sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012



HISTÓRIA DE ALAGOAS



Jaraguá - início do Século passado


Dário Augusto

Trabalho entregue ao professor Alberto Saldanha - 2009 - Disciplina : História de Alagoas Republicana

Resenha Analítica


O homo inimicus: Igreja, ação social católica e imaginário anticomunista em Alagoas

Segundo Medeiros, o discurso anticomunista da Igreja Católica foi de fundamental importância na época, e encontrou total apoio no governo do estado à época do golpe. O governante de Alagoas era Luiz Cavalcante, um dos governadores que mais apoiaram os militares, ajudando na captura e prisão imediata dos “rebeldes comunistas”.
Luiz Cavalcante entra em ação, entre outras coisas, graças a desconfiança que os militares tinham em Muniz Falcão, já que ele era favorável “às organizações sociais e ao avanço das lutas sociais em Alagoas” (pág. 135). Quando Muniz Falcão sai de cena, a situação se altera. Cavalcante era militar e declaradamente anticomunista.Tornou-se um dos principais articuladores no nordeste do golpe militar.
Mas além do governo de Cavalcante, haviam também outras forças apoiando o golpe dentro do estado: o complexo IPES/IBAD esteve presente no estado, de forma indireta, através do Jornal de Alagoas, que fazia parte da rede dos Diarios Associados. Essa organização publicava notícias com o intuito de manipular a opinião pública a favor da direita, e “criar um clima propício à deposição de Goulart e a contenção da mobilização popular” (pág. 136). Em prol dessa contenção, Luiz Cavalcante até permitiu uma reforma agrária. Contida e maquiada, apenas para acalmar as massas e o movimento das Ligas Camponesas.
E foi nesse contexto que o discurso da Igreja ganhou força. A Igreja alertava para o “perigo comunista” que João Goulart representava. A Igreja e a imprensa (local e nacional) acusavam Jango de estar articulando um golpe comunista para dominar o país. Líderes da Igreja convocaram o povo a resistir contra, articulando a nível nacional a “Marcha da Família com Deus”. Em 31 de março de 1964, condizente com os acontecimentos nacionais, o governador Cavalcante convoca uma ação policial para prender os “radicais” líderes esquerdistas: do DCE Ufal, da UESA, da CGT.
Todo o movimento foi apoiado pelo Arcebispo D. Alberto Machado, que celebrou uma missa em ação de graças pela vitória da “revolução”. Mas, não se pode entender o discurso anticomunista da Igreja sem entender o contexto da época. “A Igreja Católica, tendo na tradição o elemento agregador de sua existência temporal, optou por contribuir com a manutenção do instituído, diante de mudanças que poderiam ameaçar sua própria sobrevivência enquanto instituição.” (pág. 146).
Gradativamente, e mais especialmente na década de 1970, a Igreja foi se distanciando do apoio aos militares. Mas seu discurso foi fundamental para enraizar no imaginário popular as concepções sobre comunistas e a dicotomia entre direita e esquerda.

Alagoas e o Golpe de 1964

Anivaldo de Miranda concentrou-se nos cenários que antecederam ao golpe.
Graças à articulação de Muniz Falcão (antes de ser deposto), os movimentos populares ganharam força. Entre eles, especialmente o PCB e sua juventude, que tentou resistir como pode ao golpe. Através do jornal que publicava, A Voz do Povo, o partido ganhou voz, numa época em que era semi-clandestino e sofria atos de repressão.
O movimento cresce e ganha o apoio de categorias como petroleiros, rodoviários, bancários, trabalhadores dos correios, setores de pequenos e médios empresários e da esquerda e da juventude esquerda católica. Iniciaram um movimento sindical urbana e rural. Tornou-se uma das forças políticas do estado. E isso incomodou a oligarquia rural.
“Tão efervescente era esse movimento político-social animado pela esquerda daquela época, que Alagoas terminou por transformar-se em um dos pólos da conspiração direitista em favor do golpe militar, talvez até o principal foco golpista do nordeste.”
(MIRANDA, 2004, p. 08)

Enquanto Muniz Falcão esteve no poder, o PCB participou da gestão de secretarias de estado, como as de Segurança Pública e Educação, administradas pelo casal Oest.
No golpe de abril de 1964, os principais líderes do PCB e do jornal foram presos, e as instalações do jornal, queimadas. Com essas prisões, o movimento foi desarticulado, mas por persistência e memória ao movimento, aos poucos a organização se reorganizou e voltou a se firmar diante do processo de redemocaratização.


O poder dos militares e nas “mãos” de um civil

No seguinte texto, James Washington Santos traça a trajetória dos governos estaduais durante a ditadura militar até Divaldo Suruagy.
Após o golpe, o governo de muitos estados foi destituído. Menos o nosso, já que Luiz Cavalcante apoiou os militares, sendo ele também um militar. Iniciou sua carreira política através da direção da Comissão de Estrada e Rodagens. Chegou ao governo em 1961. Seu Plano Trienal foi elogiado e projetou Alagoas como um estado promissor na época, investindo nas condições de vida da população, que conseguiu estruturar o governo. Criou órgãos como CEAL e CASAL.
Governou até 1966. Deveria passar o cargo para Muniz Falcão, quando o governo federal decreta intervenção ao estado, já que o novo governador tinha um histórico de “apoio” aos movimentos sociais pré- golpe 64. Entra no lugar dele o general João Batista Tubino, que prepara a transição de governo até setembro de 1966, quando toma posse Lamenha Filho, eleito via eleições indiretas.
Lamenha Filho governou durante os principais governos do regime: Castelo Branco, Costa e Silva e no começo da gestão Médici (pág. 5). Trabalhou de maneira “aberta”, não apenas para a ARENA (seu partido).
Após Castelo Branco, “os presidentes passaram a não olhar o Governo Lamenha Filho com bons olhos, pelos seguintes motivos: 1. Os ofícios reservados ao Comando Militar local, invariavelmente publicados na resenha do Diário Oficial; 2. Recusou em tornar sem efeito o ato de nomeação de um juiz concursado, preterido 8 vezes sob a alegação de que havia sido comunista na juventude.” (pág. 6).
(Ver quadro de Realizações do Governo Lamenha Filho pág. 7)
Em março de 1971 Afrânio Lages foi nomeado via eleições indiretas. O estado procurava elaborar projetos que atraíssem recursos para o Plano de Desenvolvimento. Deu continuidade as ações de infra-estrutura e economia dos governos anteriores. Mas o estado continuava baseado na agroindústria açucareira.
Esses dois governos poderiam ter avançado mais no desenvolvimento do estado. Ficaram atrelados a alguns setores, como saúde, é não valorizaram outras áreas.
A ascensão de Divaldo Suruagy até o governo se deu na mudança de governo nacional: de Médici para Geisel, em 1974. Representantes do ARENA visitaram Alagoas para a escolha do novo governador: senador Petrônio Portela e o deputado Marco Maciel. Eles entrevistam possíveis candidatos ao cargo, entre eles Suruagy. Graças ao seu desempenho e a encontros “casuais” com o Senador, as chances (mínimas) de Suruagy aumentam. Chamado pelo próprio para uma conversa em Brasília, têm seu nome levado por Portela ao presidente Geisel. É escolhido. Suruagy escolhe para seu senador Teotônio Vilela.
Segundo James, os pontos que ajudaram na escolha por Suruagy foram: experiência na administração pública e obediência ao regimento do seu partido, ARENA. O fato de não ser de família de tradição agro-açucareira ajudou também, já que isso não o prendiam a uma dicotomia interesses da oligarquia local/interesses do governo (pág. 13). Outro ponto citado pelo autor é também o fato de ter convivido com outros governadores do regime.
Assim, em 15 de março de 1975, Suruagy toma posse. Viria a ser a maior liderança política nas décadas de 19070 e 1990, governando o estado por 3 vezes (pág. 16). Lançou na Assembléia Legislativa o documento “Elementos para a formulação de uma estratégia de desenvolvimento de Alagoas”, uma espécie de “filosofia de governo” e os caminhos a serem trilhados (pág. 16). No primeiro ano de governo, Suruagy buscou preparar o caminho para aplicar a conquista das metas do Plano de Ação do governo nos outros três anos de governo.
James dá destaque para os investimentos em infra-estrutura que ganharam mais importância do governo. Vale salientar, eram determinações do governo militar. Esses investimentos, particularmente, criaram uma “atmosfera” de desenvolvimento, progresso, como a entrega de grandes conjuntos habitacionais. Exemplo disso é o Conjunto Benedito Bentes. Enquanto isso, outras áreas sociais receberam menos recursos.
Antes mesmo de seu governo acabar, Suruagy sai, para poder concorrer as eleições como Deputado Federal, em 1979. Finalizando suas idéias o autor coloca como requisito fundamental do êxito do governo Suruagy a sua subserviência aos militares e ao governo nacional, que o deu total apoio em troca.


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