccionados em pequenas oficinas, com poucos funcionários.
Fundado pelo jornalista Luiz Magalhães da Silveira, com o apoio do seu irmão, o também jornalista José Magalhães da Silveira, o Jornal de Alagoas se caracterizou desde aquele momento como um periódico oposicionista que, circulando juntamente com o Correio da Tarde, onde os mesmos faziam frente no combate às oligarquias dominantes da época.
A violência era tanta naquele período, que o criador e diretor do “O Jornal de Alagoas”, sofreu um atentado, sendo o mesmo crivado de balas dentro do bonde que rumava para o Bebedouro, na companhia de sua mulher, sua filha e uma sobrinha. As meninas eram menores de idade. O autor dos disparos, por incrível que pareça, foi um Juiz de Direito.
Nessa época, o “Espantalho das Oligarquias”, designação de Luiz Silveira, ficou conhecido – ele estava afastado da direção do jornal por ter assumido a Secretaria da Fazenda do Estado. A reação veio em seguida, uma nota na primeira página do Jornal.
Outro Jornal que combatia os desmandos nos primeiros anos da administração de Euclides era o “Jornal de Debates”, que, com o passar do tempo, foi perdendo espaço e importância, em virtude da criação do Correio de Alagoas, sendo mais tarde criados o Correio da Tarde e o Jornal de Alagoas.
É público e notório, o empenho das bases de sustentação das estruturas, em nosso país, tanto na Colônia quanto no Império, referindo-se aqui aos poderes político e religioso, ambos moldados nas concepções ideológicas do catolicismo, em manter sua dominação em volta da criação de aparelhos organizacionais católicos específicos de homens de Cor (pardos e pretos). Esses aparelhos solviam alguns elementos da cultura ”afro”, como por exemplo, os cortejos e os autos do coração de reis e rainhas de Angola e do Congo. Como também, elegiam representantes cativos ou forros, para servirem como lideranças naqueles meios; isso tudo com o objetivo de manter a ordem pública e a dura repressão
Com termino do regime escravocrata, esses elementos quase perderam sua utilidade com a nova realidade, contudo, tais rudimentos foram de grande importância na edificação da cultura afro (danças, arte, etc.), no âmbito festivo do país, no cotidiano e no imaginário social. O Carnaval de Rua do Recife e Salvador foi um dos grandes exemplos dessa anexação.
            Na Capital alagoana tínhamos os maracatus, em larga escala, no período maltino. Os maracatus abundavam no início do século passado e talvez ainda tenhamos que aguardar o desenvolvimento de futuras pesquisas históricas para melhor a avaliação das razões do seu futuro desaparecimento, após os acontecimentos traumáticos envolvendo as comunidades negras religiosas da cidade, e mesmo do Estado, por ocasião da deposição do então governador de Alagoas Euclides Malta, em 1912.
O fato é que teríamos o desaparecimento progressivo dos antigos maracatus na festa do carnaval da cidade, e nem mesmo outras formas derivadas de participação do que poderíamos denominar de o carnaval negro maceioense. Por “carnaval negro” estamos entendendo a presença afirmativa do elemento étnico na aparição festiva dos grupos sociais afro-descendentes.
A população de Maceió crescia muito timidamente (ver o quadro populacional na página 59 desta Monografia) se compararmos a do Recife e de Salvador.
As duas últimas tiveram um bom crescimento demográfico naquele período e sentiram mais rapidamente o efeito da urbanização (febre da época), do que a Capital alagoana, como também, em Maceió não houve a absolvição dos recém libertos (escravos), em sua população urbana, diferentemente das outras duas cidades supracitadas. Acarretando assim a não aceitação de amostras africanizadas no âmbito populacional, ou seja, a não legitimação da cultura afro no tocante a sua essência étnica. No caso maceioense, a festa de momo continuaria formatando uma modalidade de carnaval que não integraria as formas marcadamente negras de aparição festiva.
Sendo necessário dizer que o líder de um dos blocos (Ciganas Filhas ou Filhas da Cigana) que desfilava no primeiro decano do século XX, era Manoel Inglês, negro, bom cozinheiro, tinha residência fixa na Ladeira do Brito e o principal possuía um Terreiro bastante visitado pela sociedade maceioense da época. O mesmo era possuidor de certo prestigio no meio organizacional no que se referiu aos clubes de carnaval, folguedos populares e participação no Xangô.
 Manoel Inglês fazia parte do grupo que foi com Euclides Malta para a Capital do Brasil (Rio de Janeiro), com o intuito de se tomar Senador Federal. Fazia parte também desta comitiva, a sua estimada família e mais 2 (dois) funcionários pertencentes ao corpo de funcionários do Estado. A presença de Manuel na comitiva provocou muito alvoroço da imprensa opositora.
As noticias nos jornais ridicularizavam a religião negra no Estado, no período em que Euclides Malta governava com mão de ferro, isso foi reflexo do contexto em que vivia o país no período, saindo a pouco da abolição, como também, a imagem do pensamento (dominante), doentio, vinculado a “Cor” que ainda estava em vigor na época. E que perdura até hoje, além disso, a oposição (jogada política) se valeu da aproximação de Euclides a esta “religião”, atacava-a, para derrubá-lo.
 Ulisses Rafael em sua Tese de doutorado nos diz que boa parte das noticias atreladas à questão da religião negra (principalmente Xangô) nas páginas dos periódicos alagoanos do período; boa parte delas estão ligadas a chacota, como também, ao recolhimento dos envolvidos as Casas de Prisões, pois os mesmos,  praticavam uma religião que esta fora do padrão social (uma espécie de modismo ditatorial de dominação religiosa/doutrinaria que era vigente dentro do contexto universal naquele período), ou seja, se não é católica não serve. Outras doutrinas sofreram e sofrem com isso, por exemplo, o espiritismo bastante perseguido, pois não segue os padrões estabelecidos pela nata que move o âmbito religioso mundial/unânime.. NEVES (2004, 185)
Segundo o pesquisador Antonio Daniel, esses tipos de noticias estavam quase que entranhada (como uma traça) dentro das folhas amareladas do Jornal “A Tribuna” no decorrer do ano de 1911. DANIEL (s/d, 4)
Daniel observa que em boa parte dessas notas tinham um cunho conectado à mensagem do “Circulo Esotérico da Comunhão do Pensamento”. No entanto, segundo ele, não se pode assegurar a existência de uma conexão entre essas notas e a prática do Xangô. Por conseguinte, também, não é sabido à existência de amarrações entre este tipo de anúncios e a doutrina do Kadecismo. Todavia, com esse tipo de notas, ficou bem mais claro a afeição por parte do governo para outras tipologias religiosas que não seja só o catolicismo. DANIEL (s/d, 4)
A roda da História não pára, acontecimentos novos surgiam na terra como se renovavam as nuvens no céu ou mudavam as formações de areia com as marés.
Como todo império tem seu fim, a hora do império Malta, no governo de Alagoas, estava chegando. O desgaste estava acontecendo, o modelo “maltino” estava perdendo forças. E essas forças contrárias vinham de fora do Estado, ou seja, do Rio de Janeiro, mais precisamente. As mudanças na República estavam acontecendo, os grupos oligárquicos de outrora estavam perdendo força.
Malta perdeu o apoio de muita gente Brasil afora. O movimento “salvacionista” “viria salvar” as instituições republicanas carcomidas pelas oligarquias. A população também começava a fervilhar do caudilho indignado com aqueles que “consideravam tiranos e exploradores”. O movimento também se alastrava pelo interior.
Naqueles dias, os tambores tocavam para homenagear Oxum, a deusa das águas, devendo suas comemorações prosseguirem nos dias seguintes, com a festa de Santa Bárbara ou Iansã, orixá dos ventos e das tempestades. Quando ressoou o berro de batalha, “Quebra!”. -
Num golpe de mestre, a oposição conservadora simbolicamente representada pela Liga dos Combatentes, jogou com os valores de Malta.
Era um homem católico, sendo ele um grande afeiçoado a implantação do Bispado na capital alagoana, porém freqüentador de terreiros de candomblé. O que era muito bem camuflado, e moralmente condenável. Descobrindo isso, a oposição lançou aos quatro ventos a notícia de que Euclides mantinha essas práticas, levantando a ira da Igreja, que possuía poderosa opinião, como também da população, que invadiu as casas e terreiros, quebrando tudo, aconteceu o histórico “Quebra de 1912”, foi inquestionavelmente um ardiloso plano político.
 O terreiro de Tia Marcelina era um dos mais velhos da capital alagoana, e um dos mais visitados pelo governador, no auge da campanha de perseguição, que contra ele apontou seus oposicionistas. Era exatamente o terreiro de Tia Marcelina que trabalhava noite e dia  para fecha seu corpo  para livrá-lo dos oponentes que almejavam tirá-lo do poder. Também foi precisamente nesse terreiro que um santo teria surgido na cabeça de Tia Marcelina informando que Clodoaldo da Fonseca seria seu adversário.
Nos anos de 1910 a 1911, ao anoitecer de todos os sábados, não se podia cair no sono serenamente, os batuques ecoavam em algumas ruas de Maceió, esse som ritmado, característica principal dos batuques africanos, vinham de vários terreiros; frisando que em Maceió e no interior (Santa Luzia do Norte, Atalaia, dentre outras) existiam cerca de  50 Casas Afro.
 As batidas dos tambores dos terreiros que ecoavam por toda a Maceió, do Farol a Bebedouro, passando pela Pajuçara e Levada, pareciam mais uma afronta à religião oficial, como também, toavam como uma provocação ritualista que parecia fortalecer mais ainda o poder oligárquico. Alguns pesquisadores atestam que Euclides freqüentava os Terreiros de Xangô para fechar seu Corpo. Daí pode-se ver o misticismo ou até a dualidade euclidiana, onde o mesmo como católico rezava para todos os santos, como também pedia proteção aos “orixás”, no entanto, toda esta questão mística, estava vinculada a manutenção do seu domínio.
 Euclides Malta, figura carimbada no que se referia a não deixar brechas que pudessem colocar o seu governo em xeque; ao freqüentar tanto a Igreja como os Terreiros, quis agradar a gregos e troianos. No âmbito católico rezava para os santos, exaltava o catolicismo e, com isso agradava uma parte da tradicional sociedade alagoana; ao ir aos terreiros, mostrava a sua simpatia à religião afro-brasileira, pedia proteção aos orixás e afagava a parte marginalizada da sociedade, em suma, um joguete político-mistico de manutenção do poder.

  
As casas de Xangô eram marginalizadas pela grande maioria da população. O país que saiu a pouco do processo de abolição ainda se mostrava fechado no reconhecimento da participação negra dentro do processo de formação socioeconômica e cultural do país.

“É imperdoável falar da composição racial e da cultura maceioense e esquecer presença negra. Apesar da vocação portuária comercial, Maceió teve o papel vanguardista de agente da urbanização tardia de Alagoas e esteve plenamente inserida na formação da chamada civilização senhorial em função dos engenhos que obrigava em território. Em conseqüência, o elemento africano aqui estava no coração da cidade, nos distritos, nas fazendas. Na região Norte, em Ipioca, e mesmo na região laguna, algumas unidades de fabricar açúcar faziam parte de uma economia. Eram engenhos como Garça - Torta, dos familiares de Floriano Peixoto, e Boca da Caixa. (...) Era tão forte que o numero de escravos excedia, na metade do século XIX, em mais de 12 % da população livre.” Enciclopédia dos Municípios de Alagoas.. Instituto Arnon de Melo, 2009. p. 370.

O povo que via como maléfica/satânica a influência dessas Casas, as adjetivavam com rotulações impróprias como: antro de demônios e prostitutas,  feiticeiros (as) e bruxos (as) dentre outras coisas. Estas rotulagens nos mostram a falta de conhecimento e respeito aos rituais que ali eram praticados. Estes locais como já foi dito, foram atacados e destruídos, tudo quebrado, as mães e pais de santo presos como se fossem animais em nome de uma dita tranqüilidade. Atrevo-me a rotular este episódio, como a fina flor do racismo, de tão grande ato de intolerância e incapacidade mental, moldado pelo oportunismo oposicionista, que a muito tentava chegar ao poder e quando se via tão perto do mesmo, não poupava esforços e sobrepunha a tudo e a todos que estivessem em seu caminho.
O Quebra-quebra marcava o termino de avelhantadas tradições das casas de culto maceioenses e cidades interioranas. Tornava institucional o terrorismo político-religioso nos moldes de uma verdadeira caça às bruxas, uma inquisição em tempos modernos. Uma ditadura nos vieses dos anos de 1964 a 1985, com prisões, torturas, delações, interrogatórios ardilosos de uma força policial que já dava como certo a queda de Euclides Malta.
A conservação de poucas peças e a destruição da maioria dos objetos de culto, sendo os mesmos, queimados em via pública, marcava mais um episódio infeliz nas velhas páginas amareladas ou até avermelhadas (de sangue), a qual foi moldada nossa história. O “Xangô rezado de baixo”, ou seja, sem barulho de seus atabaques foi a única saída para não atrair mais a atenção daqueles que os perseguiam em 1912.
Para selar definitivamente a saída de Euclides Malta do poder, ocorreu o episódio da morte do jovem advogado Bráulio Cavalcante, o mesmo foi morto por estar discursando em praça publica contra o governo, o Tenente Brayner manda-o parar, mas Bráulio sem dar trela à ordem continuava a discursando, o militar enlouquecido por ver que sua autoridade estava sendo colocada em prova, mandou o pelotão abrir fogo contra os oradores. Gritos, vários feridos e Bráulio estendido ainda agonizando cravado de balas, enquanto a multidão recompunha-se e atacava novamente o Palácio do Governo.
Após a deposição de Malta, subia ao poder Clodoaldo da Fonseca e Fernandes Lima, dando continuidade à cadeia oligárquica no poder. Mas agora com um novo rosto e um novo formato. Pois Clodoaldo significava um ponto entre as oligarquias que saiam e as outras que subiam ao poder, onde tinham como mentor, a figura de Fernandes Lima. E novamente o povo era deixado de lado. Daí se podia observar, com maior exatidão, que não houve após a queda de Euclides Malta a política no sentido de “Rancière”, ou seja, é a reclamação da parte dos que não têm parte, e, por isso, constitui-se em dissenso. Então por esse contexto, aqueles que vivem e praticam a política se distinguem por regular outros movimentos, contrários, impondo a esses determinados questionamentos, o qual vai a partir dessas questões, desenvolver o conflito. Impor esses questionamentos não expressa ter êxito, ser o vencedor; antes, significa criar um campo especifico, o qual o adversário é obrigado a mover-se. É obvio que o adversário, em sua movimentação, vai tentar se livrar dos argumentos postos a ele. Nesse intercambio, desigual, estrutura-se o próprio conflito, ou o jogo sacana da política. Por conseguinte, por essa concepção abre-se uma brecha para sua permanente reinvenção, no que se refere ao sentido que toda proposta, e sua resposta, consigam sair do campo anteriormente demandado, criando um novo campo, em si mesmo, uma nova qualidade dos atores políticos e históricos. RANCIÉRE (1996, [?])
   
Conclusão

Segundo o historiador Douglas Apratto Tenório, a metamorfose das oligarquias, acontecida quando da passagem do período imperial para o período republicano, continuava a se repetir quando na emergência das “salvações”, da queda dos Malta, da também longa era de Fernandes Lima e de seus sucessores rebeldes, Costa Rego e Álvaro Paes, galhos de um mesmo tronco. Há uma variável comum em situações políticas diferentes, com famílias proeminentes incrustadas no leme do poder, mesmo no movimento salvacionista que produziu a queda dos Malta. Há conflitos internos, disputa de interesses pessoais ou de grupos, rompimentos, alianças, uniões, paradoxos. Os Maltas passaram, erroneamente, a simbolizar a única oligarquia da História alagoana. Na estrutura de poder, estavam os mesmos grupos, as mesmas famílias continuavam a ter o domínio das decisões governamentais e acesso privilegiado aos eventuais detentores do poder. Estes eram consultados e atendidos nas questões fundamentais. O patriciado Rural, sobretudo, o ligado ao açúcar, detinha o controle do processo político. Assim sendo, o fenômeno oligárquico em Alagoas é bem mais complexo; não se reduz apenas na observância de indivíduos ou grupos familiares que governaram indiferentemente o Estado, tem-se que analisar as distintas alterações ocorridas no âmbito social que saiu de um sistema agrário isolado para um bem acanhado urbano industrial. Todavia, fazia-se de vital importância apreciar e analisar mais vastamente o processo de formação histórico-social de Alagoas. TENÓRIO (1997, 130/31).
 Vê-se, então, com profundo desanimo e grande tristeza, que a política, ou melhor, a politicagem em nosso país e, visando o objeto deste trabalho, mais especificamente, em nosso estado vem de longe. De uma cultura corrompida, baseada no favorecimento dos detentores do poder, bem como dos que tinham acesso a estes. Infelizmente, tudo isso, em detrimento dos  mais  pobres,  que  suportavam  e  ainda  suportam  todas  as  cargas  decorrentes  dos   -desmandos e da incompetência dos gestores públicos. - Talvez seja por isso, que não é necessário em nosso país continental a existência de catástrofe naturais, pois, os gestores públicos e seus fieis seguidores fazem este papel.



 Refeências bibliográficas


ASSARÉ, Patativa de. Cordel. São Paulo: hedra, 2007.

BATISTA, Osvaldo Acioly Maciel. Filhos do Trabalho, Apóstolos do Socialismo:  -   os tipógrafos e a construção de uma identidade de classe em Maceió (1895/1905).   Recife, 2004.

BRANDÃO, Moreno. História de Alagoas. Reedição. Maceió: Artes Gráficas: typ. Pautação, 1981.

CARONE, Edgard. A primeira República (1889-1930). 3ª ed. Rio de Janeiro – São Paulo: DIFEL, 1973.

CARVALHO, Cícero Péricles de. Formação histórica de Alagoas.  Maceió: Grafitex, 1982.

COSTA, Craveiro. Maceió. 2ª ed. Maceió: Serviços gráficos de Alagoas S/A – SERGUSA, 1981.

COSTA, Emilia Viotti da. Da Monarquia à República: momentos decisivos. 1978-1990.

DAMATTA, Roberto. Carnavais, malandros e heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro. 6º ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.



ENCARNAÇÃO, Maria Sposito B. Capitalismo e Urbanização. 6ª ed. São Paulo: Contexto, 1994.

Enciclopédia dos Municípios de Alagoas. Maceió:  Instituto Arnon de Melo, 2009.


FOARO, Raymundo. Os donos do poder - 1: formação do patronato político brasileiro. 16ª ed. São Paulo: Globo, 2004

FOARO, Raymundo. Os donos do poder - 2: formação do patronato político brasileiro. 16ª ed. São Paulo: Globo, 2004..








Jornal de Alagoas: o jornal de ontem e de hoje na visão de pesquisadores, jornalistas e leitores. 80 anos. Maceió/maio, 1988.

JÚLIO, Enock. Santa Luzia do Norte, junho de 2011.

LE GOFF, Jacques. PROGRESSO e REAÇÃO. In: História e Memória. Campinas: Editora da Unicamp, 1996.

LIMA JR., Félix. Carroças e carroceiros. Maceió: história – costumes. Maceió: FUNTED, Sem identificação de data (folheto de divulgação). In: BATISTA, Osvaldo Acioly Maciel. Filhos do Trabalho, Apóstolos do Socialismo:  -   os tipógrafos e a construção de uma identidade de classe em Maceió (1895/1905). Recife, 2004.

LIMA JR., Félix. Maceió de outrora. ROCHA, Rachel (org). Iluminação publica da velha cidade. vol. 2. Maceió, Edufal, 2001.

LIMA, Antonio Romeiro de. Santa Luzia do Norte: um pouco de sua história. Maceió: Esmal, 2008.

LINDOSO, Dirceu. Interpretação da província. Estudo da cultura alagoana. 2ª. Maceió: Edufal, 2005.

MURILO, José Carvalho de. Os bestializados: Rio de Janeiro e a República que  não foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.

 MURILO, José Carvalho de. A Formação das Almas: imaginário da república no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1990 – 2008.
NADIA, Elza. História do Brasil: da Colônia a República/Elza Nadia e Juana Nunes. 11ª ed. São Paulo: Saraiva, 1988.

NUNES, Vitor. Coronelismo, enxada e voto, São Paulo: Alfa-ÔMEGA, 1975.

O Brasil republicano, v. 2: sociedades e instituições (1889-1930) t. 3 / por Paulo Sérgio Pinheiro... [et.  al.]. – 7ª ed. – Rio de Janeiro; Bertrand Brasil, 2004.

Operários em movimento: documentos para a história da classe trabalhadora em Alagoas (1870-1960) / Osvaldo Batista Acioly Marciel (organizador). – Maceió, 2007.

PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1973.

RANCIÉRE, J.O Desenvolvimento Político e filosófico. São Paulo; Editora 34, 1996.

SILVA, Sergio. Expansão Cafeeira e Origens da Indústria no Brasil. 7º ed. São Paulo: Alfa-Omega, 1986.


TENÓRIO, Douglas Apratto. A metamorfose das Oligarquias. Curitiba: HD livros, 1997.

TENÓRIO, Douglas Apratto. Capitalismo e Ferrovias no Brasil. 2ª ed. Curitiba: HD livros,  1996.

TENÓRIO, Douglas Apratto. In: O Jornal: Alagoas 500 Maceió 2 de abril, de 2000.

VIANNA, Oliveira. Historia social da economia capitalista no Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; Niterói, RJ: EDUFF, 1988. 2v. 

VIANNA, Oliveira. O Ocaso do Império – 3. ed. – Rio de Janeiro: ABL, 2006.

VIZENTINI, Paulo Gilberto Fagundes. Os Liberais e a Crise da República Velha. São Paulo: Brasiliense, 1983.

Referências eletrônicas


FOUCAULT, Michel. Confession of the Flesh, p. 199. In:DANNER, Fernando. A Genealogia do Poder em Michale Foucault . IV Mostra de Pesquisa da Pos-Graduação PUCRS, 2009. Disponível em :
http://www.pucrs.br/edipucrs/IVmostra/IV_MOSTRA_PDF/Filosofia/71464FERNANDO_DANNER.pdf. Dados retirados as 09 hs: 20 minutos, do dia 06 de abril de 2011.

CÉSAR, Bruno Cavalcante. “Bons e sacudidos.” – o carnaval negro e seus impasses em Maceió. [?]. Artigo disponível em :
http://www.ideario.org.br/neab/kule2/Textos%20kule2/Bruno.pdf. Dados retirados no dia 20 de abril, as 14 hs: 00 de 2011.

DANIEL, Antonio Marinho Ribeiro. - Formação do Campo Ideológico no Processo de Satanização do Xangô durante a Oligarquia  dos Maltas, Maceió/Alagoas, 1901- 1912 . Dados retirados do site: http://www.ideario.org.br/neab/kule4/kule4.htm. Visitado no dia  02 maio as 09 hs: 55 minutos de 2011.

NEVES, Ulisses Rafael. Xangô Rezado Baixo: Um Estado da perseguição aos Terreiros de Alagoas em 1912. Rio de Janeiro: - 2004. Dados retirados do site: http://www.ppgsa.ifcs.ufrj.br/doutorado/Texto_completo_46.PRN.pdf. Visitado durante os meses de abril a maio de 2011.





Nenhum comentário:

Postar um comentário