segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012


TCC- DÁRIO



CAPITULO II: DA REPÚBLICA DAS ESPADAS Á REPUBLICA DOS CORONÉIS



            O Manifesto Republicano liderado por Joaquim Saldanha Marinho, ocorrido no dia 03 (três) de dezembro de 1870, foi um acontecimento marcante para a história da campanha republicana. Movimento de inspiração maçônica que fora redigido e aprovado na reunião realizada na casa de Saldanha Marinho, seu primeiro signatário, sem que ninguém lhe contestasse a primazia, visto que era o grande líder dos republicanos.
            Segundo Manuel Diégues Júnior, em um artigo publicado sob título “NOTÍCIAS HISTÓRICA SOBRE A IDÉIA DE REPÚBLICA NO BRASIL” na revista do Brasil (1) que assim referiu-se sobre a natureza do Manifesto Republicano.

“O manifesto foi publicado nas páginas do Jornal ‘REPÚBLICA’, com sede na cidade do Rio de Janeiro, que foi a primeira página do jornal dedicado a (campanha-aquilo é nosso) verdadeiramente política do movimento republicano (...) que deveria triunfar a 15 novembro de 1889.” DIÉGUES JÚNIOR (1939, 14)

            Um dos historiadores mais famosos e conhecidos que também descreve este tema com grande propriedade e domínio do assunto, Reynaldo Carneiro Pessoa assim expressa a sua opinião a respeito da importância de tal documento histórico – o Manifesto Republicano.

“O manifesto é um documento em cujo o conteúdo pode ser encontrada uma cautelosa mensagem revolucionária (...) todos maçons, assim como a maioria dos signatários seguem  os princípios da liberal-democracia e chega à conclusão de que o seu texto é da lavra de Quintino Bocaiúva, Salvador de Mendonça e Saldanha Marinho, todos maçons, assim como a maioria dos signatários.”Site://www.culturabrasil.pro.br/zip/maconarianobrasil.pdf.

                A importância política, ideológica e cultural que assumiria a maçonaria no contexto histórico desde o processo de emancipação do Brasil e durante a própria Proclamação da República é evidente que culminaria com a própria “Questão Religiosa” que teria acontecido anteriormente a Proclamação, demonstrando assim a importância da maçonaria como organização secreta que teria começado a se multiplicar no Brasil no final do século XVIII e como foram importantes para a divulgação e consolidação das idéias francesas do Iluminismo que segundo Emilia Viotti da Costa assim se refere a importância daquele movimento social.

“Os movimentos maçônicos assumiram, na Europa, um posicionamento claramente anticlerical e, no caso do Brasil, era notifica (notória) a analogia (antinomia) entre a igreja e os maçons, dando-se, a partir dai os primeiros passos para a marcha, que durou quase vinte anos, em direção a República.” COSTA (1978-1990, 26/7)
        
            Começou a circular, no Rio de Janeiro, um novo Jornal denominado “A República”, que trazia estampado na primeira pagina o Manifesto Republicano, que foi assinado por 58 personalidades dos diferentes meios, dentre os quais, político, jornalístico e intelectual. Tal documento resgatava as lutas anteriores, o Movimento pro Republica que se caracterizava por sua franqueza ideológica, criticas ao Império, bem como ao federalismo, além da pobreza programática dos partidos políticos estaduais e os partidos republicanos estaduais não se enriqueceram programaticamente.

“O Manifesto Republicano, longo e rebuscado, cheio de citações e sem entusiasmo, levava, ao cabo 58 assinaturas, com somente dois nomes com mais de cinqüenta anos, Cristiano Benedito Ottoni e Saldanha Marinho, único conhecidos nos meios políticos. Seguiam-se uns poucos ex-deputados, Aristides Lobo, Henrique Limpo de Abreu, etc., além de médicos, muitos bacharéis, empregados públicos e   comerciantes. Os militares e os  prelados      estavam ausentes, obscurecendo ainda mais os moços do novo credo. Um Noé viria, em breve, inquietar a paz monárquica, nome quase obscuro, alheio à política: Quintino Bocaiúva. Lafayette Rodrigues Pereira criaria, com o retorno ao Partido Liberal, uma crise, que demonstraria ser nova parcialidade um caminho de ida e volta, entre o radicalismo liberal e os arraias republicanos. (...) o Manifesto transcreve opiniões e irritadas censuras ao poder pessoal. Até ai – nada há de novo.” FAORO (2004, 450/1)

Apesar da grande agitação ocorrida antes e no transcorrer da primeira República o novo regime, reconhecidamente, não trouxe transformação profunda, analise assim realizada levando-se em conta a óptica das grandes massas, especialmente, a massa rural. Vinculadas entre trabalho e riqueza e entre trabalho e cidadania. Com o advento da Guerra do Paraguai entre 1870 a 1890, que se nota a passagem de Estado para Nação em construção, uma busca pela cidadania quer fossem civis, políticas ou sociais. Contudo, o Brasil ainda procurava uma identidade, que só começou a ser sentida com Vargas. o pambate a pobreza, atrela o valor do trabalho; acabando com a pobreza, gerando o desenvolviment
As constatações acima exposta são bem descritas com a citação abaixo:

“É geral, aliás, em toda a nossa evolução nacional, essa sorte de heterocronia entre a marcha territorial da sociedade e a marcha territorial do poder, essa sorte de discordância entre os dois perímetros, o social e o político; de modo que este é sempre incomparavelmente menor que aquele. Grande parte, senão todas as anomalias constitucionais do nosso povo, explicam-se racionalmente por esta grande causa geral. Neste fato – de que, em nossa história e em nosso povo, a expansão geográfica da sociedade tem sido sempre maior do que a expansão geográfica do Estado – é que estão à origem do banditismo, do cangaceirismo, do caudilhismo, do fanatismo, dominantes no seio das nossas populações do interior.” HONÓRIO (1988, 175)

Tendo a monarquia como principal finalidade, D. Pedro II encarnaria o idealismo latino, com as características da verdade, bondade, justiça, bem como na rotatividade dos partidos no poder. Estas tendências separatistas visavam à legitimação do poder real. Dom   Pedro II foi elogiado pelo uso que tinha feito do Poder Moderador para domesticar a caudilhagem rural e exercer um papel centralizador e civilizador.
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“(...) a política silogística de Nabuco, o espírito democrático e liberal diante do poder pessoal de D. Pedro, o ideal republicano e o sentimento nacional, a inexistência antes de 1889 da crença na Republica, mas apenas descrença na Monarquia, o ideal republicano e as classes sociais, indiferentismo das classes rurais, os elementos cultos e a elite política, sua atitude de desconfiança em relação nova ideologia.” HONÓRIO (1988, 175)

Constata-se, então, que nesse período o sentimento mais generalizado não era o da “crença” na República, mas sim a “descrença” nas instituições monárquicas. Não havia generalização de sentimento republicano, quando se deu a queda do Império. Por isso, para Oliveira Vianna, o Manifesto Republicano de 1870, apresentava-se como o maior exemplo de uma política silogística. Observa-se tal posicionamento no trecho a seguir:

“Oliveira Vianna afirma que “o prestigio do ideal republicano se constituiu com o fracasso inevitável do ideal monarquico-parlamentar, ideal dentro do qual se erigiu o edifício constitucional do império em 1824. Afirma, também que: o que há de mais benerito, de mais excelente e fecundo na Monarquia foi conseguido justamente fora dos princípios da Constituição, ou mesmo contra esses princípios, nunca em obediência a eles, ao ideal político contido neles.” HONÓRIO (1988, 175)

            Oliveira Vianna fazendo uma nova referencia ao Manifesto Republicano, atrela ao mesmo o significado de “pura arte de construção no vácuo”. - E o supracitado autor acrescenta: A base são teses, e não fatos; o material ideal e não homens; a situação, o mundo, e não o país; os habitantes, as gerações futuras, e não as atuais. Enfim, ele não apresentava uma estrutura coesa, adequada a realidade vivida.
Quanto ao ideal republicano, sua gênese também se encontraria na queda do gabinete de “Zacarias de Goês e Vasconcelos”3, bem como na cisão do antigo Partido Liberal e sua conseqüente inclinação ao americanismo, além do movimento de aproximação dos liberais exaltados com o ideal republicano. É o que bem relembra as afirmações de “Americo Brasiliense”4 em Os Programas dos Partidos e o 2ª Império. Primeira parte, de que desde 1868, quando se publicou o programa do partido liberal, se instituíram os clubes e as conferencias na Corte, houve uma agitação da bandeira republicana. E em 1870, esta, por sua maioria, resolve aceitá-la.  Para Vianna esta passagem para o ideal republicano também foi devida à crise ocorrida em 1868.
“ (...) Da queda na crise de 1868, quando Pedro II, fazendo uso das atribuições do Poder Moderador, substituiu o gabinete progressista de Zacarias de Góes e Vasconcelos pelo do conservador Visconde de Itaboraí. A fragilidade institucional do sistema, diz Oliveira Vianna, inspirando-se em Joaquim Nabuco, derivava da coexistência de um parlamentarismo sem opinião pública organizada. Na ausência de eleições confiáveis, o chefe de Estado, o Poder Moderador, ficava impossibilitado de consultar a opinião pública para a formação de governos. Estava preso a um dilema: se não interviesse na formação dos gabinetes, um partido se eternizaria no poder, gerando revoltas como a de 1842;(...). Escolhendo intervir, Pedro II atraía a rejeição geral ao Poder Moderador, que foi agravada após a crise de 1868.” 5

            Sendo de vital importância frisar que o ideário liberal se sentiu traído, enganado, boicotado, quase extinto, em suas próprias entranhas, pelos seus defensores ou simpatizantes,  Para reagir a isso, de forma imediata, se fez uma aliança com os progressistas e os históricos conservadores.  José Bonifácio (o moço) descontente com a realidade que estava sendo        -
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3- Político liberal brasileiro nascido em Valença Bahia, de atuação destacada e agitada durante o governo imperial, chegando a estar a frente do Conselho de Ministros do Império. Formado em direito em Olinda, Pernambuco, onde foi professor universitário (1840-1841), e ingressou na política, em pleno auge do Partido Liberal, ao ser nomeado presidente de Sergipe e logo depois do Piauí (1845). Ainda com os liberais no poder, elegeu-se deputado geral (1850) e, reconduzido à Câmara dos Deputados, pela Bahia, foi nomeado presidente da recém-criada província do Paraná (1853), e permaneceu cerca de dois anos no cargo. Elegeu-se deputado pelo Paraná na legislatura (1861-1864), finda a qual entrou para o Senado. Dados retirados do site: http://www.netsaber.com.br/biografias/ver_biografia_c_1624.htm Visitado as 16 hs: 20 minutos, do dia 06 de fevereiro de 2011.
4- Américo Brasiliense de Almeida Melo (São Paulo, 8 de agosto de 1833Rio de Janeiro, 25 de março de 1896) foi o terceiro governador do estado de São Paulo, de março a dezembro de 1891, e primeiro presidente do estado de São Paulo. Enfrentou um período de grandes conturbações em São Paulo. Coube a ele promulgar a primeira Constituição do Estado. Abandonou o cargo antes de completar o mandato.
5- VIANNA,  Oliveira. O Acaso do Império – 3 ed. Rio de Janeiro ABL, 2006. p. 12.

imposta protesta veementemente, e Nabuco de Araújo, no Senado, delatava a degradação e fragilidade do sistema representativo, depois de ter declarado, no Conselho de Estado, que “o rei reinava, contudo, não governava.” Também foi naquele momento, que aconteceu vários protestos contra as fraudes nas eleições. A primeira diretriz da liga/coligação seria moldada de acordo com a visão de Nabuco e Zacarias, com a redução do poder moderador (o rei reinava e não governava).
 Não se cuidava exclusivamente de alforriar o Poder Executivo da aberração dos atos desatinados, se não de entregar aos partidos o “corpo de eleitores”, pugnando de maneira especial, pela melhora do sufrágio, com o discurso maçante, porém irresistível da eleição por viés direto. Com o intuito de se fazer a reforma, advoga-se a extinção da Guarda Nacional e do recrutamento. A descentralização, dentro dos desígnios do Ato Adicional, emparelhada com a maior liberdade da indústria e comércio, emanciparia as forças sociais do calvário que se encontrava - a tutela do governo - com a anulação/quebra, para laurear o projeto da vitaliciedade do Senado.
O manifesto dos contestários espalhava-se por um âmbito quase que virginal. Soldavam-se com esses ideários a bancada progressista e histórica, mediante o penhor das assinaturas de Zacarias, Nabuco de Araújo, Chichorro, Furtado, Dias de Carvalho, Paranaguá, Teófilo Ottoni e Francisco Otaviano. O Partido Liberal agora único e combativo, com Reforma se tornava coeso. Os desacordos internos, vivos desde sete de abril, que percorriam o caminho da Conciliação, pareceriam pacificados, sem o abalo da fé monárquica. O declínio de Zacarias não estabeleceu um antecedente nas relações civis-militares, todavia gerou um bom quinhão de oposição ao poder centralizador. Provocou uma apatia generalizada, no tocante a guerra, combinada/casada com este embate/choque político, cooperou para o surgimento do Clube da Reforma, de 1869, e em seguida a confecção do Manifesto Republicano, exatamente no ano seguinte. Em 1870 surgem vários grupos políticos influentes, no entanto descontentes com a elite política Imperial (os plantadores de café de São Paulo, os militares e os indústrias). Lembrando que os três grupos citados, cada qual com sua individualidade e ideologia, colaboraram para o agitamento que desencadeou o processo de abolição da escravatura, acompanhada por uma decorrência de pensamento denominado a Proclamação da República. 
Com a saída de Zacarias, e conseqüentemente a elevação do gabinete conservador de Itaboraí, gerou espanto/assombro e um grande sentimento de indignação. Não pela interferência do poder moderador, já carcomido, pela crítica opositora, mas sim, pela arrebatada suspensão do liberalismo crescente que tinha seus trunfos. Não se esquecendo que o presidente não ciente do que iria estourar mais a frente, dois meses antes de sua retirada, proferiu que o país não será vitimado por um governo influenciado por uma ala militar. Essa frase possuía em si, certo tom profético, no tocante o que iria ocorrer mais a frente, com a incompatibilidade de ordem estamental monárquica com o Exercito.
 Um fator importante a salientar é que a República estar atrelada com a abolição da escravatura, uma grande transformação social no âmbito nacional. O trabalho escravo no curso de três séculos não possibilitou direitos sociopolíticos.

“Ora, reuni nesta convicção de que o centro já não se achava nas mãos do monarca, débil e quase moribundo; e mais as repugnâncias pelo 3º Reinado; e mais a ação das grandes influências gerais: a desilusão do ideal monárquico, o descontentamento pela Abolição, a relativa difusão do ideal republicano: e é fácil compreender agora as oscilações de Deodoro, a relativamente recalcitrância com que ele cedeu a sugestão e ao arrastamento de Benjamin com a falange dos “cadetes filosóficos”. É fácil compreender também porque o grupo numeroso dos “colarinhos de couro” não quis fazer a contra revolução e aceitou o fato consumado da República”VIANNA ( s/d, 161)

Oliveira Vianna procura o esclarecimento da inclinação do velho regime em alterações nos ideários, a propósito das legitimações políticas, nos resultados da abolição sobre a posição política dos ex-donos, na dilatação do ideal republicano e nas peculiaridades psicológicas e organizacionais dos militares que condicionaram os conflitos com a nata política. Em relação à abolição, o supracitado autor argumenta que feita sem indenização, gerou enorme irritação entre os proprietários contra o Chefe de Estado, bem como contra a própria instituição monárquica. Isto, levando-se em conta, a posição dos senhores donos de escravos. Mas e estes, o que se fez ou restou após a abolição?
Segundo o sociólogo Florestan Fernandes em sua clássica obra “A INTEGRAÇÃO DO NEGRO NA SOCIEDADE DE CLASSE” assim se refere no processo histórico da abolição para os escravos e seus descendentes:



“a Abolição ocorreu sem que se assegurasse ao negro liberto qualquer oportunidade de sobrevivência digna, apenas os libertaram e os jogou a própria sorte. As oportunidades de trabalho eram escassas e a vagabundagem, criminalidade e “incorporação à escória do operariado” traduziam-se como principais expectativas para os negros. A criminalidade tornara-se um caminho “natural” para negros e mulatos, pois, além dos caminhos de auto-afirmarão parecerem bloqueados para os ex-cativos, só o vício e o crime ofereciam saídas realmente brilhantes ou sedutoras de carreiras rápidas, compensadoras e satisfatórias.” 6
            
Com o declínio da monarquia, não se detecta qualquer resquício de sentimento republicano, visto que a descrença na Monarquia não caracterizava que houvesse algum sentido que a ela se opusesse. Pelo contrario, as lascas da política imperial, ainda se encontravam vigente. Mantendo-se práticas políticas imperiais, como cortejo de militares e a sua utilização como instrumentos de uma política partidária.
Assim sendo, trata-se de refletir em que medida o conceito abrangente de “res publica” no sentido etimológico da “REPÚBLICA” que quer dizer ”coisa pública” que conviveu por mais de um século com discursos embora o ideário republicano estivesse presente em vários movimentos sociais no longo da história brasileira, como a “Rev. Pernambucana de 1817”, a “A Confederação do Equador”, a “Inconfidência Mineira” e a “Conjuração Baiana” ou “Revolta dos Alfaiates”.
Caberia se perguntar por acaso se o liberalismo entre nós teria sido apenas uma fórmula mimética e retórica, esvaziada de referencias históricas e sociais, enfim, mera estratégia de ocultação e de dominação.


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6- ANOTAÇÕES SOBRE A ABOLIÇÃO, IMIGRAÇÃO E O MERCADO DE TRABALHO NA REPÚBLICA VELHA. p. [?] José Luis Simões. Dados retirados do site:
http://www.uel.br/grupoestudo/processoscivilizadores/portugues/sitesanais/anais9/artigos/mesa_debates/art16.pdf. Visitado as 08 hs: 05  minutos da manhã, do dia 25 de fevereiro de 2011.

“Vianna associa à culturologia um sistema dicotômico de ver o país: Brasil real versus Brasil legal. O primeiro era aquele constituído pelo povo-massa, bestial e inexpressivo, o qual guiava
sua vida pelo direito provindo dos costumes, mas que apesar de inferior era autêntico. O segundo, elitizado, culto, tendencialmente impregnado pelo liberalismo europeu, construtor dos direitos-leis e inautêntico.” LARA (2010, 96)

É trivial afirmar que no seio do Partido Liberal existiam duas fortes vertentes, uma de cunho radical, ultrademocrática, e outra mais equilibrada e de abrangentes culturas. Na primeira destacavam-se como principais figurões os Ottoni, e na segunda, “Octaviano”7 e Nabuco8. - Nabuco o velho deu a base e os meios para sustentar as tradições do Partido Liberal até os anos de 1889.
Primeira corrente, mais radical, de 68, evolucionava ligeiramente para o novo ideal republicano. Mas, foi a partir de 1870, que se notou a formação necessária, dentro do contexto da época, para a configuração dos signatários do Manifesto de 03 de dezembro. Sendo este manifesto o meio pelo qual o Partido iria credenciar a sua entrada no cenário político nacional.
Em 1870, dava-se o pontapé inicial para uma dita nova fase da historia brasileira, com a transformação do Clube Radical em Clube Republicano, e em seguida, deste em Partido Republicano. As vicissitudes desta nova organização sucedem-se em direção a 1889.

“(...) sua irradiação geográfica antes de 1889; focos de propaganda: imprensa periódica e a sua distribuição no país; outros focos de propaganda: os clubes republicanos. Distribuição destes ao Norte e ao Sul. O Norte e o Sul em relação à expansão do novo idealismo.O ideal republicano e a sua irradiação social. Os campos de   recrutamento dos adeptos. A mocidade das academias.     -     

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7 - jornalista, empenhou-se com entusiasmo nas campanhas do Partido Liberal e tomou parte preponderante na elaboração da Lei do Ventre Livre, em 1871
8 - Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo (Recife, 19 de agosto de 1849 — Washington, 17 de janeiro de 1910) foi um brasileiro político, diplomata, historiador, jurista, jornalista e um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Foi um dos grandes diplomatas do Império, além de orador, poeta e memorialista.


O novo ideal não era o Ideal das classes conservadoras, nem das classes rurais, os positivistas como doutrinadores. O Partido Republicano, esboço de Partido.” HONÓRIO (1988, 174)

A instalação do regime republicano foi o resultado da conjunção de forças da Oligarquia Paulista do Café com o Exército. Instala-se o novo regime, evidenciaram-se, assim, as divergências.
A oligarquia pretendia um regime federativo que lhe garantisse o poder e a defesa dos interesses da importação de mão-de-obra e da exportação de café. Ao passo em que os militares sonhavam com um regime forte, centralizado, até mesmo ditatorial, o qual promovesse o progresso econômico do país pela via da industrialização.
 Entre 1891 a 1894, o Exército manteve o poder em suas mãos. Configura-se ao longo do processo histórico inicial, a arte, a ascendência dos militares dentro do governo republicano recém implantado a “República da Espada”.
A partir de 1894 até 1930, a oligarquia agrária e cafeicultora paulista e mineira  manteve o controle do poder em suas mãos, a denominada República Oligárquica.
Desta singularidade, observa-se no país, a falta de um povo devidamente constituído de alto a baixo. Carece-nos uma hierarquização social, uma conexão entre as classes, a dependência recíproca em geral, uma conexão consensual, pois se vivia em ares modernos. Enfim, uma disciplina consciente de um ideal trivial, de uma unidade caseira, com a ligação ao chão, com a distribuição da propriedade espalhada de forma ampla, existindo o cultivo, a produção autônoma da riqueza nacional.
É o que se vislumbra com o posicionamento de Florestan abaixo transcrito:

“(...) A modernização dependente nunca desencadeou ameaças verdadeiramente sérias à ordem econômica, social e política emergente.  E, de outro lado, o principal efeito desse processo, a modernização institucional, do Estado, coincidia com renovação e o reforçamento de técnicas oligárquicas e autocráticas de dominação patriarcal e patrimonialista, elevada da esfera privada (...) Nesse contexto as “pressões de baixo para cima” não tinham como se transforma em processo políticos consistentes, em escala regional ou nacional. Eles se esgotavam, historicamente, no âmbito local e de categorias sócias limitadas ou serviam de suporte de massas a manifestações ambíguas do radicalismo de facções dos estamentos e racionalmente dominantes. A transição para o capitalismo competitivo do último  quartel do século XIX a terceira década do século XX, começou nos mesmos moldes e seguindo os mesmos rumos No entanto, o envolvimento externo no seios das transformações internas atingiu certas profundidade econômica e cultural, chegando a afetar as bases políticas do poder burguês. A proclamação da aliança “oligárquica tradicional” com os “interesses financeiros   externos” não nos deve fazer ignorar os conflitos desses interesses na economia mundial, suas repercussões nos padrões (...) O fenômeno político profundo neste período, foi a articulação de interesses econômicos internos e externos no mesmo padrão histórico de dominação burguesa, o qual se evidencia tanto na emergência de uma “oligarquia moderna” (exatamente vinculada aos  
interesses comercias industrias e financeiros de “parceiros  externos”), quanto no acordo do café ( que só se tornou visível e eficiente graça a essa articulação) e na freqüente associação da emergente “burguesia industrial” com interesses externos, principalmente financeiros.” IANNI (2008, 165/6)


Diante de todo e qualquer sistema doutrinário, social, jurídico e/ou político, deve-se ter uma atitude sempre pragmática, visto que estes sistemas/doutrinas só valem pelos resultados: se bons, a doutrina é boa; se maus, a doutrina é má. Nunca nos preocupamos em saber se uma doutrina é teoricamente boa. Em regra, toda doutrina, considerada do ponto de vista teórico é boa. Mas, infelizmente, o problema social não pode ser resolvido teoricamente; há de estar atrelado a elementos equacionais e a realidade da vida em sociedade.
Assim seria o contexto histórico do Brasil social, moldado por meio do latifúndio e da acomodação. Provocou, com isso, uma desigualdade, pois em meio a uma pequena nata de retentores e proprietários, encontra uma vultosa parte da população que nada tinha. Com esta discrepância e dualidade, não se podia deixar de mencionar o litoral e o sertão. Vê, então, um paradoxo entre a fina flor intelectual, principalmente, localizada na capital e nas grandes cidades e o grande de número de analfabetos ou incultos que constituíam a nação por toda parte. Era esse o contesto que antecedeu e perdurou na 1ª (primeira) fase da Republica. Que além do seu fogo de palha ou do fogo de artifício dos retóricos e da mocidade, indicadores do empalidecimento da fé monárquica, escorre por duas vertentes, já implícitas nos acenos do Manifesto de 1870. De um lado, a corrente urbana, composta por políticos idealistas e de todas as utopias desprezadas pela a ordem imperial; de outro, tenaz, ascendente, progressiva, a hoste dos fazendeiros.
Por fim, há uma falta de idéias para a alteração do regime.  Se busca criar algo, realizar mudanças sem se ter uma base. As pessoas queriam o fim da monarquia, porque este regime não mais supria as necessidades existentes, visto que o crescimento e as alterações do cotidiano eram mais velozes do que as do quadro político do país. Então, vê-se não uma solução para o problema, mas sim, uma saída para algo que não pode mais persistir.  
Os primeiros momentos do novo regime não produziram correntes ideológicas próprias ou novas visões estéticas, mas sim, por um momento, houve um abrir de janelas, pelas quais circulavam, de forma mais livre, as idéias que antes se continham no recatado mundo imperial. Contudo, - foi uma época caracterizada por idéias importadas da Europa, na maioria das vezes, eram idéias mal absolvidas ou solvidas de modo parcial, resultando em grande confusão ideológica. Liberalismo, positivismo, socialismo, anarquismo, jacobinismo dentre outras, misturavam-se e combinavam-se das maneiras mais esquisitas-excêntricas na boca infernal e pena de cada individuo. Todavia, seria falaz/enganoso destacar as idéias do período como simples desordem ou desorientação. Tudo era sem dúvida, bastante controvertido e altamente complexo.
Mesmo que basicamente de caráter discursivo, as justificativas ideológicas continham também rudimentos que passavam do puro discurso - dentro de um cunho cientifico. Estes rudimentos moldavam paradigmas, métodos de aparelhamento social, que traziam arraigados um caráter utópico.
O jacobinismo procurava idealizar uma democracia direto-clássica, onde haveria a participação da massa, em busca de uma dita cidadania. Enquanto os liberais tinham como utopia maior, o individualismo social, moldado pelo capitalismo pelo viés do mercado. Já os positivistas postulavam uma futura idade do ouro com sua realização em plenitude mítica. A base da sociologia Augusto Comte.
Só nos finais do século XIX, inicio do século XX, é que as idéias socialistas se apresentam melhor definidas nas obras de Higino Cunha, Clóvis Bevilácqua, Tobias Barreto, entre outros, na medida em que se começa a se compreender as diferenças entre as várias tendências do socialismo. É também a partir daí que começa a surgir uma imprensa operária e socialista, com uma maior clareza em termos das reivindicações operárias e das propostas socialistas,  sob a influência da tendência social-democrata e mais fortemente do anarco-sindicalismo. 

“Em outros termos, interpreta mal uma frase de Marx, segundo a qual ideologia de uma época é a ideologia da classe dominante, Com isso, ele desejava afirmar que os conteúdos ético, os valores profundos da consciência coletiva tem sua origem na dominação, pois as criações intelectuais em que se traduzem esses valores só podem ser produto da classe socialmente dominante, que é aquele que  tem acesso aos centros focais da cultura, e servir a seus interesses. Mas não pretendia dizer que não são aceitos, nem transformados (às vezes num sentido mais reacionário) pelas classes dominadas, pois afirmá-la seria negar âs classes dominadas sua posição de subordinação e desconhecer a dinâmica social entre classes.” FERREIRA Oliveira. (2004, 47)

Na proclamação da República, as homilias republicanas estariam atreladas ao circulo vicioso de poder elitista. Cada movimento ideológico engajado na defesa de suas concepções, enfim, em prol de sua elite. Certamente que não seria através dos discursos que haveria o engajamento das camadas populares no campo da politicagem, claro que não, visto que, as massas possuíam uma alta taxa de analfabetismo, o que deixava bem claro que esse vínculo teria que ser realizado através da simbologia.
Os positivistas e jacobinos se empreenderam a essas práticas, dentre as quais pode ser citada, a prática de cantar a “Marselhesa”, bem como, por parte dos republicanos brasileiros.
Deve ser também lembrada a luta dos positivistas pela nova bandeira e pelo regime novo.

“São os valores da cultura que definem, em termos simbólicos, as condições de estabilidade das relações sociais dominantes, traçam o perfil de identidade dos conglomerados populacionais definidos, configuram suas formas históricas, dotando-as de uma individualidade indiscutível. Essa individualidade, que uma população adquire ao longo de sua vida histórica, se expressa como uma mascara, uma idiossincrasia, cuja percepção de seus valores simbólicos faz com que a distingamos de outra populações e possamos dizer, identidade individualidades culturais”. LINDOSO (2005, 30)

A manipulação do imaginário social é particularmente importante em momentos de mudança política e social, em momentos de redefinição da identidade de toda a coletividade.  Os processos de transformação são, com assiduidade, fenômenos de domínio, no desenvolvimento das sociedades. E o controle da mudança, por sua vez, continuamente brota como fenômenos políticos, ele não diz respeito, exclusivamente, ao poder em geral, como poder econômico, social ou cultural, indiretamente político; mas também, ao poder especificamente político. Se for verdadeiro em teoria, a regra aplica-se melhor a tipos de sociedades nas quais a continuidade depende largamente do equilíbrio dinâmico de ordem social, como sucede com sociedade de classes. (...). Nesse caso, o controle social da mudança assume importância equivalente à que possui o controle da estabilidade em sociedades cujo padrão de equilíbrio é estático(...) MURILO (2008, 11).
Todo regime político busca criar seu panteão cívico e salientar figuras que sirvam de imagem e modelo para outros membros da comunidade. Numa série ou sistema de temporalidades sociais, que comumente desígnios de cultura. A cultura é uma realidade que o homem produz por meio de ideações de práticas sociais, e que se reflete em nível de seus referentes como uma composição especial de signos, símbolos, condutas e fazeres, que representam as praticam sociais. Tem então o espaço cultural, que é criado pelas ações dos homens na sociedade, e onde se localizam, num continuo espaço – histórico, os signos, valores ideológicos e condutas produzidas pelas práticas sociais, os quais refletem os desejos políticos.
. Para Lobo, no dia da proclamação o povo, que pelo ideário republicano deveria ter sido protagonista dos acontecimentos, assistira a tudo bestializado, sem compreender o que se passava, julgando ver talvez uma parada militar.
A conjetura ampliada nesse momento é que o Brasil é uma nação em busca de conceito, é como uma nevoa sombria que se movimenta no curso da história moderna em busca de articulação, sentido. Conceber as vidas, no âmbito privado, vinculada ao interesse público, nessa ocasião, era algo muito complicado. Da análise de mitos do pensamento e da cultura brasileiros, conclui-se que os mesmos não são inocentes. Revelam muito do que são as configurações e os movimentos da sociedade, em diferentes perspectivas, em distintos momentos.
A interpretação de Sérgio Buarque de Holanda, em notória crítica ao advento da República, pode ser uma primeira indicação ao assunto: “Como esperar transformações sociais profundas em um país onde eram mantidos os fundamentos tradicionais da situação que se pretendia ultrapassar”9.  A nova realidade judicial republicana, por exemplo, pouco fez no tocante aos direitos da população. A estrutura construída foi feita por viés da ação liberalista imperial. Na verdade o que se observou foi o anacronismo no direito social. Determinadas transformações foram realizadas, como por exemplo, a queda da monarquia.
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9- História da vida privada no Brasil / coordenação geral de coleção Fernando A. Novais; organizador do volume Nicolau Sevcenko – São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 290 - (História da vida privada 3).    

Todavia, essas pretensões federalistas não vinham forjadas por uma dita cidadania política, pelo contrario, enfatizavam mais ainda, ou melhor, forneciam armas e subsídios para ratificar o poder nas mãos das classes dominantes.
A organização socioeconômica do país, politizava, num extremo, as oligarquias oriundas das grandes propriedades territoriais e, noutro, a grande massa de desprovidos. A primeira bloqueava as oportunidades da segunda, mantendo-a alienada, através de laços de dependências a que estava subjugada. Dentro deste quadro, o modelo liberal e democrático criado com a República e afirmado pela Constituição promulgada em 1891 (separando o Estado e a Igreja) na prática não dava ao cidadão comum a liberdade de participação no processo histórico brasileiro. A este era negado o democrático direito de escolher os seus representantes, por meio das eleições, que continuavam sendo controladas pelos velhos mandões, os quais desciam goela a baixo seus candidatos à grande massa, incapaz e impotente, porque estava obrigado a participar do processo político.

“A vida privada do brasileiro apresentava-se distintante sobretudo dos ideais liberais, que serviriam de inspiração para implantar uma esfera pública de forma ainda mais ambiciosa que no Império, a partir da Constituição de 1891” SEVCENKO (1998, 294).

As sociedades de classes (século XIX) como também as sociedades de massas (século XX) sofreram a ação individual da afirmação de uma racionalidade discursiva, que foi absorvida por uma sociedade unitária, levando a uniformização o privado e o público. Assim, “a própria vida pública será associada, sob a forma paródica, com a vida privada ou com elementos da vida familiar intima ou individual; em muitos casos, o público só se  tornará legível mediante a transposição paródica – o que era no fundo, uma outra maneira de torná-lo mais  familiar (clã).  Sendo assim, sua caracterização deve ser feita a partir de estruturas políticas, de dominação; das oportunidades que o sistema político-juridico oferece para a apropriação das possibilidades de mando econômico, social e pertencer a uma determinada classe pode condicionar uma série de ações sociais, visando a alcançar determinados objetivos que são socialmente reputados válidos e dignos de serem obtidos. Esses objetivos possivelmente são diversos daqueles percorridos por indivíduos pertencentes a classes diferentes. Mas esse pertencer pode levar a perseguir os mesmos fins – e geralmente assim é, pois uma sociedade fixa os mesmos valores gerais para seus componentes, pertençam a uma ou outra das classes que a compõe.
Por essas atribuições, no que se refere aos objetivos perseguidos por cada individuo ou classe, ocorre um embate de interesses e um atrito entre as diferentes concepções postas pelos autores (agentes) históricos, sendo estes influenciados por determinadas condições de vivência social, definidas pelo posto ocupado no processo de produção.
Por fim, do ponto de vista dos atores históricos e do limear dos seus destinos na história do país, era dificil pensar numa representação da vida privada republicana que não fosse pela imperiosa necessidade de recriar significados que sempre foram as caracteristicas intrisecas de uma representação cômica ou humoristica do mundo e da vida, em prol de seus interessses politicos e para saciarem suas ambições socio- economicas.
Na fase da Primeira Republica, foram mantidas as condições que havia no período Imperial, condições estas que permitiam a coexistência de “duas nações”: uma que era inserida na ordem social, uma minoria - a classe burguesa; a outra a massa excluída, enfim, não incorporada à ordem civil.
Mas este quadro mudou, pois, os excluídos começaram a obter meios de cobrar a sua inserção no circulo composto por essa minoria, então, diante desta situação, a burguesia deixou cair a sua mascara, visto que se sentiu ameaçada em sua opulência, achou que o “símbolo burguês” estivesse ameaçado. Assim, a saída encontrada foi reagir, e reagir de forma reacionária e ultraconservadora contra os invasores, a massa que os ameaçavam. Tudo isso dentro da melhor tradição do mandonismo oligárquico (que nos sirva de exemplo o tratamento das greves operarias na década de 10, em São Paulo, pura “questões de policia” ou,  quase meio século depois, a repressão às aspirações democráticas das massas.
Houve tentativas de inclusão da classe operária no seio da sociedade, logo após o advento da Proclamação da República. Essas tentativas incluem questões de organização política das classes operarias, por meio de elementos externos ou com a própria inserção da classe.
Teixeira Mendes, ainda em 1889, reuniu operários da União e realizou a discussão de um documento, que tinha uma visão muito avançada para época, pois permitia ao proletariado garantias importantes, dentre elas jornadas de horas, descanso semanal, férias de 15 dias, licença remunerada para tratamento de saúde e aposentadoria etc. Este documento foi entregue a Benjamin Constante, que era Ministro da Guerra e tinha como base ideológica a inclusão da classe trabalhadora à sociedade.
Estabeleceu-se uma disputa entre lideres operários, França e Silva, por um partido liderado pelos próprios operários e o tenente José Augusto Vinhaes, da Marinha, que organizou um partido sobre a sua liderança. O partido liderado por Vinhaes teve como base principal os ferroviários, com incursões com os arsenais e entre os portuários, na qual outro oficial da Marinha, José Carlos de Carvalho, também era influente.
Em virtude da irônica expressão de França e Silva, o tenente Vinhaes se colocava como um “São Gabriel do Governo”, um intermediário entre Deodoro e os operários. Vinhaes teve mais apoio dos operários que França e Silva, se elegendo, posteriormente, para a Constituinte, logo após, se transformou em primeira legislatura republicana.
Na Câmara de Justiça, tenente Vinhaes falou, em diversas ocasiões, em prol do operariado e dos pobres em geral. Ele protestou contra os altos preços, propondo, em virtude desta situação, aumento de salários, além de criticar a ação da policia nas greves  e é claro defendendo a ampliação do voto.
José Augusto Vilhaes se denominava socialista e mereceu de seus adversários a acusação de petroleiro e niilista, o que se equipara hoje a ser denominado de terrorista. Por sugestão sua, o governo introduziu a primeira legislação de proteção ao trabalho do menor (1891), bem como organizou o Banco do Operário e esteve ainda envolvido em diversas greves de natureza política, começando pela dos ferroviários em 1891 e ajudou a derrubar Deodoro. Também deve ser frisada a greve dos estivadores, dos ferroviários e a dos carroceiros, em 1900, além de planejar, em parte, o golpe destinado a derrubar Campos Sales.
A maior conquista do Partido dos Operários foi, sem duvida, ter forçado o governo, através de greve geral, a mudar o Código Penal, especificamente nos artigos que proibiam as greves e as coligações operarias ocorrida em dezembro de 1900. Vinhaes serviu de intermediário entre o governo e os operários.
A República após quase duas décadas, veio então possibilitar a extensão do direito, dando aos cidadãos a oportunidade de intervir nos negócios públicos. Os operários viviam como forasteiros no solo da pátria, e agora viam as condições de reivindicar seus direitos através de uma organização partidária que visava defender seus interesses, por meios de regras do sistema representativo. A reivindicação era reforçada pela afirmação de uma nova identidade para o operário, que embora marginalizado pela “sociedade política”, continuava a ser o principal fator de progresso do Brasil e de todas as nações.
O café era plantado em Minas Gerais, principalmente na Zona da Mata, desde o inicio do século XIX, devido à sua proximidade com o Rio de Janeiro. Com a vinda de D. João, o café se espalhou por quase todo o litoral do Estado do Rio de Janeiro e, posteriormente, no Vale do Paraíba, que se tornou a região mais rica do país. Até cerca de 1880, o vale do Paraíba do Sul constituiu a mais importante área da produção cafeeira do país, o sustentáculo da economia do Império, que se consagrava no consenso geral com a famosa expressão “O Brasil é o Vale”. A região identificou-se no período monárquico, com o símbolo de grandeza social e econômico à base da prosperidade cafeeira. Aí, pela primeira vez no Brasil, veio à plantar e encontrar condições naturais muito propicias, com referência ao solo e ao clima, mais ou menos semelhantes em toda a parte sob as quais, revelou, desde logo, excelente rentabilidade. Contudo, com expansão da cafeicultura, outros gêneros entraram em declínio.
O declínio do café, nessa região, esta atrelado à problemática da superprodução que apareceu nas últimas décadas do século XIX. No ano de 1882, o café alcançava o seu ápice de produção mundial; contudo, com advento da crise nos Estados Unidos em 1893, que era o maior consumidor do produto brasileiro, ocorre, também, a queda no preço da mercadoria no mundo inteiro. O preço médio da saca do café de “60 kg passa de 4,09 libras, em 1893, a 2,91 libras em 1896, e a 1,48 libras em 1899.” SILVA  (1986, 56)
No Governo de Campos Sales, foi adotada uma dura política inflacionaria, nos primeiros anos do período republicano, e, por conseguinte, a rápida desvalorização da moeda. Essa desvalorização é seguida pela inflação, que abre uma brecha para que a classe burguesa cafeeira minimize a queda dos preços. Todavia, esta metodologia (inflacionaria), acarretava vários problemas.
             Ela fazia com que houvesse uma alta de preços nas mercadorias importadas, gerando assim, um aumento gradual no custo de vida naquele período. Outro ponto seria o desagrado de outras classes a este método. Por conseqüência desta política mal implantada e principalmente pela posição difícil que se encontrava o governo, a superprodução e a divida que deveriam ser pagas em libras – levou o governo a adotar outro artifício, a desvalorização monetária e a cobrança de taxas sobre o produto importado, contudo, este artifício não sutil muito efeito, no tocante a queda das cotações internacionais do café. Os limites foram ultrapassados na última década do século XIX, a logística na política nos anos iniciais da República conduziu a um retumbante revés financeiro. A saída foi o “funding-loan”.  Levando em consideração que o “funding-loan” era uma solução provisória. Estava resolvido parcialmente o problema. Faltava agora a solução doutro, “a superprodução”, a partir desse momento dar-se início a uma nova política de “valorização” do café.

“Dessa maneira, a burguesia cafeeira impunha indiretamente ao conjunto do país a política que ela havia definido em Taubaté. O governo central terminou chamando para si a “valorização” para não perder todo o controle sobre a política econômica nacional. A grande burguesia cafeeira mostrava assim ao governo central e ao conjunto das classes dirigentes, a sua rigidez quando se tratava de seus interesses fundamentais.” SILVA (1986, 61)
                       
Não é por acaso que o regime político da Primeira Republica adquire as suas formas definitivas durante esses mesmos anos, com a institucionalização da política dos governadores.
Quando o café ganhava definitivamente as terras ricas do interior de São Paulo, a produção sofre uma aceleração extraordinária, tornando-se o oeste paulista – Campinas, Limeira, Jundiaí, Itu, Sorocaba, Ribeirão Preto – o principal centro produtor e exportador do país e o responsável pela maior peça de recuperação inicial da economia brasileira no século XIX. Sendo a economia do café, responsável pela modernização do país e as estradas de ferro, bem como o beneficiamento do café seriam, progressivamente, mecanizados. Esse contexto foi de vital importância para o declínio do regime escravocrata.



                 PRODUÇÃO DO CAFÉ EM MILHARES DE SACAS DE 60 QUILOS

1841-1850
                                                                                                  17.121
1851-1860
                                                                                                  26.253
1861-1870
                                                                                                  28.847
1871-1880
                                                                                                  36.336
1881-1890
                                                                                                  53.326

Fonte: MAZZEO, (1988, 24)


 A formação da economia cafeeira foi um processo longo e discrepante. Desde suas origens, ela foi cunhada por pessoas que já permeavam de longa data a vida comerciaria. Toda a sua ação estava atrelada aos negócios de produção, distribuição, venda e comércio.  A nova aristocracia foi fundada a partir da obtenção de novas terras e na procura por mão-de-obra, na organicidade e escoamento da produção por via portuária ou por transportes internos.


EXPANSÃO DAS ESTRADAS DE FERRO, DA CRIAÇÃO DAS PRIMEIRAS LINHAS EM 1854, A 1929

       Anos
     Região cafeeira
      Brasil
1854
14,5
14,5
1859
7,9
109,4
1864
163,2
411,3
1869
450,4
713,3
1874
1.053,1
1.357,3
1879
2.395,9
2. 895,7
1884
3.830,1
6.324,6
1889
5.590,3
9.076,1
1894
7.676,6
12.474,3
1899
8.713,9
13.980,6
1904
10.212,0
16.023,9
1906
11.281,3
17.340,4
1910
    __            
21.466,6
1915
    __
26.646,6
1920
    __
28.556,2
1925
    __
32.000,3
1929
18.326,1
32.000,3

Fonte: SILVA  (1986, 147/9)

Os produtores de café eram sabedores da vital importância de ter o governo como aparelho de atuação econômica. Com o advento da República, isso se tornava mais explicito, de acordo com a política federalista, onde existia essa dependência dos meios políticos aos interesses das oligarquias, e tudo isso foi alcançado através do novo regime.

“A economia brasileira, ao instalar-se a República, encontra-se plenamente integrada ao capitalismo internacional através da Divisão Internacional do Trabalho. O modelo agrário-exportador, baseado na monocultura do café, fazia do Brasil um país periférico e dependente do mercado internacional.” VIZENTINI (1983, 12)
Os amplos núcleos urbanos irradiavam para a periferia, o desejo de civilizarem-se. Isto é, copiar o padrão principalmente da França e Inglaterra pela modernização das cidades, seja no ordenamento do espaço com a construção de grandes avenidas, e edifícios condizentes com o ideal moderno de salubridade. Junto a isso, as inovações técnicas cumpriam um conjunto de medidas, cujo objetivo, ou melhor, cujo fim era o progresso e a civilização. E como é mostrada, a capital do Brasil, o Rio de Janeiro veio a ser “o laboratório” de experimentações atestadoras dos novos tempos. Reformas urbanas, trabalho livre, indústria e República, características dos novos tempos, do tempo do progresso.
A “Belle Époque” também foi tempo de conexão. Distintas áreas do mundo partilhavam o mesmo anseio, até mesma euforia: o avanço. Aquisições materiais e tecnológicas, o aumento do comércio mundial e, por conseguinte o advento do capitalismo internacional por círculos impensados. Os ideais liberais e burgueses alastravam-se pelo mundo.
Faz parte da formação da idéia de modernização amparada pelos fazendeiros e industriais que visa satisfazer à necessidade de um maior controle sobre o espaço urbano e a população. É indispensável um plano de modernização que forneça uma infra-estrutura capaz de suscitar o desenvolvimento industrial.

“Cosmopolismo, gerado no Rio de Janeiro, autentica a capital cultural do Brasil na Belle Époque, percorre o país, num desejo de sôfrego da europeização e da modernização.”10

            A velha Republica expressa-se na luz das elites européias, dando um bom encaixe a frase de LE GOLF: “eminentemente ocidental”. Os avanços tecnológicos e científicos, como também na política econômica liberal, na alfabetização, na educação e no democratismo testemunhavam a favor da Europa, especificamente Inglaterra e França. De 1840 a 1890 a ideologia do progresso conheceu o seu maior triunfo, ao mesmo tempo em que economia e  indústria conheceram uma grande expansão internacional. O progresso tornou-se uma necessidade. Para aqueles que viam na civilização européia a própria civilização, importar as idéias era necessário e bem vindo.

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10- História da vida privada no Brasil / coordenação geral de coleção Fernando A. Novais; organizador do volume Nicolau Sevcenko – p. 292 - São Paulo: Companhia das Letras, 1998. - (História da vida privada 3).

É publico e notório que no ano de 1904 do século passado, ocorria a revolta da Escola Militar. É fato que esse episódio foi algo importante dentro da história do país. No entanto, mas significativo (de cunho ideológico complexo) neste mesmo período, foi à revolta popular. O recém presidente Rodrigues Alves ganha de bandeja um abacaxi para descascar de Campos Sales: a política silogística de deflação, que tinha como objetivo o equilíbrio das finanças públicas, com o intuito de buscar satisfazer os caprichos dos países capitalistas, falha,  isto gera drásticas conseqüências as massas alienadas pelo Sistema. Logo após da crise de 1900-1901, dar-se a crise 1904. A alta do câmbio acarreta alto custo de vida (efeito dominó); greves contínuas são deflagradas, o clima era pesado, a violência era o assunto do momento. A atmosfera sombria daqueles dias se intensificou ao passar que o governo do Rio de Janeiro, impõe medidas de higiene e a vacinação obrigatória à população. Não bastando isto, ocorre a destruição dos cortiços, levando várias famílias já sem nenhuma perspectiva de vida, mesmo com a nova realidade (modernidade – República); a ficarem sem um teto para se abrigarem.

                                                     REVOLTA DA VACINA
MORTOS E FERIDOS CIVIS, POR NACIONALIDADE
Nacionalidade                            Mortos                             Feridos                           Total
Brasileiros
                 16
                      48
                         64
Portugueses
                  5
                      12
                         17
Outros estrangeiros
                  2
                       7
                          9
Total
                 23
                      67
                          90




Fonte: Jornal do Commercio, O Paíz, Jornal do Brasil. Levantamento feito por Pedro Paulo Soares. In: MURILO, José Carvalho de. Os Bestializaodos: O Rio de Janeiro e a República que não foi.. São Paulo. Companhia das Letras, 1987. p. 118.       


                                  MORTOS E FERIDOS CIVIS POR OCUPAÇÃO

Ocupação
Mortos
Feridos
Total
Operários em transporte por terra
     4
     9
  13
Marítimos
     1
     4
   5
Outros operários
     7
    11
  18




Subtotal
    12
    24
  36
Não-operários
     2
    10
  12
Sem indicação
     9
    33
  42
            Total                   23                                67                              90

Fonte: Jornal do Commercio, O Paíz, Jornal do Brasil. Levantamento feito por Pedro Paulo Soares. In: MURILO, José Carvalho de. Os Bestializados: O Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo. Companhia das Letras, 1987. p.118.           

Os operários são 70,6% dos feridos e 85,7% dos mortos para os quais existia informação de ocupação; os estrangeiros são 27,5% dos feridos e 31,8% dos mortos. A desproporção pode ser mostrada pelos dados do censo de 1906, que dão para a população total do Rio a participação de 20% de operários (incluindo aí trabalhadores na indústria, no transporte e no comercio e de 26% de estrangeiros). Entre os operários, há a super-representação dos empregados no transporte terrestre – 36% dos operários vitimados -, ao passo que representavam em 1906 apenas 8,7 % do operariado como definido acima.

REPRESENTAÇÕES ENVIADAS À CÂMARA, POR OCUPAÇÃO DOS ASSINANTES, 1904

       Ocupação
             Número de assinantes
Operários do Estado
                 1 187
Operários em Fabricas de Tecido
                   661
Marítimos
                 1 055
Gasistas  e Bombeiros
                   808
Operários da Construção Civil
                   647
Transporte terrestre
                 1 058
Mobiliário
                   704
Outros Operários
                 1 508
Listas avulsas de operários diversos
                 2 493
Total de operários
                10 121
Militares
                   78
Sem indicações  de ocupação
                 4 613
Total geral
                 14 812

Fonte; ANAIS DA CÂMARA DOS DEPUTADOS, 1904 v. IV. P 374-422. 695-7; v . V. p. 13-70; vi . p. 86-114, 169-79. In: MURILO, José Carvalho de. Os Bestializados: O Rio de Janeiro e a República que não foi São Paulo. Companhia das Letras, 1987.  p. 120.
           
A apresentação expressiva de operários em meio ao vitimado era coesa com o que foi visto na revolta. Descrições apreendidas das rogativas mandadas à Câmara elucidavam um pouco mais esta questão. Os mesmos têm como verossimilhança o fato de fazerem frente à política do governo: o primeiro é o das massas populares, desempregadas, alienadas, revoltadas, sem um teto para mora; o segundo agrupado, é o de políticos da oposição, com o apoio dos positivistas, e vinculados aos meios operários; o terceiro é de militares e os discentes das Escolas Militares, também com bases ideológicas no positivismo. Todas iam de encontro à política imposta pelo Governo e reagiam contra a prepotência dos serviços de higiene e o direito do governo de vaciná-los à força. O primeiro movimento deu-se início no dia 12 de novembro e acabava dia 15; os dois últimos tentaram de forma contundente tomar poder no dia 15.
O problema mais grave do governo de Prudente de Morais foi à guerra de Canudos, que ocupou grande parte do período final de seu quadriênio. Canudos foi o maior movimento nordestino ideológico de resistência e um dos mais importantes das Américas. Um movimento que reflete a extrema miséria e opressão das populações marginalizadas dos sertões nordestino. De profunda importância social. Canudos foi dizimado.

“(...) Canudos é um dos movimentos sociais mais importantes da América do Sul e culminou na maior guerra civil do Brasil, depois da Cabanagem no Pará e do Contestado em Santa Catarina-Paraná. O seu conteúdo social e por isto também político não tem sido devidamente avaliado. A guerra liderada por Antônio Conselheiro é o reflexo eloqüente e ao mesmo tempo incompleto (pelo suporte ideológico religioso em que se apoiou) das contradições que existiam naquela época.” MOURA (2000, 22)

Canudos era uma comunidade onde inexistiam diferenças sociais e onde os rebanhos e as lavouras pertenciam a todos. Enfim, Canudos possuía um sistema econômico. Este modelo socioeconômico era uma atração constante para milhares de sertanejos esfomeados, que viam no arraial a possibilidade de viverem livres da extrema opressão dos coronéis e viam no líder espiritual Antônio Conselheiro a salvação da alma. Para as oligarquias, “Conselheiro”, seria um agitador de multidões, um falso herói, um mestiço.

“(...)Desmoralizado demais o viés racista que apontava Antônio Conselheiro como um mestiço – de fato, no seu registro de nascimento ele é tido como pardo – e, por isto, como um desequilibrado, com os desequilíbrios que a mestiçagem proporciona e os camponeses que o seguiam como sendo possuídos de loucura coletiva, as ciências sociais tradicionais ideologicamente subordinadas a estereótipos elitistas e preconceitos de classe     -procuraram outros caminhos “científicos” para explicar a excepcionalidade do movimento e os motivos que determinaram (...)” MOURA (2000, 22).

Antônio Conselheiro, cujo início de suas pregações datava dos anos 1870, não visava  impor uma reforma agrária nem encapava intuito político, apesar de que ele confessadamente
fosse monarquista. Euclides da Cunha salientou, porém, que Antônio Conselheiro “viu a república com maus olhos e pregou, coerente, a rebeldia contra as novas leis.”
A Igreja oficial perdia seus adeptos e os coronéis, sua mão-de-obra praticamente gratuita. Isto eles não poderiam perdoar. E o governo, para atender aos interesses desses grupos e de outras “pessoas de bem”, resolveu exterminar Canudos e massacrar sua população. Foi uma chacina.
A guerra de canudos aconteceu no sertão da Bahia, entre 1896 e 1897. Não foi fato isolado, pois estava ligado as condições econômicas do Nordeste. A estrutura econômica do Brasil funcionava com base no latifúndio, onde predominava a lavoura monocultura, ainda muito precária tecnicamente. Com a modernização da lavoura após a introdução da usina, milhares de camponeses foram expulsos de suas terras. 
O misticismo religioso era outra saída para miséria. As condições matérias e culturais das populações miseráveis levaram a criação de seitas religiosas que justificavam a luta pela salvação. Creio que nesse sentido a religiosidade popular opera contra a oficial.

 “O ambiente de religiosidade e misticismo favorecia o surgimento de beatos e messias, cujas ações reais, modeladas por uma ética de provação, tendiam a chocar-se contra a estrutura de classes da sociedade, tal como aconteceu com Thomas Münzer, que tentou -
organizar, na Alemanha do século XVI, uma completa comunidade de bens e igualdade total, a antecipar sobre a terra o reino de Deus.
Por volta de 1877, ano da grande seca no Nordeste,    -  Antônio  -
 Vicente Mendes Maciel, que como Antônio Conselheiro se      notabilizaria, já peregrinava pelos sertões, a fazer e a arrastar fiéis por onde passava”.11

Para os sertanejos o arraial era a terá prometida. Para a igreja e para os latifundiários era um reduto de fanáticos assassinos que precisava ser destruída para o bem das pessoas de bem. Correndo a notícia da fundação do arraial, logo para lá se dirigiram pessoas de vários estados do Nordeste como do Ceará, Pernambuco, Alagoas, Minas Gerais e até de São Paulo, todos procurando encontrar melhores perspectivas de vida. – Grande massa de camponeses pobres, remediados e mesmo elementos de outras profissões para lá acorreram na ânsia de melhorar o futuro e, ao - mesmo tempo em decorrência da fama de que já gozava Antônio Conselheiro na região. Em conseqüência, o arraial cresce rapidamente num ritmo febril que mais se acentua com a chegada incessante de novos peregrinos que se fixam no local. - as casas são construídas pelos próprios sertanejos (...) uma ocupação planejada do espaço urbano, o que se vê são construções que se espalham ao longo do Vaza-Barris e pelas encostas à semelhança da maioria das cidades brasileiras da época principalmente durante o último ano de vida da cidade, quando cresceu em ritmo vertiginosos (...)” MOURA (2000, 34)
A destruição de Canudos e a morte dos seus defensores, houve a necessidade de se resgatar da penumbra em que esteve até hoje o seu significado político. Movimento social dos mais significativos foi visto ainda ou através de uma manifestação de religiosidade popular, ou como um simples episódio de misticismo no qual as populações sertanejas expressaram os seus sentimentos de fanatismo religioso. O máximo que se costuma destacar nele é a manifestação de heroísmo dos seus habitantes, os quais lutaram abnegadamente até o último homem na defesa de um “falso direito” na expressão de Rui Barbosa.
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11- O sentido social e o contexto político da guerra de canudos. p.2. Disponível em: http://www.fundaj.gov.br/geral/observanordeste/Moniz_05.pdf. Visitado no dia 28 de Março às 14hs: 20 minutos de 2011.

A República dos Coronéis desenhou-se pela primazia das oligarquias rurais na política. Graúdos donos de terras, sobretudo cafeicultores, utilizam seu poder socioeconômico. Campo Sales via função de chefe de Estado a condição de um magistrado supremo e alheio às contentadas partidárias. Para ele, o Legislativo e o Executivo deveriam funcionar harmoniosamente na defesa dos interesses da nação, que deveria ser sempre governada por elementos das famílias ricas e tradicionais. Estas idéias levaram-no a criar uma poderosa máquina política que garantiria a continuidade das grandes famílias no poder: era a política dos governadores ou política dos Estados, que consistia numa troca mutua de favores entre os governantes (oligarquias) e o governo federal.
Muitas vezes, a política dos governadores é erroneamente confundida com a política do café-com-leite. Mas, na verdade, a segunda é um desdobramento da primeira. Para compreender melhor o que foi a política dos governadores é preciso entender a organização político-econômica do Brasil no final do século XIX. - Foi naquele período que o país passou da Monarquia à República, adotando um sistema de governo presidencialista e organizando-se sob a forma de federação. Isso significa que, diferente do modelo anterior, em que as províncias - como se chamavam os estados, na época - tinham pouca ou nenhuma autonomia, submetendo-se ao centralismo da Corte, na fase pós-1889 o poder, de certa forma, foi dividido entre as forças regionais. As províncias, por exemplo, passaram a ter constituições próprias, limitadas pela Constituição federal, e a poder contrair empréstimos no exterior, além de terem a possibilidade de instituir impostos estaduais. De outro lado, o problema que se apresentava era como equacionar os interesses das diversas forças políticas locais com os interesses do poder central. Na economia, o Brasil seguia firme como um dos principais produtores de café do mundo. Portanto, se o Brasil aprofundava cada vez mais sua dependência em relação ao café, a Proclamação da República trouxe a necessidade de unir os interesses políticos locais - sufocados pela centralização da monarquia - à política federal de apoio ao setor cafeeiro. Foi para manter esse equilíbrio de interesses, então, que surgiu a política dos governadores. O acordo, iniciado no governo Campos Salles, garantiu o apoio do governo federal às oligarquias estaduais - e destas ao presidente da República. Assim, criava-se uma certa autonomia para ambos, embora um dependesse politicamente do outro: as oligarquias precisavam do presidente para se manter no poder e nomear funcionários na esfera federal; e a presidência da República, para obter o apoio dos governadores na implementação de suas políticas, sustentava-se nas forças locais, ou seja, nas províncias.

“Conseguida a unidade do governo, Campo Sales ataca o problema estadual, célula de toda a existência brasileira. A política e a ação devem ser privilegio de uma minoria: as grandes deliberações nacionais de liberdade democráticas levam necessariamente o país a agitações e ao aproveitamento da situação por um grupo, muitas vezes os menos (...). À minoria deliberativa no plano federal deve corresponder outra minoria deliberativas nos Estados. Esta apresentação aristocrática é o cerme de seu pensamento. Conseqüentemente o problema apresentava-se como a garantia de estabilização das atuais oligarquias no poder. Naquele momento algumas das existentes viviam debaixo da ameaça de um contra-golpe(...). Porém o esquema que realmente possibilita a criação desta ‘dos governadores’ é a maior expressão parlamentar das oligarquias estaduais, o que se consegue através da ‘verificação de poderes’. Nas eleições, situacionismo e oposição votam usando de fraudes, duplicatas e violência.” CARONE (1973, 101)


Então, determinava-se por esse acordo que os grupos políticos que governavam os estados dariam total apoio ao presidente da República e, em troca, o governo federal só reconheceria a vitória dos deputados federais que pertencessem a esses grupos.
            O coronelismo, fenômeno social e político típico da Republica Velha embora suas raízes se encontrassem no Império, foi decorrente da montagem de modernas instituições de autonomia estadual, voto universal e sobre estruturas arcaicas, baseadas nas grandes propriedades rurais e nos interesses particularistas.

“A nossa formação histórica fez-se de maneira dispares e desconexa. A falta de centralização resultou nas liberdades locais e no fortalecimento de instituições sociais peculiares: o poder torna-se privilegio de uma camada social que possui os bens de produção – a terra -  e a liderança política (...) CARONE (1973, 66)

            O coronel quanto elemento político, era caracterizado pelo prestígio e poder de mando, era o chefe político local ou regional, geralmente um latifundiário, cujo poder era maior ou menor de acordo com o número votos por ele controlado (voto do cabresto) para assegurar nas urnas a vitória dos seus candidatos em função das oligarquias estaduais com quem mantinha estreitas relações. Desta forma, o coronelismo é um sistema político governista, na medida    em que depende dos governadores dos estados (oligarquias)  para as suas concessões e para a execução das melhorias municipais. 
Despejando seus votos nos candidatos governistas nas eleições estaduais e federais, os dirigentes políticos do interior fazem-se credores de especial recompensa, que consiste em ficarem com as mãos livres para consolidarem sua dominação no município.
Socialmente, o coronel exerce uma série de funções que o fazem temido e obedecido. Aos agregados, ele dispensa favores: dá-lhes terras, tira-os da cadeia e ajuda-os quando doentes; em compensação, exige fidelidade, serviços, permanência infinita em suas terras, participação nos grupos armados etc. Aos familiares e amigos ele distribui empregos públicos, empresta dinheiro, obtém crédito; protege-os das autoridades policiais e jurídicas, ajuda-os a fugir dos compromissos fiscais do Estado etc. É o juiz, pois obrigatoriamente, é ouvido a respeito de questões de terras e até de casos de fuga de moças solteiras.
Embora fenômeno nacional, o coronelismo foi mais marcante nos estados mais pobres da União, principalmente no Nordeste. Apesar da origem comum, o coronel não pode ser confundido com o oligarca. Ambos se diferenciam pela posição ocupada na política nacional: o coronel é o chefe político do município; o oligarca domina a política estadual, com influência tanto no município quanto na esfera federal.  Os grupos oligárquicos encontram um obstáculo para o controle total do governo das Províncias: é o poder Moderador do Imperador, que permite a escolha dos presidentes provinciais. O federalismo republicano derruba este empecilho: e as oligarquias irão atingir, então, o ápice de sua expansão. É verdade que o predomínio de uma oligarquia estadual representa luta.
Os grupos oligárquicos diferenciam-se por matrizes. Cito aqui as de Alagoas, Ceará, Mato Grosso e outras. Toda essa estrutura esta ligada ao âmbito familiar, como centro do poder no período republicano (1894 – 1930).  Os principais grupos são; Maltas, Aciolis, Ponces, os grupos Álvaro Machado e Rosa e Silva. Nos demais estados da federação, o poder (máquina governamental mais complexa) fica nas mãos dos partidos, centralizando e distribuindo de acordo com exigência de cada grupo. A despeito dessas discrepâncias entre os grupos oligárquicos, ver-se claramente que a maquina motriz oligárquica foi à principal temática na histórica da República Velha.





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